ACERVO VIRTUAL HUBERTO ROHDEN E PIETRO UBALDI

Para os interessados em Filosofia, Ciência, Religião, Espiritismo e afins, o Acervo Virtual Huberto Rohden & Pietro Ubaldi é um blog sem fins lucrativos que disponibiliza uma excelente coletânea de livros, filmes, palestras em áudios e vídeos para o enriquecimento intelectual e moral dos aprendizes sinceros. Todos disponíveis para downloads gratuitos. Cursos, por exemplo, dos professores Huberto Rohden e Pietro Ubaldi estão transcritos para uma melhor absorção de suas exposições filosóficas pois, para todo estudante de boa vontade, são fontes vivas para o esclarecimento e aprofundamento integral. Oásis seguro para uma compreensão universal e imparcial! Não deixe de conhecer, ler, escutar, curtir, e compartilhar conosco suas observações. Bom Estudo!

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sábado, 20 de fevereiro de 2016

A TÉCNICA DA EVOLUÇÃO

Comentário(s)

O panorama do ser se transforma à medida que sobe para planos de vida mais adiantados.
Eis os vários graus de amadurecimento evolutivo que se encontram em nosso mundo:
1.º grau. O princípio que dirige a vida do indivíduo é muito simples: ele deseja uma coisa, estende a mão e se apodera dela, assim satisfazendo o seu desejo. Forma mental elementar e respectiva ética de obediência mecânica aos impulsos primitivos.
2.º grau. O indivíduo encontra dificuldades e resistências que dificultam a satisfação do seu desejo. Desponta deste modo o princípio da luta necessária para arrancar das mãos dos outros o que o ser quer possuir. Então ele se movimenta, usa o método da força e, se vence, conquista a sua presa, atingindo deste modo o seu objetivo e satisfazendo o seu desejo. Neste nível a presença de leis civis e religiosas representa para o indivíduo somente um obstáculo a superar.
3.º grau - Este é o estado em que o indivíduo obedece às leis, mas só na forma exterior e porque constrangido à força. Julga-as, porém, sempre como um obstáculo a superar, um inimigo a vencer, porque lhe impede a satisfação de realizar o seu desejo, atingindo, o seu objetivo. Então, constrangido pela força que a organização social possui, contra a qual ele não tem poder bastante para se rebelar, o indivíduo emprega outro meio, um substituto dela, a astúcia. Prevalece, assim, num ambiente pacífico na superfície e na aparência, uma luta subterrânea, invisível por fora, terrível e desapiedada, mas bem escondida sob um manto de hipocrisia. Mudou a forma da luta, mas esta ficou na substância.
Este princípio e tal método de vida permaneceu, mas se tornou mais sutil e aperfeiçoado. Eis a forma mental e respectiva ética do cidadão deste plano, conforme sua consciência. Então o trabalho do indivíduo está sempre em se evadir das leis, que ele continua julgando um obstáculo a superar. O objetivo fica sempre o mesmo, o de satisfazer os seus desejos, mas praticando a arte de escapar às sanções penais das leis. A finalidade não é de colaborar, obedecendo na ordem, mas de se rebelar para o triunfo do próprio eu. A diferença com o caso precedente está no fato de que agora a violência não é mais física, mas econômica, nervosa, psicológica, e a desobediência está disfarçada sob as aparências da obediência.
4.º grau. Se o 1.º grau é o do animal; o 2.º é o da fera, do selvagem, do delinquente, ou primitivo mais involuído; se o 3.º é o do homem atual ou involuído mais adiantado; o 4.º grau é o do evoluído que abandonou todos esses métodos de luta, porque chegou a entender a Lei de Deus e a esta espontaneamente obedece. Nisto ele atinge o seu objetivo e satisfaz o seu desejo de bem. Eis a forma mental e respectiva ética do cidadão desse plano, conforme sua consciência.
O mencionado princípio da luta e o respectivo método de vida ficaram definitivamente abandonados nos inferiores níveis biológicos, dos quais o evoluído não faz mais parte. Eis os biótipos que encontramos em nosso mundo atual, cada um com a sua forma mental e ética respectiva. 

Inferno e paraíso não são fantasia, mas realidade. O primeiro é o AS, o segundo é o S. A vida evolui do primeiro para o segundo.

O paraíso das religiões representa uma realidade biológica futura, uma posição positiva de existência, colocada como último objetivo no fim do caminho evolutivo.

