ACERVO VIRTUAL HUBERTO ROHDEN E PIETRO UBALDI

Para os interessados em Filosofia, Ciência, Religião, Espiritismo e afins, o Acervo Virtual Huberto Rohden & Pietro Ubaldi é um blog sem fins lucrativos que disponibiliza uma excelente coletânea de livros, filmes, palestras em áudios e vídeos para o enriquecimento intelectual e moral dos aprendizes sinceros. Todos disponíveis para downloads gratuitos. Cursos, por exemplo, dos professores Huberto Rohden e Pietro Ubaldi estão transcritos para uma melhor absorção de suas exposições filosóficas pois, para todo estudante de boa vontade, são fontes vivas para o esclarecimento e aprofundamento integral. Oásis seguro para uma compreensão universal e imparcial! Não deixe de conhecer, ler, escutar, curtir, e compartilhar conosco suas observações. Bom Estudo!

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domingo, 24 de maio de 2015

DO EGO MENTAL AO EU ESPIRITUAL (6)

Comentário(s)

Por Huberto Rohden

Quando o homem transpõe a fronteira do seu ego mental e se transmentaliza rumo ao Eu espiritual, sem perder o contacto com a zona mental — então aparece o Homem Integral, o Homem Cósmico, o Homem Univérsico.

O ego mental não é destruído pelo Eu espiritual, é integrado nele.

Para compreender melhor esse processo, sirvamo-nos de uma ilustração tirada da matemática. Demos ao ego mental o número 10, e ao Eu espiritual o símbolo 100. 

De dois modos podemos destruir o 10: ou tirando-lhe o sinal “1”, ou acrescentando-lhe o sinal “0”. No primeiro caso, em vez de 10, temos “0”, isto é, zero, anulação, destruição. No segundo caso temos 100. Este 100 praticamente anulou o 10, o 10 separado, isolado; não o destruiu por diminuição, mas por aumento; não o destruiu negativamente, mas positivamente; isto é, destruí-o construindo-o. No 100 permaneceu a essência ou alma do 10; desapareceu apenas a sua existência ou o seu corpo. O pequeno 10 foi integrado no grande 100; a parte foi completada pelo TODO.

Na 
cosmo-meditação acontece o segundo caso. Quando o ego mental se integra no Eu espiritual, acontece o que ocorre quando o menor (10) se integra no maior (100): não morre, mas vive mais intensamente; não morre para dentro da morte, mas morre para dentro da vida, de uma vida maior; desaparece a sua pseudo-vida transformada numa vida verdadeira. 

É o que os Mestres espirituais chamam “egocídio”, morrer espontaneamente antes de ser morto compulsoriamente. O egocídio é uma espécie de morte metafísica voluntária. 

Neste sentido escreve Paulo de Tarso: “Eu morro todos os dias, e é por isto que eu vivo; mas não sou eu que vivo, o Cristo é que vive em mim”. 

No mesmo sentido disse o Cristo: “Se o grão de trigo não morrer, ficará estéril, mas se morrer produzirá muito fruto”.

É esta a 
cosmo-meditação praticada pelo Centro de Auto-realização Alvorada.

É esta a finalidade da 
cosmo-meditação: a integração do ego mental ilusório no Eu espiritual verdadeiro; ou seja, auto-realização pelo auto-conhecimento: a creação do Homem Integral, do Homem Cósmico, do Homem Univérsico.

Quem vive realmente a Filosofia Univérsica realiza em si o Homem Univérsico.

O Homem Univérsico é o Homem feliz.



EVOLUÇÃO RUMO AO HOMEM UNIVÉRSICO (5)

Comentário(s)

Por Huberto Rohden 

Cada vez mais se acentua a evolução centrípeta da humanidade, em todos os setores: científico, filosófico e religioso. E esta evolução centrípeta tende a culminar na evolução do homem cósmico e crístico.

