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TRANSCRIÇÃO DA AULA 1 - O Homem esse desconhecido
Curso 78
Aula 01 – data 14/03/78
O Homem esse desconhecido
Huberto Rohden
Autoconhecimento – desde os tempos antiqüíssimos da China, da Índia, do Japão – países cultos da Ásia – não se escrevia sobre outra coisa das filosofias antigas, senão: que é o homem? Que sou eu? Será que eu me conheço? Será que eu sei quem eu sou? Isto chama autoconhecimento.
Tempo dos Vedas 5000 anos antes de Cristo, na Índia – a mais profunda filosofia foi escrita sobre autoconhecimento - que é o homem. Não a sua periferia, mas o seu centro – juntamente com a sua periferia. O homem não é só o seu invólucro, a sua embalagem - também o seu centro. Depois a filosofia passou da Ásia para o Egito, para o norte da África, para a Alexandria. E Alexandria se tornou o novo centro de autoconhecimento. Lá viviam os grandes pensadores, (antes da Grécia) - em Alexandria, os grandes gênios onde também foi traduzido todo o Antigo Testamento hebraico para o grego. 300 anos antes de Cristo. 70 intérpretes eruditos passaram para o grego (ninho cultural daquele tempo) todo o Antigo Testamento hebraico. A Septuaginta.
Da Alexandria, África, o movimento passou para Atenas capital da Grécia. E na Grécia começou outra vez o grande movimento do conhecimento, sobretudo desde Sócrates. Continuou na Grécia – tempo de Sócrates – quatro séculos antes de Cristo. O movimento autoconhecimento é o centro de toda a filosofia da Ásia da África e da Europa. Índia... China, Japão, Egito, Grécia - todos os centros filosóficos tratavam de saber o que é o homem. Mandaram gravar no maior santuário de iniciação da Grécia, em Delfos, na fachada do santuário, duas palavras mágicas em grego: gnôth seautón. Em grego são só 2 palavras. Nós temos mais: Conhece-te a ti mesmo. Estava gravado no frontispício do santuário de iniciação – quer dizer em todos os tempos a filosofia teve como centro o homem, esse desconhecido, como diz Alex Carrel. O homem, esse desconhecido ou o homem, esse fenômeno paradoxal - como diz Teilhard de Chardin, ou o homem esse misto de grandezas e de misérias - como diz Pascal. Todos giram em torno do homem e querem saber o que é que ele é.
E até hoje há um grande ponto de interrogação. Pelo menos há 7000 anos estamos fazendo a pergunta que sou eu. O que é o homem. E até agora o autor tem que escrever, o homem esse desconhecido, o homem esse paradoxo, o homem essa miscelânea de miséria e de grandeza. Por quê? Porque é muito difícil saber o que nós somos. É muito fácil saber o que é um átomo, mas é muito difícil saber o que é o homem. Por quê? Porque a inteligência pode analisar as coisas e depois ele sabe o que é. Mas pela inteligência nós não podemos analisar o homem. A psicologia faz análise sobre o homem, mas isto não é autoconhecimento. Análise do nosso invólucro físico, do nosso invólucro mental e do nosso invólucro emocional que é psicologia não é o que nós queremos. Nós queremos saber mais do que nossa embalagem corpórea, mental e emocional. Tudo isto é embalagem. São camadas externas do nosso ser. Mas, não é ainda o centro e o cerne do nosso verdadeiro ser. Então, como é que vamos descobrir o nosso centro e cerne, a nossa quintessência, a nossa realidade invisível?
Não é possível por meio de análises. Por meio de análises nós só chegamos a descobrir o que é o corpo, o que é a mente, e o que são as nossas emoções. Psicologia não vai além disto. Nenhuma psicologia vai além disto. Nenhuma análise filosófica e científica vai além das periferias do homem. Não nos interessa as periferias agora. Nós queremos saber o seu centro. E isto nós não podemos saber só por análise. Análise é necessária, mas não é suficiente. A análise tem que preceder e depois tem que vir outra coisa.
Na célebre frase de Einstein “do mundo dos fatos não conduz nenhum caminho ao mundo dos valores porque os valores vêm de outra região” sintetiza em poucas palavras todo o nosso problema. Einstein diz que o mundo dos fatos pode ser analisado. O nosso corpo é um fato, a nossa mente é um fato, as nossas emoções são fatos. Podem ser analisados. Mas ele diz que do mundo dos fatos (objeto da ciência) não conduz nenhum caminho para o mundo dos valores. O nosso centro ele sempre chama valor. As nossas periferias ele chama fatos. Fatos são analisáveis. Fatos corpóreos, fatos mentais e fatos emocionais são objetos da filosofia e da psicologia, mas o valor, o centro, o cerne do nosso ser, isto não se pode analisar; porque do mundo dos fatos não conduz nenhum caminho para o mundo dos valores...- para desesperar! Porque nós gostaríamos tanto que do mundo dos fatos analisáveis conduzisse algum caminho, pelo menos uma picada ou uma senda estreita – mas ele diz que não conduz nenhum caminho, nem largo nem estreito. Da análise não conduz nenhum caminho para o nosso interior.
Autoconhecimento – desde os tempos antiqüíssimos da China, da Índia, do Japão – países cultos da Ásia – não se escrevia sobre outra coisa das filosofias antigas, senão: que é o homem? Que sou eu? Será que eu me conheço? Será que eu sei quem eu sou? Isto chama autoconhecimento.
Tempo dos Vedas 5000 anos antes de Cristo, na Índia – a mais profunda filosofia foi escrita sobre autoconhecimento - que é o homem. Não a sua periferia, mas o seu centro – juntamente com a sua periferia. O homem não é só o seu invólucro, a sua embalagem - também o seu centro. Depois a filosofia passou da Ásia para o Egito, para o norte da África, para a Alexandria. E Alexandria se tornou o novo centro de autoconhecimento. Lá viviam os grandes pensadores, (antes da Grécia) - em Alexandria, os grandes gênios onde também foi traduzido todo o Antigo Testamento hebraico para o grego. 300 anos antes de Cristo. 70 intérpretes eruditos passaram para o grego (ninho cultural daquele tempo) todo o Antigo Testamento hebraico. A Septuaginta.
Da Alexandria, África, o movimento passou para Atenas capital da Grécia. E na Grécia começou outra vez o grande movimento do conhecimento, sobretudo desde Sócrates. Continuou na Grécia – tempo de Sócrates – quatro séculos antes de Cristo. O movimento autoconhecimento é o centro de toda a filosofia da Ásia da África e da Europa. Índia... China, Japão, Egito, Grécia - todos os centros filosóficos tratavam de saber o que é o homem. Mandaram gravar no maior santuário de iniciação da Grécia, em Delfos, na fachada do santuário, duas palavras mágicas em grego: gnôth seautón. Em grego são só 2 palavras. Nós temos mais: Conhece-te a ti mesmo. Estava gravado no frontispício do santuário de iniciação – quer dizer em todos os tempos a filosofia teve como centro o homem, esse desconhecido, como diz Alex Carrel. O homem, esse desconhecido ou o homem, esse fenômeno paradoxal - como diz Teilhard de Chardin, ou o homem esse misto de grandezas e de misérias - como diz Pascal. Todos giram em torno do homem e querem saber o que é que ele é.
E até hoje há um grande ponto de interrogação. Pelo menos há 7000 anos estamos fazendo a pergunta que sou eu. O que é o homem. E até agora o autor tem que escrever, o homem esse desconhecido, o homem esse paradoxo, o homem essa miscelânea de miséria e de grandeza. Por quê? Porque é muito difícil saber o que nós somos. É muito fácil saber o que é um átomo, mas é muito difícil saber o que é o homem. Por quê? Porque a inteligência pode analisar as coisas e depois ele sabe o que é. Mas pela inteligência nós não podemos analisar o homem. A psicologia faz análise sobre o homem, mas isto não é autoconhecimento. Análise do nosso invólucro físico, do nosso invólucro mental e do nosso invólucro emocional que é psicologia não é o que nós queremos. Nós queremos saber mais do que nossa embalagem corpórea, mental e emocional. Tudo isto é embalagem. São camadas externas do nosso ser. Mas, não é ainda o centro e o cerne do nosso verdadeiro ser. Então, como é que vamos descobrir o nosso centro e cerne, a nossa quintessência, a nossa realidade invisível?
Não é possível por meio de análises. Por meio de análises nós só chegamos a descobrir o que é o corpo, o que é a mente, e o que são as nossas emoções. Psicologia não vai além disto. Nenhuma psicologia vai além disto. Nenhuma análise filosófica e científica vai além das periferias do homem. Não nos interessa as periferias agora. Nós queremos saber o seu centro. E isto nós não podemos saber só por análise. Análise é necessária, mas não é suficiente. A análise tem que preceder e depois tem que vir outra coisa.
Na célebre frase de Einstein “do mundo dos fatos não conduz nenhum caminho ao mundo dos valores porque os valores vêm de outra região” sintetiza em poucas palavras todo o nosso problema. Einstein diz que o mundo dos fatos pode ser analisado. O nosso corpo é um fato, a nossa mente é um fato, as nossas emoções são fatos. Podem ser analisados. Mas ele diz que do mundo dos fatos (objeto da ciência) não conduz nenhum caminho para o mundo dos valores. O nosso centro ele sempre chama valor. As nossas periferias ele chama fatos. Fatos são analisáveis. Fatos corpóreos, fatos mentais e fatos emocionais são objetos da filosofia e da psicologia, mas o valor, o centro, o cerne do nosso ser, isto não se pode analisar; porque do mundo dos fatos não conduz nenhum caminho para o mundo dos valores...- para desesperar! Porque nós gostaríamos tanto que do mundo dos fatos analisáveis conduzisse algum caminho, pelo menos uma picada ou uma senda estreita – mas ele diz que não conduz nenhum caminho, nem largo nem estreito. Da análise não conduz nenhum caminho para o nosso interior.
E mais tarde ele chama esses valores - a intuição. Da análise não há nenhum caminho para a intuição. Agora nós estamos jogando com duas palavras misteriosas. Análise e intuição. Muitos sabem o que é análise, a gente analisa a coisa corporal, a gente analisa a mente e até a psique. Os livros estão cheios de análises. Escrevem livros maravilhosos sobre análise física, análise mental, e análise emocional. Muito bem! Agora vem uma outra coisa que não é análise. Da análise não conduz nenhum caminho para a intuição.
Todo mundo usa a palavra intuição, mas em outro sentido. No povo comum intuição quer dizer pressentimento: eu tive a intuição de que fulano ia morrer e ele morreu mesmo. Eu tive a intuição de que ia acontecer isso e não aconteceu. Falhou a intuição. Isso não é intuição. Isso é pressentimento. Pressentimento é do nosso ego. A intuição nada tem que ver com o nosso ego. Pressentimentos são do nosso ego físico, do nosso ego mental, do nosso ego emocional, mas quando nós usamos a palavra intuição falamos uma coisa completamente diferente.
Nós não podemos fabricar nenhuma espécie de intuição verdadeira porque do mundo dos fatos não conduz nenhum caminho para o mundo dos valores. E os valores são intuição. Mas o que é então o valor, o que é a intuição? Para os nossos sentidos não é nada. Para a nossa mente não é nada. Para as nossas emoções não são nada. E como é que nós podemos chegar até a zona da intuição, até a zona dos valores de que Einstein fala constantemente. Nós não podemos lá chegar. Não podemos. Desanimam desde a primeira vez. Ninguém pensa que alguém um dia se possa tornar intuitivo. Tira toda esperança. Desde já. Não pense tal coisa. Então poderíamos fazer ponto final aqui. Mas não vamos fazer ponto final, porque diz Einstein, os valores vêm de outra região, vêm...- nós não podemos descobri-los, mas eles vêm.
Vejam que palavras felizes ele usou. Nós podemos fabricar análise. Toda espécie de análise a nossa mente fabrica a torto e a direito. Análise física, análise mental, análise emocional. Ninguém pode fabricar uma intuição. Porque esses vêm de outra região. De outra região... Qual é a região donde vêm os valores com a intuição? Ele não diz. Diretamente Einstein não diz. Mas em muitos artigos dele que eu tenho lá, ele dá uma pista para descobrir donde é que vêm os valores. Nós não podemos fabricar valores. Cuidado com essa filosofia existencialista que quer fabricar valores!
A filosofia existencialista diz: bem, valores não existem. Valores são uma construção mental. Quase toda filosofia moderna pende para esse lado que valores não são coisas reais. É uma abstração. É uma ficção da nossa mente ou como dizem, é uma construção mental. Lá vem o maior dos cientistas modernos - Einstein diz, não os valores existem e nós não fazemos os valores, mas estão em outra região. Não estão na região do nosso ego, da nossa análise física, da nossa análise mental, da nossa análise emocional. Lá não estão os valores, mas ele diz que estão em outra região porque se eles vêm de outra região, então eles estão lá. Logo, valor é uma coisa objetiva. Valor não é uma fantasia. Valor não é uma ficção. Não é uma construção mental.
Vocês vão ver isto nos livros. Ah! Isto é uma
construção mental, não tem nada de realidade, é uma fantasia. Não é verdade, os
maiores cientistas admitem que os valores existem independentemente de nós e
que podem ser canalizados para dentro de nós, mas já existem antes de serem
canalizados. A nós nos compete canalizar. Isto nós não podemos. Nós não podemos
canalizar nenhum valor para dentro de nós, mas os valores podem canalizar-se
por si mesmos para dentro de nós. Agora estamos diante desse mistério. Nós
estamos diante de dois mundos. O mundo constatável, verificável e analisável
dos nossos sentidos físicos, da nossa inteligência mental e das nossas emoções
típicas. Isto nós podemos fazer. Nós somos donos disto. Fazemos e desfazemos tudo
isto. Fazemos e desfazemos análises. Ninguém pode fazer e desfazer valores.
E estamos diante desse mistério: como é que podemos saber da realidade de valores, se os valores estão em outra região, se eles vêm de outra região. E quando é que eles vêm? Quando um valor vem a nós, então nós chamamos isto, intuição. Palavra misteriosa. Quando um valor vem a nós, não quando nós fabricamos valor, isto é impossível. Quando um valor já existe, uma realidade invisível chega ao nosso consciente humano, quando ele é canalizado pela nossa consciência. Não pela inteligência, mas pela consciência. Não pela ciência, mas pela consciência. Não pelos sentidos, nem pela inteligência, nem pelas emoções, ninguém pode canalizar valores intuitivos para dentro de si.
Mas todos afirmam hoje em dia que existem valores e que podem canalizar-se, podem invadir-nos. Nós não podemos invadir os valores, mas os valores nos podem invadir. Nós não podemos fabricar estes valores, mas os valores já existem e podem ser canalizados para dentro de nós. Isso chama intuição. Coisa misteriosa!
No século passado (século XIX) quase todos os grandes cientistas da Europa e dos Estados Unidos só tratavam de análise. O que não se podia analisar não era certo. Hoje em dia mudou completamente. Quase desde a 1a guerra e, sobretudo depois da 2a guerra mundial a coisa mudou completamente. Hoje os maiores cientistas do mundo - Einstein, na frente - falam abertamente em valores. No século passado não se podia fazer isto! Ai dos cientistas que falassem em valores! Bobagem, isto é infantilismo. Isto não existe, não existem valores, são fabricações nossa.
No século passado era assim. Não se podia falar em coisas que não fossem fatos. A ciência era feita de fatos. Fatos físicos, fatos mentais e fatos emocionais. Agora a coisa mudou. Uns 50 anos atrás começou a mudar. Os cientistas falam abertamente em valores que estão além de todos os fatos. E falam em intuição que é um modo de estabelecer um contato entre os valores e nós. E falam em consciência. Quem é que no século passado podia falar em consciência, isto é atraso. Consciência é das igrejas. Aqui nós não tratamos de consciência, diziam os cientistas, nós tratamos de ciência. A ciência trata de fatos. A consciência trata de valores.Os cientistas não tinham a coragem de mencionar palavras como consciência, como valores, porque tudo isto era tabu. Isto não se pode usar na academia, nem na universidade. Isto pode usar na igreja, nos conventos.
Hoje em dia a coisa mudou. Os maiores cientistas falam abertamente em valores, além de todos os fatos. Falam em intuição, além de toda a análise, que é uma coisa de alta novidade. E o homem mais corajoso que fala em valores e intuição era Einstein – pai da era atômica, que não era um homem de igreja. Nunca pertenceu a nenhuma igreja. Nem à igreja cristã nem à igreja judaica. Embora ele fosse de origem judaica ele nunca freqüentou a sinagoga. Mas era um homem profundamente religioso. Ele afirma categoricamente: eu sou um homem profundamente religioso, mas não tenho nenhuma religião. Porque ter uma religião é ter um certo credo. Ter uma certa teologia, cristã, pagã, judaica, mulçumana ou outra, isto é uma religião.
Einstein dizia: eu não tenho nenhuma religião. Eu não pertenço a nenhum partido eclesiástico, não pertenço nem ao partido da sinagoga. Eu simplesmente sou um homem religioso. Ele insiste: ele é religioso, não de religião, mas ele é religioso de outro modo. O que é que ele entende por religiosidade? Esta a intuição é que ele chama de religiosidade. Quando alguém chega, a saber, pela consciência que além de todos os fatos há valores grandiosos no universo e que esses valores são reais e que esses valores podem ser canalizados para dentro de nós, de certo modo, que vamos dizer aí depois; isto ele chama religiosidade. A religiosidade não trata de nenhum fato. As religiões são fatos. Igrejas são fatos. Seitas são fatos. A religiosidade não trata disto. A religiosidade trata da canalização de valores pela nossa consciência. Podemos canalizar os valores transcendentais para dentro de nós através de nossa consciência. Isto Einstein chama ‘ser religioso".
E desde que Einstein escreveu isto pela 1a vez, (ele escreveu isto em 1939 - na universidade de Princeton. Eu estive lá com ele 45 até 46, mas antes ele já tinha escrito isto) em seu livro: “Mein Weltbild” (O mundo como eu vejo) e depois no último livro “Aus meinen spaeten Jahren” (Dos meus últimos anos). E depois que Einstein escreveu que ele não tinha nenhuma religião, mas que ele era um homem profundamente religioso e que não tratava só de análises cientificas, mas tratava também de intuição cósmica, todo o mundo criou coragem. E quando um gigante sai à frente todos os pigmeus seguem atrás. Mas quando nenhum gigante vai à frente ninguém tem coragem de ir à frente.
‘Não, não, não, não vamos falar em valores, vamos falar em religiosidade. Não vamos falar nessas coisas transcendentais, porque isso desacredita nossa ciência’. Os cientistas tinham medo de empalidecer a sua auréola científica, ou fazer cair por terra a sua auréola científica se falassem em coisas transcendentais, em coisas metafísicas, em coisas religiosas, em valores que ninguém pode ver. Nunca ninguém viu um valor. Vocês não podem ver um valor. Vocês podem ter consciência de um valor, mas vocês não podem ver, nem ouvir, nem tanger nenhum valor.
Quer dizer, tratando de valores já falamos de uma realidade transcendental. Não de uma fantasia, mas de uma realidade - mais real que os próprios fatos. Quando Einstein deu este passo gigantesco, os outros que sabiam disto, pouco a pouco criaram coragem também. E disseram: “Einstein tem razão. Vamos também ter coragem e dizer que existem valores e que a gente pode entrar em contato com o mundo transcendental, e tudo isto”.
Então uma série de grandes cientistas - hoje conhecidos no mundo inteiro falam abertamente numa coisa que a gente pode incluir, mas não pode analisar. Outrora só se analisava. Quando não se podia analisar uma coisa, então os cientistas diziam: ‘isto não é certo’. Depois Einstein chega a dizer ‘aquilo que não se pode analisar, mas intuir, isso é mais certo do que qualquer outra coisa’. Que desafio! Aquilo que se pode intuir sem poder analisar, isto é absolutamente certo. O que se pode apenas analisar é mais ou menos certo, mas, não absolutamente.
Einstein dá infinitamente mais valor à certeza intuitiva do que a toda análise cientifica. Veja que mudança, desde os últimos 50 anos! A humanidade enveredou por um outro caminho. Ela não despreza mais a análise. Continua a analisar em todos os laboratórios e universidades. Faz muito bem! Mas, não acredita mais que não exista nada fora das coisas que se possam analisar. Hoje em dia precisam saber uma coisa que não se pode conhecer, nem crer. As igrejas mandam crer. Todas as igrejas mandam crer em valores. Deus é um valor. Imortalidade é um valor. Minha alma é um valor.
As igrejas mandam crer porque as igrejas tratam das massas e da massa não se pode esperar nada senão crença. Vocês não podem esperar de uma grande massa de homens que saiam das crendices, e que conheçam por ciência de algo mais avançado. Mas, a maior parte se contenta com crer. Crer é um ato de boa fé. Fazem bem! Nós não censuramos os crentes. Achamos que eles têm razão e na zona em que eles estão não se pode fazer coisa melhor do que crer. Os cientistas muitas vezes desprezam os crentes, os que têm fé. Dizem ‘isto é infantilismo, isto é puerilidade, nós os cientistas, não cremos, nós conhecemos, nós analisamos’.
Depois vêm alguns que estão além dos crentes, além dos cientistas. Como é que vamos chamar essa 3a classe? Os sapientes, os que sabem não pelos olhos, não pelos ouvidos, não pelo tato, nem pela análise, mas que sabem pela intuição. Quer dizer, a classe mais avançada é os sapientes que têm experiência imediata, certa e absolutamente certa de valores transcendentais. Isso hoje em dia está prevalecendo no mundo civilizado. Dizem que o mundo está ficando de mal a pior, isto em parte é verdade, mas não nos esqueçamos de que o mundo não é somente massa. O mundo também é a elite. A massa é quantidade e sempre vai prevalecer nesta humanidade. Pelo menos 90% é pura quantidade, não é qualidade. Isso é massa. Nós não podemos esperar das massas que avancem um passo tão grande rumo à elite, mas a elite está tornando cada vez maior, apesar da decadência das massas.
Parece que hoje está acontecendo isso: por um lado o homem se materializa cada vez mais. Por outro lado se espiritualiza. As massas se materializam cada vez mais. A elite se espiritualiza cada vez mais. Eu chamo espiritualizar, aquele que tem intuição de valores. Isso eu chamo espiritualidade, não em outro sentido – teológico, não. Einstein insiste: “religiosidade é ter experiência direta, intuitiva de valores transcendentais”. Ele diz que esta nossa vida não vale pelos fatos, vale somente pelos valores. Os fatos são necessários para a vida diária porque não podemos viver sem fatos, mas isto não valoriza o homem. O homem não se torna melhor porque descobriu fatos, mas ele só se torna melhor porque abriu a consciência aos valores.
Parte II
De maneira que neste ano nós vamos tratar principalmente da intuição. Saber exatamente o que nós entendemos por intuição. Uma espécie de invasão da alma do universo para dentro de nós. Esta expressão “Alma do universo” é de Spinoza, o grande filósofo do início do século XVII. Ele diz que Deus é a alma do universo. O que Spinoza chama Deus ou a alma do universo é o que Einstein chama valores e que chama grandiosidade.
Então, nós temos a impressão que a intuição é uma graça de Deus. Que é um dom especial dado a alguns privilegiados de Deus e que os outros não têm nada que ver com intuição. Isso não é verdade. A intuição faz parte essencial da natureza humana. Uma consolação para muitos. Julgavam que havia uma classe privilegiada que podia ter intuição verdadeira. Dizemos... Não, a intuição faz parte da própria natureza humana. Todo homem é potencialmente intuitivo. Atualmente poucos são. Potencialmente todos são.
Quer dizer, em gérmen todos são intuitivos. Como planta poucos são intuitivos porque não cresceram. Um gérmen, qualquer grãozinho, não é uma planta. E depois é uma planta. O mesmo gérmen se transforma uma planta. Se ele não fosse planta antes de se transformar ele não podia transformar-se porque ninguém se torna o que não é. Se gérmen não fosse potencialmente uma planta ele nunca podia transformar-se numa planta. É claro! É lógico! É matematicamente certo.
Mas como uma semente qualquer, viva naturalmente, já é potencialmente uma planta, por isso se ele encontra ambiente favorável, na terra e na luz solar, então o gérmen brota, germina, cria raízes e floresce e depois está lá uma planta. Isto nós chamamos a presença potencial da planta. A planta está potencialmente presente na semente. E depois ele está atualmente presente na planta. Mas a presença potencial é uma presença real.
Deste modo a intuição está potencialmente presente em todo e qualquer ser humano normal. Estamos falando naturalmente de seres humanos normais. E por que quase ninguém tem intuição real? Porque não desenvolvemos o nosso gérmen. Não plantamos o gérmen em terreno fértil com bastante calor solar e bastante umidade terrestre. Porque um gérmen só brota com duas coisas. Umidade da terra e calor solar. Se é só umidade ele apodrece. Se é só calor ele resseca. Não brota.Mas, se ele tem umidade terrestre e calor solar ao mesmo tempo, em breve ele vai brotar. Vai dar planta.
Quer dizer, se a nossa intuição está em forma de gérmen e não desabrochou é porque nos faltam circunstâncias. E que circunstâncias são estas? Não são circunstâncias de fora. Não são circunstâncias de tempo e espaço. São circunstâncias da nossa própria substância. O nosso centro se chama substãncia. As nossas periferias são circunstâncias. A nossa intuição não vem das periferias. Vem de dentro do nosso próprio centro.
Eu fiz aqui um gráfico. Aqui está um centro (fig. 01) com uma periferia, mas sem contato.
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Figura 1 |
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Figura 2 |
Aqui há um centro, mas sem contato (fig. 1). E há uma periferia, mas não tem contato. Isto é mais ou menos a intuição no gérmen. E a maior parte passa assim a vida inteira. Não desenvolve.
Aqui tem a mesma coisa, mas de outro modo (Fig 2). Tem o centro e tem a periferia, mas tem uma ligação entre o centro e a periferia. E agora não há mais duas coisas. Há um desenvolvimento de uma potencialidade. Aqui há uma potencialidade não desenvolvida (fig. 01). Aqui há uma potencialidade desenvolvida (fig. 02). Podíamos chamar isso: uno e verso→ Universo. O uno é o nosso centro. O verso é a nossa periferia.
Estão vendo que grande coisa nós temos diante de nós! Temos que construir uma torre muito alta, mas por enquanto não podemos pensar na vertical. Vamos pensar por enquanto na horizontal. Vamos lançar uma base bastante larga. Estou lançando bases agora. Porque se eu construir uma torre muito elevada que não tenha alicerces, amanhã vai abaixo. Então temos que construir um alicerce muito largo, muita horizontalidade analítica para construir uma verticalidade intuitiva. Eu chamo agora análise horizontal e a intuição vertical. Nós não podemos construir facilmente uma torre vertical de intuição sobre uma base oca, muito estreita, muito fraca de análise. Estas duas coisas têm que ir junto. Precisamos por um lado, dos sentidos, da inteligência e emoções para construir a base. E acima disto construímos então a torre vertical da nossa intuição.
* * *
TRANSCRIÇÃO DA AULA 7 - Essência e Existência
Curso Filosofia Univérsica
Huberto Rohden
Palestra 07
06/06/78
Estamos tratando da Filosofia Univérsica, não é
Filosofia Universal. Na Filosofia Universal a gente pode provar, doutorar,
tirar diploma – e muitos têm. Porque a Filosofia Universal é mais uma questão
de memória, não de inteligência. Repetindo bem os conceitos de Platão, de
Aristóteles, de Descartes, de Kant, de Bérgson e outros, a gente pode decorar
mais ou menos os conceitos destes filósofos antigos e modernos. Repetindo bem o
que eles disseram séculos atrás a gente pode tirar boas notas. Isto é Filosofia
Universal e a gente pode doutorar-se.
Tudo isto é
impossível na Filosofia Univérsica porque a Filosofia Univérsica não repete
pensamentos alheios, não rumina, mas tem que mastigar por si mesmo. A Filosofia
Universal é horizontal – a linha horizontal representa muito bem a Filosofia
Universal que se ensina nos colégios, mas a Filosofia Univérsica é
essencialmente vertical.