A ética representa o guia que nos dirige ao longo desse caminho para nos levar a esse ponto final. Por isso é de nosso interesse fundamental conhecê-la, para praticá-la, porque se trata de nossa felicidade.


(Pietro Ubaldi - Livro: Deus e Universo)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

O PROBLEMA DO DESTINO

Comentário(s)

É difícil a arte de saber viver. A vida é um vaso que podemos encher com o que quisermos. Mas, a verdade é que temos querido enchê-lo de erros. Então, que podemos receber senão sofrimentos? Quando era moço, li livros sobre a arte de alcançar sucesso na vida. E hoje ainda se encontram livros sobre este assunto. Mas, trata-se duma ciência de superfície, que se baseia na sugestão, na arte exterior de apresentar-se, de falar e convencer o próximo. Ora, isso só pode levar a um êxito parcial, momentâneo, superficial. 

O verdadeiro êxito na vida consiste num problema de construção de destinos, um problema complexo de longo alcance, que só se pode resolver conhecendo o funcionamento das leis profundas que regem a vida, e a posição de cada um dentro dessas leis, ou seja, o plano duma vida enquadrada no plano geral do universo, em função de Deus. Como se pode chegar a uma orientação completa do caso particular, se não se conhece a Lei geral? A maioria não é dona dos acontecimentos da sua vida, mas é serva dirigida por eles. 

A vida é um jogo vasto e complexo. Fala-se de destino e da sua fatalidade. Mas, os construtores desse destino somos nós mesmos e depois ficamos sujeitos à sua fatalidade. Da mesma forma que o passado representa a semeadura do presente, o presente representa a semeadura dó futuro. A semeadura é livre, mas a colheita obrigatória. Assim, somos ao mesmo tempo livres e dependentes. Temos o poder de nos arruinar ou de nos salvar, como quisermos, mas não podemos alterar a Lei, e a nossa ruína ou salvação fica fatalmente sujeita às normas da Lei de Deus. Ela regula os movimentos de tudo que existe e do homem também. Conhecê-la quer dizer conhecer as regras do jogo da vida, isto é, a ciência da própria conduta, a arte de evitar os movimentos errados e fazer os certos, para fugir do dano próprio e atingir o melhor bem-estar possível. 

A coisa mais importante na vida, a base de tudo, é a orientação. E a maioria vive correndo atrás das ilusões do momento, desorientada e descontrolada. Seguir a Lei quer dizer seguir a vontade de Deus. Esta é uma bem estranha posição para o mundo, que ainda obedece à lei animal do mais forte. Seguir a vontade de Deus não quer dizer perder a própria e tomar-se autômato. Essa obediência é um estado de abandono em Deus, em absoluta confiança, como o filho nos braços da mãe. Mas, esse abandono é ativo e dinâmico, como o de quem vai atrás de um guia sábio e bom que o defende e lhe garante o êxito, desde que o seguidor queira obedecer com boa vontade, sinceridade e fidelidade.  

Este é um problema absolutamente individual, de escolha e resultados individuais. Se soubermos aprender esta arte de viver em harmonia com Deus, a nossa existência se deslocará do plano da injustiça e da força em que vive o homem, ao plano da justiça e da bondade em que tudo funciona com princípios diferentes. Surge então uma coisa que o mundo não acredita seja possível: para chegar a possuir o que precisamos e para alcançar sucesso não é necessário força ou astúcia. Basta tê-lo merecido, como a justiça o exige.  

(Pietro Ubaldi - Livro: A Lei de Deus)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

EFEITOS DO CARNAVAL

Comentário(s)

Passaram os dias festivos da grande bacanal, que a uns indivíduos quase os enlouqueceram na busca orgíaca do prazer exorbitante, como se a existência humana tivesse por finalidade apenas o gozo. Agora é a realidade sem fantasia, sem música ensurdecedora, sem ilusão. 

É o momento de avaliação do prazer frustrante que foi muito rápido, não permanecendo quanto tempo gostariam os foliões. No momento quando fizerem um retrospectivo das sensações vivenciadas, dos compromissos assumidos, das mentiras românticas e promessas de venturas, dos efeitos dos disparates a que se entregaram, fugindo do dia a dia para o vórtice do vulcão da entrega do corpo e da alma até a consumpção, que virá como consequências das imprudências, do álcool em abundância, das drogas ilícitas e criminosas, dos mentirosos afetos de ocasião, dos relacionamentos sexuais descuidados e sem sentido é que serão tomados de surpresa... 