O homem se sente cada vez mais como um fator auto-agente, e cada vez menos como um simples fato alo-agido. O homem se sente cada vez mais como alguém, e cada vez menos como algo. Cada vez mais como sujeito central, e cada vez menos como um objeto periférico.

O homem de hoje tem nítida consciência do seu caráter de presente ativo e fator auto-determinante, superando o seu passado de fato alo-determinado.

O homem diz cada vez mais com o poeta inglês: “Eu sou o senhor do meu destino — eu sou o comandante da minha vida”.

Há tempo que a elite da humanidade ocidental superou a sua infância heterônoma, entrou na adolescência egônoma, e está despertando para amaturidade autônoma.

Na infância, o homem é alo-determinado pelos pais e por outros fatores alheios ao seu ser.

Na adolescência, o homem tenta ser ego-determinante, pela sua personalidade intelectual.

Com a entrada na maturidade, o homem se torna auto-determinante, sob os auspícios da sua individualidade espiritual.

Da inconsciência da infância, através da semi-consciência da adolescência, sobe o homem às alturas da pleni-consciência da sua adultez definitiva.

Esse processo ascencional é, sobretudo, visível no setor filosófico-religioso.

Durante muitos séculos, o homem espiritualmente infantil estava convencido — ou melhor, persuadido — de que ele era mau em virtude de um fator alheio, negativo, de um tal diabo, satanás ou anticristo. Em grande parte a humanidade de hoje ainda acredita piamente que alguém fez o homem pecador, à sua própria revelia, que ele é essencialmente mau, negativo, pecador; que todo homem nasce e foi concebido em pecado, graças a um fator alheio à sua própria consciência e vontade. Todas as igrejas cristãs do ocidente professam essa ideologia de maldade heterônoma: o homem foi feito mau por alguém, herdou uma maldade inconscientemente. Os próprios discípulos do Cristo perguntaram ao Mestre se o cego de nascença herdara a causa da cegueira de seus ante-passados pecadores ou da sua própria pré-existência pecadora; queriam saber se o cego recebera o mal da cegueira de malfeitores alheios ou do seu próprio malfeitor numa encarnação anterior.

O Nazareno, porém, nega ambas as alternativas sugeridas e passa para uma terceira solução, que até hoje é um enigma para muitos. O certo é que o Cristo nega a alo-maldade para explicar o mal desse sofrimento.

Se houvesse a possibilidade de uma alo-maldade herdade pelo homem, deveria haver também a possibilidade de uma alo-bondade que o homem pudesse receber de um fator alheio; se alguém me fez mau e pecador, é lógico que alguém me possa fazer bom e santo; se um tal Anticristo me pode perder, um Cristo me deve poder salvar. E, como todas as igrejas cristãs aceitaram o primeiro, não podiam deixar de aceitar o segundo: alo-redenção neutralizando alo-perdição.

O Cristo, felizmente, nada sabe de alo-perdição nem de alo-redenção. Para ele, é certo que o homem colherá aquilo que ele mesmo ou a humanidade semearam. Para o maior gênio espiritual da humanidade não há alo-perdição nem alo-redenção, mas tão somente ego-perdição eauto-redenção.

Nisto se revela a mais alta lógica e racionalidade do Cristo — e também a maior apoteose do Livre arbítrio do homem. O Cristo poderia dizer com o poeta-filósofo: O homem é o senhor do seu destino, negativo e positivo; o homem é o comandante da sua vida de pecador e de justo.

***

Quando a humanidade medieval, saiu, em parte, da sua longa infância espiritual, caracterizada pela idéia da heteronomia do mal e do bem, de alo-perdição e alo-redenção — o homem da Renascença despertou, parcialmente, para a consciência do seu poder autônomo; compreendeu que ele mesmo, e não alguém fora dele, era o autor da sua maldade e da sua bondade, do seu ser-mau e do seu ser-bom. Mas, como o homem da Renascença, depois de deixar a sua infância medieval, não era ainda um homem plenamente adulto, e sim apenas um adolescente semi-adulto, esse homem descobriu apenas uma parte da sua natureza hominal, descobriu a personalidade do seu ego-mental, mas ainda não aindividualidade do seu Eu-espiritual.