Então, na
Filosofia Univérsica não se pode doutorar. Pode fazer 10 anos, 20 anos e ser
sempre principiante e não finalizante; porque na vertical não há limite – na
horizontal há limites. Na vertical, vai para o infinito. De maneira que a nossa
filosofia somente começa, nunca termina. Vocês podem começar na Filosofia
Univérsica, mas nunca poderão terminar.
Tem pessoas
que está a 10 anos no curso, mas são todas principiantes. Há pessoas que estão
15 anos aqui. Algumas pessoas estão 20 e poucos anos aqui – quase desde o
princípio. São todos principiantes, graças a Deus! E quem pensa que é
finalizante está enganado. Na sabedoria nós somos todos principiantes. Na
ciência podemos ser finalizantes. Na ciência que é horizontal, mas, na
sapiência que é vertical nós somos eternos principiantes. Estamos sempre
soletrando o ABC da sabedoria. Nunca podemos dizer agora sou formado em
sabedoria, sou formado em Filosofia Univérsica – isto não é possível.
Nós na Filosofia Univérsica propriamente tratamos só
de dois conceitos fundamentais, mas são mais importantes do que todo o resto
que é horizontal. Já comecei com esses conceitos fundamentais: Essência e
existência. É um problema único da Filosofia Univérsica: o Uno da Essência e o
verso das existências. A própria palavra já diz – o Uno sempre é o infinito e o
verso é os finitos. O Uno é absoluto e o verso é os relativos. O Uno é o eterno
e o verso é os temporários. O Uno é o Ser e o verso é o existir.
Podemos dar
muitos nomes a esses dois conceitos. Nós nada sabemos da Essência – nós só
sabemos das existências. O que nós verificamos são coisas que existem, coisas
existenciais, finitas, creaturas, derivados. Isto nós sabemos pelos 5 sentidos
que todos têm, (como os animais também têm) e pela inteligência que é
privilégio nosso (os animais não têm inteligência analítica) e a inteligência
se aproveita do material fornecido pelos 5 sentidos e elabora este material. Os
sentidos sempre são pluralistas – a inteligência é dualista. Que quer dizer
isto? Os sentidos são pluralistas, eles enxergam, ouvem e tangem muitas coisas.
A pluralidade é dos sentidos, mas a inteligência faz da pluralidade uma
dualidade: causa e efeito.
Toda
inteligência joga com dois conceitos: causa e efeito – mas, a inteligência não
trata da causa prima; da causa absoluta - trata das causas derivadas.O que nós
podemos verificar no mundo das existências não é a causa prima, a causa
primeira; não é a Essência que seria a causa prima. São apenas as existências e
nas existências a inteligência descobriu que há causa e efeitos. Mas, nós
queremos ir além de todas a existências e entrar na Essência. Este é o nosso
grande problema.
Ultimamente eu
comecei a fazer símbolos destas duas coisas. Essência e existência. Fiz o
primeiro símbolo:
Essência – uma cruz e dentro da
cruz escrevi diversos círculos que são as existências. Isto é muito bom para
ilustrar. E dizemos que a Essência está em todas as existências e todas as
existências estão na Essência. Usamos também outros símbolos
Usamos a luz
incolor como Essência passando por um prisma que se decompõe em cores várias –
e nós enxergamos só 7. Dizemos então que
isto é um bom símbolo para a Essência incolor e para as existências multicores.
Podemos usar
outros símbolos para concretizar estas duas coisas abstratas. Podemos usar como
a matemática sempre usou, números que nos vieram da Índia – chamados arábicos.
Vieram da Índia para o Egito e do Egito, até nós. Os números são hindus – dos
Vedas. 5 000 anos antes de Cristo, já se usava na Índia os números que usamos
hoje, chamados arábicos. Os gregos e romanos não tinham números, usavam letras.
Vocês imaginem ter que fazer cálculos V, X, IX, XIII... Vocês não podem fazer
nenhum cálculo com isto – dá confusão. Os gregos e latinos não tinham números –
era muito difícil fazer cálculos.
Felizmente o
país da filosofia que sempre foi a Índia já introduziu os números no ocidente,
usava como símbolos na filosofia. Usava o traço vertical (I) como infinito –
usava o círculo como nós também como finito (O) – este é o nosso zero - e colocando isto ao lado dá 10. Toda
linha curva representa o finito – toda linha reta representa o infinito. Isto
já nos veio do tempo dos Vedas, mas não era conhecido na Europa. Agora, isso (o
número 1) representa muito bem o infinito. Vamos fazer a multiplicação:
1x 1 = 1
Mas, não
deveria ser 2? Como é que multiplicando 1x1 não dá 2? Porque isto representa o
infinito e infinito não se pode multiplicar.
Infinito x infinito =
infinito
Quer dizer que a matemática é uma ótima explicação
para a filosofia – porque o infinito é qualidade, não é quantidade. Os finitos
são quantidades. Se vocês multiplicarem uma qualidade infinita por outra
qualidade infinita dá sempre infinito.
Vamos ver
outro exemplo para ver como a matemática nos ajuda muito na filosofia:
1: 1 = 1
Se vocês dividem uma qualidade infinita pela
qualidade infinita vai sempre resultar uma qualidade infinita. Podemos muito
bem usar o traço vertical como lá na Índia para símbolo do infinito. E o mesmo
traço também pode significar o finito. Por exemplo:
1+1= 2
Quer dizer –
perdeu o seu caráter de infinito. O mesmo sinal pode ser usado como símbolo do infinito-qualidade
e pode ser usado como símbolo do infinito-quantidade. Usamos na adição o
1 como quantidade e não como qualidade.
Na subtração
também usamos o mesmo sinal como quantidade:
1-1= 0
Agora muda
tudo. É coisa misteriosa a matemática, não é? Por isso Einstein disse que a matemática
é absolutamente certa enquanto ela fica no abstrato. Quando está no
infinito está no abstrato – mas, quando entra no concreto ela perde a sua
certeza na razão direta da sua concretização. São palavras textuais de
Einstein.
Podemos usar
estes sinais para existência:
1 existência + 1 existência
= 2 existências
1 existência – 1 existência
= 0 existência
Mas, se eu fizer o mesmo com a Essência não pode
mudar. Só a existência pode mudar. Quando se toma o sinal vertical como
Essência, como qualidade, como infinito então fica imutável – não fica maior
nem menor. Porque você não pode aumentar nem diminuir o infinito. O infinito é
fora de tempo e espaço. O infinito não tem nada que ver com quantidade é pura
qualidade.
Podemos usar
outros símbolos para Essência e existência. Podemos usar simplesmente o ponto.
Naturalmente não é este ponto que eu faço no quadro negro. Isto não é ponto.
Isto não é nem superfície. Isto é um corpo. Um corpo tem 3 dimensões. Um plano
tem 2 dimensões – e uma linha tem uma dimensão. Um ponto não tem nenhuma
dimensão. Eu não posso desenhar no quadro negro um ponto indimensional (isto
vocês podem imaginar), mas no momento em que eu ponho um giz no quadro já não é
indimensional.
Isto tem 3
dimensões: comprimento, largura e até
espessura. Vocês podem imaginar um ponto energético, não um ponto material. Só
se pode imaginar, mas não se pode pintar, nem com a tinta.
Imaginem agora
isto:
·
Um ponto sem
dimensão, um ponto qualitativo e não um ponto quantitativo.
Vocês
devem imaginar que isto não tenha quantidade, e agora – isto pode significar a
Essência. A Essência não tem quantidade, é pura qualidade absoluta e infinita.
Isto é tão difícil entender... Porque a Essência, nós não podemos ver, não
podemos ouvir, não podemos tanger. Nós não podemos nem sequer analisar a
Essência. Nada disso é possível. Tudo que depende dos sentidos e da
inteligência não vai até a Essência.
Bem,
agora devem imaginar que isto seja 1 ponto indimensional. Façamos agora a
primeira dimensão que é uma linha, segundo a geometria.
__________________________
Isto podia significar a
existência. Podíamos tomar a linha como o aspecto de uma existência derivada da
Essência. Vamos supor que o ponto tenha gerado, tenha produzido estas linhas
que eu fiz aqui:
Podemos usar também o conhecido
sinal da matemática: ∞.
Infinito na matemática é uma espécie de 8 horizontal. Agora vamos
desenhar os finitos outra vez em forma de traços.
Vamos dizer o
infinito inferior – o mineral, muito primitivo – matéria finita, Hilosfera, na
expressão de Teilhard de Chardin. Além da Hilosfera vamos entrar num finito um
pouco maior, o finito vegetal, por exemplo. Um outro ainda maior, o finito
animal.
Temos uma
existência material, uma existência vegetal e uma existência animal. Essas
duas, vegetal e animal, segundo Teilhard de Chardin é Biosfera porque tanto
vegetal como animal pertencem à classificação de Vida. Vida é Deus.
Traçando outra
linha temos a nossa zona, a Noosfera - a zona da inteligência. Aqui está o
homem.
O infinito
produziu o finito mineral, o finito vegetal, o finito animal e o finito hominal
– noos. Mas, não chegou até o fim, tem que ir além, não acabou conosco, é
apenas um estágio.
Quando a gente diz que nós viemos do infinito,
ninguém compreende nada, mas está certo. Tudo veio do infinito: o finito
mineral, o finito vegetal, o finito animal, o finito hominal. Tudo veio da
mesma fonte. A fonte única é esta aqui (∞) - mas o homem veio através de
vários finitos. São estágios de Existências.
Se alguém nos
diz: o homem veio do mundo material, todo o mundo estranha.. O homem veio
através do mundo material, o homem veio através do mundo vegetal? Está certo,
mas ele não veio do vegetal. O homem veio através do animal, mas ele não veio
do animal. Porque do significa causa – através significa
um canal. Do se refere à fonte. Através se refere ao
encanamento.
Então podemos
dizer o homem veio da fonte única de todos os seres, mas, não veio diretamente.
Ao menos o corpo dele não veio diretamente. O corpo fluiu através do mundo
material, através do mundo vegetal, do mundo animal, e agora estamos no mundo
hominal, mas não é ainda o fim do nosso itinerário. Segundo Teilhard de Chardin
ainda vem o próximo estágio que seria a Logosfera – quer dizer, a esfera da
razão. Aqui apenas é inteligência.
Assim temos
outra vez, Essência única com muitas existências – com diversos graus de
perfeição... Material, vegetal, animal, hominal... e por aí afora.
Agora, vou fazer um teste para ver se vocês
compreenderam isto.
No catecismo
ou na Escola Dominical nós aprendemos que... “No princípio Deus creou o céu
e a terra” (assim começa o Gênesis). E nós aprendemos que crear quer dizer,
fazer alguma coisa do nada. Isto não está no Gênesis, isto é explicação do
catecismo. É verdade que crear é fazer uma coisa do nada? Está certo ou não?
- Do nada
não, porque as existências são manifestações... responde alguém.
Isto é algo, Essência, o todo.
Se o todo, o infinito se manifesta em algo, isto para nós é creação. Então, uma
creação, para nosso sentido filosófico seria uma manifestação do todo em forma
de algo. Algo significa uma existência finita qualquer. Quando o todo infinito
se manifesta em alguma existência finita, isto nós chamamos creação. Isto está
certo filosoficamente, mas o que a teologia entende não é isto. Ao menos, no
meu tempo, não; parece que estão evoluindo um pouco agora.
Eles
entendem que as creaturas foram feitas do nada. Que o creador fez as creaturas
do nada. O todo fez as creaturas do nada da existência, mas, do todo da
Essência. Toda e qualquer creatura é feita do nada da existência, mas, não
do nada da Essência - porque a Essência não tem nada. Nada é pura
imaginação.
A
teologia entende que do nada Deus fez algo, quer dizer, não
somente do nada da existência como nós entendemos, mas, também do nada da
Essência. Do nada da Essência nunca se pode fazer algo. Do todo da
Essência se pode fazer algo, mas do nada da Essência não se pode
fazer algo. Do nada da existência, sim, porque antes da creatura existir
então era nada, mas, o todo da Essência produz as creaturas do nada da
existência, mas do todo da Essência.
Por
que é que tivemos que aprender que todas as creaturas são feitas do nada tanto
da Essência como da existência? Isto está lá na teologia.
Nós
achamos que as creaturas são feitas do todo da Essência e do nada da sua
existência. A razão porque as teologias (pelo menos do meu tempo) não aceitam
que as creaturas sejam feitas da Essência Divina não é uma razão filosófica, é
uma razão pedagógica, moral, porque o professor me diz: se eu disser que uma
pedra foi feita da Essência Divina, então esta pedra pode ser adorada como
Deus. Cai na idolatria. Se eu digo que uma planta foi feita da Essência do
infinito, então posso adorar esta planta porque esta planta é divina. Eu
pratico idolatria. Se eu digo que o animal veio da Essência Divina, a Essência
do infinito, então o animal pode ser adorado.
Esta
é a razão porque as teologias não aceitam que se digam que as creaturas foram
feitas da própria Essência Divina: nós fomos feitos do nada e não do todo.
E
o homem – se o homem também é uma emanação da Essência Divina, quer dizer, uma
manifestação da própria Essência Divina, então o homem pode dizer: Eu sou
divino, eu não posso pecar, tudo que eu faço está certo. Então, ele acolhe
a idéia de que ele não possa errar, porque a Essência não pode errar. Deus não
pode errar, o infinito não pode errar. Deus não pode pecar, não pode fazer
mal...
Então
dizem os teólogos – não vamos dizer que nós somos emanações, manifestações da
Essência Divina – vamos dizer que nós fomos creados do nada. Esta é a razão
pedagógica, moral das teologias, mas na Filosofia nós não tratamos de
pedagogia, nós também não tratamos de moralidade. Aqui não há nenhum perigo que
as creaturas sejam adoradas porque vieram da Essência Divina. Também não há
perigo que qualquer pessoa humana se considere infalível ou impecável porque
veio da emanação da Essência Divina. Não, porque o que é defeituoso, o que pode
errar não é a Essência, mas a existência.
Isto+ é a Essência, e
isto
as existências.
Se
eu digo: o círculo foi creado pela cruz, a existência foi creada pela Essência,
e se depois este círculo faz mal, quem faz mal não é a Essência, mas é a
existência. O ser humano pode muito bem ser chamado uma emanação da Divindade.
Cada um de nós é uma emanação (a palavra creação já foi tão deturpada) finita
existencial da realidade, (da Essência infinita, da Divindade), mas se eu
errar, se eu pecar, eu não peco em nome da Essência, eu peco em nome da minha
existência. Eu sou responsável como creatura, mas eu não posso pecar como Essência.
A minha Essência não peca. A minha existência peca. E a nossa Essência está
sempre representada pelo nosso ego. A nossa Essência é o nosso Eu. O reflexo da
Essência infinita é a minha Essência chamada Eu ou Algo.
Por
isso podemos dizer que não é a alma que peca, o Eu, mas, é o nosso ego,
principalmente o nosso ego mental. Podemos dizer que todos os erros e todos os
pecados que nós cometemos são ações do nosso ego mental, do nosso ego
intelectual.
De
maneira que nós vamos continuar a dizer que todos os finitos foram creados pelo
infinito – entendendo por isso creação – não uma produção do nada, mas, uma
emanação do todo em forma de algo. As creaturas sempre são algo.
Agora
eu vou fazer um símbolo mais completo: vamos tomar outra vez a Essência como um
ponto indimensional e três existências (como linhas) emanadas pela única
Essência, mas, não há regresso.Agora vem uma existência que se volta para a
Essência (novidade).
Que é isto? Como é que vamos chamar
esta linha reversiva, uma linha que volta para a própria Essência donde partiu:
consciência. Aqui teríamos uma creatura que tem consciência da sua
origem. As outras creaturas (linhas) não têm consciência da sua origem e
finalmente apareceu uma creatura que sabe:
“Eu vim do infinito, estou no
finito e vou voltar para o infinito”. Isto nós chamamos hoje em dia –
auto-realização ou imortalização - este é o símbolo da imortalização. “Eu
vim do imortal para o mortal, mas eu tenho em mim a possibilidade, a
potencialidade de me tornar imortal”.
Eu sei que
muitos pensam que nós somos automaticamente imortais – aconteça o que
acontecer. Isto é contra toda a Filosofia. Nós somos potencialmente imortais.
Nós somos imortalizáveis. Todos os Mestres afirmam que nós podemos fazer duas
coisas: mortalizar-nos ou imortalizar-nos.
Vejam o
Evangelho: “A tal ponto Deus amou o mundo que enviou seu filho unigênito
para que todo aquele que tenha fé nele não pereça, mas, tenha a vida eterna”.
Que é isso, perecer? Perecer é não se imortalizar. Bem, mas há certas
sociedades espiritualistas que dizem: “não, isto não aceito – nós somos
automaticamente imortais – para toda eternidade- imortais no céu ou imortais no
inferno, de qualquer jeito”.
Isso é contra
toda a Filosofia e contra a razão e até contra todos os Mestres espirituais,
sobretudo do Evangelho. Os Mestres vieram para nos ensinar como nos
imortalizar. Mas, se sou imortal de qualquer jeito, em cima ou embaixo, então
eu não preciso imortalizar. Eu devia fazer-me bom e não me fazer mau. Mas,
todos afirmam que eu devo imortalizar, eu não devo perder a minha chance, a
minha possibilidade de me eternizar.
Este aqui
(linha reversiva) se eternizou, porque ele viu que tinha vindo da Essência
Divina e voltou para a Essência Divina, pelo livre arbítrio. O livre arbítrio
funciona assim. Agora se alguém não sabe que veio do infinito, não pode voltar
para o infinito. Quer dizer que voltar para o infinito é auto-realização. Saber
que veio do infinito é autoconhecimento.
Hoje em dia
toda a filosofia gira entre dois pontos: autoconhecimento e auto-realização. Se
eu não sei que eu vim duma fonte infinita, então, eu não tenho autoconhecimento
sobre mim mesmo. Eu não sei o que é que eu sou. Eu me identifico com o mineral,
eu me identifico com o vegetal, com o animal que também não sabe nada disto.
Mas, se eu descubro “Eu vim do infinito, eu vim da Essência, eu sou uma
existência humana, mas eu vim da Essência Divina, eu tenho a possibilidade de
voltar pelo meu livre arbítrio, minha consciência, minha auto-realização, voltar
para donde eu vim”.
Isto é o que
nós chamamos hoje em dia autoconhecimento e auto-realização.
Agora vem o
grande problema que não teve solução, nem no oriente, nem no ocidente.O que é
voltar para o infinito? O que quer dizer - “eu, o finito, vim do infinito e
vou voltar para o infinito”. Há duas idéias sobre isto:
O ocultismo já
brigou muito por causa disto. O budismo vindo da China, também. Uns dizem –
voltar para o infinito é uma diluição do finito no infinito. Outros dizem –
voltar para o infinito é uma integração do finito no infinito. Não sei se vocês
entenderam estas duas palavras: diluir e dissolver (Absorver). Se a minha natureza humana é completamente
diluída, absorvida, então ela não existe mais. Se eu sou diluído pela
Divindade, então, depois da minha diluição, da minha imortalização, eu não
existo mais.
Quem existe é
Divindade, mas não eu. Isto, a ala esquerda do budismo até hoje entende assim.
Já na Índia
havia esta questão: o que é imortalizar-se?
A ala esquerda, negativa do budismo dizia: “eu devo destruir a minha
individualidade e voltar à universalidade de Brahman”. Isto é diluição para
eles, mas não é imortalidade. Na ala direita do budismo e em todo o
cristianismo se entende por imortalidade, não uma diluição, não uma absorção,
não uma destruição da individualidade humana, mas, uma integração.
Que é isso,
integração? Quando digo, eu continuo como indivíduo humano por toda a
eternidade, não um indivíduo humano separado da Divindade, mas, uma
individualidade humana não absorvida, mas, integrada. É importante usar a
palavra certa. Porque se vocês dizem, diluir, vocês se dissolvem, não existem
mais. Isto não é imortalidade, isto é anular-se. Mas a imortalidade não deve
ser uma anulação da individualidade humana.Uma anulação é uma destruição, mas
pode ser uma integração. Eu posso livremente integrar-me na Divindade e
continuar a ser a minha individualidade humana, mais completamente integrada e
não diluída na Divindade. Então seria isto:
Chegando até o ponto, identificando a minha
individualidade com o ponto seria diluição, aniquilamento, anulação. Isto não é
imortalidade, isto é destruição da individualidade humana. Então temos que integrar-nos, mas não
diluirmos. Quer dizer, nós podemos usar esta
linha reversível como consciência. Aqui
não há consciência. Aqui há apenas ciência. Ciência há também no mundo
mineral, há no mundo vegetal, há no mundo animal. Todos sabem que há alguma
coisa. Até o mundo mineral sabe. O átomo que é feito de próton e eléctrons sabe
que os eléctrons giram ao redor do seu centro. Isto é ciência. Tem ciência de
alguma coisa, não tem consciência.
Uma planta não
tem ciência, mas é claro que uma planta tem ciência da luz. Ela sempre volta as folhas para a luz. Não é
só o girassol que faz isso. Quando o sol vem de um lado todas as folhas se
voltam para o lado donde vem a luz. Pois, as plantas não podem viver sem sol. A
planta tem uma ciência vegetal da luz.
E o animal tem
ciência? Tem ciência do que é bom para comer, tem ciência de como se
multiplicar. É uma ciência, é claro!
Agora, o que
nós chamamos consciência? “Con” é um prefixo de companhia. Con-sciencia
é ciência com. Se eu tenho não só
ciência, mas ciência de mim – ciência daquilo que eu sou, autoconsciência – eu
não sei somente o que é o meu sujeito. Aqui há uma ciência com, uma
ciência reflexiva, uma ciência que vem do sujeito e volta para o sujeito.
O mundo
extra-humano não tem isto. Sabem de certos objetos, mas não sabem do seu
sujeito, não têm consciência de si, têm apenas ciência de algum objeto. E nós,
parece que somos aqui na terra os únicos seres que temos verdadeira consciência
de nós. Uns têm apenas ciência muito vaga e difusa, mas não têm propriamente
consciência, e com a nossa consciência começa a nossa liberdade, a nossa
responsabilidade. Quem não tem consciência não é responsável pelos seus atos.
Na ciência
mineral, vegetal (que têm apenas ciência) ninguém é responsável pelo que faz.
Aqui começa a idéia da responsabilidade.- eu sou responsável pelos meus atos
bons e maus porque: “quem pode deve, e quem pode e deve e não faz cria
débito, e todo debito gera sofrimento”. Esta é uma das coisas mais
importantes que eu disse na minha vida. “Quem pode imortalizar-se deve
imortalizar-se, e quem pode e deve e não faz cria débito (culpa) e todo débito
gera sofrimento”.
Todo o sofrimento vem porque podemos e devemos e não
fazemos. Podemos ter certeza que todo sofrimento em última analise vem daí, o
sofrimento da humanidade. Podemos, devemos e não fazemos, isto cria débito, e
todo débito provoca sofrimento.
***
TRANSCRIÇÃO DA AULA 8 - Monismo Absoluto
Curso Filosofia Univérsica
Palestra ministrada em 13/06/78
Huberto Rohden
Aula 08
Monismo Absoluto
Monismo Absoluto


Não
me confundam Essência com existência. Essência é ser, infinito, eterno,
absoluto; que as religiões chamam Deus, ou Brahman, ou Tao ou Yahve, ou
qualquer outro nome que tenham dado. Em nossa linguagem é o Uno (+) e verso (○).
Podemos
dar diversos nomes para a Essência. Então no número 1 aí à direita inscrevi a
Essência dentro da existência do mesmo tamanho. Isto é politeísmo também
chamado panteísmo.
Politeísmo e panteísmo, no fundo é a mesma
coisa porque o politeísta (ou panteísta) não distingue, identifica a Essência
com a existência. Por isso pode adorar muitos deuses porque há tantos deuses
quanto as creaturas. Então podemos representar assim:
Essência =
existência – o que não é verdade. É filosoficamente errado. Porque Essência é
infinita é todas as existências são finitas. Isto é o princípio da cultura
humana: politeísmo ou panteísmo.
Depois vamos
avançar na figura 2. Isto já é muito diferente, aqui a Essência está fora da
existência. Está por cima da existência. Quer dizer, Deus está fora das
creaturas, em nossa linguagem. O creador está acima das creaturas, mas não está
dentro das creaturas. Isto se chama monoteísmo:
O Deus é essa
cruz lá em cima, o círculo é a creatura. Então o monoteísmo entende que Deus é
um só, que é verdade, mas, que Ele está separado do mundo. Mora no céu e nós
moramos na terra. Quer dizer, há um dualismo, um separatismo no monoteísmo.
Deus está num outro lugar e nós estamos aqui. Há uma distância infinita entre
nós e Deus – entre creador e creaturas. Quer dizer, a creatura nunca está em
Deus e Deus não está na creatura, mas, a creatura pode aproximar-se de Deus por
certos modos, por meio da religião, da ética; pode diminuir cada vez mais a
distância. Para o monoteísta não há Deus na existência dentro da Essência.
O monoteísmo
abrange todo o ocidente do nosso globo, inclusive o oriente médio. Todo o
cristianismo europeu e americano e todo o islamismo e o judaísmo que são do
oriente médio são monoteístas. Estranhamente, o cristianismo também, não no
Evangelho.
Não me
confundam o Evangelho com o cristianismo. A teologia cristã é monoteísta, o
judaísmo é monoteísta, o islamismo dos árabes é monoteísta. Veio tudo do tempo
dos faraós do Egito. Os faraós fizeram uma campanha monoteísta alguns séculos e
milênios antes da era cristã, sobretudo Amenhotep IV, que depois mudou o nome
para Akhenaton I, foi o campeão do monoteísmo juntamente com sua esposa
Nefertiti (cuja cabeça muito bonita está no museu de Berlim). Ele fez a
campanha do monoteísmo no Egito (no tempo de Moisés, mais ou menos 1500 AC).
Talvez Moisés
tenha pegado o monoteísmo dos faraós porque ele foi o campeão do monoteísmo
entre os judeus. Não permitia que alguém praticasse o politeísmo como todo
pagão e proibiu que fizessem qualquer figura do Deus único, pois o Deus único
não podia ser concretizado em nenhuma figura. Nem em imagem, nem em escultura,
nem em nada. É o 1o mandamento: não fareis nenhuma imagem ou
escultura de Deus. Porque havia sempre o perigo deles confundirem a Essência
com a existência. Da existência se pode fazer uma escultura, uma estátua, uma
imagem. Da Essência não se pode fazer nada porque a Essência é absolutamente
invisível e abstrata. E para não caírem no politeísmo que dominava todo mundo,
então Moisés proibiu sob pena de morte quem adorasse Deus fosse de pau ou de
ferro, ou qualquer outro material rigorosamente proibido. Nem sequer podia
pronunciar o nome de Deus. Por isso os israelitas não sabiam como pronunciar
Yahve. Mais tarde descobriram que era Jeová e hoje outra vez chegaram a
descobrir que é Yahve.
Em hebraico
são 4 consoantes (YHVH ou YHWH). Não tem vogal. As línguas antigas não têm
vogais. Só escrevem consoantes, o esqueleto da palavra. Vogais são carne. Se
alguém tem muita carne ou pouca carne significa o mesmo. Então as línguas
antigas não escreviam vogais, mas pronunciavam. Era YHVH. Este era o monograma
sagrado. Mas, como eles não sabiam como pronunciar porque era proibido sob pena
de morte pronunciar o nome de Deus em vão, então, eles só podiam escrever. E
provavelmente eles pronunciavam Yahve que quer dizer o ser. É o particípio
presente de hava que quer dizer ser. Este era o nome do Absoluto, do
Eterno, do Infinito. Eles usavam outros nomes, Onipotente, etc, mas o nome
mesmo não podia.
Quando Moisés
teve aquela visão no Monte sagrado Moisés quer saber: “Quem és tu, que me
mandas libertar o povo hebreu do Egito?” “Eu sou Yahve, eu sou aquele que é” (está
lá, nós traduzimos). Yahve é particípio presente de ser. “Eu sou o
sendo” muitas línguas usam o particípio presente, outras usam o infinitivo.