Será inevitável constatar as despesas que poderiam ser aplicadas de forma saudável, nestes dias de dificuldades econômicas que o país atravessa, de desemprego e da pandemia provocada por insignificante mosquito, portador de doenças perversas ainda em incógnita algumas delas e dos seus danos. Sendo verdade, o que foi apregoado pela mídia, sobre possível contaminação pelo beijo, após os outros meios já conhecidos, dobrar-se-ão os imprevidentes sobre os próprios escombros orgânicos e emocionais, aguardando soluções milagrosas, ou atirando-se ao desespero e à agressividade. 

Gestações indesejadas que terminarão em abortos criminosos, desilusões amargas surgirão em milhares de pessoas despreparadas para as lutas e o estoicismo, serão mais algumas das consequências do carne nada vale. A existência física é um tesouro inestimável que Deus nos concede para a conquista da plenitude, acredite-se ou não na imortalidade da alma, que todos constataremos oportunamente. Retira proveito da lição preciosa e vive com sabedoria. 

Artigo de Divaldo Franco, publicado hoje, no jornal A Tarde, coluna Opinião - 11/02/2016
Divaldo Franco escreve quinta-feira, quinzenalmente.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

A auto-iniciação

Comentário(s)

Por Huberto Rohden

Hoje em dia, muitas pessoas falam em iniciação. Todos querem ser iniciados. Mas entendem por iniciação uma alo-iniciação, uma iniciação por outra pessoa, por um mestre, um guru. Esta alo-iniciação é uma utopia, uma ilusão, uma fraude espiritual. 

Só existe auto-iniciação. O homem só pode ser iniciado por si mesmo. 

O que o mestre, o guru, pode fazer é mostrar o caminho por onde alguém se pode auto-iniciar; pode colocar setas ao longo do caminho setas ao longo da encruzilhada, setas que indiquem a direção certa que o discípulo deve seguir para chegar ao conhecimento da verdade sobre Si mesmo. Isto pode e deve o mestre fazer - suposto que ele mesmo seja um auto-iniciado. 

Não se iniciou na verdade sobre si mesmo, não possui autoconhecimento, e por isso não pode entrar na auto- realização. 

Somente o conhecimento da verdade sobre si mesmo é libertador; toda e qualquer ilusão sobre si mesmo é escravizante. 

O homem deve, periodicamente, fazer o seu ingresso dentro de si mesmo, na solidão da meditação e depois fazer o egresso para o mundo externo, a fim de testar a força e autenticidade do seu ingresso. 

A verdade que os libertou da velha ilusão de se identificarem com o seu corpo, com a sua mente, com as suas emoções, saíram das trevas da ilusão escravizante, e ingressaram na luz da verdade libertadora. 

E quem descobre a verdade sobre si mesmo, liberta-se de todas as inverdades e ilusões. Liberta-se do egoísmo, da ganância, da luxúria, da vontade de explorar, de defraudar os outros. Liberta-se de toda injustiça, de toda desonestidade, de todos os ódios e malevolências - de todo o mundo caótico do velho ego. O iniciado morre para o seu ego ilusório e nasce para o seu EU verdadeiro. O iniciado dá o início, o primeiro passo, para dentro do "Reino dos Céus". Começa a vida eterna em plena vida terrestre.Não espera um céu para depois da morte, vive no céu da verdade, aqui e agora - e para sempre. Isto é auto-iniciação. Isto é autoconhecimento.

Huberto Rohden

SINCERO. "SINE CERA"

Comentário(s)

A palavra sincero é derivada de “sinecera” (sem cera). Em grego, “eilikrinés”, de “eile”, calor ou fulgor solar, e “krinés”, testado. Literalmente “testado pelo sol”. Os antigos gregos e romanos fabricavam vasos de cerâmica e porcelana finíssima; mas alguns vasos rachavam ao calor do forno; mercadores desonestos tapavam as rachas com cera branca, invisível, da cor do vaso. Somente quando expostos ao calor solar, no mercado, o vaso revelava ser remendado com cera. Por isso os mercadores honestos marcavam os seus produtos com a palavra “sine cera”, (sem cera) em grego “eilikrinés” (à prova do sol). 