E o homem-ego renascentista apelou para o seu ego-personal para se redimir das suas maldades e dos seus males. Há cerca de quatro séculos que o homem da Renascença nos prometeu que, pelo poder da inteligência do seu ego, ia crear o céu sobre a terra; prometeu, e em parte continua a crer, que a ciência e a técnica, filhas da inteligência, possam abolir as maldades e os males; o ego, segundo ele, tem o poder mágico de fechar cadeias e penitenciárias, hospitais e hospícios, contanto que abra bastantes escolas e laboratórios.

Isto nos foi prometido há séculos, em nome de Sua Majestade a ciência e técnica, filhas da inteligência do homem-ego.

Mas quatro séculos de promessas de céu na terra não cumpriram a sua palavra, e sobretudo a humanidade do século 20, que passou por duas guerras mundiais, e está em vésperas de um possível conflagração mundial, não pode mais crer no poder redentor da civilização e da cultura creadas pelo ego.

O grande erro da Renascença, que está agonizante, foi a confusão entre o fato ego e o fator Eu — ou melhor, foi o deplorável desconhecimento ou menosprezo do Eu espiritual do homem — e essa ignorância ou desprezo continuam até nossos dias.

Hoje em dia, finalmente, a humanidade-elite está começando a compreender, ou talvez a vislumbrar, que o ego é fator perdição, mas não é o fator de redenção. E muitos estão começando a compreender que, para crearmos o homem integral, realmente remido, temos de acrescentar ao negativo do ego o fator positivo do Eu. Em nosso Universo, tudo é bipolar, e nada funciona unipolarmente.

Surge agora o magno problema: como despertar no homem o fator Eu, para fazer com o ego a complementação do homem integral.

O fator ego, quando isolado, é perdição funesta, porque adultera a sua função de servidor e se arroga a função de senhor do homem.

A sabedoria multimilenar da Bhagavad Gita de Krishna diz: “O ego é um péssimo senhor, mas é um ótimo servidor”.

E a sabedoria quase bimilenar do Evangelho do Cristo dá ordem ao ego anticrístico para se pôr na retaguarda do Eu crístico como servidor, e não na vanguarda como senhor: “Só Deus adorarás e só ele servirás”.

O homem integral não é um ego sem Eu, nem um Eu sem ego — mas sim um senhor na vanguarda e um servidor na retaguarda.

No universo físico não há substituição de um pólo pelo outro. E como poderia o Universo metafísico ser diferente? Todo o cosmos sideral e hominal é uma grandiosa síntese de pólos complementares perfeitamente equilibrados e harmoniosos.

O homem integral é o homem cósmico, o homem univérsico, o homem crístico.

A humanidade, através de muitas lutas, está começando a vislumbrar esta integração da natureza humana: a auto-redenção pelo Eu divino compensando a ego-perdição proveniente do ego humano.

* * *

A Filosofia Univérsica quando plenamente conscientizada e integralmente vivenciada, conduz infalivelmente à auto-realização, creando o Homem Integral, o Homem Cósmico, o Homem Univérsico, o Homem Crístico.

* * *

CONTINUAÇÃO


O PROBLEMA DA FELICIDADE HUMANA (4)

Comentário(s)

Por Huberto Rohden

Os maiores médicos e psiquiatras do mundo concedem e confessam que o grosso da humanidade hodierna é neurótica, frustrada ou esquizofrênica. O Dr. Victor Frankl, diretor da POLICLÍNICA NEUROLÓGICA da Universidade de Viena, em diversos livros, traz estatísticas pavorosas sobre essa calamidade do homem civilizado dos nossos dias. E dá também o diagnóstico do mal: a falta de uma consciência de unidade. O Homem moderno, hipertrofiado na sua diversidade (ego) e atrofiado na sua unidade (Eu) — é a conseqüência dessa descosmificação do homem, que não podia deixar de acabar num caos, em que a dispersividade derrotou a centralidade.