Em português usamos “Eu sou o ser”. Em alemão também se usa o infinitivo
“sein”. Em inglês já se usa o particípio passado “I am the been”.
Em grego também se usa o particípio presente – eu sou o sendo,
literalmente.eu sou o ser e nós traduzimos eu sou
aquele que é. Isto em hebraico Yahve que é uma palavra
só.
Bem. Isto é
monoteísmo e como monoteísmo avançou para o ocidente e para o oriente médio até
hoje, todos os povos cristãos europeus e americanos são monoteístas, e os povos
do oriente médio também herdaram o monoteísmo de Israel (propagado por Moisés).
Mas os grandes
gênios da humanidade não são politeístas e não são monoteístas. São todos
monistas. Todos eles inclusive Jesus. Muitos pensam que Jesus tenha sido
monoteísta e não é verdade. O Evangelho não é monoteísta. É rigorosamente
monista.
Então a 3a
figura representa o monismo. Aqui temos separação entre a Essência e a
existência, também não temos identificação porque separação é dualismo entre o
Creador e creaturas. No monismo não tem identidade nem separação, mas tem uma
interpenetração das duas coisas. A Essência permeia a existência (o círculo).
Ela permeia atravessa toda a existência, mas vai além Vai infinitamente além de
todas as existências. Isto é a filosofia de todos grandes os gênios da
humanidade.
Podem procurar
onde quiserem, desde Hermes Trismegistos do Egito que viveu milhares de anos
antes de Cristo - o grande Thot é rigorosamente monista. Depois vem Krishna,
Buda, Lao Tse e Jesus. Todos eles perceberam que a Essência não é uma coisa
separada da existência e também não é idêntica. Todos os gênios perceberam isto
intuitivamente. Isto não se pode saber por analise intelectual, mas pode-se
saber por intuição cósmica. Quando o Mestre de Nazaré diz: “Eu e o
Pai somos um, o Pai está em mim e eu estou no Pai” ele fala em linguagem
rigorosamente monista. Ele não diz: “eu estou na terra e o Pai está no céu”.
Depois ele ensina a seus discípulos – “Pai nosso que estás nos céus”... Em
outra ocasião ele diz: “mas o reino de Deus está dentro de vós”. Outra
vez põe o Pai dentro de nós.
Quando ele
fala céu ou Pai, ele sempre entende - a Essência está dentro de nós, mas ela
não é conscientizada. O reino dos céus está dentro de vós e o Pai também está
dentro de vós. Tudo linguagem monista!
Não diz que está no céu. Se ele está no céu... -, bem, mas, o céu está também
dentro de vós. Primeiro ele diz: “está dentro de mim”, depois ele diz: “também
está dentro de vós”. “O reino dos céus está em vós, mas é um tesouro
oculto, é uma perola preciosa no fundo do mar, é uma luz debaixo do velador”.
Comparações que ele usa. Está dentro, mas não temos consciência da presença do
Pai, do tesouro oculto, da luz debaixo do velador, da pérola preciosa no fundo
do mar.
A presença é
um fato, mas a vossa consciência ainda não é um fato. De maneira que toda a
auto-realização consiste em conscientizar a presença, nada mais. Nós não
podemos fazer presente o que não está presente, não é possível. O que está
ausente, está ausente e para nós não está presente. Mas nós podemos
conscientizar algo que está presente quando ontem para nós era inconsciente e
hoje se tornou consciente. Isto é um progresso do nosso Eu interior. Todo autoconhecimento
consiste em conscientizar uma realidade que estava sempre presente e nunca pode
estar ausente, mas não temos consciência desta presença. E quando
conscientizamos a presença que sempre existiu, então fazemos grande progresso.
É o que nós chamamos autoconhecimento.
Agora, aqui
(fig. 3) a presença é um fato. Na fig. 2 a presença é uma ausência. Para o
monoteísta Deus está sempre ausente. Para o monista Deus está sempre presente
não só no homem, mas em qualquer creatura. Também está presente em qualquer
mineral, vegetal, animal... mas, os seres inferiores nem sempre podem
conscientizar a presença. Talvez o mineral não possa o que nós entendemos por
conscientizar; talvez ele conscientize de outro modo, um modo natural muito
primitivo. Mas, como nós - não pode conscientizar. O vegetal também não possa
conscientizar. Para ele Deus é a luz. A planta conscientiza de certo modo a luz
porque ela não pode viver sem luz.
E para o
animal também existe um Deus inconsciente que ele conscientiza em forma de gozo,
ou sofrimento, ou fome, ou sede que são sentimentos do animal. E isto pode ser
para ele uma coisa parecida com o que nós chamamos Deus – mas uma
conscientização perfeita só pode existir no ser humano. E tem infinitos graus.
Nós podemos conscientizar cada vez melhor a Essência que existe entre nós.
De maneira que
todos os gênios mais avançados sabem da Essência na existência. Para não
confundir monismo com monoteísmo, não pensar que isto realmente esteja fora. O
círculo está sempre dentro da cruz (existência dentro da Essência), mas, nunca
é igual. Então, no avanço da nossa cultura nós verificamos: a Essência é sempre
infinitamente maior do que a existência.
Isto (figura
2) produz na creatura uma espécie de pessimismo negativo porque aqui a
existência não veio da Essência, foi apenas creada pela Essência, mas não
emanou da Essência. E isto dá a creatura um desvalor. Dá uma existência
negativa.
O grande
filosofo alemão Hermann Keyserling, que no princípio deste século (Séc. XX) era
professor de uma Universidade de Munique, e na primeira guerra mundial foi
demitido da cátedra de filosofia (era pacifista)... - e como ele era muito rico
resolveu fazer uma viagem ao redor do globo. Começou no Egito e terminou nos
Estados Unidos. Escreveu dois volumes maravilhosos - “Diário de viagem de um
filosofo”. E no princípio do 1o volume ele pôs este lema: “A
viagem mais curta para dentro de si mesmo vai ao redor do globo”. Ele fez a
viagem ao redor do globo não para encontrar com outras culturas, mas para se
encontrar a si mesmo. Primeiro se encontrou com os egípcios, depois foi para o
Ceilão, depois para a China, para a Índia, para o Japão. Depois fez a viagem
pelo Pacifico, para os Estados Unidos e depois para a Europa. E depois ele diz:
“eu fiz esta viagem não para ver outras culturas humanas, mas, para me
encontrar a mim mesmo; porque é muito difícil a gente se encontrar a si mesmo
quando não tem contraste com outros. O contraste é que dá a consciência de nós
mesmos”.
.Então ele
teve que contrastar com os seus pensamentos, com os pensamentos dos egípcios,
dos chineses, dos hindus, dos japoneses, dos americanos e outros para
finalmente chegar à consciência de si mesmo. Levava consigo um livrinho
“Imitação de Cristo” – que é o livro mais lido no mundo depois da Bíblia. É escrito
na idade média por um monge piedoso. Tem muita sabedoria, mas é monoteísta como
todos os livros cristãos, a não ser dos místicos.Os místicos são monistas, mas
os teólogos cristãos comuns são monoteístas.
Então diz
Keyserling – “eu faço comparação entre a imitação de Cristo e a Bhagavad
Gita e verifico o seguinte: todo livro cristão, sobretudo a Imitação de Cristo
quer salvar o homem deprimindo-o e a Bhagavad Gita quer salvar o homem
sublimando-o”. E explica porque no monoteísmo nós achamos que só encontramos
Deus deprimindo, desprezando, maldizendo o homem. “Eu sou uma sujeira, eu
sou uma peste, eu sou o diabo em pessoa. Quando eu me deprecio, deprimo, melhor
– eu estou diante de Deus” - diz Keyserling.
A Bhagavad
Gita faz o contrário – diz: “Tu és Brahman no interior, tu és Brahman porque
o teu Atman é o reflexo de Brahman”. Faz a sublimação – por quê? O
monismo fala em termo de sublimação e o monoteísmo fala em termo de desprezo.
Para o monoteísta quanto mais a creatura se despreza a si mesma, mais ela se
aproxima de Deus. E o monismo, quanto mais a creatura se sublima a si mesma,
mais ela se aproxima de Deus. Por quê? É claro, se isto não veio de dentro de
Deus, mas se a creatura foi creada do nada (como é a nossa teologia) se isto
veio do nada, isto é o tudo, então isto é o contrário daquilo, o nada é o
oposto do todo. É claro, a existência está em sentido oposto à Essência. E
quanto mais a pessoa reconhece o seu nada, mais ela se aproxima do todo,
segundo o nosso monoteísmo teológico.
Mas, no monismo
não precisa desprezar a sua natureza humana para se aproximar de Brahman porque
no monismo há duas coisas bem distintas. Há na natureza humana este círculo que
nós chamamos o ego e há no centro a cruz que nós chamamos o Eu. (Figura 3).
Isto (o círculo, o ego) na Bíblia é chamado o mundo “que aproveita o homem
ganhar o mundo inteiro se chegar a sofrer prejuízo em sua própria alma”.
Isto (a cruz, o Eu) no Evangelho é chamado alma ou
espírito de Deus em nós. E isto (círculo) é geralmente chamado o mundo. Na
Filosofia e na psicologia nós chamamos isto (círculo) o nosso ego e isto (cruz)
o nosso Eu. Em sânscrito nós chamamos o ego – Aham e o Eu – Atman.
Atman é Brahman em forma individual no homem.
Então, no
princípio o homem só conhece o seu Aham, o seu ego, o mundo, a sua
periferia - e nada sabe do seu centro, quando é completamente ignorante. Mas,
para se encontrar a si mesmo no centro, ele não deve fugir de si. No monoteísmo
o homem tem que fugir de si para encontrar Deus. No monismo ele não tem que
fugir de si. Ele tem que encontrar Deus dentro de si, mais profundamente para
descobrir Deus.
Então, no
monismo é fácil a gente fazer meditação, fazer autoconhecimento e
auto-realização porque não precisa distanciar-se de si mesmo. Ir a outras
regiões para encontrar Deus fora de si. Não, ele tem que deixar a sua periferia
que não sabe nada do seu centro e penetrar profundamente no seu centro. Isto
então é interiorização, meditação, concentração, que só se praticava milhares
de anos antes no oriente. Todas as grandes filosofias e religiões vêm do
oriente, não se esqueçam. Todas as religiões e filosofias mundiais são
asiáticas, sem exceção do próprio cristianismo. Porque a Palestina também é
oriente – não é oriente longínquo como a Índia, a China e o Japão, mas é oriente
próximo. Tudo isto é Ásia. Todas as grandes culturas vieram de lá.
Então para o
oriental, acostumado a procurar Deus dentro de si e não fora de si como no
monoteísmo dualista (dualismo e separatismo) Deus não está em mim, mas eu posso
me aproximar de Deus de certo modo. Quanto mais eu me afasto e distancio de
mim, mais eu me aproximo de Deus. Isto é dualismo monoteísta que prevalece em
quase todas as teologias. Eu para encontrar Deus devo desprezar-me. Eu devo
humilhar-me porque aqui no ocidente nós não descobrimos em grande parte o nosso
verdadeiro centro, o nosso contido. Nós ainda achamos que o homem é pecador.
Aqui também há o ego pecador, mas, ele tem a possibilidade de se redimir do seu
pecado. A redenção não vem de fora. A Essência Divina pode redimir a minha
existência humana segundo o monoteísta dualista teológico que prevalece no
nosso cristianismo.
No monismo
não, aqui a existência pecadora, enquanto não conscientizar a Essência
redentora, é pecadora. O meu salvador vem de dentro. Eu não sou no meu ego este
salvador. No meu ego eu sou pecador, mas no meu Eu, eu sou meu próprio
salvador. Aqui (fig. 2) temos
alo-redenção. Aqui (fig. 3) temos auto-redenção. Eu uso estas palavras:
Alo = outro
Autos = eu
mesmo
No monoteísmo
eu sou redimido por um salvador externo. No monismo eu me auto-redimo pelo meu
salvador interno. Enquanto eu não tenho consciência desse salvador interno eu
não estou redimido. Portanto, todo processo de redenção no monismo é
autoconhecimento. No monoteísmo não há autoconhecimento, propriamente. Toda
minha salvação vem de fora. Eu tenho que invocar um redentor externo a ver se
ele me salva dos meus pecados, se ele entra em mim, mas ele não está em mim.
No monismo, o
redentor em mim – enquanto eu não tenho consciência da presença dele eu
continuo pecador porque o que me é consciente é este círculo. O que não é
consciente, mas, inconsciente é esta cruz. Eu tenho consciência do meu ego
humano, mas eu não tenho consciência do meu Eu Divino.
Assim se vê
que tudo depende do modo como nós consideramos a natureza humana. Se
consideramos dualisticamente ou monisticamente. Todo monoteísmo é
necessariamente dualista – o monoteísmo nunca é unitário. Unitário é isto aqui
(fig. 3) onde a existência está dentro da Essência. No monoteísmo é diversitário
– a Essência é sempre diversa, fora, separada, além da existência. E como temos
só consciência da nossa existência que é o ego e não temos, muitas vezes,
consciência da nossa Essência que é o Eu, toda a teologia ocidental acha que o
homem é por natureza pecador, porque por natureza ele tem consciência do seu
ego e o ego é negativo. É o pólo negativo da nossa natureza. O pólo positivo
não está dentro, está fora de nós.
Aqui (fig. 3)
o pólo positivo está dentro do pólo
negativo e o negativo está inscrito dentro do positivo. Há uma síntese. Na fig.
2 há uma antítese. Na fig. 3 há uma unidade – na fig. 2 há uma dualidade.
Eu posso
descobrir a minha unidade, mas no princípio eu só conheço a minha diversidade.
O meu ego é diversitário e o meu Eu é unitário, mas eu posso fazer a síntese
entre o meu uno e o meu verso. Podemos inscrever mais de um círculo aqui.
Podemos inscrever dentro da mesma Essência muitas existências.Uma existência
mineral, uma existência vegetal, uma existência animal, hominal e muitas outras.
Mas temos que tomar sempre a Essência em forma infinita, porque a soma total
das existências nunca pode ser igual à Essência. A soma total das creaturas
nunca pode ser igual ao próprio creador.
Então devíamos
imaginar esta cruz como infinitamente grande. E assim, todos os círculos
caberiam dentro desta única Essência.
Isto está
maravilhosamente explicado no livro Sidarta de Hermann Hesse – que é o livro
mais maravilhoso que este escritor alemão publicou. Os outros são enigmáticos e
difíceis de compreender. Sidarta que é um livro muito pequeno (felizmente temos
em português) diz meridianamente com absoluta clareza o que Sidarta pensa.
Primeiro ele vivia só na sua Essência e depois ele vivia só na sua existência e
finalmente ele une a Essência com a existência. Vai através de todo este livro
profundamente filosófico e verdadeiro...
No princípio
ele queria ser só um místico, não queria saber nada, vivia pobremente em
penitências, em jejuns e só cuidava de seu Eu espiritual. Depois jogou fora o
seu Eu espiritual, praticamente, caiu na luxúria, nas riquezas, nos jogos e
jogatinas – são coisas do ego; e se esqueceu praticamente do seu Eu. E no fim
ele fez a síntese entre o seu antigo Eu abandonado que ele reconquistou e
inscreveu o seu Eu dentro do seu ego humano. Então, chegou ao fim.
O seu amigo
Govinda não podia compreender isto, ele praticamente ficou na mística. Não
podia compreender que eu sou Brahman, ‘ mas eu não sou Brahman, eu sou um
pecador’. ‘Sim’, dizia Sidarta, ‘tu és na tua consciência um
pecador, mas, na tua Essência tu és idêntico a Brahman, mas tu não sabes ainda
o que és. Se tu soubesses o que és realmente tu dirias: eu sou
essencialmente Brahman, mas eu sou existencialmente apenas um pecador humano’.
Quer dizer, o
problema está em essencializar a existência -, podíamos dizer: Se alguém
consegue essencializar a sua existência, então ele faz a grande síntese entre
aquilo que ele é e aquilo que parece ser. Podemos fazer esta síntese. Este é
todo o processo de autoconhecimento e auto-realizaçao. Mas não devemos pensar
que nós tenhamos que buscar Deus e colocá-lo dentro de nós.
Um dos maiores
místicos da idade média Meister Eckhart, do século XIII – nós não temos quase
nada em português, mas em inglês e alemão tem muito – ele diz em um de seus
livros: “Se alguém tem que buscar sempre o seu Deus de fora ele não o possui
nem depois de o ter buscado”. Se eu tenho que buscar o meu Deus de fora
(alguém tem o Deus de fora no monoteísmo, ele era todo monista) colocando
dentro e mim, eu não o possuo nem depois de ter buscado.
Está muito
certo porque nós não podemos causar uma presença de Deus. Se Deus estivesse
ausente de mim, eu nunca o podia tornar presente. Eu não posso fazer duma
ausência uma presença. Isto não é possível. O que eu posso é fazer duma
inconsciência uma consciência, mas, eu não posso fazer duma ausência de Deus
uma presença de Deus.
Portanto, a
redenção, a salvação ou a conversão não consiste em nós buscarmos Deus e
colocarmos Deus dentro de nós. Isto é um processo absolutamente impossível. Donde íamos buscar? Se a Essência é onipresente, onde é
que está sua ausência? Não pode haver uma ausência onde há uma onipresença. Não
pode haver um buraco na presença. Deus não pode estar parcialmente ausente e
parcialmente presente. Se ele está totalmente presente ou onipresente,
universalmente presente, não há nenhum lugar onde há uma ausência de Deus. Quer
dizer, isto (fig 2) não existe. Seria um vácuo de Deus, seria um vazio, onde
Deus não estivesse.
Deus também
está no maior dos pecadores como está em qualquer pedra, em qualquer planta, em
qualquer animal, também está em qualquer homem. Não pode estar ausente. A
conversão não consiste em fazer da ausência de Deus uma presença de Deus. Isto
é absolutamente impossível. Pode consistir unicamente em fazer duma
inconsciência da presença, uma consciência da presença. Só isto é possível.
Por isso, para
compreender que aqui (fig.2) nós não podemos fazer verdadeira meditação, que
seria buscar Deus dentro de nós. Mas ele já está dentro de nós inconscientemente
– a Essência está sempre dentro de qualquer existência. Propriamente não
devíamos dizer: Deus está dentro. Quando nós dizemos que Deus está dentro duma
pedra, Deus está dentro de uma planta, Deus está dentro de um animal, temos uma
idéia dualista errada. Deus não está dentro. Então nós levamos um choque. Como
é que pode estar dentro duma coisa feia (de um sapo, duma rã, de uma barata,
duma aranha) – como Deus está dentro? Deus não está dentro.
Este
maravilhoso livro “A Arte de Curar pelo Espírito” (que eu traduzi do inglês) de
Joel Goldsmith explica maravilhosamente este equívoco. Ele diz: “Nós não
devemos dizer que Deus está dentro, mas que Deus é esta pedra, Deus é esta
planta, Deus é este animal, mas o seu é, o ser nós não vemos, nós vemos somente
o seu existir”. Nós vemos a existencialidade duma pedra, mas não vemos a
sua Essência. Vemos a existência dum animal, mas não vemos a sua Essência.
Vemos a existência duma planta porque ela é objeto dos 5 sentidos. Se nós
pudéssemos ver a Essência e não víssemos apenas a existência nós não diríamos:
Deus está dentro da pedra, diríamos a Essência da pedra é Deus, a Essência
da planta é Deus, a Essência do animal é Deus, a Essência do homem é
Deus. Deus é a única Essência de todas as existências.
Mas nós só
vemos a existência e dizemos: essa existência é uma pedra, quando de fato não é
uma pedra porque a existência é apenas uma manifestação da Essência. A Essência
se manifesta como se fosse uma pedra, a Essência se exterioriza como pedra,
como planta, como animal e assim por diante.
Leiam este
livro “A Arte de Curar pelo Espírito” aonde Goldsmith vai ao fundo das coisas.
Ele diz: “quando eu quero curar um doente eu não devo pensar que eu devo
expulsar a doença de um doente. Deus é vida, Deus não é morte, Deus é saúde e
Deus não pode ser doença – logo se aqui parece haver doença é porque eu não
vejo a realidade desta creatura humana. Eu vejo as suas aparências, eu vejo as
suas existencialidades que são doentes, mas eu não vejo a sua Essência que não
está doente. A Essência do homem não pode estar doente porque a Essência
é Deus e Deus não está doente”.
Então, Joel Goldsmith manda conscientizar absoluta
identidade da alma do homem doente com a própria Divindade e se conseguir esta
identificação entre a Essência que é vida e saúde na existência que de momento
é doença; então também a Essência pode exercer um impacto tão poderoso sob a
existência que a própria existência deixa de estar doente e também adquire
perfeita saúde.
É uma
conscientização da Essência rumo a existência, mas isto exige uma concentração
tão grande – nós quase nunca conseguimos focalizar a Essência quando os nossos
sentidos só falam em existências. Os nossos sentidos os olhos, os ouvidos, o
tato – só falam em existência – e como é que eu posso ultrapassar o testemunho
dos meus sentidos e dizer: “Apesar de vocês verem doença, ouvirem doença, e
tangerem doença, não é doença. A Essência não pode estar doente. Somente uma
existência que é um derivado pode estar doente. E se eu conseguir focalizar
a Essência pura desse ser humano que parece estar doente também a
conscientização da Essência pode transmitir perfeita saúde àquela existência
que de momento está doente”.
Tudo depende
da focalização da Essência, mas se eu tenho que buscar uma Essência fora de
mim, então ele insiste – não adianta invocar Deus e muita gente se escandaliza
com a linguagem de Goldsmith e diz: “não, nós temos que rezar para o
doente”. Ele insiste: “não adianta rezar, não adianta invocar Deus para
lhe dar saúde. O que tem que fazer é evocar”. Agora vem a grande palavra – evocar.
Invocar é
isto: Eu vou invocar o Deus fora de mim.
Evocar: Eu vou
evocar o Deus dentro de mim. Eu vou conscientizar o Deus inconsciente. Eu vou
conscientizar o meu Deus inconsciente.
Isto é toda a
filosofia de Goldsmith. É evocar - chamar de dentro para fora, não de fora para
dentro. Invocar é puxar Deus para dentro de mim para me dar saúde. Evocar é
chamar Deus de dentro de mim. Ele está dentro de mim, mas eu não sabia. Eu não
tinha consciência dele dentro de mim, por isto é que estou doente. Se eu
tivesse perfeita consciência da presença de Deus em mim eu não estaria doente.
Por que é que
Jesus numa esteve doente? Nós nunca lemos uma doença de Jesus no Evangelho, nem
a menor doença. É porque ele vivia na permanente consciência da presença do
Pai. O corpo dele não podia ficar doente, nem estava sujeito a morte
compulsória. Se ele permitiu é porque quis. E depois voltou à vida.
Com Moisés no
Antigo Testamento, que é o maior precursor de Jesus, sem dúvida, nós nunca
lemos uma doença de Moisés. Viveu segundo a Bíblia, 120 anos em perfeita saúde
e eterna juventude. Porque onde há uma consciência nítida da presença de Deus
também há saúde, há vida e há perfeição do corpo. Mas, o nosso problema é poder
conscientizar realmente, intensamente a presença da Essência. A Essência não
pode estar doente, não conhece morte. A Essência é a própria vida. Tudo depende
da intensidade da nossa conscientização.
TRANSCRIÇÃO AULA 9 - A lei do amor
Curso 1978
Filosofia Univérsica
Huberto Rohden
Aula 09 - 20/06/78
Einstein, a lei do Amor
Na filosofia nós temos que fazer muitas demolições
de ídolos e de tabus. Sem isto não podemos fazer filosofia. Ídolos queridos,
tabus tradicionais e inveterados... - porque certas palavras adquirem um
sentido diferente na linguagem popular e nós temos que voltar ao sentido exato.
As duas palavras mais usadas na humanidade são: Deus e amor. São duas coisas
que na filosofia significam inteiramente diferente do que na linguagem popular.
Já tratamos da
palavra Deus. Já dissemos que Deus é a Essência, mas o povo diz que essência é
um líquido que está num frasquinho – então não se pode dizer que Deus é a
Essência. Mas, a filosofia diz: o Absoluto, o Eterno, o Infinito e assim por diante...
Mas, a palavra Deus na linguagem popular é exatamente o contrário daquilo que
se entende por Deus na filosofia. As
igrejas mesmas entendem por Deus uma pessoa ou pelo menos um indivíduo, um
superindivíduo cósmico. Nada disto, podemos aceitar.
Einstein diz
que Deus é a lei. Lei não é uma pessoa, é uma coisa inteiramente abstrata. Não
uma coisa real. Moisés também chamam Deus a lei. Spinoza diz que Deus é a alma
do Universo. Já é uma boa definição. Os místicos iniciados todos aceitam que
Deus é a consciência cósmica (cósmico é universal), e que nós somos ecos e
reflexos desta consciência cósmica. A nossa consciência verdadeira é uma agulha
magnética que aponta sempre para o norte da consciência cósmica... (se nós não
falsificarmos a consciência) - mas geralmente não se pode falsificar a
consciência. Ela sempre grita de novo e não aceita o que o ego manda aceitar.
Ela defende o direito, a justiça e a verdade.
Quer dizer,
podemos tomar Deus, a lei, a Alma do Universo, a Consciência cósmica, mas para
o uso do povo e, sobretudo das crianças, é ótimo usar a palavra Vida. A Vida
produz os vivos. Nós nada sabemos da Vida, mas sabemos muito dos vivos. Há
vivos de toda espécie. Podemos chamar Deus a Vida Universal, mas não alguma
creatura viva. Isto já não é a Vida. A creatura tem vida, mas a creatura não é
a Vida. Mas, o que é a Vida? Isto seria Deus, não o que tem vida. O que tem
vida é vivo, um adjetivo, e Vida é um substantivo. Isto podia usar na linguagem
das crianças para Deus.
Agora vamos
tratar de outro assunto: amor. Quando usamos a palavra amor, todo mundo
entende o amor transitivo e ninguém aceita o amor intransitivo, em linguagem de
gramática. Porque o que o povo entende por amor, é amar uma outra pessoa. É
altruísmo! Sempre é altruísmo para nós.
De qualquer espécie, mesmo amor entre homem e mulher é altruísmo. E
entre amigo e amigo e entre pai e filho...- na linguagem popular amor é
transitivo.
E, se eu
disser que o amor é intransitivo, então dizem, “isto não é amor. Isto é
egoísmo”. Amor próprio seria intransitivo, amor alheio seria transitivo. Se eu
digo “eu me amo a mim mesmo”, dizem “mas que egoísmo é este? Que coisa
horrível!”. A gente deve desprezar a si mesmo e amar só os outros, isto é a
linguagem geral entre os pedagogos e assim por diante. Você nunca deve amar a
si mesmo – só deve amar os outros. E nunca deve dar coisas boas a si mesmo.
Deve dar sempre coisas boas aos outros. Isto é a linguagem pedagógica correta.
Quando eu era
criança, eu tinha de confessar sempre que tinha pecado por amor próprio. Eu
pecava por amor próprio porque toda criança peca por amor próprio, e me
disseram que amor próprio é pecado. Ninguém deve praticar amor próprio, só se
deve praticar amor alheio. Mas, é muito difícil praticar amor alheio sem
primeiro praticar amor próprio.
O maior dos
mestres disse que devemos amar o próximo como a nós mesmos. Aí acabou com todo
o tabu. Acabou com toda a pedagogia e psicologia educacional. Devemos amar o
próximo assim como amamos a nós mesmos. Dar o amor próprio como modelo para o amor
alheio. Mas, isso não é egoísmo? Eu em primeiro lugar me devo amar a mim mesmo?
Não, isto não é egoísmo. Isto é a lei da vida. Não existe nenhum ser vivo que
não tenha amor próprio. O amor próprio é a própria existência dum ser. Se uma
planta deixasse de ter amor próprio não existiria mais. Se um animal não
tivesse amor próprio deixaria de existir.