Daí, “sincero”: o que não foi falsificado.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

BANDEIRANTES DA INTUIÇÃO

Comentário(s)



"Nossa tentativa não se destina a impor ideia alguma ou a fazer prosélitos. É apenas uma oferta livre, que não obriga ninguém a aceitá-la. Quem estiver convencido de possuir outra verdade melhor e estiver satisfeito com ela, que não a abandone. Quem não gostar de pesquisas no terreno de tantos mistérios que nos cercam de todos os lados, quem não quiser incomodar-se com o trabalho de aprofundar o seu conhecimento, enriquecendo-o com novos aspectos da verdade, fique tranqüilo na sua posição. Não desejamos perturbar ninguém; não andamos em busca de seguidores a fim de conquistar domínio na Terra; não somos rival de ninguém neste campo. O nosso único interesse é a pesquisa para atingir o saber. Este, e só este, é o nosso objetivo, e não o de conquistar poder algum neste mundo. Permanecemos, por isso, com o maior respeito por todas as verdades que o homem possui e pelos grupos que as representam. Respeitamos os campos já conhecidos, embora sigamos por nossa conta explorando novos continentes. Respeitamos as verdades já conquistadas, embora procuremos ver mais longe. Respeitamos todas as religiões e doutrinas, e de maneira nenhuma pretendemos destruí-las ou superá-las, a fim de as substituir por outras. Ensinaremos sempre o maior respeito pela fé e filosofia alheia." 
(P. Ubaldi - Lei de Deus - Cap. 1)

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

QUIS ENTRAR NO CÉU DE CONTRABANDO

Comentário(s)

Ó mundo ingrato e falaz!
Ó mundo cruel e avaro!
Por que me negaste tudo
O que eu de ti esperava?...
Adorei-te intensamente,
Idolatrei-te perdidamente...
Da manhã até à noite,
Sem cessar,
Andei em busca dos teus tesouros...
Da manhã até à noite,
Da noite até à manhã,
Engendrando planos e projetos
Para captar a matéria-morta
E a carne-viva que prometes
A teus servidores.
Mas tu me davas precariamente
O que eu desejava em abundância.
Por isto, enojado de ti,
Ó mundo ingrato e falaz,
Abandonei-te, amargurado,
E fui em demanda de Deus.
Voltei-te as costas,
Em mudo protesto.
Falei mal de ti,
Ó mundo cruel e avaro,
A todos os meus amigos
E sócios de decepção.

Mas...oh, ingrata surpresa!
Não encontrei sossego em Deus...
Algo insatisfeito me distanciava
E me mantinha longínquo
Do Deus propínquo.
Algo como imaturidade,
Mais adivinhado que sabido,
Me enchia de nostálgica saudade,
E evocava em mim imagens profanas,
De mundos idos, semi-delidos,
De uma vida não vivida...
E eu voltei as costas a Deus
E, impetuoso, me lancei a teus braços,
Ó mundo querido e idolatrado!...
E tu me deste tudo, tudo
Que desejar pudesse,
No vasto âmbito das minhas ambições.
Cumulaste-me de riquezas,
De honras e glórias sem par.
E eu me banhava, voluptuosamente,
Em tuas tépidas ondas,
Longe, bem longe, das praias de antanho,
Intensamente satisfeito comigo
E contigo, ó mundo fagueiro

Mas, eis que a grande fome
Que eu tinha de ti,
A fome que tão prodigamente
Me saciaste,
Se converteu em fastio,
Num fastio imenso de ti
E num fastio de mim mesmo,
Teu devotado adorador...
E novamente me afastei de ti,
Não por me teres negado o que te pedira,
Mas por me teres dado tudo, tudo,
Mais do que te pedira,
Mais do que desejar pudesse...
Saciastes todas as minhas fomes,
E essas fomes todas,
Tão exuberantemente saciadas,
Criaram em mim um fastio tão grande
Que não mais te tolero,
Ó mundo profano,
Não mais te tolero,
Porque não mais me tolero,
Por ti profanado
E profanizado...

E agora, sem ódios nem desejos,
Sem protesto nem amargura,
Sem saudades nem nostalgias,
Em plena paz Contigo
E quite comigo mesmo,
Entrei no mundo grandioso
Que teus devotos ignoram
Um mundo de gozo sem fastio,
Que amanhece para além de todas as fomes
E de todos os fastios que tu conheces,
Para além de todos os teus ocasos
Na grande Alvorada de Deus...
A grande LIBERTAÇÃO...