Frustrar é a palavra latina para despedaçar, fragmentar, desintegrar. O homem frustrado sente-se realmente como que desintegrado interiormente, o que produz nele um senso de profunda infelicidade. Em última análise, toda felicidade provém de uma consciência de coesão e integridade. O homem é infeliz porque perdeu a consciência da sua inteireza e unidade; pode ser uma personalidade, uma persona( (máscara), mas deixou de ser uma individualidade, um ser indiviso em si mesmo. Unidade, integridade, felicidade, são sinônimos.

Muitos frustrados acabam em esquizofrenia. A palavra esquizofrênico, quer dizer, em grego, mente partida. O homem mentalmente fragmentado é um homem desunido, descosmificado.

Onde não há realização existencial, há necessariamente uma frustração existencial, que é o motivo da infelicidade de milhares de homens.

O homem que deixou de ser cosmos pela unidade acaba, cedo ou tarde, num caos pela desunião consigo mesmo. As leis que regem o Universo sideral regem também o Universo hominal.

Os Mestres da vida, além de fazerem o diagnóstico da enfermidade, indicam também a sua cura. Victor Frankl cura os doentes frustrados com logoterapia, mostrando-lhes o caminho para o estabelecerem a sua integridade existencial, despertando a consciência do seu Lógos interno, o seu Eu, a sua alma. E os que conseguem fazer gravitar os planetas dos seus egos em torno do sol do seu Eu, estabelecem a harmonia e felicidade da sua existência.

Krishna, na Bhagavad Gita, afirma que o ego é o pior inimigo do Eu, mas que o Eu é o maior amigo do ego.

O próprio Einstein, à luz da sua matemática metafísica, mostra que do caminho dos fatos (ego) não conduz nenhum caminho para o mundo dos valores (Eu).

Que é tudo isto senão Filosofia Univérsica, expressa de outra forma? O homem, para ter harmonia e felicidade, deve ter um centro de gravitação fixo e imutável, deve afirmar a soberania da sua substância divina sobre todas as tiranias das circunstâncias humanas — deve ser Universificado.

Em quase todos os meus livros tenho frisado esse caráter cósmico da vida humana, sobretudo nos mais recentes: “Educação do Homem Integral”, “Entre Dois Mundos”, “Einstein, o Enigma da Matemática”, “Rumo à Consciência Cósmica”, Saúde e Felicidade pela Cosmo-meditação”, “Sabedora das Parábolas”, etc.

Nada disto, porém, é possível, se o homem passar às 24 horas do dia na zona da dispersividade centrífuga do ego, e não der uma hora sequer à concentração centrípeta do Eu. As leis cósmicas são inexoráveis e imutáveis, tanto no mundo sideral como no mundo hominal. Obedecer a essas leis da natureza humana é harmonia e felicidade — desobedecer-lhes é caos e infelicidade.

Não somos advogados da passividade contemplativa de certos orientais — mas defensores da harmonia e do equilíbrio entre atividade e passividade, entre introversão e extroversão, entre concentração e expansão, entre implosão e explosão, que são o característicos de todos os setores da natureza. Enquanto o homem não se “naturalizar” ou cosmificar, será sempre frustrado e infeliz. Uma hora, ou meia hora, de profunda cosmo-meditação pode dar ao homem o devido equilíbrio para o resto do dia.

Não recomendamos a meditação em forma de pensamentos analíticos, que é ineficiente, mas recomendamos a profunda sintonização com a alma do Universo, o esvaziamento de toda a ego-consciência, para que a plenitude da cosmo-consciência possa plenificar com as águas vivas da fonte divina a vacuidade dos canais humanos. Enquanto a ego-plenitude (egocentrismo, egolatria) funciona, a Teo-plenitude não pode funcionar. É lei cósmica: plenitude só enche vacuidade, ou, na linguagem dos livros sacros, “Deus resiste aos soberbos (ego-plenos), mas dá sua graça aos humildes (ego-vácuos)”.