Até os átomos têm amor próprio. Se um átomo não
tivesse amor próprio então não existiria mais. Imaginem como é difícil
desintegrar um átomo. Os nossos cientistas tiveram um trabalho enorme com
sincrotons para desintegrar um único átomo. Porque ele se defende contra a
desintegração. É um terrível amor que ele tem. Ele tem um amor atômico mesmo.
Ele se defende: “Eu não quero ser desintegrado”. Mas, nós conseguimos
finalmente a desintegração atômica ultimamente, foi um trabalho louco.
Quer dizer,
tudo tem amor próprio. Amor é autoconservação, nada mais. Toda creatura se ama
a si mesmo e quer continuar a existir e não quer deixar de existir. A lei da
auto-existência é a lei do amor!... Então temos que passar para um novo
conceito de amor. Se alguém só se amasse a si mesmo e não amasse os outros,
então seria egoísmo. Mas, se alguém se ama a si mesmo e ama os outros do mesmo
modo como ele se ama a si mesmo, isto é santidade suprema. Isto é
auto-realização e isto está no Evangelho. “Amarás o teu próximo assim como tu
te amas a ti mesmo”. Ele dá o amor próprio como modelo para o amor alheio.
Quer dizer que
podemos dizer em primeiro lugar amor é auto-afirmação, não autonegação. É
auto-afirmação, ‘eu me afirmo quando eu me amo. Eu quero continuar a existir’ –
isto é auto-afirmação e auto-realização. E nós sabemos que nós podemos ter um
amor próprio tão grande que nos imortaliza. A imortalização não é outra coisa
senão o triunfo máximo do amor próprio. Mas, não digam isto lá fora porque é
muito perigoso. A imortalidade do homem é o triunfo máximo do seu amor próprio,
pura verdade. Porque se ele não tivesse um grande amor próprio ele não se
poderia imortalizar.
A sagrada
escritura diz: “Deus ama a si mesmo com infinito amor”. Meu Deus, parece
egoísmo puro – Deus ama a si mesmo com infinito amor. Em primeiro lugar ele ama
a si mesmo e um transbordamento desse amor próprio é o amor às creaturas.
Podemos dizer que as creaturas são um transbordamento do amor próprio de Deus.
Se Deus não se amasse a si mesmo com infinito amor ele não poderia crear e amar
as creaturas porque as creaturas não são outra coisa senão o transbordamento de
um amor infinito em forma finita.
Vamos fazer
outra vez a nossa geometria sobre isto, porque a geometria nos esclarece muitas
coisas. Vamos usar outra vez este sinal (+) como Essência, o Eu; e vamos usar
outra vez (O) como existência. Então teremos aqui (fig. 1) uma união entre
Essência e existência.
Podíamos dizer que isto (+) é Eu
e isto (O) é tu. Agora podemos fazer diversas constelações com estes dois
sinais. Vamos dizer que a infinita essência (+) é Essência pura, é o Absoluto,
o eterno, o infinito. E aqui (O) nós temos uma existência humana (eu ou
qualquer um de nós). Aqui outra existência humana que vamos chamar tu – nosso
próximo. Aqui pode haver diversas possibilidades de amor.
Se amar de ego para ego, (isto é amor que geralmente
a humanidade conhece) isto se chama altruísmo, filantropia, sentimentalismo. Isto
é uma porção de amor mesmo, amor erótico também – aí ele ama ela de ego para
ego – porque no Eu não há marido nem mulher. Então amor é da periferia para
periferia – do ego para ego. Isto é o que a humanidade geralmente conhece por
amor. É amor de um ego humano para outro ego humano. Isto tem muitos nomes:
altruísmo, filantropia, beneficência, amor entre sexos, erótica. Tudo isto é
amor de superfície para superfície.
Pode haver
outro, agora vem o difícil. Se eu traçar uma ligação entre as duas cruzinhas (fig.
2) então já seria completamente diferente. Do meu Eu para o Eu do tu.- isto é
difícil de imaginar como seja. Para isto acontecer, atingir a Essência do outro
e não somente a sua existência, como é que eu posso fazer isto? Não posso fazer
diretamente como está aqui. Primeiro eu tenho que descobrir em mim a minha
Essência, o meu Eu. Se eu descobrir que a minha essência é igual a esta
Essência (+), a Deus, o infinito... Se eu conseguir traçar esta linha entre o
meu Eu e Deus. Entre o Deus imanente em mim...- então está aberto o caminho
para atingir a Essência do outro.
Veja que coisa
engraçada, a palavra Deus. Apagando um pouquinho dá – eu. Não é
estranho? Eu – acrescentando duas letras dá – Deus. Quer dizer, o
Eu está imanente na idéia de Deus. Isto por acaso, é claro, não é argumento,
mas, é um jogo de palavras.
O Mestre diz:
“Amarás o Senhor teu Deus” - por que é que ele usa duas palavras, o Senhor
teu Deus? “Com toda tua alma, com toda a tua mente, com todo o teu
coração e com todas as tuas forças”. Senhor é um Deus transcendente. Amarás
a divindade transcendente – isto é Senhor...- o Senhor do
Universo, mas este Senhor não poderia ser objeto do nosso amor se nós
não conhecêssemos este Senhor transcendente como meu Deus imanente.
“Amarás o Senhor
que é teu Deus” – agora sim, é possível o amor. Que nós não
podemos amar transcendentalmente. Nós só podemos amar por imanência. O que eu
nunca vi, o que eu não conheço, não sei nada, não pode ser objeto de amor. Nós
não sabemos nada do Deus transcendente. O Deus da sua forma transcendental é
completamente incognoscível, invisível, inatingível, inaudível – é
completamente zero para nós. Se Deus fosse só transcendente nós não poderíamos
amar Deus, mas, como o Deus transcendente também é o Deus imanente e o Deus
imanente não está só em mim – também está no tu, está em qualquer creatura, nao
só humana, (mas também nas outras creaturas) porque a imanência de Deus é
universal, em todas as existências... – a Essência única está presente nas existências
múltiplas mesmo que não sejam humanas...
Agora se eu
descobrir que o Senhor é também meu Deus, é o meu Eu – se eu faço essa
grande descoberta então eu abri um caminho, não de ego para ego, mas de Eu para
Eu. Mas, antes de fazer esta ligação entre o Eu e Deus não posso fazer o
segundo caminho.
Quer dizer, a
imanência de Deus em mim, chegando a sua plenitude – amando com toda a minha
alma, com toda a minha mente, com todo o meu coração e com todas as minhas
forças... São quatro palavras que se usam aí:
Alma – norte
Mente – leste
Coração –
oeste
Forças do
corpo – sul.
Usam-se 4
palavras no Evangelho para dizer a totalidade da natureza humana, porque a
nossa totalidade não é alma – também não é mente, também não é coração – também
não são forças do corpo, mas o conjunto desses quatro dá a totalidade. Aliás, o
numero 4 sempre foi usado como um símbolo da totalidade – os quatro pontos
cardeais da nossa natureza, por assim dizer.
Então quando amamos o Deus imanente com a totalidade
do nosso ser – espírito, mente, emoções e forças do corpo, então chegamos à
plenitude de um amor místico – vertical. Porque isto ainda é tudo – amor
místico – isto não é ética, isto não é moralidade – isto não é altruísmo. Isto
é pura mística. A mística é a relação entre o nosso Eu e Deus. É uma linha
ascensional ou vertical. Se eu descubro a identidade entre o meu Eu e Deus, não
entre o meu ego, mas entre o meu Eu. Se eu descubro a identidade essencial, não
existencial, entre a minha Essência individual, Eu e a Essência Universal, Deus
– então estou no primeiro e maior de todos os mandamentos:
“Amarás
o Senhor teu Deus com toda a tua alma, com toda a tua mente, com
todo o teu coração e com todas as tuas forças” - porque
este é o primeiro e o maior de todos os mandamentos. São palavras
do Cristo. Amar com a totalidade da nossa natureza, o quê? O nosso Deus
imanente, o meu Eu. Aqui nós temos o puro amor próprio, mas próprio não se deve
referir ao ego. Próprio se deve referir ao Eu. Aqui estou no auto-amor.
Alo-amor (alos = outro em grego) seria ética, moralidade, filantropia. Aqui
estamos no puríssimo auto-amor: Eu me amo com toda a minha alma, com toda a
minha mente, com todo o meu coração e com toda a minha força.
Me, não quer
dizer ego. Me, é isto: eu amo Deus em mim, porque meu Eu é Deus em mim - é a
Essência de Deus na minha existência humana. Este é o primeiro e o maior de
todos os mandamentos, diz o Mestre, quando foi interrogado: “Qual a coisa
mais importante na vida humana?” Ele não perguntou nada secundário. Só se
referiu à coisa mais importante, amor. Amor entre o meu Eu e Deus. Porque não
são duas coisas. Este Deus aqui (fig. 1) é o mesmo que está aqui (fig. 2). Aqui
ele está em estado universal e transcendental: +(fig. 3).
(fig.1) Aqui ele está em forma individual.
Na forma
transcendental é inatingível para nós. Em forma imanente (fig 1) é atingível
para nós. É possível fazer uma relação entre Eu e Deus, mas, com uma condição -
de que eu tenha abandonado, pelo menos temporariamente, a periferia do meu ego:
o meu corpo, a mente e minhas emoções isoladas; e que eu tenha descoberto que
eu não sou o meu ego periférico externo, visível. Isto eu tenho. O ego eu
tenho. Eu tenho o meu corpo, eu tenho a minha mente, eu tenho as minhas
emoções, eu tenho as minhas forças, mas isto eu não sou.
Se eu passar
do ter para o ser, que é muito difícil... Passar do ter periférico para o ser
central, isto exige, não somente como nós dizemos, concentração mental; exige
muito mais do que concentração mental; exige uma invasão cósmica da divindade.
Parece que eu sou invadido na mística por uma força cósmica.
De fato eu não sou invadido de fora para dentro, mas, eu sou invadido de dentro
para fora. De fato, o que me invade é isto (cruz). Então eu posso dizer que sou
invadido por Deus, mas também posso dizer que fui invadido pelo meu Eu.
Quando chego
ao autoconhecimento que eu sou a minha alma, eu sou o meu espírito, eu sou o
meu Eu verdadeiro, o meu Self (inglês), Selbst (alemão) meu Atman (sânscrito).
Atman em sânscrito é Deus, aham é ego. O Atman que está em mim, diz a filosofia
oriental, é Brahman – não em forma universal como ele é transcendente – mas em
forma individual quando é imanente.
Quer dizer, a
identidade é a mesma, apenas o modo de existir é diferente, mas, não a
realidade. Então, vamos dizer que alguém chegue ao descobrimento máximo que
alguém pode fazer nesta vida: “Eu sou a minha alma, eu sou o espírito de
Deus, eu sou uma emanação individual da divindade transcendental”, isto eu
sou realmente, e ao redor disto eu tenho algumas coisas. Eu tenho o meu ego e
eu sou o meu Eu.
Se alguém
chega a esse descobrimento que é a mística no mais alto grau, isto é, a mística
não o misticismo. Misticismo é um vício, mas a mística é a maior virtude que
podemos praticar. Se chegar a isto, depois eu verifico que existe um tu aqui, o
meu semelhante. Depois eu verifico que o mesmo Deus que está em mim, também
está no tu porque ele está presente em todas as creaturas. Não pode estar
ausente de ninguém, não pode haver uma creatura que não tenha um Deus imanente
em si porque toda existência existe porque é uma manifestação da Essência.
Então eu
descubro que o mesmo Deus que existe em mim em forma do Eu, existe também no
outro Eu que vamos chamar o tu. Agora muda completamente a minha situação. Eu
não preciso amar somente de ego para ego como antes...- superficialmente,
perifericamente. Agora eu posso amar centralmente. Eu posso amar de
profundidade para profundidade, do meu Eu divino para o Eu divino do outro.
Agora acabou-se
com o altruísmo propriamente, acabou-se com a filantropia social, com
sentimentalismo. Isso depois pode aparecer como efeito secundário, mas, o
efeito primário é sempre: “eu vejo Deus em mim, eu vejo Deus em ti e como eu
me amo com toda força do meu ser, então eu verifico que o mesmo Deus imanente
também existe no outro”. Então para mim não há nenhuma virtuosidade
propriamente, não há nenhuma moralidade. Não há necessidade de uma moralidade
para amar o próximo. Aqui eu o amo não por motivo de moralidade, não por motivo
de altruísmo, não filantropia que são sempre amores periféricos, mas eu amo o
meu próximo por causa da verdade. A mesma verdade divina que está mim está
nele.
Quer dizer,
agora temos um triângulo
(antes tínhamos uma
linha reta aqui, quando era de ego para ego. (O▬O). Era uma coisa
muito incerta porque de ego para ego eu não posso amar realmente. Quando o
outro ego não é amável, eu não posso amar um ego que não é amável. Alguns egos
não são muito amáveis. Então, eu condiciono o meu amor a uma exterioridade.
Quando o tu é amável eu sou capaz de amar, mas quando deixa de ser amável
acabou-se a história. E, como o tu pode mudar sempre; na juventude pode ser
muito amável, na velhice pode ser nada amável – então, o nosso amor está
dependendo das circunstâncias fortuitas de tempo e espaço.
Isso
geralmente acontece na humanidade. Mas, quando alguém chega a descobrir o
âmago, o Eu, o Deus em mim, então, nada interessa. Não interessa o tempo e
espaço porque tempo e espaço não podem modificar nem o meu Eu, nem o Eu do meu
próximo. Porque nós somos eternos no nosso centro, nós somos imutáveis no nosso
centro, não nas nossas periferias.
Então, aqui
acontece uma coisa completamente diferente do que geralmente existe no
altruísmo, na erótica e em qualquer espécie de amor de ego para ego. Aqui pela
primeira vez descobrimos o ponto fixo de Arquimedes.
Arquimedes era
um grande matemático de Ciracusa na Cecília, e descobriu o ponto fixo. É autor
de muitas invenções técnicas. Ele disse: “dai-me um ponto fixo no universo e
eu sou capaz de deslocar todo o universo dos seus eixos”. Ninguém
compreendeu essas palavras. “Dai um ponto fixo no universo movediço” porque
todo no universo está em movimento, nada é fixo. Tudo é eterno fluxo. Então
Arquimedes disse: “Se eu encontrasse um ponto imóvel no universo, eu teria
poder sobre todo o universo, porque eu poderia assentar a alavanca no ponto
fixo” (ele foi o inventor da alavanca). Não podemos assentar a alavanca em ponto
movediço, ela não funciona. Temos que assentar a alavanca em ponto fixo se
queremos levantar um peso com a outra ponta (o centro que apóia a alavanca tem
que ser fixo). Então diz Arquimedes: “Dai-me um ponto fixo no universo e eu
terei poder de deslocar todo o universo dos seus eixos”.
O Eu em mim, o Eu em ti ou em qualquer creatura é um
ponto fixo. Não depende de tempo e não depende de espaço. Simplesmente é, mas,
não depende do existir. O existir acompanha tempo e espaço. Ora existe assim,
depois existe assim...,- é eternamente mutável o existir; mas se eu descobrir o
meu ser, a minha Essência, então eu tenho um ponto fixo. E aí o outro pode
mudar como quiser. Pode ser bonito ou feio, jovem ou velho, grato ou ingrato,
educado ou mal-educado. Nada disto pode modificar o amor que eu tenho ao
próximo. As periferias podem mudar, mas o centro não pode mudar. O centro é
eterno
Quer dizer, aqui nós temos o caminho aberto para o
que nós chamamos ética. Nós não identificamos a ética com a moralidade, nem com
altruísmo, nem com filantropia, com nada disso. Para nós a ética é um
transbordamento irresistível e espontâneo da mística. Se alguém nunca entrou na
mística, se ele nunca teve experiência de Deus, ele não pode ter ética. Ele
pode ter muita moralidade, muita filantropia, muito altruísmo, mas, isto não é
ética. Ética está além de todo altruísmo, de toda moralidade.
No dicionário sempre consta que ética e moralidade
são sinônimos. Na filosofia não é verdade. Para nós, ética é um transbordamento
da mística, mas a moralidade não é um transbordamento da mística. Eu posso ter
moralidade sem ter nenhuma experiência mística. Geralmente os homens têm
moralidade, altruísmo para com seu próximo, mas isso qualquer ateu pode ter.
Não precisa ter nenhuma experiência nem de Deus, nem de si. Simplesmente por
sentimentalismo humano podemos ter moralidade, podemos ter altruísmo, podemos
ter filantropia, mas, nunca podemos ter ética. A ética é o produto imediato da
mística.
Quando alguém chega a esse conhecimento de que “eu
sou essencialmente o que Deus é” ou segundo as palavras do Mestre: “Eu e o
Pai somos um, o Pai está em mim e eu estou no Pai, mas o Pai é maior do que eu”
– a transcendência é maior que a imanência. Então “eu e o Pai somos um,
o pai está em mim e eu estou no Pai, mas o pai é maior do que eu”.
Transcendência |
Quando alguém
chega a essa experiência, eu digo, a experiência não é pensamento (cuidado que
não confundam experiência com pensamento). Nós podemos pensar isto calmamente
sem ter nenhuma experiência, podemos até gostar de pensar – podemos querer,
mas, nem pensar, nem querer, nada disto são experiência. A experiência é uma
espécie de invasão cósmica dentro de nós. Uma invasão que parece vir de fora,
mas o cosmos não está só lá fora, também está dentro de nós. Mas não temos a
impressão que uma invasão cósmica tem que vir de fora de nós.
Só mais tarde
descobrimos que uma invasão cósmica também pode vir de dentro de nós porque nós
também somos o cosmos. Mas, se alguém tem a experiência mística que no
Evangelho chama “Eu e o Pai somos um, o Pai está em mim e eu estou no Pai” depois
vem as outras palavras “por isso as obras que as faço não sou eu que
as faz, é o Pai em mim que as faz” - a ética. Primeiro ele fala da mística
– ‘Eu e o Pai somos um’ – depois diz, e porque isso é verdade (eu
e Deus somos um) – por isso as obras que eu faço não é o meu ego que faz
estas obras – mas, é o meu Eu, é Deus em mim que faz estas obras – porque de
mim mesmo eu nada posso fazer.
Quer dizer,
ele passa da mística do primeiro mandamento para a ética do segundo mandamento.
E quando o doutor da lei quis saber qual era a coisa mais importante, ele diz:
a mais importante é: “Amarás o Senhor Teu Deus”, e depois acrescenta o
que o outro não tinha perguntado. O doutor da lei não tinha perguntado pela
ética, só tinha perguntado pelo que nós chamamos mística. Mas ele manda ver,
não pode ter verdadeira mística sem que ela se manifeste em forma de ética. Por
isso ele acrescenta: “amarás o teu próximo como a ti mesmo”.
Depois vem
aquela celebre parábola do Samaritano – onde tinha um tu (um próximo) que não
era humanamente nenhum amigo do Eu. Aqui vem aquele viajante que ia de
Jerusalém para Jericó, e à beira da estrada encontrou um ferido desconhecido
que ele nunca viu, que não era parente dele, não era nem conhecido dele – teve
ética para com ele, porque ele viu no ferido mais do que o ego dele. Ele viu, o
mesmo Deus que está neste ferido é o ‘mesmo Deus que está mim – e como eu me
amo a mim mesmo por causa deste Deus que está em mim, eu amo também este meu
próximo’.
Por causa
deste mesmo Deus que também está nele... – porque não há dois deuses. ‘O mesmo
Deus que está em mim está nele’... Então eu posso de uma só vez, praticar
mística e ética, quando eu tenho a experiência do Deus imanente. E quando
alguém chega a essa experiência mística, ele realiza neste momento a sua
imortalidade. Isto é muito importante porque quando se fala em imortalidade
todo mundo pensa que a imortalidade leva a milhares e milhões de anos. ‘Eu sou
imortal durante mil anos, dois mil’...- não tem nada que ver com tempo e
espaço.
A imortalidade
é a experiência momentânea da identidade essencial entre mim e Deus. Não tem
nada que ver com tempo. Nós atribuímos isto ao tempo, mas o tempo não existe. O
tempo é pura ficção. Tempo e espaço são ilusões, mas a imortalidade não é uma
ilusão. Então eu me imortalizo no mesmo momento em que eu tenho a experiência
da identidade de Deus e minha alma. Eu me imortalizo neste momento. Eu nunca
mais deixarei de ser imortal. Quem uma vez se imortalizou realmente é imortal
para todo o sempre. Mas, a imortalidade não tem nada que ver com tempo. Não tem
nada que ver com milhares e milhões de anos e séculos. Isto é apenas uma
conseqüência externa. Não tem nada que ver com a essência da imortalidade.
Muitos pensam
que nós somos imortais por natureza e que todos somos automaticamente imortais.
Mas, os grandes mestres não dizem isto. Eles dizem que nós somos imortalizáveis
e que nós nos devemos tornar realmente, atualmente imortais. Se eu não fosse
imortalizável, eu nunca me poderia imortalizar. Parece que os seres inferiores
a nós não são imortalizáveis (não vamos discutir sobre isto). Parece que eles
voltam da sua existência para a pura essência. Nós podemos permanecer na
existência nossa individual realizando assim a nossa imortalidade.
A ala esquerda
do budismo, como eu já disse, entende por imortalidade a diluição da existência
humana na Essência divina... – a diluição, a absorção, portanto, o
aniquilamento. Isto nós não entendemos por imortalidade. Nós entendemos por
imortalidade a integração, mas não a diluição, da nossa individualidade humana
na universalidade divina; ou a integração da existência humana na Essência
divina. A nossa existência não vai ser destruída – a nossa existência vai ser
integrada.
Quando eu
integro uma coisa na outra eu não destruo essa coisa, eu a incorporo – eu
coloco dentro. A imortalização é uma integração da existência humana individual
na Essência divina universal. Isto os grandes mestres entendem por
imortalidade. E isto se pode fazer num instante – não precisa levar muitos anos
para se imortalizar. A imortalização é experiência momentânea, não precisa
levar nenhum segundo.
A experiência
mística é o processo da imortalização e todo aquele que uma vez na sua
existência, seja terrestre, seja extraterrestre teve a experiência nítida,
clara e absolutamente certa de que a Essência divina está em mim em forma de
minha essência humana, Eu – então ele está imortalizado e não precisa
preocupar-se com tempos, séculos e milênios, a ver se ele ainda vai continuar
imortal. Não, isto tudo é ilusão.
De maneira que
esta visão entre a essência única e existências múltiplas, mais a presença da
Essência em todas as existências e a consciência clara de que isto é assim é o
problema máximo da sua existência. É o autoconhecimento e auto-realização ao mesmo
tempo.
* * *
TRANSCRIÇÃO DA AULA 10 - Matemática da Evolução
Curso 78
Aula 10 – data: 27/06/78
Matemática da Evolução
Huberto Rohden
Bem, meus
amigos. Agora, vamos fazer o nosso [...]. Vou falar de dois homens gênios, mas
muito familiares. Gênios não podem viver muito tempo neste mundo, Moisés,
antigamente e mais recentemente, Jesus. Ambos, completamente fora do ambiente.
Incompreendidos e por isso caluniados. De Jesus disseram que ele era possesso
do diabo, que tinha aliança com Satanás que era um subversivo, que proibia dar
tributo a César, que expulsava os demônios pelo poder de Belzebu, que era um
blasfemo e que era louco. Tudo isso diziam de Jesus. Não tenham muita esperança
de sair melhor.
Bem,
de Moisés diziam coisas horríveis também. Disseram há 2 000 anos e está sendo
repetido isto aqui no ocidente cristão - que ele disse que Deus creou o mundo
do nada. Moisés nunca disse isto, isto é invenção da teologia. Moisés disse que
Deus fez o 1o homem de pedacinho de barro, de um punhado de barro,
soprou nele e saiu o homem. Isso Moisés não disse. Disseram que Deus fez a 1a
mulher de uma costela de Adão, coitado, arrancou uma costela para fazer a
mulher. Tudo isto foi atribuído a Moisés. E o pior de tudo foi atribuído a
Moisés que Deus amaldiçoou o 1o casal porque se acasalaram. Mas,
Deus tinha mandado: multiplicai-vos! De que jeito? Então eles acasalaram e Deus
lançou três maldições em cima dele. Atribuíram a Moisés.
Nada
disto foi dito por Moisés. Foi dito por seus discípulos, é claro, porque Moisés
não escreveu nada - como Jesus não escreveu nada, Moisés não escreveu nada. Os
gênios não escrevem livros. Só os talentos. Os talentos são analíticos. Os
gênios são intuitivos. Os gênios não escrevem livros. Eles confiam na verdade e
não precisam faltar para garantir a verdade. Mas, os discípulos de Moisés
naturalmente ao escrever, reproduziram a intuição cósmica de Moisés através de
análises intelectuais, então saiu assim: que o mundo foi creado do nada e que o
homem foi feito de barro e a mulher foi feita de uma costela e Deus amaldiçoou
o 1o casal porque se acasalou.
Bem
os gênios têm que ser incompreendidos. Nenhum gênio pode ser compreendido pelos
talentos. Os talentos são analíticos, são profanos, são egos. O gênio é sempre
intuitivo e é Eu. O Talmude hebraico que é a teologia dos judeus até hoje diz
que Moisés não era um Adam. Era um Ish. Perguntem aos rabinos o
que quer dizer Adam e Ish. Já falei com três rabinos judeus sobre
isto. Uma vez quando voltei de Portugal, a bordo do navio nós conhecemos um
rabino que confirmou também. Moisés não era um Adam, mas era um Ish.
Adam é um homem terrestre como nós. Um Ish é um homem cósmico, como
Jesus. Há dois Ish (s): Jesus, conhecido, e Moisés no Antigo Testamento.
Naturalmente quando esses homens falam, os outros não
compreendem. Entendem outra coisa do que eles dizem. E assim Moisés passou por
ter dito essas três ou quatro bobagens. Não é culpa deles. É culpa nossa. Culpa
dos Adam(s) e não dos Ish(s). Os ish(s) são os gênios, os Adam(s)
são os talentos. Por exemplo, fiz um desenho, aqui está o sinal (∞)
infinito, que os matemáticos usam até hoje.
Logos → Luz (Fotos)
→ energia (hydor) → matéria (hyle)
Sinal do infinito - que no
Gênesis se chama: os Elohim crearam o universo. Os Elohim –
Moisés nunca fala em Deus. Elohim quer dizer as forças creadoras, no
plural. As Potências creadoras – porque Moisés não era monoteísta, nem um gênio
é monoteísta. Nenhum. Todos os gênios são monistas. Eu já expliquei a diferença
entre monoteísmo e monismo. Os gênios sabem que toda a existência emanou da
Essência. Isto é o sinal da Essência, do Infinito, do Absoluto, que Moisés
chama os Elohim.
Começa assim o Gênesis: no princípio os
Elohim crearam o céu e a terra, mas a terra era invisível. As traduções não
dão. Traduziram mal. A terra era um caos, está lá na tradução. No grego e no
hebraico está, mas a terra era invisível. Quer dizer, a terra não era
material ainda. Era simplesmente astral. Invisível é a energia. Visível é a
matéria. O Gênesis diz que a terra estava em estado energético, estava em
estado astral ou bioplásmico como dizem hoje. E depois ela se congelou em
matéria. Einstein diz: quando a energia se congela então dá a matéria. Mas
quando a matéria se descongela dá a energia. E quando a luz se condensa dá
energia. E quando a energia se descondensa dá luz.
No desenho
acima, aqui está o infinito, a 1a emanação do infinito, da Divindade
- se quiserem, de Brahman, de Tao - é chamada no Evangelho o Logos. No
princípio era o Logos. E o Logos estava com Deus e o Logos
era Deus. E tudo foi feito por ele, tudo que foi feito, foi feito pelo Logos.
Quer
dizer, Moisés atribui a creação do mundo, não aos Elohim, não à
Divindade, não ao Infinito, a Brahman, mas aos creadores subalternos que ele
chama o Logos – e que Moisés chama Elohim. E depois, entre os
creadores subalternos, primeiro produziram a luz. Combina maravilhosamente com
a nossa ciência de hoje. Einstein diz: todas as coisas deste mundo vieram da
luz. Os 92 elementos da química são produtos da luz cósmica. É Einstein que
diz. Teoria da atômica de hoje.