(Escalando o Himalaia - Huberto Rohden)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

O SIGNIFICADO E O MÉTODO DA VIDA

Comentário(s)

A ciência e a razão têm prometido vários paraísos na terra, mas eles não foram realizados. Dizemos isto, não para combater ou subestimar o imenso passado e o esforço atual, heróico e justo, do mundo, para se colocar numa nova ordem, mas para acrescentar-vos que a nova civilização, que não pode ser senão a do espírito, não poderá efetivar-se antes, cada qual, individualmente, não modificar a sério a sua concepção e o seu sistema de vida. Se o mundo não se transformar, de fato, através de cada um dos seus componentes; se, não somente em palavras, mas também na realidade da vida, não se inaugurar, em vasta escala, uma nova tábua de valores, uma nova civilização não se formará. Assim como hoje se ri do senso de honra da Idade Média, que consistia em passar a fio de espada os inimigos, assim os séculos futuros haverão de rir de alguns dos nossos conceitos de respeitabilidade e de honra, baseados na riqueza, nos títulos e nas posições sociais, filhos da egoísta luta individual. O problema da felicidade, - logo se deverá compreender -, não se resolve com o bem-estar material, mas somente atingindo, além daquele, um elevado grau de consciência, de que aquele não é mais do que meio. Enquanto fizermos da riqueza um fim em si mesmo, ela continuará envenenada e envenenará quem a possuir. A felicidade não é uma forma de abastança, mas uma íntima satisfação do espírito, um equilíbrio moral, "uma harmonia individual na harmonia cósmica". O homem possui também, indiscutivelmente, um espírito que não pode iludir-se e satisfazer-se somente com vantagens e gozos materiais. Além destas aquisições há todo um outro mundo, com mais vastos horizontes. O espírito sente por instinto, a necessidade de orientação conceptual, de finalidade das ações, de coordenação dos seus próprios esforços para a meta de si mesmo no todo. Sente a necessidade de realizar qualquer coisa de sério e imperecível, para quando tiver chegado ao fim da vida. Se o homem não possui também estas coisas imponderáveis, sente-se freqüentemente, sem saber como explicar, insatisfeito, infeliz.

Enquanto o mundo se ocupar das construções materiais, antes das construções espirituais, e não se ocupar destas como coisas principais, a vida será desperdiçada, as leis biológicas serão traídas, e será insensato, nesse regime de insensatez, pretender colher felicidade ao invés de desesperação. Pode-se sorrir com ceticismo e expulsar o enfadonho pregador dessa verdade, mas o dilema é hoje tremendo: ou criar uma nova civilização ou retornar à barbárie. As leis da vida exigem e fazem pressão para resolver dois milênios de preparação e de espera, e não há lugar para a inconsciência dos que dormem ou gozam. Se não houver o esforço para se criar uma nova civilização, a barbárie de substância, não importa se envernizada de civilização mecânica, será uma punição para todos.

(Pietro Ubaldi – Trechos do livro “História de um Homem”)

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

ESTRATÉGIAS DO MUNDO

Comentário(s)


A civilização moderna, voz da terra, tem um sistema muito seu para sufocar o espírito. Não o combate frente a frente; não o nega, mas observa-o. Não lhe diz: "Tu não existes", porque isto seria um reconhecimento do direito à defesa. Diz-lhe: "Eu existo, apenas eu", e assim o suprime sem o matar. Aturde-o com os rumores externos, com distrações contínuas, com o dinamismo mecânico e vazio que lhe dá a ilusão de fazê-lo viver, mas que em verdade o deixa morrer. Rouba-lhe cada minuto do tempo que ele tem para refletir, para se encontrar a si mesmo. Arranca-o da solidão para atirá-lo no vórtice das metrópoles. Não lhe dá tréguas. E a vida exterior exige, de fato, toda a nossa atenção. Não nos podemos deter nas margens. Nos raros momentos de paz percebemos que há dentro de nós um estranho descontentamento, uma insatisfação amarga, um vazio e uma fome, uma tristeza que a civilização não admite porque não tem meio algum para a curar. O mundo desistiu de se opuser deste problemas do espírito, tão importantes em épocas que hoje se chamam de primitivas, atrasadas. Parece que o homem perdeu completamente o sentido das coisas espirituais, tanto que nem mesmo as discute e nada se preocupa com elas. Esta é a solução mais radical, ou seja, a supressão do problema, a extirpação das qualidades necessárias para o enfrentar. O mundo preocupa-se com outras coisas. O seu gênio construiu a máquina e agora está certo de que com ela ganhou mais um escravo que lhe torna mais cômoda a vida. E a máquina é quem manda e se faz servir. O homem criou a máquina, mas não criou ainda o juízo para servir-se dela, o que é muito mais difícil. E corre, freqüentemente só por correr, para servir à máquina que corre.