Durante a cosmo-meditação deve o homem esvaziar-se de todos os conteúdos do seu ego-humano — sentimentos, pensamentos e desejos — mantendo, porém, plenamente vigil a sua consciência espiritual; deve manter 100% de Teo-consciência (Eu) e reduzir a ego-consciência a 0%.

O fim da Filosofia Univérsica é, pois, estabelecer no homem a mesma harmonia que existe no Universo, com a diferença de que no homem esta harmonia é voluntária e livre, enquanto no cosmos ela é automática.

Esta harmonia livremente estabelecida pode dar ao homem uma felicidade consciente infinitamente maior do que toda a harmonia, beleza e felicidade do Universo extra-hominal.

O esforço inicial dessa harmonização vale a pena pela subseqüente felicidade da vida humana.

No princípio necessita o principiante de períodos determinados em lugar certo para essa integração; mais tarde pode ele manter a concentração interior no meio de todas as dispersões exteriores, pode unir a sua implosão mística com todas as explosões dinâmicas; pode viver simultaneamente no Deus do mundo e nos mundos de Deus.

* * *

A BIPOLARIDADE DO MUNDO E DO HOMEM (3)

Comentário(s)

Por Huberto Rohden

Átomos e astros se movem em elipses bicêntricas — não existe no Universo um único círculo unicêntrico. 

A eletricidade só se manifesta como luz, calor e força, graças à sua bipolaridade positiva e negativa.

Toda a vida superior da terra está baseada na bipolaridade dos elementos masculino e feminino.

Esses dois pólos da natureza são rigorosamente equilibrados e funcionam em perfeita harmonia.

De modo análogo, é o Universo hominal governado pela bipolaridade da natureza humana, que a Filosofia e Psicologia modernas denominam oEu e o Ego.

A Filosofia multimilenar do oriente chama o Eu Atman e o Ego Aham.

Os livros sacros do cristianismo, usam os termos Alma, ou espírito divino, para designar o Eu central do homem, e a expressão corpo ou mundopara significar as periferias da natureza humana.

“Que aproveita o homem ganhar o mundo inteiro se chegar a sofrer prejuízo em sua própria alma” (o Cristo, Eu).

“Eu te darei todos os reinos do mundo e sua glória, se te prostrares em terra e me adorares” (o Anticristo, Ego).

O Eu corresponde ao Uni do Universo, e o ego ao elemento Verso.

O homem perfeito e integralmente realizado estabeleceu perfeito equilíbrio entre o seu Uno (Eu) e seu Verso (ego).

O homem profano só cultiva o seu ego, atrofiando o Eu.

O místico tenta realizar somente o Eu sem o ego.

O homem cósmico, univérsico, porém, realiza o seu Eu através do seu ego, porque sabe que o Eu ou Uno é Fonte, e o seu ego ou Verso é canal, pelo qual as águas vivas da nascente fluem e beneficiam a sua vida.

A ciência tem por objeto as leis da natureza externa.

A sapiência ou filosofia visa ao conhecimento e à realização do homem interno.

A ciência é cosmo-cêntrica.

A filosofia é ântropo-cêntrica.

O aperfeiçoamento do Eu ou alma humana é o fim supremo da vida — e essa realização se faz através do ego, cujos elementos são o corpo, a mente e as emoções.

Sendo que a evolução do homem começa pela periferia e vai rumo ao centro, os grandes Mestres da humanidade insistem, sobretudo no desenvolvimento do Eu ou da alma humana, a fim de evitarem a hipertrofia unilateral do ego e a atrofia do Eu.

O homem perfeito é o homem cósmico ou universificado, que estabeleceu perfeito equilíbrio e harmonia entre os dois pólos interno e externo. É este o fim supremo de toda educação verdadeira.