Quer
dizer, isto está rigorosamente, isto é o infinito, isto é o creador (∞) e a 1a
creação é luz. Fotos. Fotos em grego quer dizer luz. E depois a luz se
condensou e saiu o mundo astral. Energia é astral. O radical de energia é energo,
em grego. O Gênesis não usa a
palavra energia. Ele diz que é hydor – água. Mas, no Gênesis a palavra
água sempre se refere ao mundo astral. Quando o Gênesis fala em água ele não
quer dizer água física. Ele quer dizer água astral. No princípio a terra era
invisível, mas o espírito dos Elohim incubava as águas. Incubava, não
pairava. Incubar é como a galinha, incuba os ovos. Por que uma galinha incuba
os ovos? Para sair o pintinho. Então, o espírito de Deus incubava o mundo
astral – que é chamado água. Água e astral é a mesma coisa na Bíblia.
Daí
veio o infinito, depois o 1o creador na forma do Cristo cósmico, o Logos,
o verbo diz a Vulgata. No princípio era o verbo. Ele creou todas as coisas e no
princípio tudo era luz. A 1a creação é luz. Depois vem energia (energo).
Depois vem hyle que é a palavra grega para matéria. Esta é a ordem
descendente da creação. A creação começa com a luz, começa com o espírito, aqui
é a luz, aqui é energia. O mundo era ainda puramente energético. Era pura
energia, não era ainda matéria. Depois o mundo se congelou, diz Einstein, em
forma de matéria, hyle em grego. Aqui aparece o mundo material que é o
último produto da creação. O 1o produto é a luz. Depois vem energia
e depois é que aparece a matéria.
Estranhamente
está de acordo com a nossa ciência mais moderna. Porque todo cientista hoje
sabe: a matéria é o congelamento da energia. Congelar quer dizer, virar
passível - quando a água congela é porque está muito fria, então ela fica dura.
Mas a água é líquida, o gelo é sólido, isto é congelar. Quando a energia
congela fica menos energética, menos ativa, então vira matéria. Quer dizer, a
coisa mais passiva, menos ativa do mundo é matéria. Depois vem energia que é
mais ativa. Depois vem foto - luz e finalmente vem Logos, o
espírito.
Tudo isso é a
árvore descendente da creação. Eu escrevi ao lado creação. Na Filosofia nós não
podemos dizer criação porque é outra coisa. Na escola primária vocês não
precisam distinguir entre crear e criar. Na filosofia nós temos obrigação de
distinguir entre crear e criar. Isto aqui é creação, não é criação.
Crear é quando
os finitos vêm do infinito. Isto se chama creação. O espírito finito, a luz
finita, a energia finita, a matéria finita são creações do infinito.
Existências vindas da Essência. Isto é a Essência. Isto são as existências.

Nós estamos descobrindo cada vez mais
que os grandes gênios como Moisés disseram a verdade. Mas disseram a verdade em
outros termos. Nós estamos descobrindo pouco a pouco que eles tinham razão, mas
falaram outra linguagem. No 1o dia diz Moisés, os Elohim
crearam a luz. Os Elohim, Logos que em sânscrito se chama Brahma, não
Brahman. Brahman, em forma neutra é o infinito. Brahma, em forma masculina é o Logos.
São as forças creadoras do universo. Chama Brahma, Elohim, Logos.
Crearam a luz. No 1o dia os Elohim crearam a luz. E depois
veio mundo. O mundo não era matéria ainda. Depois o mundo se tornou matéria.
Aqui é o ponto mais baixo da creação. Agora começa o movimento contrário.
Evolução. Creação vai de alto para baixo e a evolução vai de baixo para cima.
Aqui começa a
evolução.
Então aqui a
matéria produziu bios – palavra grega para vida (biologia, biografia).
Bios veio da Hyle – da matéria. Rigorosamente certo tanto na revelação
como na ciência - o bios produziu o noos da inteligência. A
inteligência foi produzida pela vida. E nós estamos aqui, por enquanto. Não
chegamos ainda na razão. Razão, Logos em grego é a nossa faculdade
puramente espiritual. Intuitiva. Noos é intelecto, é analítico. Tem que
analisar para compreender. Logos não é analítico, é intuitivo. Sabe por
intuição. Nós estamos por enquanto no intelecto.
Então não estamos fazendo a hipótese de teoria –
donde é que vem a nossa inteligência? Agora estamos diante dum enigma. Como é
que o homem se tornou inteligente? Os outros animais não são inteligentes como
nós. Eles têm inteligência biológica, mas não têm inteligência abstrata, como
nós. Nenhum animal pode calcular a distância entre a terra e o sol. Nenhum
animal vai fazer teoria sobre a luz. Isto - somos nós que fazemos porque nossa
inteligência é abstrata. E a inteligência animal é naturalmente concreta.
Então eles
perguntam: donde é que vem a nossa inteligência? Bem dizem -, ela veio do
animal. Bios. O intelectual veio do vital. E donde veio o vital? Veio do
material. O material produziu o vital e o vital produziu o intelectual e o
intelectual vai produzir o espiritual. É coisa estranha. O menos produz o mais.
Disseram: não pode ser! Então eu dei número aqui. Vamos chamar a matéria 10.
Vamos chamar a vida 20. Vamos chamar a inteligência 50. Vamos chamar o espírito
100.
Espírito: 100
Inteligência:
50
Vida: 20
Matéria: 10
Então que
matemática é esta? Então o 20 veio do 10? Não é possível na matemática e o 50
veio do 20? Não é possível - é contra a lógica. E o 100 veio do 50? Nada disto
é possível. Estamos diante do problema:
querem saber como é que a inteligência poderia nascer neste mundo quando o
homem era um puro animal e como é que ele chegou até a inteligência? Escrevem
livros e mais livros e brigam nas universidades para saber de onde é que veio a
inteligência. Veio do instinto animal. Mas, o instinto animal podia produzir
mais do que 20? Ninguém pode de 20 dar 50.
Quer dizer,
como o instinto animal era menos do que a inteligência do homem como é que a
inteligência podia vir no homem? E não chegam a nenhuma solução. Por quê?
Porque perderam o contato com o todo e todo o mal da ciência de hoje é isto. Só
olham do animal para o homem. Não enxergam nada disto aqui. Agora se um
cientista chega a saber que a vida veio da matéria porque no princípio havia
vida neste mundo, mas havia matéria. E a matéria não produz vida. A vida não
produz a inteligência. A inteligência não produz espírito. Mas, esperem um
pouco! Isto é a linha evolutiva. Se aqui está 100 que é o espírito, 50 que é a
luz, 20 que é a energia, e se aqui tem 10, esse 20 não veio do 10, e esse 50
não veio do 20 e esse 100 não veio do 50 – o 10 já veio do 20, superior. E o 20
já veio do 50 e o 50 veio do 100 e o 100 veio do infinito.
Quando se tem
uma visão panorâmica, cosmorâmica, da creação e da evolução tudo é logicamente
claro e matematicamente evidente. Agora como os cientistas só tomam essa linha
aqui e não sabem nada desta linha aqui... – porque os cientistas não tratam da
creação. Isso é religião. Isto teologia. Não vamos falar da creação. Vamos
falar só da evolução. Então tomam só esse pedacinho da evolução. E não tem
sentido é como se alguém dissesse: eu abro uma torneira, e sai água. Donde veio
a água? Veio da torneira, não veio. Veio do encanamento, não veio. Veio da
fonte. Se houvesse encanamento e torneira e não houvesse a fonte não sairia
água. A fonte é isso aqui. Aqui a água desce e vem pelos encanamentos da
creação.
E porque já
partiu da fonte, também pode subir. A evolução é possível e pode chegar até 100
e pode ir além de 100, porque o infinito é muito mais do que 100. Então temos
que tomar em conjunto tanto a creação como também a evolução como continuação.
Tudo o que veio da Essência rumo à existência e baixou a existência até a
matéria, também pode subir outra vez. Pode chegar à matéria - pode produzir vida
não por ser matéria, mas por ser isto. Dentro da matéria está isto. E por isso
a vida, o bios pode sair da matéria e da vida pode sair a inteligência e
da inteligência pode vir o espírito. Tudo isso é lógico. Quando se toma
evolução juntamente com creação.
Mas o
cientista diz: eu só aceito evolução. Não aceito creação, que é dos
teólogos, que é dos livros da Bíblia, e eu só aceito evolução. E se alguém
só aceita a 2a metade, não pode explicar nada. Porque evolução não
explica evolução. A evolução só é explicável na base da creação. Mas a creação
é rigorosamente matemática, porque o infinito produz os finitos e os finitos
podem descer, descer, descer - podem congelar-se como diz Einstein e podem
chegar até aqui na matéria, mas continua tendo os finitos a força inicial e
continua... Depois os finitos baixos podem subir outra vez para os finitos mais
altos da matéria, podem produzir a vida, a vida pode produzir a inteligência, a
inteligência pode produzir o espírito; quando se toma a coisa em conjunto.
Tudo isso
Moisés quis dizer, mas ele não o escreveu, os seus discípulos escreveram; e
quando a gente escreve a gente tem que analisar, e quando a gente analisa a
gente falsifica tudo. Quem escreveu naturalmente não podia escrever certo. Se
vocês conhecem intuitivamente uma grande verdade, notem bem, não
analiticamente... Se vocês não pensarem para descobrir uma coisa, mas se lhes
foi revelado, se veio uma mensagem cósmica dentro de vocês, então vocês
receberam uma intuição, uma revelação, uma inspiração. Então vocês sabem
intuitivamente.
Agora vocês
sabem esta verdade. Agora vocês querem analisar a verdade pensando, já está
falsificada. Uma verdade pensada não é 100% certa. Depois de pensar a verdade
vocês vão falar a verdade. Já falsificaram mais uma vez. Depois querem
escrever, falsificaram pela 3a vez... O que nós sabemos por
intuição, por revelação, por inspiração, cosmicamente, portanto, o que nos foi
revelado não o que foi pensado por nós, mas o que nos foi revelado por
intuição, isto está certo. Mas, se vocês querem analisar uma revelação vocês
estão falsificando. Porque para analisar vocês precisam pensar. O pensamento
falsifica a intuição. Paulo de Tarso diz que ele foi arrebatado ao 3o
céu, isto é ao ponto mais alto da verdade, que ele chama de 3o céu: Fui
arrebatado ao 3o céu e lá eu ouvi ditos indizíveis. Ditos
indizíveis, ele diz, algo que me foi dito ao espírito, mas eu não posso dizer
com a boca. O que me foi dito ao espírito eu não posso nem pensar, nem falar,
nem escrever. Quer dizer, que me foi inspirado.
Aqui eu quero
analisar, mas a inspiração já veio do Logos. Agora, eu estou no noos
da inteligência. Aqui eu tenho que analisar esta intuição. Se eu subir outra
vez à altura do Logos, à altura do espírito, eu havia de compreender
isto. O meu Logos havia de compreender isto. Esta intuição ia
compreender esta intuição. Mas não pensem que esta inteligência aqui possa
compreender a intuição. Todos os grandes gênios estão no Logos. Moisés
estava no Logos. Jesus estava no Logos. Vou só citar dois. Agora
quando nós analisarmos o que eles disseram, o que estava certo, mas depois de
analisado, não está certo. E depois de falado ainda está menos certo. E depois
de escrito ainda está menos certo.
Pensar é mal
necessário. Falar é um mal necessário. Escrever para uns é um mal necessário.
Não para todos, graças a Deus. Mas o mal necessário para todos é pensar. Todo
homem pensa, bem ou mal, mas pensa. Pensar é analisar! Toda e qualquer análise
é uma deturpação da intuição. A intuição é espiritual. A análise é apenas
intelectual. Por isso quando vocês pensam uma coisa verdadeira que lhes foi
revelada por intuição, vocês não tenham muita confiança no pensamento. Porque a
revelação - são ditos indizíveis, como São Paulo diz. A revelação – o 3o
céu é um dito indizível. Eu posso ouvir pela alma a revelação, mas eu não posso
pensar com a inteligência isto que me foi revelado.
Parte 2
Quando nós
proferimos um pensamento pela boca...-
pensar é em silêncio, mas falar já é uma coisa física. Pensar é
puramente intelectual. Falar já é uma coisa física. Verbal. Aqui já está
deturpado. O pensamento já é deturpado pela palavra. E se depois ainda eu for
escrever aquilo que eu falei ainda deturpo mais. A maior deturpação é a
materialização pela escrita nos livros, mas a humanidade toda escreve livros. E
então, quando nós lemos um livro devemos saber, isto foi deturpado três vezes.
Primeiro foi deturpado pelo pensamento do escritor. Depois foi deturpado pela
palavra dele porque ele disse estas coisas. E em 3o lugar foi
deturpado pela materialização de tinta e de papel.
Quer dizer,
tudo isso são males necessários. A humanidade não pode viver sem pensar, sem
falar e sem escrever. Os grandes mestres não escrevem. Jesus não escreveu nada.
Moisés não escreveu nada. Buda não escreveu nada. Os seus discípulos
escreveram. Os discípulos de Jesus escreveram os Evangelhos, Jesus não escreveu
nada. Uma única vez, diz os Evangelhos, ele escreveu com a ponta do dedo na
areia, mas o vento levou. Escreveu o quê? Os pecados dos fariseus que estavam acusando
aquela adúltera. A única vez que o Evangelho diz que Jesus escreveu. Quer dizer
que ele sabia escrever. Mas nunca pegou papel e tinta para escrever um livro.
Porque escrever não é para os gênios. Escrever é para os talentos. Os
discípulos de Jesus – os talentos primitivos avançados - alguns eram muito
primitivos - mas todos sabiam escrever.
Naquele tempo
não havia ainda analfabetos. Isto é invenção moderna. Entre os judeus não havia
um analfabeto. Não se esqueçam, entre os judeus daquele tempo não havia um
analfabeto. Nem há hoje, porque é obrigatório, por motivo de consciência entre
os judeus, saber ler e escrever porque eles têm que ler as revelações de Moisés
e ler os Salmos e outros escritos sagrados. Desde os tempos antigos todo hebreu
e todo judeu de hoje sabe escrever. Porque é obrigação. Jesus também sabia e os
discípulos dele todos sabiam escrever. Eram pobres pescadores. Mas pescadores
alfabetizados. Não pescadores analfabetos. Isso é invenção moderna.
Isto é mais ou
menos o esquema como podem compreender o conjunto dos fenômenos que ocorrem ao
redor de nós pela evolução. Pela evolução automática da natureza e pela
evolução espontânea da nossa consciência, que nós dirigimos a nossa própria
evolução, o homem. A natureza não dirige. Ela é dirigida. O mundo animal é
dirigido por uma consciência cósmica. O mundo vegetal é dirigido por uma
consciência cósmica. O mundo material é dirigido pela consciência cósmica.
Conosco, com a nossa inteligência começa uma autodireção. Eu dirijo o meu
destino segundo a minha inteligência. Mas como a inteligência ainda não é
perfeita, ela é apenas 50%, vamos dizer, nós podemos errar. Pela inteligência
nós erramos muito. Às vezes nós dirigimos bem nosso destino, às vezes nós
dirigimos mal. Não por maldade, mas por ignorância.
Se nós
subíssemos a inteligência do noos para a razão espiritual do Logos
nós teríamos absoluta certeza em dirigir o nosso destino. Nós nunca havíamos de
falhar nem um ponto o nosso destino. Mas, quem é que está aqui no Logos? Eu vou
fazer um desenho para vocês entenderem melhor isto.
Uma linha
horizontal. Aqui o ego. Aqui tem um pólo, aqui tem outro pólo. Aqui o homem
segurança, aqui liberdade. São os dois privilégios da nossa inteligência.
Dá-nos segurança e dá-nos liberdade. Mas quanto maior é a segurança, menor é a
liberdade. Pode estar certo disso. Se aqui tem 90 de segurança, aqui tem 10 de
liberdade. O mais que podemos conseguir é 50 de segurança e 50 de liberdade. É
o máximo que o homem pode conseguir nesse plano aqui. 50% de segurança sem
falhar e 50% de liberdade. Mais - nós nunca vamos conseguir.O animal é
diferente. No animal, não intelectualizado, aqui tem 100 de segurança. Toda a
natureza tem 100% de segurança, zero de liberdade. 100 segurança, contra zero
liberdade. É evidente. Nós podemos ter 50 de segurança e 50 de liberdade.
Quanto mais seguros, menos livres e quanto mais livres menos seguros nós somos.
Automaticamente certo!
Agora, se nós
fizéssemos esta manobra com os dois pólos do nosso ego para cima – aqui estaria
o nosso Eu, na vertical. Aqui o nosso ego. Aqui eu teria 100 de segurança e 100
de liberdade. Isto é a evolução mais alta do homem quando ele adquire 100% de
segurança na sua vida e ter ao mesmo tempo 100% de liberdade. Isto são os
grandes gênios da humanidade. O Cristo. Eles são inteiramente livres na sua
segurança. Eles são livremente seguros e seguramente livres. Vocês podem
imaginar isto? Isto é o máximo da evolução humana.
Na natureza é
100 de segurança e zero de liberdade. Isso é aqui no bios. Aqui é 100 de
segurança. A natureza é absolutamente segura, não falha. Qualquer coisa que a
natureza faz, ela nunca falha, porque ela não tem liberdade.
Estou tratando
com abelhas, ultimamente outra vez. Nos apiários a gente observa a vida das
abelhas. A abelha nasce com absoluta segurança, porque ela não tem inteligência
própria. É dirigida pela inteligência cósmica. Ela faz aqueles alvéolos
hexagonais certinhos no primeiro dia de sua vida. Não aprendeu nada. Sabe tudo
quando nasce. Os insetos sabem tudo quando nasce. Uma abelha não faz um alvéolo
errado. É sempre de seis lados. Os alvéolos são muito bem controlados. As
abelhas fazem alvéolos assim, mais ou menos. Naturalmente não tão perfeitos
quanto os delas.
Estes dois
ângulos são iguais e estes quatro ângulos laterais são iguais entre si. São
quatro ângulos obtusos. São iguais. Estes dois são diferentes, e a abelha sabe
disto. Ela faz dois ângulos menores mais agudos e menos obtusos e quatro
ângulos todos obtusos. Todo alvéolo é feito assim. Se vocês colocam errado não
está certo. Por que é que ela coloca assim? Porque o ângulo agudo resiste mais
ao peso que o ângulo obtuso. E a abelha sabe disso. Se vocês fazem uma coisa
assim vocês põem mais peso dentro do que uma coisa assim. Se vocês fazem muito
obtuso que é aberto, não tem resistência. E a abelha sabe disto. Quer dizer,
ela tem segurança desde o primeiro dia de sua vida. Não erra. Nunca faz os seis
ângulos iguais. E já sabem no 1o dia. Porque o instinto é 100%
seguro. A inteligência é só 50% segura porque tem 50 de liberdade. Segurança
diminui a liberdade e liberdade diminui a segurança.
É bom saber
isso: segurança diminui a liberdade e liberdade diminui a segurança na
horizontal, no ego. Agora, na vertical, não. Na vertical vocês podem ter 100%
de segurança e 100% de liberdade. Isso é o ponto mais alto da nossa evolução no
Logos. Aqui são 50 – 50(ego). Aqui é 100 de segurança contra zero de
liberdade (animal). Não tem a menor liberdade no instinto, mas tem muita
segurança. A nossa inteligência quer
dar-nos saúde, mas falha muitas vezes e nos dá doença em vez de saúde. Mas, o
nosso instinto orgânico nos dá saúde perfeita se nós obedecermos à voz do
instinto.
Muitos pensam
que a inteligência tem que corrigir a natureza. Não é verdade. A natureza é
muito mais sábia que toda a inteligência. A natureza é instinto. E a
inteligência tem mais liberdade, mas, não tem segurança. Se nós queremos os
dois juntos segurança e liberdade - perfeitas, então nós temos que ultrapassar
a nossa inteligência e entrar aqui. Por isso os grandes gênios da humanidade
não precisam de farmácia. Não precisam de remédios porque eles se guiam pelas
leis da natureza que têm 100% de segurança - unidos a 100% de liberdade. Por
isso não ficam doentes. Moisés nunca esteve doente. Jesus nunca esteve doente.
Nenhum dos dois teve doença. Moisés viveu 120 anos em plena juventude, diz o
texto. Também não há velhice. Quem se guia pelas leis da natureza não
envelhece. Agora, a nossa inteligência nos deixa envelhecer. A natureza nos
conservaria em eterna juventude como Moisés. Com 120 anos. Também não há morte
compulsória.
Quando há
segurança não há morte compulsória. A gente pode aceitar a morte quando quer,
mas, não é obrigado a aceitar. Moisés não morreu, nós sabemos que ele subiu ao
Monte Nebo com 120 anos e se transformou em corpo astral. Transformou o seu
corpo material em corpo energético que se chama astral. Jesus não foi obrigado
a morrer. Ele disse: ninguém me tira a vida sem eu querer. Eu dou a minha
vida quando eu quero e tomo a minha vida quando eu quero. Destruí este templo
do meu corpo, eu vou reconstruir em 3 dias.
Assim
falam os gênios: ninguém me pode matar contra a minha vontade. Eu me deixo
matar porque quero, mas vocês não me podem matar porque vocês querem. Isso
seria 100 de segurança com 100 de liberdade. Mas, nós estamos em caminho para
isso, mas nós estamos aqui; estamos vindo do bios, da vida instintiva,
estamos vindo até da matéria, do nosso corpo, estamos aqui no vital, estamos no
intelectual e vamos ver se algum dia nós chegamos até a zona espiritual.
Portanto,
dizer que o homem veio do animal, que é isto aqui, bios é vital é
animal, não é verdade. O homem não veio do animal. Ele veio através do animal,
isto é certo. O animal não veio do material, veio através do material e o
material veio através de energia, e a energia veio através da luz, e a luz veio
através do espírito e o espírito veio do infinito. Assim está certo. Tomando o
conjunto da linha podemos perfeitamente explicar a evolução, mas tomando a
evolução em separado estamos diante de um eterno enigma. Como é que o maior
podia vir do menor? Aqui o maior vem do menor. Porque já está o maior. Se
começasse aqui a coisa do 10, aqui não poderia haver o 20, nem o 50, nem o 100.
Mas, como isso
é uma evolução e não é o princípio – o princípio é a creação – por isso podemos
dizer perfeitamente: o homem veio através do animal, veio através da matéria,
veio através da energia, veio através da luz, veio através do espírito que veio
do infinito. Assim está tudo certo. É uma questão de visão total do assunto.
.........................∞
↓
Espírito
(Logos)
↓
Luz (Fotos)
↓
Energia
(energo)
↓
Matéria
(Hyle)
↓
Vida (bios)
↓
.... Homem
* * *
TRANSCRIÇÃO AULA 11 - O itinerário do homem
Curso 1978
Filosofia Univérsica
Huberto
Rohden
Aula 11
– 08/08
O Itinerário do Homem
Adquiriram
aí o meu livro: “A Nova Humanidade”. Não é a última palavra sobre o homem, nem
a penúltima, nem a antepenúltima. É apenas a primeira. Ninguém vai dizer a última
palavra sobre essa pobre humanidade, gloriosa e tão pobre. Eu apenas dei umas
setas na encruzilhada para que o leitor possa mais ou menos saber que direção
tem que andar. Continua a aparecer livros sobre o homem. Sempre no mesmo
sentido. ‘O homem esse desconhecido’ (Alex Carrel), ‘O homem esse enigma’, ‘O
homem esse fenômeno paradoxal’, ‘O homem esse misto de grandezas e de
misérias’. São todos livros desses filósofos escritores. Eu pergunto: por que
não se pode dar uma palavra definitiva sobre o homem? É sempre enigmático,
paradoxal, desconhecido.
Vou
indicar duas razões dessa confusão de milhares e milhares de anos, porque não
temos clareza sobre nós mesmos. Nós conhecemos melhor os átomos e os astros do
que o homem. Há duas razões principais porque o homem não é devassável. Não é
conhecido, nem cognoscível. A primeira dessas teorias vem apenas do século
passado, tem um século. O darwinismo. A outra tem dois mil anos, é pior de
todas. Os darwinistas acham que o homem veio do zero e chegou até um. Do zero
inteligência, e agora já adquiriu inteligência. Ninguém sabe segundo que
matemática deste mundo se pode fazer um de um zero.
Se o animal
não tem inteligência e se nós temos, como é que do não podia haver um sim.
Dizem que é evolução, mas alguém nunca conseguiu transformar zero em um. Vocês
podem multiplicar zeros, adicionar zeros e nunca vão ter um. Se o animal não
tem o início da nossa inteligência, como é que a nossa inteligência podia vir
do zero inteligência do animal? Vocês vão dizer: ‘mas o animal tem
inteligência’ – é claro que ele tem. Mas não tem a nossa. Ele tem inteligência
biológica, nunca saiu daí. Nós temos uma inteligência analítica, inteiramente
diferente. O animal sabe o que ele tem que fazer para arranjar comida e para se
multiplicar. Essas duas coisas ele sabe. Inteligência biológica.
Nós (os seres
humanos) calculamos a distância entre a terra, o sol e os astros. O animal
nunca fez isto. Nunca se interessou para saber que distância vai daqui ao sol.
Nunca calculou a velocidade da luz. Nunca fez nada disto que nós fazemos.
Nunca! E o animal tem os melhores mestres hoje em dia. Imaginem, vocês vão a um
circo...- que coisa maravilhosa fazem cachorros, elefantes e focas e outros
animais. Até andam de bicicleta e tudo. Parece que ele tem mesmo inteligência.
Vocês largam o animal no mato e daqui a pouco, perdeu tudo, tudo, tudo...- ele
não continua a intelectualizar-se. Por que não? Porque aquela inteligência que
ele demonstrava no circo não era dele, era nossa, grudada nele. Isso chama
treinamento. Ele obedece ao treinamento, mas não é inteligência dele. É apenas
uma inteligência passiva. Ele aceita porque nós o recompensamos quando ele
trabalha bem e castigamos quando trabalha mal. Então, ele sabe: ‘eu tenho que
trabalhar bem, senão eu apanho’. Isso é inteligência dele. Vai para o mato -
perde tudo, tudo, tudo. Ela não continua sua a cultura intelectual, com os
melhores mestres que ele tem hoje em dia.
Nós não
tínhamos nenhum mestre. Aparecemos aqui na terra sem nenhum mestre. E
arranjamos tudo por nós mesmos. Quer dizer que são duas inteligências muito
diferentes. Inteligência biológica do animal - inteligência abstrata e
analítica do homem. De maneira que não podemos dizer que a nossa inteligência
tenha vindo deles. Do animal. O menos não produz o mais. Isto é contra a lógica
e contra a matemática. O zero não produz um. Mas este não é o maior impedimento
porque muitas pessoas não se ocupam com essa história de darwinismo e ciência.
Isto é logicamente
insustentável, esta queda do homem. Porque não pode haver uma creatura que
possa destruir as obras do creador. Não há nenhuma possibilidade de nós
derrotarmos Deus. Podemos fazer o que quisermos, nunca O vamos derrotar. Por
que, se ele é onipotente, e nós não somos onipotentes? De que modo nós vamos
derrubar a obra de Deus? É claro que uma creatura ainda que fosse Satanás,
Lúcifer, Diabo, não interessa o nome, não podia destruir o homem100% perfeito e
reduzi-lo a 1% - vamos dizer. Agora o homem está aqui no abismo um. Então, este
Deus ficou com pena do homem e diz, ‘mas eu vou consertar a coisa, o diabo
estragou tudo, mas vocês vão ver que eu conserto a obra quebrada. Vou chamar o
redentor’. Levou milhares de anos, não sabia bem como fazer (parece) e
finalmente veio o chamado redentor para refazer a humanidade destruída pelo
satanás. Isto é teologia.
Vamos ver,
aqui vem a linha ascensional da redenção. Aqui temos três coisas: Deus, o
diabo, e o redentor. Aqui, (pensam muitos) nós estamos subindo outra vez. Há
2000 anos, mas ninguém viu nada da redenção até hoje. Alguém viu? Eu não vi
nada. Ninguém viu nada da redenção, cada vez pior. Os jornais da semana passada
disseram: ‘só em São Paulo há um assalto ou um crime de roubo cada 30 minutos’.