(Pietro Ubaldi – Trechos do livro “História de um Homem”)

ASTÚCIA E SINCERIDADE

Comentário(s)

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Confrontemos as duas estratégias: a da astúcia e a da sinceridade. A primeira vista, parece que a primeira dê frutos maiores. Eles são mais visíveis porque imediatos e, para quem ignora o futuro, o imediato tem grande valor como prova de êxito. Mas trata-se de frutos aleatórios. A sinceridade, ao contrário, se constrói mais lento, constrói mais sólido, aí mesmo onde o engano constrói rápido mas sobre areia. Parece um atalho, e no entanto é uma estrada mais longa. Por isso muitos são a ela atraídos, mas depois ficam desiludidos. 

As aparências enganam. A estratégia da sinceridade, justamente porque mais simples e retilínea, é mais própria a vencer; a da astúcia facilmente se perde pelas estradas tortas da mentira. Para manter a primeira mentira, é preciso logo escorá-la com uma segunda, depois a segunda com uma terceira, e assim por diante. No fim, não se constrói um edifício, mas apenas uma desordenada floresta de escoras e, se falta uma delas, tudo rui. Se um resultado imediato é obtido com o primeiro engano, logo é preciso justificá-lo com outro, depois este com outro, até que se fica preso em sua rede. Constrói-se assim um sistema todo errado, dentro do qual se fica preso. A mentira é a areia mole do pensamento, na qual, nem mesmo quem a diz, sabe onde apóia o pé e por isso mesmo acaba afundando. Quando se pretende construir nesse terreno, quanto mais alguém se move para sair, mais nele afunda. Acontece como no tempo de guerra, em que todos semeiam minas, que depois explodem para todos, aonde quer que se vá. A vida do astuto enganador acaba então transformando-se em campo minado, no qual ele mesmo, em primeiro lugar terá de caminhar, com o perigo de que uma das minas que ele mesmo colocou, possa explodir a cada momento.

Então, entre as duas estratégias, a do mundo e a do homem evangélico, demonstra-se a primeira, na prova dos fatos, decididamente inferior. O primeiro método é confuso, complicado, tolhido em seus movimentos pela própria multiplicidade de suas faces, que podem esconder, mas também podem trair. Quem o utiliza, sente intimamente que não está certo; sente que esta, por trás de todas as aparências, está intimamente estragado e não sustentado por nenhuma força interior. Tudo isto o torna ansioso, desconfiado, necessitado de assegurar-se, agarrando-se ao que lhe parece concreto em seu mundo, onde tudo lhe escapa no engano. Tomado pelo afã de uma preocupação contínua, ele então se agita e corre, sem jamais chegar a tempo. Assim a astúcia do mundo constrói um grande castelo que, como vimos na prática, acaba muitas vezes caindo-lhe nas costas e sepultando-o nos escombros.

Diferente é o método do homem evangélico. Simplicidade e sinceridade representam material de primeira qualidade, bem sólido para construir. Não há mistérios a esconder, mentiras a recobrir, máscaras para arrastar atrás de si, não se fica sobrecarregado pelo trabalho de ter que aparecer sem ser, pelo esforço de ter que representar a comédia do fingimento. Quantos cálculos a menos a fazer, quanto menos erros possíveis para corrigir depois, quanto trabalho a menos para realizar! O homem evangélico tem uma só face e sempre a mesma. Ele sabe o que está certo, conhece o seu direito, e faz o que deve. Esta sua posição retilínea constitui seu maior poder de penetração e resistência. Não tem pressa de chegar porque sabe que, se Deus não paga no sábado, certamente pagara e na melhor época. Ele conhece a Lei e confia nela. E isto lhe da calma pelo que, sem a ânsia de correr, chega a tempo. A calma e a segurança são as qualidades que fazem reconhecer as coisas do bem e de Deus. A pressa ansiosa e a incerteza são as qualidades que fazem reconhecer as coisas do mal. O evoluído sabe que constrói estavelmente na rocha um edifício feito para ficar em pé. 

Pietro Ubaldi


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