O educador deve eduzir de dentro do educando, e devolver o Eu dele, a fim de equilibrá-lo com seu ego. 


* * *  


CONTINUAÇÃO:

UNIDADE NA DIVERSIDADE (2)

Comentário(s)

sábado, 23 de maio de 2015

A alvorada da Filosofia Univérsica e do Homem Cósmico (1)

Comentário(s)

Por Huberto Rohden

NOTA: Participe da Comunidade Filosofia Univérsica criando um perfil na VK (Recomendadíssima a rede. Os fóruns de discussão lembram muito o bom Orkut)




A Filosofia Univérsica, ou Cósmica, é a filosofia segundo o Universo, ou cosmos.

Não trata apenas da amplitude extensiva da Filosofia Universal, mas da profundidade intensiva que caracteriza o próprio Universo. Não toma por ponto de partida e termo de referência alguma pessoa — Platão, Aristóteles, Tomás de Aquino, Spinoza, Kant, Descartes, Hegel, Bérgson — nem se guia por uma determinada escola do pensamento — empirismo, racionalismo, idealismo — mas reflete a própria índole da Constituição do Universo, isto é, a mais intensa unidade na mais extensa diversidade — o uni-verso em toda a sua genuinidade e integridade.

A filosofia Universica aceita, naturalmente, como contribuintes, todas as correntes válidas do pensamento humano, mas não navega em nenhum desses afluentes do grande Amazonas da Filosofia Perene, e sim na grande síntese do próprio Cosmos.

O Universo Integral — como causa e efeito, como essência e existência, como alma e corpo, como fonte e canais — é o único modelo válido para o pensamento e a vida do homem. O homem integral e perfeito é plasmado à imagem e semelhança dos Cosmos, uno em seu ser, múltiplo em seu agir. O homem bom é o homem cósmico, o homem mau é o homem acósmico ou anticósmico. 

uno do Universo é o Infinito — o verso (vertido, derramado) são os Finitos. O Uno e único, diriam os orientais, é Brahman, que se derrama ou pluraliza no múltiplo Maya.

Nem o uno do Infinito, nem os múltiplos dos Finitos, quando tomados disjuntivamente, são o grande Todo do Universo; somente o uno e osmúltiplos — a fonte e os canais — quando tomados conjuntivamente, é que perfazem o Universo em toda a sua genuinidade e integridade, O Infinito da essência se revela sem cessar nos Finitos das existências. A Transcendência do Deus do mundo aparece na Imanência dos mundos de Deus. O Universo é essência-existência, causa-efeito, alma-corpo, ser-agir, infinito-finito, eterno-temporário, imanifesto-manifesto, absoluto-relativo.

A alma do Deus do mundo se revela nos corpos dos mundos de Deus.

O homem, esse microcosmo, reflexo do macrocosmo, não pode atingir diretamente a longínqua transcendência do Uno-Infinito da Divindade — mas pode atingir a propínqua imanência dos Diversos-Finitos de Deus, que transparecem em todas as coisas do mundo. Deus é a Divindade em sua imanência infinita. A Divindade, por assim dizer, se finitiza em Deus. A Divindade “é” — Deus “existe”. Ninguém pode conhecer a Divindade-ente — só pode conhecer algo do Deus-existente. O grande Além-transcendente ecoa nos pequenos Aquéns-imanentes.

* * *

A palavra grega kósmos quer dizer belo (cf.cosmético).

A palavra latina mundus, sinônimo de Universo, quer dizer puro (cujo contrário é imundo).

O Universo é, pois, belo e puro, quando tomado em sua genuína totalidade.

Quanto mais o ánthropos (homem) se assemelha ao kósmos, tanto mais belo e puro é ele. Quando o homem se distancia do kósmos ou mundus, deixa de ser belo e puro. Deve, pois, o homem cosmificar-se ou mundificar-se para ser integralmente ele mesmo, belo e puro, 100% ánthropospara ser imagem fiel do kósmos — deve ser homem cósmico, homem univérsico.