E o delegado da polícia diz, ‘é uma situação muito favorável, é excelente,
pelos outros paises é muito pior. Nos Estados Unidos é de 10 em 10 minutos que
tem um crime – a média. E nós, é só de 30 em 30 minutos. Estamos tendo muita vantagem
ainda’. Isto é redenção? Que espécie de redenção é esta? E isto no mundo
cristão, não no mundo pagão; no ocidente cristão, porque um terço da humanidade
diz que são cristãos. Os dois terços que são da Ásia são brahmanistas,
budistas, xintoístas e assim por diante.
Agora, se
houvesse redenção nós não veríamos tantos hospitais e tantos hospícios e tantas
penitenciárias, por toda parte; que é o estado maior da nossa miséria. Mas o
exército está aqui fora, o estado maior está nos hospitais, nos hospícios e nas
penitenciárias. O exército está aqui fora. Isto não é índice de redenção. Não
houve nenhuma queda e não houve nenhuma redenção, pela experiência que nós
temos, não houve.
Então, todas
estas teorias, que Deus teria feito o homem 100% bom e perfeito, à imagem e
semelhança de Deus, veio uma creatura poderosa e derrubou, e depois veio um
enviado de Deus, quis consertar a obra. Mas não há nenhum indício disto, depois
de dois mil anos. Não se pode dizer que haja redenção. Estas três coisas são
negativas. O homem seria um objeto feito por Deus. Quer dizer, Deus fez o homem
100% bom. O homem é um objeto dessa feitura de Deus. Depois o diabo o derrubou
e mais uma vez o homem é um objeto passivo. Como é que não tem vontade própria?
Aqui ele não se fez e aqui ele sofreu dois negativos. Aqui o homem só tem que
aceitar, ele não faz nada e aqui, outra vez ele aceitou a derrota e aqui
também. Dois negativos. Tudo heteronímia. Ele não faz nada, Deus faz, o diabo
desfaz e o redentor quer refazer e não consegue.
Esta é a
história que nós contamos da humanidade. Não podemos aceitar. Nem a primeira,
nem a segunda teoria. Essa é a mais antiga, dois mil anos. Aprende-se no
catecismo, na escola dominical que foi assim, interpretando mal os livros
sacros. Os livros sacros não têm culpa disto. Moisés não é responsável por
isto, o Gênesis não é responsável por isto. A nossa interpretação é responsável
por isto.
Então vamos
abandonar também esta segunda teoria: dizer que o homem era 100% perfeito e
ficou 1% imperfeito, alguém o queria fazer outra vez perfeito e não conseguiu
nada. Isto não poderíamos aceitar. Temos que tentar uma terceira alternativa.
Vamos começar
com 1% e não com 100%. E daqui, nós vamos traçar uma linha ascensional em
ziguezague a ver se chegamos ao 100. Esta é a única coisa razoável que podemos
aceitar. O homem foi feito muito imperfeito desde o princípio. Não foi feito
100. Ele foi feito - grau 1o de perfeição.
Há pouco um
grande pensador de nossos dias disse: “Deus creou o homem o menos possível (o
menos é 1o, não podemos ir abaixo do 1o
porque não tem menos zero) para que o homem se pudesse fazer o mais possível”.
Isto é uma formidável filosofia razoável. Quer dizer, o homem não apareceu na
face da terra como um homem perfeito, um tipo Cristo, não, ele apareceu como um
homem, não como animal. Apareceu como homem imperfeitíssimo, com 1o
de perfeição humana, e ele tinha ordem de subir de 1o para
onde quisesse e pudesse. Vamos dizer, até 100, ou o máximo. Nós não estamos no
100.
Estamos ziguezagueando
por aí. Altos e baixo, vitórias e derrotas, luz e trevas, toda nossa vida. Mas
ele começou com grau 1o. Mas, este homem, no marco 1
foi dotado de uma coisa misteriosa que os animais não têm. Nenhum animal tem
isto: livre arbítrio. A possibilidade de ser melhor e a possibilidade de ser
pior do que é.
Vamos dizer,
este foi feito no (grau)1o. Ele pode subir acima de 1, 2 ,3,
4, 5 até 100 - e também pode ir abaixo de 1. Isto se chama livre arbítrio.
Quando ele é o próprio causador do seu destino. Quando a causação vem de fora,
então não há livre arbítrio. Nos seres infra-humanos não há livre arbítrio
porque eles são objetos passivos e nós somos os sujeitos ativos. Lá fora de nós
tudo é alodeterminismo e em nós há autodeterminação. Esta palavra
autodeterminação contrária de alodeterminismo (seria melhor do que dizer livre
arbítrio porque muitos não compreendem o que é livre arbítrio). Nós somos
autodeterminantes. Nós podemos ser melhores do que somos e podemos ser piores
do que somos - moralmente, espiritualmente, não estamos falando no plano
físico.
Mas, onde há
livre arbítrio nada é previsível. Onde há livre arbítrio vocês não podem prever
nada, nada, nada. Vocês podem dar educação que quiserem aos seus filhos, aos
seus alunos, vocês nunca têm certeza de que eles vão aceitar ou rejeitar. Não é
possível saber porque onde há livre arbítrio tudo é imprevisível. Não se sabe
se um apóstolo vai ser um traidor, um Judas. Também não se saber se um Saulo,
perseguidor do Cristo vai ser o maior apóstolo do Cristo. Isto não se pode
prever.
Quem é que
podia prever o que Judas fez? Quem é que podia prever o que Saulo de Tarso fez,
das portas de Damasco em diante. Quer dizer, livre arbítrio aqui, livre
arbítrio acolá. Para o mal e para bem. Tudo é imprevisível. Então, ao homem no
grau 1o foi dada uma coisa estranha que nós chamamos a
possibilidade da autodeterminação para o bem ou para o mal.
Vamos chamar
positivo e negativo. Foram lhe dadas duas possibilidades. Vamos dizer que o
positivo é o bem e o negativo é o mal. Estas duas coisas existem em qualquer
ser humano normal. Nós estamos falando do homem normal, mas o anormal existe.
Quer dizer, o homem, pelo poder da sua creatividade chamada livre arbítrio pode
traçar o seu destino. Ele pode fazer-se melhor do que foi feito e ele pode
fazer-se pior do que foi feito. Quer dizer, o itinerário começa no ponto mais
baixo 1. Mais baixo do 1 não existe. Então o homem começou aqui, lutando com
esses dois fatores. Lutando com o positivo e com o negativo. Às vezes sobe, às
vezes desce. Se o positivo prevalece sobre o negativo é claro que ele sobe. Se
o negativo prevalece sobre o positivo ele cai. E aqui vai o itinerário, o
roteiro do homem através de milhares e milhares de anos. Muitos sobem, outros
caem.
Quer dizer
aquela história da imagem e semelhança de Deus não está aqui. Não está no
início da jornada, está no fim da jornada. Isto é uma potencialidade, não é uma
atualidade, ainda. O homem tem o poder de se tornar imagem e semelhança de
Deus. Este poder lhe foi dado, esta potencialidade, mas, não esta realidade
atualizada. Isto não é verdade. O homem não foi feito com 100% de perfeição. Se
ele fosse creado aqui com 100%, ele não podia ser derrubado. Ninguém o podia
levar ao mal. Um Cristo não pode ser derrubado. Agora os outros podem, que não
estão assim.
Logo, não
podemos aceitar que o homem estivesse no princípio no ponto 100 - elevado.
Então, não há nenhuma possibilidade de eu derrotá-lo. Nenhum satanás, nenhum
diabo o podia derrubar se ele tivesse estado no grau 100. Temos que abandonar
esta idéia otimista de que no princípio nós já fomos gloriosos e perfeitos e
depois é que nos tornamos muito imperfeitos porque alguém nos derrubou. Isto é
ilógico. É inadmissível perante o bom senso. Nós começamos lá em baixo, não
começamos lá em cima, mas temos a possibilidade, a potencialidade de subir até
lá, através no nosso livre arbítrio. E ninguém sabe como é que nós vamos
obrigar o seu livre arbítrio.
Perguntamos,
por que é que não é só o positivo? Por que é positivo e negativo? Por que Deus
não o fez de maneira que fosse sempre bom e nunca pudesse ser mau? Então ele
não teria feito nenhum homem. Então, teria feito um autômato qualquer, uma
máquina, obrigatoriamente boa. Mas, se ele quis fazer um ser responsável pelo
seu próprio destino, pela sua pessoa, ele tinha que lhe dar as duas
possibilidades. Não podia dar uma possibilidade. Onde há uma possibilidade, não
há livre arbítrio.
Então temos
que manter os dois sinais para o roteiro da evolução humana. Dizem alguns, mas
Deus não pode ser positivo e negativo. Não pode ser bom e mau. O filósofo
Nietzsche, no princípio deste século disse: “Deus está para além do bem e do
mal”. Deus não é isto nem isto, nem isto, mais além dos dois. Além do bem e do
mal. É uma grande verdade. Isto é uma bondade ética e uma maldade ética. Mas
Deus não está na nossa ética. Nós não podemos dizer que Deus seja positivo ou
que seja negativo. Nós podemos ser positivos e negativos, bons e maus, mas para
o Creador nós temos que pôr - além dos dois. Deus está para além do bem e do
mal, mas estes dois existem no universo existencial, não aqui na Essência. A
essência é o Creador e a existência é as creaturas. Se atribuirmos as creaturas
o bem e o mal, está certo. Se atribuirmos os dois ao creador – completamente
errado.
Logo, o homem
viaja através de longa jornada, aqui da ascensão ou da queda com a
possibilidade de ser bom e a possibilidade de ser mau. Agora se lembrem do que
diz a Bhagavad Gita. Isto nós chamamos o ego, na nossa linguagem filosófica. O
pólo negativo da nossa natureza, a filosofia chama ego - palavra latina - e a
faculdade positiva nós chamamos em português, Eu. Significa a mesma coisa, mas
usamos a palavra latina ego porque já temos egoísmo que vem de ego. Então
conservamos ego para o negativo e o Eu para o positivo. Na Índia eles chamavam
isto aham. E o Eu chamava Atman.
Na Bíblia isso
se chama a alma e isto se chama o mundo; “que aproveita o homem ganhar o mundo
inteiro se sofrer prejuízo em sua própria alma”. Palavras do Cristo - o que
adianta ganhar todos os negativos se sofrer prejuízo em seu positivo. Vamos
dizer, o Eu e o ego. O Eu é para nós o positivo e o ego é o negativo. O homem
não é nem um nem o outro. O homem é esses dois, e também um nunca pode
substituir o outro. Eu sei que quando vocês fazem meditação, então vocês pensam
que podem substituir o seu ego negativo pelo seu Eu positivo para serem
perfeitos. Absolutamente impossível. Os dois fazem parte da nossa natureza
humana. A nossa natureza humana nunca vai ser isto. Também nunca vai ser o
negativo. Seria incompleto. Mas, o que é que nós fazemos quando dizemos que
temos que ser bons?
Muitos pensam
que devem ser positivos sem nenhum negativo. Isto chama ser bom. Eles chamam
isto espiritualismo. E outros chamam materialismo, como se espiritualismo sem
materialismo fosse possível. Não existe nenhuma possibilidade na natureza
humana de abolir um de seus pólos. Ou o pólo negativo, ou o pólo positivo.
Sempre os dois pólos andam juntos. E o que é ser bom? O ser bom é ser mais
ou menos equilibrado. Quando alguém consegue estabelecer perfeita sintonia e
uma síntese perfeita, uma perfeita harmonia entre o seu pólo positivo Eu e o
seu pólo negativo ego, então ele é bom. Não é abolindo o ego que ele é bom.
Harmonizando um pólo com outro pólo. Porque esses pólos não são contrários.
Nós sempre
pensamos que o positivo é o contrário do negativo. Não é verdade, em toda a
natureza não existe contrário, não existe idêntico nem contrário. Só existe
complementar. O negativo é complementar para o positivo e o positivo é
complementar para o negativo. A complementação se chama a síntese. Não há
antíteses. Isto e isto não são antíteses positivas e antíteses negativas. Eles
são complementares. Um deve completar o outro. Nenhum deles é perfeito. Nem o
positivo nem o negativo.
Só a harmonia entre os dois. A harmonia consiste em
que o Eu que nós chamamos o positivo integre em si o ego. Isto é ser bom, o Eu
maior que o ego (Eu > ego), o ego se integra completamente no Eu. Uma
completa integração, não uma extinção, não uma abolição. Não uma substituição.
Isto não é ser bom. Uma harmonia entre os dois. A harmonia existe. Não há
igualdade, mas há integração.
Diz a Bhagavad
Gita: ‘o ego é o pior inimigo do Eu’, mas acrescenta, ‘o Eu, porém é o melhor amigo
do ego’. Quer dizer, o tratado de paz não é possível de ego para Eu, mas é
possível de Eu para ego. O Eu pode fazer um tratado de paz com o ego, mas o ego
nunca vai fazer um tratado de paz com o Eu. Porque ele pode ser integrado, mas
não pode por si mesmo fazer o que o positivo faz. Paulo de Tarso no primeiro
século escreve aos Coríntios: ‘o homem intelectual não compreende as coisas do
espírito porque lhe parece estultícia, (estultícia é estupidez) nem as pode
compreender porque as coisas do espírito devem ser compreendidas
espiritualmente’.
A mesma coisa
que a Bhagavad Gita diz: pode haver um tratado de paz entre os dois, mas o
tratado de paz nunca pode partir do inferior. Só pode partir do superior. O superior pode integrar em si o inferior. Quando o ego se torna integrável então ele
pode ser integrado. Então há perfeição entre os dois.
Quer dizer,
isto (-) nós chamamos geralmente a inteligência. O negativo nós chamamos a
inteligência e o positivo (+) nós chamamos o espírito. Através da filosofia de
todos os tempos vai essa linha dupla espírito e intelecto. O espírito é sempre
positivo o intelecto é sempre negativo. Se ele é integrado no espírito ele
participa do positivo, mas se ele não é integrado no positivo do espírito ele
continua a lutar contra o positivo. O ego é o pior inimigo do Eu, mas o Eu é o
melhor amigo do ego.
O ego se
manifesta principalmente pela nossa inteligência. A nossa inteligência quando
está separada do espírito, da nossa razão suprema (isso chama razão, logos,
espírito) então ela luta contra o Eu. Somente depois de integrar -, ela não faz
as pazes, mas aceita o tratado de paz feito pelo Eu; então o homem entra nessa
linha de evolução positivo e negativo. Aqui ele vai caminhando a milhares e
milhões de anos. Nós não sabemos até quando, e pode chegar até lá onde os
teólogos o põem no princípio. Toda a diferença está não traçar uma linha
vertical aqui como fazem os teólogos, e uma queda para 1, uma queda fatal de
Adão no paraíso (não é nada verdade) - ele não estava aqui, ele estava aqui e
tinha ordem de subir rumo ao 100. Uma única vez aparece alguém neste mundo que
parece chegou até 100.
Há quase dois
mil anos alguém que dizia: “Ninguém me pode argüir de um pecado”. Pecado seria
a desarmonia entre o ego e o Eu, que nós chamamos o pecado. E a harmonia nós
chamamos a perfeição. Ninguém me pode argüir de um pecado, quer dizer, de uma
imperfeição moral... E também não tinha imperfeição física, este homem. Nunca
esteve doente, não morreu compulsoriamente, mas voluntariamente.
Se alguém
morre compulsoriamente é imperfeito. Nós todos morremos compulsoriamente.
Ninguém morre porque quer, nem os suicidas. Eles também não morrem porque
querem. Porque estão transviados, aí eles se suicidam. E os outros homens que
não são suicidas não morrem voluntariamente. Podem morrer resignadamente, mas
não voluntariamente. Nós somos obrigados a morrer ou por acidente, ou por uma
doença, ou pela velhice. Não há nenhuma escapatória nisto. Morremos todos
compulsoriamente e entre o nascimento e a nossa morte quantas coisas
compulsórias existem! Doenças são todas compulsórias. Nós não queremos uma
doença, mas a doença vem contra a nossa vontade.
Quer dizer, o
nosso corpo é imperfeito. A nossa vontade é imperfeita. A nossa inteligência é
imperfeita. Erramos muitas vezes -, são fraquezas da inteligência. Queremos
mal, são fraquezas morais. E somos sujeitos a doenças desagradáveis. Somos
imperfeitos no corpo, na mente e nas emoções. Se chegássemos a 100 como temos
ordem de chegar, não teríamos nenhuma dessas imperfeições. Raras vezes um homem
chega até 100. Parece que no Antigo Testamento Moisés foi uma espécie de
precursor de Jesus, o Cristo, porque dele não consta uma doença. A Bíblia nunca
fala duma doença de Moisés... -‘e viveu 120 anos, diz o texto, em perfeita
juventude’.
Viver 120 anos
(anos como os nossos, os anos nunca mudaram) em perfeita juventude não é
natural para o nosso estado. Porque nós envelhecemos pouco a pouco e não
podemos chegar a 120 anos em perfeita juventude. Também não foi morto compulsoriamente.
No fim dos 120 anos, diz o texto, chegou ao fim da Jornada entre o Egito e
Canaã, subiu ao Monte Nebo e nunca mais voltou. Foram procurá-lo, nunca ninguém
achou o cadáver de Moisés e nunca viu o túmulo dele que não existe. Porque ele
não virou cadáver e não teve túmulo.
Quer dizer,
não morreu. Isto seria a vitória máxima desta jornada. Não estar sujeito à
morte compulsória e não estar sujeito a doenças compulsórias também. Poder
transformar o seu corpo material numa outra espécie de corpo que vamos chamar
astral, por enquanto. Astral é pura energia. A energia é invisível. Matéria é
visível, tangível, etc... Nós temos um corpo material. E não temos o poder de
transformar no fim da vida - o nosso corpo material num corpo imaterial, num
corpo energético, num corpo astral. Porque não estamos no termo da nossa
jornada. Aqui no meio da jornada não se pode fazer isto. No fim da jornada
seria possível.
Alguns casos
são contados, na Bíblia e fora. Elias..., - de Elias também se diz que não
morreu. De Enoc também se diz a mesma coisa. E depois de Moisés... Mesmo em
nossos dias ainda há casos deste. Quem leu este livro maravilhoso,
“Autobiografia de um iogue” de Paramahansa Yogananda, sabe que na Índia há
diversos séculos aparece e desaparece um grande iogue, o Babaji que se
desmaterializa, astraliza e se rematerializa quando ele quer. Reúne seus
discípulos lá no Himalaia. Dá-lhes instrução durante um mês, depois se
desmaterializa completamente. E quando precisa dar outras instruções ele se
rematerializa, dá suas instruções e de repente ele anuncia que se vai tornar
invisível outra vez.
Isto acontece
em todos os tempos, mas com poucas pessoas que chegaram a um poder completo do
espírito sobre a matéria que é o máximo da evolução, que se pode imaginar.
Parece que até
em nossos tempos aqui no ocidente também acontece. Aquele Conde de Saint
Germain que aparecia sempre na revolução francesa, nas cortes reais da França,
Saint Germain, não consta de uma morte dele. Em princípio do século passado ele
disse que ia embarcar para o oriente, para o Himalaia e ia voltar para o
ocidente quando a humanidade ocidental estivesse nos seus piores dias. Não
estamos ainda, parece... Porque está anunciada uma conflagração universal da
humanidade para o fim deste século.
Então Saint
Germain disse que ele ia voltar ao ocidente quando a humanidade estivesse nos
seus piores dias. Não consta nenhuma doença dele. Sempre tinha uma idade de 40
e poucos anos. Era muito rico, mas muito liberal. Tinha a faculdade de fazer
pedras preciosas, porque ele usava, ele gostava dessas coisas. Fazia ouro,
mentalmente fabricava ouro. Alquimia mental. Mas nunca se apegava a nada disso.
Dava com toda liberalidade. Desapareceu depois de ter aparecido muitas vezes
nas cortes da França, e parece que nunca morreu.
Quer dizer que
seria o máximo da perfeição do itinerário humano - que pudesse ter poder sobre
o seu próprio corpo. Isto seria o final do itinerário, mas o nosso itinerário
não. Isso seria ‘ser imagem e semelhança de Deus’. Jesus podia ter feito isto. Ele sempre diz:
“ninguém me tira a vida, eu deponho a minha vida quando eu quero e retomo a
minha vida quando eu quero”. E ele o fez. “Destruí este templo do meu corpo...”
- ele diz, “eu vou reconstruí-lo em 3 dias”.
E fez.
Ele podia
impedir a destruição se ele quisesse. Moisés impediu. Mas, ainda é o maior
poder. Permitir a destruição do corpo físico e reconstruí-lo rapidamente. Isto
é mais do que impedir. Perfeito é conservar. Moisés conservou o seu corpo
físico 120 anos e depois se transformou em corpo astral, mas quem permite
voluntariamente a destruição completa do seu corpo físico e pode reconstruir
pelo poder do espírito o seu próprio corpo, seja material, seja astral (porque
depois da destruição Jesus aparece, ora material, onde podia ser visto por seus
discípulos - aparecia materialmente) - e de repente ele se desmaterializa
diante deles e ninguém vê nada dele. No dia da ascensão foi a última vez que se
desmaterializou – que ele chama ascensão, não tinha nenhuma ascensão. Há uma
astralização. Uma desmaterialização do seu corpo, que é o poder máximo do livre
arbítrio.
Nós somos
todos principiantes em matéria de livre arbítrio. Estamos no ABC. Na escola
primária do livre arbítrio. Não temos um poder completo sobre nós. Mas, se
tivéssemos uma síntese perfeita entre o positivo e o negativo, e uma harmonia
perfeita entre as duas nossas faculdades espiritual e mental, nós podíamos
dispor do corpo material à vontade. Como quiséssemos, podíamos tornar-nos
visíveis e invisíveis. Mas, por enquanto a humanidade não está nesse ponto. Nós
nem sabemos em que ponto da jornada a humanidade está. Certamente não está nas
alturas. Deve estar no princípio. Na primeira etapa. Lutando por aquilo, mas
não conseguindo ainda isso aqui.
Esta é a idéia
que devemos ter da verdadeira humanidade. Não uma humanidade que tivesse vindo
do zero do animal. Um é o homem. Do zero do animal não podia vir o 1 do homem.
Isto não é aceitável. Também não é aceitável esta segunda hipótese que o homem
tenha estado no 100 – no princípio, perfeito em tudo, no corpo, na mente e na
alma - e tivesse caído até 1. Isto não é admissível. Somente é admissível que
não tenha estado no 100, mas que tenha começado no grau 1o da
sua evolução; e foram-lhe entregue o dom do livre arbítrio para ele mesmo se
auto-realizar. Ele se pode realizar. O homem é realizável, mas ele não é
realizado. Mas aonde há um poder creador nele – o livre arbítrio é um poder
creador - é uma creatividade. Aí alguém se pode realizar mais do que Deus o
realizou. Deus creou o homem o menos possível (o menos é 1) para que o homem se
pudesse crear o mais possível.
Esta é a única
teoria que podemos aceitar sobre o início e a evolução do homem. No início foi
lhe dado a possibilidade de melhorar. Mas também sempre inclui a possibilidade
de piorar, porque onde há uma possibilidade para o bem também há uma
possibilidade para o mal – enquanto os dois não estão harmonizados. Quando os
dois se harmonizarem perfeitamente, então o homem é perfeito, mas não é sempre
negativo. A perfeição não quer dizer o positivo. A perfeição é a síntese
perfeita entre o espírito e a mente, entre o positivo e o negativo. Porque toda
a natureza é feita assim em dois pólos. Vocês não podem me indicar uma coisa na
natureza que não seja bipolar.
Vejam: os
átomos são bipolares, é próton positivo e elétron negativo. No mundo sideral é
atração e repulsão. Na eletricidade que temos aqui, nós não teríamos luz se não
tivéssemos dois pólos. Com um pólo vocês não podem acender uma lâmpada. Só com
dois pólos. Quer dizer, com o pólo negativo que vem da usina e com o pólo
positivo que também vem da usina nós podemos ter luz, calor e força. Toda a
nossa indústria está baseada nisso. A nossa indústria está cheia de dínamos. O
dínamo é positivo e negativo. Dá força.Um aquecedor na cozinha ou no chuveiro é
positivo e negativo e dá calor. E na lâmpada nós temos os mesmos: positivo e
negativo...- e dá luz.
Quer dizer,
isto é uma regra universal da natureza. No mundo orgânico há o masculino e o
feminino que são os dois pólos. Não pode haver continuação da vida só com o
masculino nem só com o feminino. Só o positivo não dá e só o negativo não dá.
Os dois combinando-se, aí dá a continuação da vida em forma do filho. Toda a
natureza é bipolar, e o homem não seria bipolar? Nós não podemos dizer que nós
temos só um pólo. Nós temos dois pólos. Nós temos o pólo Eu e o pólo do ego,
mas estes dois não devem ser hostis, um ao outro. Um não deve combater o outro.
Esse é o nosso mal.
Nós sempre
queremos eliminar um dos dois. Os materialistas querem eliminar o espírito. E
os espiritualistas querem eliminar a matéria e a mente. São tentativas
antinaturais. Contra a natureza nós não podemos fazer nada. Temos que descobrir
o modo como harmonizar perfeitamente - em síntese perfeita – as duas faculdades
que fazem parte essencial da nossa natureza. Devemos realizar-nos. Se estamos
só no positivo - não estamos realizados. Se estamos só no negativo, não estamos
realizados. Mas somos sempre realizáveis. A realização da nossa natureza humana
é essencialmente uma síntese, uma complementaridade. Um tratado de paz entre os
nossos dois pólos. Entre o nosso Eu e o nosso ego.
Isto é o nosso
destino na evolução multimilenar do homem. Nós somos a única creatura deste
mundo que pode fazer isto. As outras creaturas são creadas, nós somos as
creaturas creadoras. As outras creaturas não se podem crear melhores do que
são. Nem se podem crear piores do que são. Nós somos a única creatura aqui na
terra (não sabemos em outra parte – outro planeta) que temos nas mãos uma
creatividade. Podemos determinar o nosso destino. Não o nosso destino esterno,
físico. Aí estamos sujeitos às leis da natureza. Mas, o nosso destino interno.
O nosso destino humano propriamente, não o nosso destino material. Aí
dependemos dos fatores externos. Mas, o nosso destino humano está em nossas
mãos.
Esta é a única
possibilidade de vocês lerem o meu livro e continuarem a construírem o que não
está no livro. Porque eu não digo que esta é última palavra, que está no livro.
Nem penúltima, nem antepenúltima. Apenas a primeira. Mas vocês podem
compreender, à luz desta exposição que fiz agora, o que ele chama ‘o homem este
desconhecido’. ‘O homem esta esfinge’ ‘o homem o eterno enigma do nosso
planeta’. Só com esses dois dados, o nosso livre arbítrio que funciona tanto
como positivo como negativo, vocês podem mais ou menos compreender este
fenômeno humano, como diz Teilhard de Chardin, que passou através de tantas
esferas de evolução – desde a hilosfera, da biosfera, da noosfera e vai rumo a
logosfera. A logosfera seria isto aqui: (grau 100 – ver gráfico)
Uma evolução
possível – porque nas nossas mãos estão as potencialidades. A transformação das
potencialidades em atualidade é nossa tarefa. Segundo a parábola dos Talentos
no Evangelho é muito claro. Aquele dono dos três servos deu cinco talentos a um
e disse: “trabalhe com isto aqui” – o primeiro servo transformou o cinco em
dez. Isto é evolução. Isto é auto-realização. O segundo servo que tinha
recebido dois talentos transformou os dois em quatro. Isto é auto-realização.
Isto é creatividade, porque transformar dois em quatro é creatividade.
Transformar cinco em dez é creatividade.
Ambos foram chamados: ‘servos bons e fieis, entra no gozo do teu
senhor’. É uma grande lição de filosofia do livre arbítrio. Só o terceiro servo
que recebeu um talento só, não fez nada. Guardou o talento. Talento era uma
moeda grega naquele tempo. Guardou, não roubou. Devolveu o que tinha recebido.
