Por Divaldo Franco
Caracterizam os relacionamentos humanos a amizade e a confiança
como sendo os elementos que unem uma à outra criatura.
Nessa fase inicial da convivência a alegria desarma os
sentimentos e o bem-estar se instala contribuindo para o seu prolongamento.
Nesse ínterim as
conversações cordiais facultam o desvelamento da conduta de cada qual, que
relata a sua forma de ser, libera as emoções e narra com bondade o seu lado
desconhecido. Com o tempo, as revelações fazem-se mais profundas e
significativas, de forma que se passa a identificar melhor o mundo interior do
outro até mesmo ocorrências que dormem no seu íntimo. Planos cuidadosos são
discutidos, projetos são participados e revelações que dizem respeito ao sentir
e ao ser tornam se parte das conversações que estruturam as afeições.
Nada
obstante, o tempo diminui ou aumenta o entusiasmo pela convivência e mais ou
menos se desnudam as paisagens pessoais, relativas a si mesmos e a outras
pessoas.
Tudo
respira confiança e representa inteireza de caráter.
Os
grupos sociais são formados pelas afinidades ideológicas ou de outra natureza,
e as comunidades crescem dentro dos padrões dos seus interesses.
Parece
haver uma bem trabalhada solidificação nos laços do afeto.
De
repente, porém, surge um mal-entendimento, uma discrepância opinativa ou de
conduta, uma mudança idealística e, não raro, o relacionamento que parecia
firme desestrutura-se, abre-se campo à censura, a acusações descabidas, e
lamentavelmente à deslealdade.
Narram-se
informações verdadeiras e falsificadas sobre um como sobre o outro, ampliam-se
os comentários maledicentes e surgem inimizades que levam a combates perversos,
inconcebíveis.
A
deslealdade é doença moral que afeta a sociedade e a corrompe.
A
mudança de opinião de um amigo sobre outro, que se lhe torna até adversário,
não deve transformar-se em liça para desmoralização, em mínima homenagem às
horas felizes que foram vividas.
No
matrimônio, por exemplo, as afeições explodem em júbilos e paixões, apegos e
ciúmes até o momento em que algo não corresponde aos egos imaturos nos casais e
as brigas, as infâmias, os crimes, os feminicídios covardes destroem vidas.
Famílias se desagregam, filhos ficam órfãos de pais vivos e a humanidade
cambaleia por falta de amor e de dignidade.
Na
política, é mais que lamentável, a ponto de ser um capítulo chocante da
indignidade humana.
Quase
ninguém escapa dessa falha moral: a deslealdade!
O ser
humano evolui do bruto ao sensível, do animalesco ao angélico, e será sempre de
bom alvitre incluir-se a lealdade como fator essencial na educação das
criaturas.
Foi
um amigo que traiu Jesus e outro que O negou, quando poderia ser bem diferente
para o mundo melhor.
Artigo
publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, 30 de abril de 2020.