* * * 
Segue-se que o homem profano, não-cosmificado, é feio e impuro. Conhece apenas a parte efeitual, o corpo, a periferia do Universo, os finitos, os diversos, acessíveis aos sentidos e ao intelecto.

O homem místico avançou um grande passo; é semi-belo e semi-puro; refugiou-se ao uno central do Universo, a Deus, à alma, ao Infinito, e nele se isolou beatificamente. De tanto amor à unidade, odeia todas as diversidades; fugiu do caos das periferias e caiu na monotonia do centro.

O homem cósmico, depois de mergulhar totalmente no eterno uno do cosmos e nele se consolidar definitivamente pela experiência “eu e o Infinito somos um”, realiza um movimento reversivo rumo às periferias, sem deixar o centro; ramifica-se através de todos os diversos do mundo, penetrando da intensa luz central da sua consciência unitária todas as trevas e penumbras das diversidades periféricas, tornando transparentes pelo fulgor do seu ser todas as opacidades do seu agir. De dentro do seu silencioso nirvana(1) central domina o homem cósmico todos os ruidosos sansaras periféricos do mundo em derredor.

O homem univérsico vive a causa una em todos os efeitos múltiplos, faz transbordar a sua experiência mística em vivência ética, infinitizando todas as finitudes, lucificando todas as trevas, vivificando todas as mortalidades. 

Em virtude dessa sua experiência de centralidade, tem o homem cósmico o poder de exprimir em forma concreta o grande abstrato da Realidade Infinita; vê o Transcendente do Infinito como Imanente em todos os Finitos; enxerga o único além nos múltiplos do Aquém, o Deus dos mundos nos mundos da Divindade. 

Por isto, é o homem univérsico ao mesmo tempo filósofo e artista, porque visualiza o Infinito em todos os Finitos — que é próprio da vidência filosófica — e sabe revestir de forma finita, concreta-individual, o sem-forma do Abstrato-Universal — que caracteriza a vivência artística.

Para ele, a Verdade da Filosofia se revela na Beleza da Poesia, se entendermos por “poesia” a arte em geral. (2)

Quando Mahatma Gandhi disse que “a verdade é dura como diamante e delicada como a flor de pessegueiro”, teve ele a intuição do Universo e do Homem como sendo o uno da Verdade (dureza do diamante) revelado como o diverso da Beleza (delicadeza de flor de pessegueiro).

Toda vez que a Verdade culmina em Beleza, o “Verbo se faz carne”, a filosofia nasce como poesia.

O músico, o escultor, o pintor, o poeta, o ético — são homens capazes de dar forma concreta à Realidade abstrata. A intuição da Realidade universal é própria de todos os filósofos — mas a expressão em forma concreta é peculiar aos artistas. O homem cósmico é necessariamente um filósofo-artista, um homem integral.

O pintor usa, como meio de expressão da sua inspiração, tinta e tela.

O escultor serve-se de um bloco de mármore ou granito, ou modela o seu ideal em massa plasmável.

O músico revela a sua visão abstrata na vibração concreta de sons aéreos.

O poeta concretiza a substância mental do universo em roupagens de palavras estéticas.

O místico revela a sua intuição divina em atos de ética (3) humana, fazendo transbordar a plenitude do “primeiro mandamento” nas torrentes benéficas do “segundo mandamento”, fazendo o bem aos outros por ser bom ele mesmo.

Todos eles são homens cósmicos, filósofos-artistas, que concretizam o Universal da Verdade no Individual da Beleza.

Do consórcio da Verdade e da Beleza, do conhecer e do agir, nasce o Homem Cósmico, o “filho do homem”, em toda a sua plenitude, “cheio de graça e de verdade”.

* * * 

É chegado o tempo para construirmos a filosofia sobre esse fundamento univérsico, liberta da estreiteza de pessoas e de escolas, filosofia como reflexo e eco do próprio Universo.