‘Servo mau e preguiçoso’ disse o dono, ‘porque não fizeste produzir o meu
talento, eu não te dei a potencialidade para me devolveres a potencialidade, eu
te dei a potencialidade para duplicares com teu livre arbítrio aquilo que
recebeste’.
É exatamente o
nosso caso. Aqui nós estamos na potencialidade. Cada um recebeu tanto e tanto
no princípio da sua vida. E com este ele pode aumentar ou também pode estagnar.
O terceiro servo estagnou, ele ficou aqui, não passou nem para o dois nem para
o três, nem para o quatro. Estagnou aqui. Quer dizer, tinha livre arbítrio, mas
não fez funcionar o seu livre arbítrio a serviço da sua evolução ascensional. A
serviço da sua auto-realização.
Leiam mais ou
menos nesse espírito o livro para saberem o que o livro quer dizer, não
aceitando as duas teorias, nem do darwinismo, nem aquela outra das nossas
teologias, porque não são aceitáveis. Aceitável é somente esta que o homem
começou no mínimo para chegar até o máximo. Deus creou o homem o menos possível
para que o homem se creasse o mais possível.
TRANSCRIÇÃO AULA 12 - A Filosofia de Einstein
CURSO 78
Huberto
Rohden
Aula 12
15/08
A Filosofia de Einstein
(Rohden
começa citando a 2a edição do livro “Einstein, o enigma da
matemática”)
“O
livro está aqui não é?”
A nova edição
muito ampliada – tem muitos capítulos novos que não estão na 1a
edição que eu focalizei mais a personalidade. Neste livro eu não trato da
ciência atômica, nem de relatividade - mas, somente a personalidade e a
filosofia de Einstein. Sobre isto também eu vou falar domingo à noite. Personalidade
e filosofia de Einstein. Vou focalizar três ou quatro pontos apenas. Vamos
antecipar estes três ou quatro pontos aqui.
Evidentemente,
com Einstein e seus colegas começou no mundo inteiro uma nova fase na ciência.
Inteiramente nova...Por que nova?
Primeiro: Einstein inclui a intuição na ciência integral, o que nunca
nenhum cientista fez. No ano passado comecei a falar sobre a intuição e vi a
dificuldade que vocês têm de compreender o que é que se entende por intuição.
Porque muitos pensam que é um pressentimento vago, incerto, que vai acontecer
isto, que vai acontecer aquilo. O povo diz, eu tenho a intuição de que fulano
morreu. Eu tenho intuição de que aconteceu um desastre. Isto nós não chamamos
de intuição. Isso é pressentimento.
Einstein chama intuição, uma verdade absolutamente
certa e irrefutável – que vem da intuição. Como é que vem esta verdade? Porque
nós conhecemos só um modo de conseguir descobrir a verdade: a inteligência. O
cientista se sente lá no gabinete, pensa muito, pensa, pensa, lê, pensa, pensa
e no fim escreve o que ele pensou. Isto
não é intuição, isto é análise intelectual. 99% da nossa ciência está na
análise intelectual. Não sai da análise horizontal que é puramente intelectual,
analítica.
Agora,
acontece com os grandes gênios da humanidade uma coisa diferente. E Einstein
neste ponto é verdadeiro campeão de evolução. Ele diz a cada momento, por
exemplo: “As leis fundamentais do universo não podem ser descobertas por
análise lógica, mas somente por intuição cósmica”.
Vocês dizem: o
que é que ele quer dizer? As leis fundamentais do universo não podem ser
descobertas por analise lógica da inteligência, mas por intuição. Mas para nós
intuição é uma coisa vaga. Incerta. E como é que ele diz que o que a intuição
ensina é absolutamente certa?
Outra frase
dele: “A matemática (ele chama a intuição também, matemática, não se
esqueça) é absolutamente certa, mas só enquanto ela fica no abstrato -
quando a matemática desce ao concreto ela perde a sua certeza na razão direta
da sua concretização”. Matemática para ele é intuição, não é analise.
Outra frase de
Einstein: “Eu tenho por verdade que o puro raciocínio pode descobrir a
verdade conforme o sonho dos antigos”. O que é que ele chama o puro
raciocínio? Intuição. Para ele puro raciocínio não é analise. Ele opõe
raciocínio puro à análise intelectual.
Então ele diz: “Pela intuição pode ser descoberta a verdade, como já
diziam os antigos” (Platão, Sócrates, neoplatônicos e outros).
Quer dizer,
existe um modo de descobrir a verdade sobre as leis fundamentais do universo, e
sobre nós mesmos também que não passa através da inteligência, mas que nos é
canalizada através da razão. Agora se vocês confundem inteligência com razão eu
não posso falar mais. E todo o mundo confunde. Einstein não confunde, os gregos
não confundiram – os gregos antigos, os grandes pensadores, Aristóteles,
Heráclito, Demócrito, Platão e outros não confundiam inteligência - que chamam
noos em grego - com razão que em grego chamavam logos. Ele sempre faz uma
diferença enorme entre inteligência, noos e logos (razão). Einstein também faz.
Ele diz: “Nós podemos receber mensagens de verdade absoluta através da razão
pura”. Não através da inteligência. O puro raciocínio para ele é a razão. A
intuição é a razão. A matemática é a razão.
Não a aritmética, mas a matemática. Vocês também confundem aritmética
com razão. Mas, Einstein faz rigorosa distinção entre aritmética e matemática,
entre análise e intuição, entre inteligência e razão. Se vocês não tomarem a
sério isto não podem compreender.
Quando
Einstein tinha 26 anos, ele estava na Suíça, na Escola Politécnica de Zurich, e
um dia ele desapareceu da escola, da casa, não deixou um recado para onde ia, e
não disse nada a seus alunos na escola. Desapareceu dois dias e ninguém chegou
a saber onde é que ele esteve esses dois dias. No terceiro dia ele reapareceu.
Pegou um pedaço de papel e escreveu isto:
E = mc²
Depois
de três dias de ausência! E não falou com ninguém onde ele esteve! (esteve no
mato, parece). Desapareceu ou dormiu em algum paiol abandonado, estava todo
sujo, desalinhado quando voltou e nunca explicou a ninguém onde estivera.
Escreveu no papel isto aqui: E = mc². Isto se chama: energia é igual
à massa multiplicada pelo quadrado da velocidade da luz. Isto modificou toda
a ciência do mundo em 50 anos.
Isto ele
escreveu quando tinha 26 anos. Toda a ciência foi modificada ultimamente por
causa disto. A fórmula misteriosa da relatividade. O ABC da relatividade é isto
aqui. Perguntaram a Einstein: “Como é que o senhor descobriu, o senhor não
esteve na politécnica, não leu livro, o senhor foi para o mato, teve dois dias
de silêncio e solidão, e depois escreveu isto. Como é que o senhor chegou a
saber isto lá no mato?” Ele disse, “não fui eu que descobri, isto me foi
revelado”. Dizer que isto foi revelado é pura intuição, porque a intuição
não vem da inteligência. Donde é que ela vem eu vou dizer depois. Então isto já
é o primeiro fruto da intuição.
E em outra
ocasião ele diz: “a intuição é absolutamente certa, não precisa de provas,
nem pode ter provas”. E quando ele
quis publicar um livro, ‘O campo unificado’ (eu estava em Princeton naquele
tempo com ele) os repórteres dos grandes jornais de Nova York foram à
universidade de Princeton para entrevistá-lo sobre o novo livro. E o repórter
perguntou: “Professor Einstein, o senhor escreveu este livro, aquilo que o
senhor escreveu é certo?” Einstein disse: “É absolutamente certo”. E
o repórter perguntou: “O senhor pode provar o que o senhor escreveu?” “Não, disse
Einstein, isto eu não posso provar”. Então disse o repórter: “Mas
como é que o senhor disse que é certo se não pode provar, para que então as
provas quando a certeza não depende das provas?” Einstein respondeu: “A
certeza é anterior a qualquer prova por meio da intuição, mas as provas são
necessárias para justificar a certeza para aqueles que não têm intuição”. Imaginem
que resposta!
Vocês
entenderam isto? O que eu digo é absolutamente certo não por meio de provas,
mas pela intuição direta que eu tenho. Então o repórter quer saber: ‘mas,
para que então as provas, o livro está cheio de provas?’. Einstein disse: ‘bem
as provas são necessárias para justificar a certeza para aqueles que não têm
certeza por intuição’ – que coisa misteriosa.
Nós dizemos que a intuição vem da alma do universo.
A intuição é uma invasão cósmica e todo o mundo diz: “meu Deus, se a intuição
vem da alma do universo, que viagem enorme eu tenho que fazer lá do outro lado
das vias-lácteas para chegar até mim?” Pura ilusão! O universo está dentro de
cada um de nós. O universo não é sideral, o universo é a nossa própria
consciência. Vamos ver se concretizamos
isto por meio de um diagrama.
Vamos dizer
que isto é a alma do universo (Cruz) e o universo sideral é este aqui, vamos
dizer que as vias lácteas e galáxias são este círculo (menor). Isso (cruz) é a
quintessência do universo que nós chamamos Alma. E aqui estou eu. Aqui está
Einstein (círculo maior). Onde é que está a alma do universo? Está no universo
sideral. E onde é que está esta mesma alma do universo? Está no meu universo
aqui. Quer dizer, isto é o centro disto e é o centro disto. Isto que nós
chamamos Alma do Universo é o centro do universo material, do macrocosmo e é
também o centro do homem, do microcosmo.
Então quando nós
dizemos que a intuição vem da Alma do Universo nós não queremos dizer que ela
vem lá das estrelas, que ela vem duma mensagem da via-láctea A, da via-láctea
B... – isto nós não queremos dizer. Nós queremos dizer - quando alguém fala por
intuição então é o universo que fala dentro dele. Não o universo de fora, mas o
universo de dentro.
Muitos não
podem compreender que o centro do universo está dentro de cada um de nós. O
centro do universo não está lá fora, também está aqui. Não está fora, está
dentro da nossa consciência. Mas, como a nossa consciência geralmente não fala,
fala somente a nossa ciência. (A ciência é da inteligência, mas a consciência é
da razão. Entenderam isto?) A inteligência produz ciência, análise
intelectual... mas a razão quando ela começa a falar produz intuição. Logo,
todo o problema da intuição é o seguinte: será que eu só posso escutar a minha
inteligência e não sei nada de razão? Então eu não tenho intuição. Mas se eu
sou capaz de escutar a voz da minha razão (o meu logos, como diziam os gregos)
então eu recebo intuição - mensagem intuitiva do meu cosmos interno, não do
cosmos do além, mas do cosmos do aquém.
Quando nós
dizemos ‘o cosmos’sempre entendemos o cosmos fora de nós – mas o cosmos também
está dentro de nós. Mas, o que é necessário para eu poder escutar a voz da
razão cósmica dentro de mim, a voz da razão cósmica no meu centro e não a voz
da inteligência periférica – vamos dizer (gráfico): aqui está a inteligência
periférica (círculo) e aqui está a razão central (ponto).

Se eu escuto somente isto: (círculo)
eu tenho ciência, mas se eu posso escutar a minha razão interna então eu tenho
intuição. A intuição não vem de fora, ela parece vir de fora, mas ela vem
sempre de dentro. O que é necessário para alguém ouvir a voz da sua razão
intuitiva? A razão é intuitiva, a inteligência, analítica. Para que alguém
possa ouvir a voz da sua razão intuitiva e receber mensagens intuitivas (como
Einstein sempre recebia) há uma coisa absolutamente necessária. É necessário
fazer calar por algum tempo a inteligência. Porque a inteligência fala e a
razão se cala.
Notem bem isto: enquanto a inteligência fala a
razão se cala. Enquanto a inteligência analítica fala a razão intuitiva se
cala. Os dois não podem falar ao mesmo tempo. Então temos que achar um modo
para fazer calar a inteligência por algum tempo. E não para sempre – Deus nos
livre – para meia hora por dia, vamos dizer. Se vocês conseguirem fazer calar
totalmente a inteligência -, a inteligência analítica, que é do nosso querido
ego periférico... Se a inteligência calar totalmente durante meia hora ao
menos... No princípio não conseguimos meia hora – conseguimos 5 minutos – mas
já é muita coisa 5 minutos. Muitos não conseguem. Mas no fim conseguimos meia
hora que a inteligência se cala completamente. Então estamos preparando o
caminho para a intuição cósmica.
O que quer
dizer fazer calar a inteligência? Grande dificuldade saber o que quer dizer
fazer calar a inteligência. Existem três tipos de silêncio: silêncio físico,
silêncio mental e silêncio emocional. Se esses três silêncios forem
estabelecidos, então a inteligência não fala. Portanto o silêncio da
inteligência é silêncio físico. Eu não devo ouvir nada, eu não devo falar nada.
Isto é silêncio físico. Também não devo estar no meio do barulho, numa praça,
porque lá não há silêncio físico, lá há barulho físico. Então para ter silêncio
físico, eu tenho que estar num lugar completamente isolado. Einstein foi para o
mato, lá na Suíça, para ter intuição quando ele escreveu isto. Esteve dois dias
em silêncio total. Não ouviu nada, não falou nada, não falou com ninguém, não
viu ninguém falar.
Silêncio
físico é fácil estabelecer. A gente se retira da cidade, do barulho, do
escritório e fica um dia ou dois dias em completa solidão, como os iogues do
Himalaia que vivem a vida inteira numa caverna silenciosa. Não precisa a vida
inteira. Basta meia hora por dia. Mas, esse silêncio físico não basta. O
silêncio físico é fácil de estabelecer. A gente se retira para um lugar solitário
fora da cidade – está em silêncio físico. O problema é outro – o silêncio
mental. Nós carregamos conosco o barulho mental e é difícil estabelecer
silêncio mental.
Que é isto,
silêncio mental? Não pensar nada durante meia hora. Vocês são capazes disto?
Ninguém é capaz. Garanto que todos que estão aqui, não há 1% que seja capaz de
ficar 5 minutos sem pensar nada. É um problema. Porque nós vivemos pensando,
pensando, 24 horas por dia. Mesmo de noite ainda estamos pensando em forma
sonhos. Mas de dia nós estamos pensando de outro modo, conscientemente. Mas, se
alguém é capaz de estabelecer silêncio mental, não pensar nada durante meia
hora... (sem pensar nada, nada, nada...) então ele está abrindo caminho para a
intuição.
Mas cuidado
com esse silêncio mental. É coisa muito perigosa. Quem não sabe fazer silêncio
mental cai em transe, cai na auto-hipnose. Ele pensa que aquilo é uma vantagem.
Aquilo é um desastre, a hipnose não resolve nada. O transe não resolve nada. O
silêncio mental é acompanhado com a consciência cósmica. Temos que ficar
mentalmente calados e cosmicamente conscientes. É difícil! Alguém me disse: se eu não penso nada eu não
estou consciente e se eu sou consciente eu penso alguma coisa. Assim dizem os
principiantes. Não é verdade. Nós podemos ficar 100% conscientes e 0%
pensantes.
Faça a
experiência. Se vocês podem ficar 100% conscientes e 0% pensantes, se
conseguirem fazer isto, estão de parabéns! Abriram a porta para uma intuição
cósmica. Mas falta mais uma coisa importante. Silêncio físico (no. 1) silêncio
mental (no 2); agora vem um terceiro silêncio que é o mais difícil de todos.
Silêncio emocional – não ter nenhum desejo durante meia hora. Não querer nada,
nada, nada. Nem amores, nem ódios, nem esperanças nem desesperos. Nada! Não ter
nenhuma emoção, chama-se silêncio emocional. Será que nós somos capazes disto?
Então vou
repetir. Silêncio completo é silêncio físico, silêncio mental e silêncio
emocional. Não falar nada, não pensar nada e não querer nada durante meia hora,
mas ficar 100% conscientes – porque senão vocês vão cair no sono e não resolve
nada. Dormir não resolve. Então vocês devem ficar 100% conscientes no seu Eu
espiritual, e nada pensantes no seu ego mental, e não querer nada também no seu
ego emocional, e não fazer nada no seu ego material.
Vocês são
capazes disto? Então vocês sabem o que é
intuição. Porque neste caso o nosso Eu central, a nossa razão cósmica, ou seja,
a nossa consciência, ou seja, a nossa alma, seja o nosso Atman (É a mesma
coisa, Atman em sânscrito - alma, linguagem do Evangelho - o Eu na psicologia
de hoje - chamam isto o Eu central)... Então, o nosso Eu central, a nossa alma,
o nosso Atman como dizem os hindus, se manifesta. Mas ele só se manifesta
enquanto o nosso ego físico mental e emocional estiver completamente
silencioso.
Quer dizer, se
isto não se consegue através de técnicas, eu sei que há mestres por aí que
andam espalhando técnicas e mais técnicas de meditação. Não dá, através de
nenhuma técnica se consegue isto. Como é que se consegue? Exercícios repetidos
– não é técnica – é exercício paciente, terrivelmente paciente.
Einstein
estava habituado a isto porque é o homem mais silencioso que eu vi na minha
vida. Andava dias inteiros sem dizer uma palavra, sempre na intuição cósmica e
por isso ele podia dizer: “Sem a intuição cósmica não se pode descobrir
nenhuma lei do universo”. Ele fala de experiência própria. Isto é uma
novidade na ciência, porque a ciência comum não inclui a intuição na ciência.
Ainda agora, numa entrevista na revista Veja, “Iastrov”(?), aquele astrônomo
norte-americano, da Nasa – ele não inclui a intuição na ciência. A intuição é
um mistério que nada tem que ver com ciência. Isto diz “Iastrov”. Ele diz: “Ciência
é puramente analítica, ciência é pensar, ciência é pesquisar, ciência é
investigar, mas, intuição não é ciência, intuição é um mistério, é um
misticismo, mas não é ciência”.
Einstein é
inteiramente contrário a isto. Para Einstein, intuição é ciência. Einstein diz:
“a ciência começa com análise intelectual e culmina em intuição cósmica”. Note
bem: a ciência começa com análise intelectual, do ego, mas, culmina em intuição
cósmica. Isto é novidade número 1 na ciência de hoje. Há cientistas que incluem
a intuição na ciência. Mas o grosso dos cientistas ainda é do século passado.
Dizem que a ciência nada tem que ver com intuição. Intuição é misticismo.
Intuição é qualquer coisa misteriosa que não se sabe bem o que é.
É um misticismo, mas não é ciência. Einstein é
inteiramente contrário a isto. Para Einstein intuição é ciência. Einstein diz: a
ciência começa com a análise intelectual e culmina em intuição cósmica. Notem
bem - de Einstein; “a ciência começa com análise intelectual (do ego),
mas culmina em intuição cósmica”. Isto é novidade número 1 na ciência de
hoje. Há cientistas que incluem a intuição na ciência. Mas o grosso dos
cientistas ainda é do século passado. E dizem que a ciência nada tem que ver
com intuição. Intuição é misticismo. Intuição é qualquer coisa misteriosa que
não se sabe bem o que é.
Então vem
Einstein e diz: “não, a intuição faz parte integrante da ciência no dia de
hoje”. É a primeira novidade que Einstein introduziu neste mundo. E muitos
já estão acompanhando. Que a intuição faz parte da ciência. É o ponto
culminante da ciência. E a ciência não é completa enquanto ela não é intuitiva.
Primeiro vem a análise e depois vem a intuição. Então Einstein nos deu esta
frase: “Eu penso 99 vezes (isto é análise do nosso ego) e não
descubro nada, depois eu mergulho num grande silêncio e eis que a verdade me é
revelada (intuição)”.
Primeiro ele pensa conscientemente. Depois
ele se cala profundamente por algum tempo e depois ele é invadido pela intuição
cósmica. A invasão parece vir de fora, mas ela realmente vem de dentro. Não é
uma invasão, é uma erupção, é uma eclosão. A intuição é sempre uma eclosão do
nosso Eu central e não uma invasão de fora.
Isso foi a
primeira novidade que Einstein introduziu na ciência por experiência dele
porque ele tinha experiência que pensar analiticamente com a inteligência é
necessário, é absolutamente necessário, mas não é suficiente. Necessário é a
análise intelectual. Suficiente não é, porque não chega até o fim. Suficiente é
somente a intuição que vem depois da análise. Temos que unir a análise com a
intuição. Então temos a ciência integral.
O que eu vou dizer ainda no domingo é outra coisa.
Einstein é um dos poucos cientistas dos últimos 50 anos que teve a inaudita
coragem de falar em Deus. Porque os cientistas têm medo de falar em Deus.
Dizem: Deus não tem nada que ver com ciência. Deus é para a igreja, Deus é para
a teologia, Deus é para crianças e para pessoas velhas que não são capazes de
pensar. Isto é Deus. Não vamos falar em Deus. Porque isto é desacreditar a
ciência. Isto é destruir a auréola científica. Geralmente os cientistas dizem
assim e se gloriam de ser ateus. Este Iastrof de que falei a pouco não diz que
é ateu. Diz que ele é agnóstico. Agnóstico quer dizer aquele que não nega nem
afirma Deus. Quem nega Deus é ateu. Então ele diz: “Eu sou um agnóstico”,
ele não diz que é ateu, mas diz que não sabe nada de Deus. “Deus para mim,
eu não digo que não existe, mas eu não sei nada dele, eu sou completamente zero
em matéria de Deus”.
Isto diz
Iastrof. Einstein diz (imaginem a diferença agora): “Se Deus não fez o
universo assim como eu disse nos meus livros eu não vou brigar com ele por
causa disto”. São palavras de Einstein. Em outra ocasião, nos Estados
Unidos quando eu estava lá na Universidade de Princeton com Einstein, correu
pelos jornais uma notícia que Einstein era ateu, ateu, ateu. Que ninguém devia
ler nada de Einstein que era ateu. Foi uma imprensa sectária que espalhou isto.
Então, um rabino da sinagoga de Israel de Nova York, que eu conheci muito,
mandou um telegrama a Einstein: “Einstein favor dizer se você aceita Deus”-
porque estavam dizendo aí que ele era ateu.
Sabem o que
Einstein respondeu imediatamente ao rabino da sinagoga de Nova York? “Eu
aceito o mesmo Deus que o grande Spinoza chama Alma do Universo. Não aceito um
Deus individual que se preocupa com as nossas necessidades de cada dia”.
Declaração de Einstein. “Eu aceito o mesmo Deus que o grande Spinoza (um
grande filósofo do século XVII) chama a Alma do Universo. Este Deus eu
aceito, não aceito um Deus indivíduo, um Deus pessoal, um Deus papai Noel, um
Deus que as igrejas muitas vezes pensam que seja Deus. Esse Deus eu não aceito.
Um Deus individual eu não aceito. Aceito um Deus cósmico. Aceito um Deus
universal”.
Quer dizer, Einstein se confessa declaradamente que
aceita um poder supremo do universo, o Creador do Universo, mas não como
pessoa. Não uma pessoa, mas uma força, uma vida, uma inteligência, uma
consciência cósmica, ele aceita como Deus... Grande novidade que um cientista
número 1 do século XX, evidentemente ele revolucionou toda a ciência, abertamente
fala em Deus, mas não num Deus pessoal. Esse Deus não é Deus nenhum, mas em um
Deus cósmico. “Eu aceito Deus Alma do Universo que permeia todas as coisas
do universo, isto eu aceito como Deus, agora não aceito um Deus pessoal”.
Quer dizer que
ele não era agnóstico e não era ateu. Quem aceita a realidade de Deus em forma
da Alma do Universo não é ateu. Não é agnóstico. Einstein diz: “Eu não tenho
nenhuma religião, não professo nem religião judaica (porque ele era de
origem judaica), nem cristã, eu não tenho nenhuma religião, mas eu sou um
homem profundamente religioso”. Imagine, ele declara que é um homem
profundamente religioso, mas não tem nenhuma religião.
Quando nós
dizemos que alguém não tem nenhuma religião nós sempre pensamos que não é
religioso, mas a gente pode ser 100% religioso sem ter nenhuma religião. E
Einstein declara: “Eu não tenho nenhuma religião, eu não vou à Sinagoga e
também não vou à igreja nenhuma, mas eu sou um homem profundamente religioso”. E
porque que ele se diz religioso? Ele explica: “porque eu vejo Deus em toda
parte, eu vejo Deus nas pedras, nas plantas nos animais; em toda parte eu vejo
Deus”.
Quem tem
intuição como ele, vê Deus em tudo, numa célula, num átomo, numa molécula, num
bichinho qualquer, numa pedra, numa flor, a gente vê Deus. Isto é
religiosidade, mas não é religião. A religião é a gente ter um credo e dizer
que eu pertenço a esta igreja, àquela outra, isto é ter religião. Mas Einstein não tinha nenhum credo, mas ele
era tão intuitivo que ele via um poder em todas as creaturas, um poder
invisível. Uma inteligência, uma vida, uma consciência cósmica que permeia toda
a natureza. Ele estava habituado a ver Deus em toda a natureza. Isso ele chama
ser religioso, embora não tivesse nenhuma religião.
Quando eu
viajo por aí, como viajei há pouco lá no nordeste eu sempre tenho que aturar
entrevistas da imprensa. E uma pergunta que me fazem infalivelmente é a
seguinte: “Qual é a sua religião?” Eu estou sempre em apuros com isto.
Uma vez vieram lá: “Qual é a sua religião?” Eu disse: “Não tenho
nenhuma”.“Ah! O senhor é ateu”. Então botaram lá no jornal que eu era ateu.
Eu disse: “Faça o favor de não dizer no seu jornal que eu sou ateu porque
ateísmo também é religião”. Os ateus também têm religião, é uma religião
negativa, mas, têm religião, é claro. Porque a religião deles é o ateísmo. E o
agnosticismo e tudo isto é religião. “Não digam que eu sou ateu porque
ateísmo também é uma religião”. “Mas, qual é a sua religião?” “Eu não tenho
nenhuma religião eclesiástica, assim que se possa dizer, eu pertenço à igreja
católica, à igreja protestante, à presbiteriana ou ao espiritismo, ou qualquer
coisa que é uma espécie de religião”.
Mas, não
puderam compreender que a gente podia ser religioso sem ter uma certa religião
bitolada e carimbada. Quando a gente não tem uma religião carimbada por uma
igreja eles dizem que a gente é ateu. Mas, Einstein não tinha nenhuma. Ele
declara que não tinha nenhuma religião assim como credo. Formar um credo, mas
que ele era profundamente religioso. Mas, a imprensa não é capaz de compreender
que a gente possa ter religiosidade sem ter religião. É difícil fazer
compreender.
Agora, a última coisa, Einstein aceita valores na
vida humana. Nenhum cientista aceita. O cientista geralmente diz: valores não
são realidades. São construções mentais. Einstein diz: “o valor é a única
coisa preciosa na nossa vida. Se nós não criamos valores na nossa vida, vivemos
em vão”. “Do mundo dos fatos” diz ele “não conduz nenhum caminho para o
mundo dos valores porque os valores vêm de outra região”. Se os valores vêm
de outra região é porque eles existem e nós não fabricamos os valores. Os
valores são fabricados pela nossa consciência. A nossa consciência produz
valores, por exemplo: verdade, justiça, amor, honestidade, fraternidade,
amizade.Tudo isto são valores. Não são coisas que se possa ver.
Vocês nunca viram uma verdade, vocês nunca viram uma
justiça. Vocês nunca viram fidelidade. Vocês nunca viram amor. Isto não se pode
ver. Não são coisas físicas que se possa ver. A ciência só trata de coisas
físicas, mas como valor não é uma coisa física a ciência diz: “Bem, valor
não é nada, é uma construção mental que a gente fez”.
Einstein diz: “não,
o valor é uma realidade, o valor existe e pela consciência nós nos apropriamos
do valor. Os valores são maiores do que todos os fatos. Fatos são da ciência e
valores são da consciência. Os fatos são descobertos pela ciência e os valores
são criados pela consciência”. Ora dizer isto, como Einstein diz, os
fatos são descobertos pela ciência e os valores são criados pela consciência.
É uma coisa inteiramente nova na nossa ciência. Hoje em dia muitos cientistas
já têm a coragem de falar em valores. A consciência cria valores e a ciência
descobre apenas fatos.
