O verdadeiro pacifismo
Em primeiro lugar não confundais o pacifismo baseado na verdade com o pacifismo
baseado no desespero. Não é pacifista quem ateia fogo às próprias vestes,
porque está eliminando com as suas próprias mãos uma vida que seria útil ao seu
próximo. Não é pacifista quem apedreja, quem pratica o terrorismo, porque está
querendo apagar o fogo com o próprio fogo.
Pacifismo é opção pela paz.
Pacifismo é aceitação da paz.
Pacifismo é luta pela paz.
Uma coisa é vos colocardes na frente de veículos que transportam a morte para
evitar que ela atinja os vossos irmãos. Isto é sublime sacrifício em bem da
Humanidade. Outra coisa é praticardes, livre e espontaneamente, a violência
contra vós mesmos e contra os outros. Isto é suicídio e assassinato.
O pacifismo deve estar baseado na verdade central de que vós mesmos sois
Paz, apenas ainda não o quisestes descobrir.
Oponde-vos de todos os modos e por todas as maneiras pacíficas à guerra.
Resisti a qualquer ordem no sentido de violentardes o preceito da paz. Não
acrediteis nas bandeiras filosófico-ideológicas com que os poderosos vos
procuram atirar uns contra os outros. A guerra só interessa a eles que desejam
dominar o mundo. Só interessa aos que vendem armas. Conscientizai-vos disto e
vos será mais fácil resistir. Protestai por todos os meios contra a guerra e
tudo o que a provoca.
Sobre o jejum
Não vos aconselho o jejum.
Pelo menos a vós ocidentais, porque vos faltam as técnicas necessárias para a
absorção do prana. Podeis, no entanto, fazer coisa melhor, podeis jejuar no pensamento,
na palavra, na ação. Podeis abster-vos de tudo aquilo que prejudique os vossos
irmãos, ou que prejudique qualquer ser vivo, por exemplo, o uso da carne para o
vosso sustento. Se não vos for, no entanto, possível abolir de todo a
alimentação carnívora, abençoai todos os dias os irmãos menores que se
sacrificam para que pudésseis existir. Comprometei-vos a guiá-los quando eles
atingirem a esfera humana da evolução, porque, ao que tudo indica, e assim o
espero, ao chegar essa época estareis muito à frente deles. Fazei isto e breve
vos será fácil abdicar de todo da alimentação animal, ainda que tal abdicação
se dê na próxima existência.
Pacifismo — Atividade constante
Não vos limiteis, no entanto, à ação coletiva e civil nas ruas, nas fábricas,
nos escritórios.
Pacifismo é atividade constante. Deve ser exercido na condução, dentro de casa
com os amigos. Sim, com os
amigos
Encontrai-vos — insistimos muito neste assunto —, encontrai-vos para orar e
encontrai-vos para vos conhecerdes uns aos outros e para conhecerdes a vós
mesmos.
Encontrai-vos para trocar impressões.
Encontrai-vos para derramar pensamentos de paz sobre o mundo.
Encontrai-vos para começar a entronizar dentro de vós aquele mundo do futuro
que esperais, no qual o cordeiro há de apascentar com o leão e o menino dormirá
ao lado da fera.
Fragmentos da Verdade
Quando vos falei das religiões tradicionais, não quis, em absoluto,
desrespeitá-las. Todas elas contêm fragmentos da Verdade. E, na medida em que
vos aprofundeis em cada uma delas, ultrapassareis os fragmentos e encontrareis
a Verdade.
A Verdade é Deus, e Deus não se estoca, não se guarda, não se retém, como quem
retém o vapor.
A Verdade é Deus e Deus está em tudo.
É preciso, portanto, que
cada grupo religioso ou filosófico se abra aos outros grupos. Que haja diálogo.
Há muito que nos esquecemos de conversar. Precisamos reaprender esta arte.
Conversar é alternativamente falar e ouvir, mas nós só queremos falar. Falar de
nós. Falar de nossas idéias. Expor nossos pontos de vista. Somos como peixes
que, concentrados numa poça d`água, julgam que essa poça é o oceano. Somos como
alguém que conseguisse concentrar um só raio de luz solar e afirmasse que
aquele raio é todo o Sol. É preciso dialogar. É preciso aprender ou reaprender
o que cada um tem a ensinar. É preciso que cada um busque as riquezas do seu
irmão e se enriqueça com elas.
Amai o vosso semelhante, apesar das diferenças
que há entre vós e até mesmo por causa dessas diferenças. Se amardes apenas o
que vos ama, que recompensa tendes? — disse-vos o Cristo. Por que rejeitais o
vosso irmão? Só porque ele é diferente de vós? Acaso não exiges para vós o
direito de serdes vós mesmos? Por que quereis para vós o que recusais ao outro?
Não sois ambos água da mesma fonte? Sede vós mesmos, e deixai que vosso irmão
seja ele mesmo. Amai-o por causa disso e não apesar disso. Aprendei a ver nele
aquilo que vos falta e a dar a ele aquilo que lhe falta.
Compreendeis, agora, que a paz é construção de
todo o dia e de toda a hora? Começais a perceber que viver em paz é realmente
crescer e enriquecer-se?