É o que tenho tentado fazer em algumas dezenas de livros — é o que tento fazer, em síntese, nas páginas deste livro (4).

Os métodos que visa esse ideal são, por vezes, complicados e laboriosos — mas a meta é simples e gloriosa.

Não perca, pois, o leitor a visão da meta longínqua que demandamos em face das setas que colocamos nas encruzilhadas da nossa jornada. Sirva-se destas como de diretrizes seguras à beira da estrada — mas tenha o bom-senso de abandonar as setas a fim de atingir a meta que elas indicam. Quem se agarra à seta na encruzilhada falha o sentido dela. O sentido da flecha é ser abandonada; a sua finalidade é transcendente, e não imanente; não é um espelho refletor, mas uma janela aberta que dá visão para horizontes além. A missão da seta ultrapassa o seu corpo presente e se realiza na alma ausente, a meta, que jaz em região longínqua, para além da ponta da seta indicadora.

Assim são os métodos visando à meta.

* * * 

A verdadeira filosofia visa a dar ao homem plena autonomia e autocracia, em todos os setores da vida. Procura isentá-lo de todas asheteronomias e heterocracias, as quais, por algum tempo, são indispensáveis como muletas provisórias, mas que serão abolidas quando o homem convalescer das fraquezas do seu pequeno ego telúrico e atingir a saúde do seu grande Eu cósmico.

Esse Eu cósmico não é algum elemento adventício, alheio à natureza humana, mas é o íntimo quê, o reduto central do homem, o seu genuíno e autêntico EU SOU. O que o homem conhece, ou julga conhecer, conscientemente — o seu ego físico-mental-emocional, a sua persona ou máscara — são apenas as periferias externas da sua natureza; o seu centro interno jaz, ainda desconhecido ou mal suspeitado, nas profundezas do seu Inconsciente, que é o Infinito, o Absoluto.

Quando esse Inconsciente do Eu acordar e permear todos os setores do ego consciente, integrando-os no seu domínio, então nasce o Homem Cósmico, que está para o Homem Telúrico assim como a planta em plena evolução está para a semente de que brotou.

O Homem Cósmico é explicitamente o que o Homem Telúrico é implicitamente.

A semente, para dar origem à planta, morre como semente — mas não morre como vida; e, para que a vida latente possa brotar em vida acordada, deve a estreiteza da semente ceder à largueza da planta.

Toda iniciação, toda auto-realização, supões algo parecido com uma destruição, uma morte, uma extinção, um aniquilamento. Quem não está disposto a morrer espontaneamente não pode viver gloriosamente. Nesse querer-morrer espontâneo está todo o segredo do poder-viverplenamente. Morrer, ou antes, ser morto compulsoriamente — por um acidente, uma doença ou uma velhice — não resolve o problema; é necessário que o homem esteja disposto a morrer espontaneamente antes de ser morto compulsoriamente. Só assim se realiza ele plenamente, e para sempre.

É o misterioso “Stirb und werde!” de Goethe.

É o último segredo do Evangelho do Cristo e da Bhagavad Gita do Oriente. Morrer relativamente — para viver absolutamente!...

Quem puder compreendê-lo compreenda-o!...


CONTINUAÇÃO: 


__________________

(1) Nirvana = quietude, Sansara = agitação
(2) Note-se que a palavra grega ”poesis” (em vernáculo poesia) é derivada do verbo “poiéo”, que quer dizer “fazer”, “agir”. Poesia em sua acepção filosófica e etmológica, significa, pois, “feitura”, “feito”, “ação”, correspondendo ao latim “ars”, que vem de “ágere”, agir. Poesia e arte significam, pois, a concretização individual de uma visão universal, isto é, a beleza como manifestação concreta da verdade abstrata, que é poesia da filosofia, ou seja: filosofia da arte.
(3) Não identificamos a ética com a moral.
(4) Este texto foi extraído do livro: Setas Para o infinito (Nota do moderador)



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