É uma verdadeira nova fase na ciência que está despontando nos
últimos 50 anos. Porque um homem teve a coragem de falar em coisas que os
outros não tinham a coragem de falar. Falar em Deus, falar em valores, falar em
religiosidade e falar em intuição. São quatro coisas que eram desconhecidas.
Intuição não era ciência. Deus não estava dentro da ciência. Os valores não
faziam parte da ciência e a religiosidade também não fazia parte da ciência.
Ele tinha a coragem de dizer: “eu aceito tudo isto”.
E outros, sabendo que ele era uma celebridade
internacional disseram: “Então vamos ter a coragem também, porque se um
homem deste tamanho como Albert Einstein, que revolucionou toda a ciência do
mundo, tem a coragem de falar em Deus e tem a coragem de falar em intuição, em
valores, então vamos também falar estas coisas”. Porque a maior
parte dos cientistas de fato aceita estas coisas, mas não têm coragem de dizer
porque estão com medo. “Se eu falar nestas coisas que parecem coisas
religiosas, coisas metafísicas, coisas místicas, então o povo vai dizer, ele
não vale nada, porque ele fala em valores, fala em Deus, fala em
religiosidade”.
Agora muitos
já criaram a coragem de falar nestas coisas porque alguém disse, alguém foi à
frente. Foi a grande inovação que Einstein fez.
Teve a coragem de seguir a sua própria consciência e não ter medo “o
que é que o mundo vai pensar de mim, a minha auréola cientifica não vai
empalidecer com isto?” “Não, não faz mal, eu não estou interessado. Pode dizer
que eu sou um boboca, ou não, não interessa. Que eu sou um místico, um beato.
Não interessa. Eu digo o que eu acho que está certo”.
Teve a coragem inaudita - de dizer muitas coisas que
os outros não tinham de dizer. Isto foi a grandeza de Einstein. Ter a coragem
de professar verdades que a sua consciência lhe dizia.
* * *
TRANSCRIÇÃO DA AULA 13 - Livre arbítrio e evolução
Curso 1978
Huberto Rohden
Aula 13: Livre arbítrio e evolução
23/08/78
Vamos
começar. Espero que não me deixem monologar. Que façam um pouco de diálogo
porque não quero falar sozinho. De vez em quando vocês devem fazer perguntas
porque senão vira monólogo e as aulas devem ser dialogadas. Então vocês devem
dar os seus pareceres, fazer perguntas para eu poder completar. Vou começar assim:
Vocês
sabem que estamos aqui no ocidente chamado cristão. Toda Europa e as Américas
são chamadas “O Cristianismo”. O cristianismo abrange mais ou menos um terço da
humanidade. Em toda a teologia de todo o cristianismo seja além ou aquém do
Atlântico, não interessa, há só duas palavras importantes. E nós temos que
tomar uma atitude filosófica em face destas duas palavras que são muito
teológicas. Porque a teologia se dirige pela Bíblia, pelo Evangelho, pelas
coisas feitas pelos homens ou inspiradas. Mas, nós na filosofia não podemos
basear em nenhum livro. Devemos basear exclusivamente na razão.
Então, eu
quero propor essas duas palavras que funcionam há dois mil anos em todas as
teologias cristãs de qualquer igreja. Chama-se: pecado e redenção.
Pecado e redenção do homem. O que é que nós devemos pensar quando lemos que o
homem é pecador e deve ser remido? Que é que nós podemos pensar filosoficamente
sem entrar em nenhuma teologia. Quer dizer, a idéia de pecado e redenção tem
por base o livre arbítrio, porque se não há livre arbítrio, não há tal coisa
como pecado. O animal não tem pecado, a pedra não tem pecado, a planta não tem
pecado. O animal não pode ser remido, a planta não pode ser remida.
Quer dizer, essas duas palavras
- pecado e redenção - supõem o livre arbítrio... - que o homem possa fazer o
mal e que ele possa também fazer o bem. O mal é negativo e o bem é positivo.
Isso está por detrás destas duas palavras. O que é que nós devemos pensar
filosoficamente sobre pecado e filosoficamente sobre redenção do pecado?...
Uma grande seita japonesa,
muito conhecida aqui no Brasil afirma categoricamente de alto a baixo que não
há tal coisa como pecado. E se a gente fala a eles em pecado eles falam. ‘Isto
é bobagem, não tem pecado’. Isso é uma grande orientação no Japão, muito
conhecida aqui no Brasil. Vocês conhecem todos. E ainda agora eu li no próprio
Taniguchi que é o autor de tudo isto (eu tenho muitos livros do Taniguchi)... -
tem um capítulo inteiro provando que não existe tal coisa como pecado na
humanidade. Tudo isto é imaginação. Tudo é bom, nada é mau.
Quer dizer que nega o livre
arbítrio, é claro. Se nós negamos o livre arbítrio reduzimos o homem ao animal
porque o animal não tem livre arbítrio. Se quisermos manter uma diferença
essencial entre a natureza inferior (mineral, vegetal e animal) e a humanidade
temos que aceitar a idéia do livre arbítrio. Porque a única diferença entre nós
e a natureza é o livre arbítrio. A natureza não tem responsabilidade. A
natureza não é responsável por nada que faz, porque ela tem que fazer isto
automaticamente. Ela não faz livremente nada. Ninguém. Nenhum ente da natureza,
nem pedra, nem vegetal, nem animal faz.
Se nós não podemos fazer nada
livremente como diz Taniguchi e outros, então nós não temos nenhuma diferença
do resto da natureza. Mas, todo mundo acha que nós somos essencialmente
diferentes. Que nós podemos fazer-nos melhores do que somos e podemos fazer-nos
também piores do que somos. Isto é convicção universal da humanidade. E não é
só do cristianismo. No paganismo também. A filosofia da Índia, da China e do
Japão também aceita o livre arbítrio.
Quer dizer, não podemos desistir
desta idéia de que haja no homem algo pelo que ele se possa fazer maior do que
é, ou menor do que é. Aquele pensador moderno que nos deu essas palavras
maravilhosas: “Deus creou o homem o menos possível para que o homem se possa
crear o mais possível”, (de um pensador europeu) – é uma afirmação do livre
arbítrio.
É claro, se Deus fez o homem o menos
possível, apenas potencialmente humano, para que o homem se possa fazer
atualmente, perfeitamente humano, então isto é uma afirmação do livre arbítrio.
Então vamos antes de tudo afirmar: “Nós temos uma faculdade pela qual nós
podemos ser moralmente maus e moralmente bons”. Estou falando no terreno
moral. Fisicamente, tudo que foi feito é bom. Mas moralmente, não. Fisicamente
é uma linha só. A creação é isto.
Isto não é moralmente bom nem
moralmente mau. Isto é fisicamente bom. Aliás, neutro. É melhor dizer neutro
para não confundir. Vamos por o sinal neutro aqui. Isto não é nem positivo, nem
negativo, isto é neutro (travessão). Aqui começa a humanidade. Temos que fazer
duas linhas, uma linha bifurcada. Até aqui não há linha bifurcada. Aqui não há
nada de moralmente bom nem moralmente mau. Aqui na natureza. Tudo é neutro.
Moralmente falando tudo aqui é neutro. Aqui começa a diferença. Aqui temos que
pôr um positivo e um negativo, quando começa a humanidade. Quer dizer aqui
podemos dizer, moralmente bons e moralmente maus. Aí está o livre arbítrio.
Aqui entre os dois está a antítese do livre arbítrio. Porque se não há livre arbítrio
ninguém é bom e ninguém é mau.
E dizer que alguém possa ser
mau e alguém possa ser bom é pura fantasia se não há livre arbítrio. Suponhamos
o seguinte: na última guerra foram mortos mais de seis milhões de pessoas
inocentes que não tomavam parte na guerra. Não eram soldados, eram famílias que
foram bombardeadas e mortas nos campos de concentração. Isso era bom ou mau.
Nós entendemos que quem foi responsável por seis milhões de mortes de inocentes
não praticou uma coisa moralmente boa. Praticou uma coisa moralmente má. E cada
um de nós tem a impressão que ele pode fazer coisas moralmente boas e
moralmente más.
A consciência é uma coisa
misteriosa. A consciência sempre nos diz: isto foi mal feito. E também nos
louva de vez em quando - de estar muito bem feito o que fizeste. Quer dizer, há
uma voz em nós que aprova e desaprova o que nós fazemos. Contra a nossa
vontade. Se fosse feita por nós, a consciência, nós não podíamos ter remorsos,
sentimentos de culpa, de maldade. Mas todo mundo de vez em quando, tem a
certeza de que ele é culpado, que ele fez mal, que ele não devia ter feito, que
deve se arrepender e ter remorsos. Isto é universal na humanidade.Logo a
humanidade supõe que haja diferença essencial entre o bem e o mal.
Bem, isto como início, mas,
como vamos explicar isto filosoficamente...- sem entrar em nenhuma teologia. Eu
já tentei isto uma vez, mas não terminei. Vamos fazer mais uma vez a mesma
linha que fiz em outra ocasião. Vamos fazer a linha da evolução humana que
começa lá em baixo, vamos dizer, começa com um e pode ir até 100 e muito além
de 100. Não precisa acabar aqui. Porque a evolução é indefinida. Ela não acaba
nunca. Não tem um ponto final.
Bem então, vamos marcar três
estágios evolutivos. Um estágio evolutivo – início da humanidade. Marcar aqui
um outro estágio evolutivo mais adiantado. E aqui um terceiro estágio
evolutivo. Isto nós podemos dar três nomes a estes estágios evolutivos. Isto na
Bíblia se chama o Éden, o paraíso terrestre, onde o homem não era bom nem mau.
Era neutro. Ele era inocente como qualquer animal, como qualquer planta. Claro,
o animal sempre é inocente, nunca tem pecado. Então o homem praticamente estava
aqui no princípio. Ainda não tinha despertado nele isto aqui. Começa a divisão
aqui. Mas como o homem foi saindo do Éden, do paraíso, foi até o segundo
estágio de evolução em demanda do 3o, mas não está no 3o.
Com as palavras de Teilhard de
Chardin, este grande cientista do nosso século, isso seria biosfera. Bios quer
dizer vida. Aqui o homem estava na biosfera, quer dizer na pura natureza. Sem
diferenciação entre bom e mau. Então o homem foi caminhando na biosfera, aqui
ele entrou na noosfera, segundo Teilhard de Chardin. Noos quer dizer
inteligência. Aqui ele devia entrar na logosfera onde não estamos ainda.
Teilhard de Chardin usa palavras gregas. Então, no princípio estávamos na
biosfera, na esfera da vida, da natureza, depois entramos na inteligência, noos
em grego. E aqui estamos nós praticamente. Estamos demandando isto. Alguns
alcançam aqui (logosfera), mas a humanidade toda não alcançou.
Esta biosfera é um estado mais
ou menos neutro, onde não somos nem bons nem maus, ainda. Porque se não temos a
função do livre arbítrio somos como uma criança recém nascida. Ela pode mais
tarde adquirir o livre arbítrio, mas uma criança recém nascida está
praticamente na biosfera. Ninguém pode dizer que ela é virtuosa ou viciosa, uma
criança recém nascida. Ela não tem culpa nem merecimento. Não pode ter culpa
nem merecimento porque isto supõe a função do livre arbítrio. Na criança não
está funcionando nenhum livre arbítrio. Nem pró nem contra. Quer dizer que a
criança não pode ser moralmente boa nem moralmente má. Ela pode ser isto
fisicamente, mas não moralmente.
Então podemos dizer, isto é
estado inicial da humanidade. Ponto mais baixo da nossa humanidade. Podemos dar
outros nomes a este estado. Freud chamaria isto id. Quem estudou lá as
coisas de Freud sabe que ele faz distinção entre o id que é palavra
latina, quer dizer neutro. O que não é masculino nem feminino é chamado id em
latim. E Freud usa o estado neutro dizendo que era o nosso id. O nosso
inconsciente... - quando nós somos inconscientes não somos nem positivos nem
negativos. Nós não praticamos o bem, nem praticamos o mal, quando somos
inconscientes – no estado de sono, por exemplo, nós estamos numa espécie de id.
Estamos numa espécie de naturalidade moral. Não somos responsáveis por nada que
acontece. E uma criança está no id. Quer dizer, no estado neutro, nem
positivo nem negativo.
Isto Freud chamaria o ego – que
nós também usamos o termo ego que é palavra latina para Eu. Mas, usamos a
palavra latina ego para diferenciar do Eu – que é português. Porque já temos a
palavra egoísmo, etc. cuja base é ego. Então vamos dizer que no 2o
estágio de acordo com Freud também, ego. E se adiantarmos mais, segundo Freud
teríamos o superego. Mas nós vamos
simplificar a coisa e dizer, no Eu. Seria o itinerário evolutivo – o homem
começa no id. No anterior ao moralmente bom e ao moralmente mau.
Mas, acontece que a evolução
não pára. E ele saiu do paraíso terrestre e foi expulso. Está aqui agora. Aqui
começa a tal história do pecado. Então ele se tornou pecador. Antes ele era
inocente. Não era inocente por perfeição, por favor -, os teólogos pensam que
nós éramos inocentes por perfeição. Não, nós éramos inocentes por imperfeição.
Um animal não é inocente por perfeição. É inocente por imperfeição. Uma criança
não é inocente por perfeição. Ela é inocente por imperfeição. Por falta de
evolução ela é inocente.
Portanto, pode haver uma
inocência negativa, isto é, por imperfeição. Aqui também poderia haver uma
inocência por perfeição. Se nós estivéssemos aqui, então nós seriamos
inocentes, sem pecado, por perfeição absoluta. Estado do Cristo, mais ou menos,
aqui seria o estado crístico que no Evangelho é chamado Logos.
Mas, nós não estamos aqui. Não vamos ainda
deliciarmos com esta perfeição - esta inocência por perfeição. Já saímos da
inocência por imperfeição. Mas, não atingimos a inocência por perfeição. É
claro que não atingimos. Pode ser um ou outro, mas o grosso da humanidade não
conseguiu. Nós estamos praticamente entre o id e o Eu. Entre a
biosfera e a logosfera. A humanidade está toda praticamente aqui.
Quer dizer, há uma evolução que
começa aqui numa natureza pura, vai subindo, desenvolvendo, pouco a pouco, aqui
adquirimos a consciência do ego. Nesse estágio aqui, esse bios, este ser vital
(bios é vida), este organismo vital... - é claro que nós viemos do organismo
vital. Nós não viemos do barro como muitos pensam. Nós viemos de um ser já
vivo. Antes de sermos intelectualizados aqui, nós viemos duma base de
vitalidade já formada, mas sem intelectualidade. (aqui é vitalidade sem
intelectualidade). Aqui é id sem ego. A intelectualidade é o ego e a
racionalidade é o Eu.
Então fomos expulsos, dizem os
teólogos, do paraíso terrestre porque nos tornamos pecadores. Quer dizer, a
expulsão é a passagem do id para o ego, claro!... É uma questão de
evolução, mas eles pensam que é uma queda. Um desastre, uma catástrofe que deve
ser neutralizada. Filosoficamente nós não podemos aceitar isto. A necessidade
da evolução nos expulsou da biosfera e nos introduziu na noosfera. Nós estamos
agora na intelectualidade.
Aqui começa o nosso livre
arbítrio, mas imperfeito ainda. Aqui não há livre arbítrio nenhum. Aqui há um
semilivre-arbítrio, não um plenilivre arbítrio. Aqui não há um livre arbítrio
perfeito, mas o início. Aqui nós já somos responsáveis pelo que fazemos. Somos
responsáveis pelo bem e somos responsáveis pelo mal. Andamos em eterno conflito
entre o bem e o mal. É o nosso estado atual de hoje.
Bem, então aqui seria o 2o
estágio de evolução. Daqui em diante é possível o pecado. Aqui não é possível o
pecado. Logo, se os teólogos falam em pecado e redenção, é claro que eles falam
desses dois estágios evolutivos. Toda a teologia gira entre esses dois pontos
do ego e Eu. Em linguagem filosófica nós chamamos isto o estágio do ego, da
inteligência, mas ainda não da razão. Cuidado, não confundir inteligência com
razão. Então nós estamos aqui em estado de pecado porque aqui nós temos um
livre arbítrio parcial, mas ainda muito incompleto - muito fraco. Às vezes
fazemos o mal, então prevalece o nosso negativo e às vezes fazemos o bem,
prevalece o positivo. Quer dizer é um eterno jogo entre positivo e negativo.
Toda a nossa vida ego atualmente é um jogo permanente entre positivo e
negativo.
São Paulo descreve isto
dramaticamente na epístola aos romanos: “o bem que eu quero fazer isto eu
não faço e o mal que eu não quero fazer, isto eu faço. Que enígma sou eu” -
ele diz - “quem me libertará deste corpo mortífero”. Quem me libertará
deste ego, nós diríamos, porque o bem que eu quero fazer não o faço. E o mal
que eu não quero fazer eu faço. Há dentro de mim duas leis. Paulo de Tarso diz
isto. “Há dentro de mim a lei do bem e a lei do mal; estão em eterno
conflito. Quem me libertará deste modo infeliz? A graça de Nosso Senhor Jesus
Cristo”. Ele exclama no fim.
Ele quer dizer, enquanto eu
estou no 2o estágio de evolução...- o jogo entre o sim e o não,
entre o positivo e o negativo, eu não tenho sossego. Mas algum dia eu vou ser
liberto por isto. Isto ele chama a graça do Cristo. É o logos, é claro! Ele
tinha uma intuição certíssima, mas os nossos teólogos não sabem explicar isto
filosoficamente. Nós devemos chegar a uma explicação inteiramente independente
de qualquer teologia. Simplesmente pela razão.
Então o homem está aqui. Aqui o
homem se tornou pecador. Aqui ele não era pecador e aqui ele pode ser santo,
mas aqui ele não é inocente nem por imperfeição nem inocente por perfeição. Mas
está entre dois estágios evolutivos. Isto então na teologia se chama a queda. A
queda do homem é a entrada da biosfera para dentro da noosfera. O estado de
inconsciência para o estado de semiconsciência. Aqui não tem pleniconsciência.
Mas a inconsciência se transformou e semiconsciência. O ego nunca é
pleniconsciente. Ele não é positivo - que seria pleniconsciente. Ele é
parcialmente negativo e parcialmente positivo.
Então estamos aqui...- que eles
chamam pecado. Mas, não no sentido teológico, que nós tenhamos caído neste
pecado por culpa de algum diabo que veio de fora. Eles pensam que o pecado do
homem aconteceu porque veio um fator externo, a serpente que é o símbolo do
diabo, eles dizem; e este diabo nos empurrou para baixo. Isto é teologia. Mas
isto nós não aceitamos na filosofia. A serpente de que fala Moisés era a nossa
inteligência, mas os teólogos pensam que era o diabo. A nossa inteligência às
vezes é diabo. Também, às vezes é Cristo.
Quando estamos no positivo podemos dizer, este é o nosso Cristo interno,
mas também estamos no negativo também é o nosso anticristo interno.
É claro, nós tínhamos que
passar do neutro da biosfera para um misto de positivo e de negativo. A
bifurcação das linhas, onde começa o livre arbítrio. Mas um livre arbítrio
muito incompleto, muito frágil, muito vacilante de cá para lá. E nunca podemos
dizer de um dia para o outro se amanhã ainda vamos ser tão bons como hoje, ou
tão maus como hoje. Não sabemos. Nós podemos variar de um momento para o outro.
Porque tudo é instável e vacilante enquanto estamos na zona do ego, na
noosfera.
Então falam os teólogos em
redenção. Redenção seria isto aqui, a passagem...
-Se, por exemplo, nós estamos
nesse estágio de evolução do ego para o Eu, a gente perde a matéria.
Continuaria essa evolução?
Escute, esta matéria nada tem a
ver com esta evolução. Esta evolução é puramente mental. Que tenhamos um corpo
físico, ou sem corpo físico, não muda a nossa mentalidade. Não devem fazer
depender o nosso estado de evolução de um corpo material ou sem corpo material.
Isto nada tem que ver. Porque quem decide não é a matéria. A matéria não é
responsável por nenhum pecado. A mente é a única responsável pelos pecados. A
mente é o fator decisivo da nossa evolução. A mente, a parte intelectual que
também se chama mente. A palavra mente, às vezes é tomada nesse sentido aqui.
Espiritual. Mas geralmente nós usamos a palavra mente, mental no sentido
intelectual. Quando eu digo aqui mente, eu entendo intelectual. Porque a
palavra mente tem dois sentidos. Ela tem um sentido bom. A mente. E tem um
sentido mau também. Tem um sentido positivo e tem um sentido negativo.
Em inglês só se usa a palavra ‘mind’
que corresponde à nossa mente (mens- mentis em latim- deu mente em
português e mind em inglês). Os ingleses quase usam mind no
sentido disto aqui. Science of mind – a ciência da mente - eles entendem
a ciência espiritual é uma revista lá da Califórnia que eu recebi muitos anos.
Ciência da mente eles chamam a ciência do espírito. Isto é o modo de aceitar a
palavra mente porque a mente pode ser aceita em 2 sentidos. A mente pode ser
uma nuvem. Se eu olho a nuvem de cima ela é toda luminosa, porque é batida pelo
sol. Se eu olho esta nuvem de baixo ela é toda escura. A mente é como isto. Ela
é luminosa por um lado, mas ela é escura por outro lado. Se eu chamo mente a
parte espiritual da inteligência, a parte boa, a parte positiva, então a mente
é isto, esta parte superior. Mas se eu falo da mente em sentido negativo então
eu entendo por mente a inteligência, o intelecto, o noos. Eu, nestas aulas vou
falar somente da mente no sentido do intelecto e não no sentido de espírito.
Então aqui nós temos corpo, mas
o nosso corpo não é bom nem mau. Moralmente bom não é o corpo, nem moralmente
mau. O corpo não pode ser moralmente responsável porque o corpo pertence a isto
aqui. O corpo está ainda na biosfera. O corpo nunca vai sair da biosfera. É o
nosso invólucro material. É o nosso invólucro animal. Não vão dizer que o corpo
comete pecado. O corpo não comete nenhum pecado. A mente é que é pecadora. O
corpo também não tem virtude. O corpo não é virtuoso e não é vicioso. A mente é
que pode ser virtuosa e pode ser viciosa.
Então tomemos a mente aqui,
tenha corpo ou não tenha corpo - isto é completamente indiferente. Vocês não
devem pensar que vamos perder o livre arbítrio porque perdemos o corpo. Não é
verdade! Ninguém perde o livre arbítrio pelo fato de ter perdido o corpo. Nós
somos tão livres depois da morte como antes da morte. Muitos pensam que até o corpo
seja um impedimento para o desenvolvimento do livre arbítrio e que seja melhor
não ter corpo material para desenvolver a mente, do que ter corpo material.
Bem isto são opiniões
particulares. Em todo caso o corpo não é a sede do livre arbítrio. Não é a sede
do mal e não é a sede do bem. Quem é a sede é unicamente o nosso ego mental,
mas não o nosso ego físico. Não vão atribuir ao seu ego físico as suas
maldades. O corpo não pode ser pecador. O corpo não pode também ser santo. Quem
pode ser pecador e quem pode ser redentor que é o contrário de pecador é a
mente.
Quando a mente é positiva nós
chamamos virtuosa. Quando ela é negativa nós dizemos, viciosa. São estágios de
evolução. Aqui nós estamos oscilando entre pecado e redenção. Aqui não estamos
definitivamente na redenção. O nosso Eu
não é redentor aqui. Aqui o nosso ego às vezes parece ser redentor e nos redime
do pecado. E depois verificamos que ele não é ainda redentor. Que nós estamos
vacilando sempre entre dois pólos. Entre o positivo e o negativo. Entre o bem e
o mal. E isso se chama o pecado original.
Quanto se tem escrito e
discutido em torno de pecado original. Isto é o pecado da nossa origem, mas não
é a herança de um casal que tenha pecado e nós tenhamos herdado o pecado de um
casal. Isto se diz lá na teologia, mas é insustentável. A teologia se diz, Adão
e Eva pecaram e nós herdamos o pecado deles porque nós somos descendentes
deles. Isto é insustentável. O pecado original faz parte da nossa evolução. Nós
nunca nos podemos libertar do pecado original enquanto não sairmos daqui.
Aqui nós não tínhamos o pecado
original porque não tínhamos ainda livre arbítrio. Depois entramos num livre
arbítrio fraquinho semilivre aqui. Aqui nós entramos na zona do pecado
original. O pecado original não é herança de outros, é evolução de cada um de
nós. Nós todos agora estamos no pecado original. Batizados ou não, isto não
resolve nada. Mas, os teólogos pensam que se a gente recebe um copo d’água na
cabeça e uma certa forma então está fora do pecado original. Ah! Se fosse tão
fácil, que coisa boa seria.
Se eu pudesse progredir deste
para cá... - somente um copo d’água... - ou um mergulho no rio... - isto é
muito fácil. Não, o pecado original faz parte da nossa evolução humana. É a
nossa origem - que a nossa origem é propriamente aqui. Aqui, não é propriamente
a nossa origem. Aqui é apenas a parte material do homem. Mas, onde não há livre
arbítrio ainda não há origem humana. A origem humana começa aqui; onde desperta
o livre arbítrio começa propriamente o ser humano. E com isto nós entramos na
zona do pecado. Isto é, da pecabilidade, não necessariamente dum pecado atual,
mas um pecado potencial.
Aqui nós somos potencialmente
pecadores. Todos nós. O livre arbítrio imperfeito nos torna potencialmente
pecadores. Não precisamos ser atualmente pecadores porque temos o livre
arbítrio de não pecar, mas somos potencialmente pecadores. São Paulo descreve
isto na epístola aos romanos – que muitos não compreendem – que todos os
homens são pecadores. Ele não quer dizer que são atualmente pecadores. Ele
quer dizer que são potencialmente pecadores, isto é pecáveis. Seria melhor
dizer pecável. Cada um de nós é pecável enquanto está na noosfera. Cada um de
nós está com pecado original enquanto não terminou a sua evolução. A única saída
do pecado original é a evolução. A saída é aqui, mas a saída não é um copo
d’água.
-Professor, e qual o
significado de Jesus ter sido batizado por João Batista. Seria...
-Escute, primeiro, vamos ver
mais longe, João Batista nunca batizou uma criança, porque ele não acreditava
em pecado original. Ninguém no Evangelho acredita em pecado original. Nem
Jesus, nem João, ninguém sabe de pecado original. Jesus nunca falou em pecado
original. João Batista nunca falou em pecado original. O que ele fazia com os adultos
(ele só batizava os adultos, aliás, batizava não, batizar é uma palavra grega –
temos que traduzir – mergulhava) – João Batista mergulhava os pecadores
adultos.
Então Jesus pediu que o
mergulhasse. João não quis, por que não quis? Porque ele só mergulhava
pecadores, mas, não mergulhava Jesus porque ele já tinha dito, “eis aí o
cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Logo, ele não supunha que
Jesus fosse pecador. Nem pecador criança, nem pecador adulto. Para os pecadores
adultos ele exigia conversão antes do mergulho. Olhem bem! Aos ricos e
poderosos ele dizia, “se alguém tem duas túnicas e vê alguém que não tem
nenhuma, dê uma das suas túnicas a outro”.
Isso é conversão. E se alguém tem o que comer e vê alguém que não
tem o que comer dê uma parte da sua comida ao outro. Isto é conversão. Aos
soldados romanos João dizia: “contentai-vos com vosso soldo e não pratiqueis
violência”. Porque os soldados andavam armados, podiam praticar violência.
Então João diz: “contentai-vos com vosso soldo”. Não pedindo cada dia
majoração de salários. Soldo é aquilo que se paga aos soldados. “E não
pratiqueis violência”. João exige conversão interior, espiritual. E quando
os pecadores estavam prontos a não praticar violência, a se contentar com o seu
soldo, a dar uma parte da sua comida aos outros e a dar a 2a túnica
aos outros, então João os considerava convertidos.
Então João dizia: “A sua
conversão é sincera ou não?” Eles diziam “A nossa conversão é sincera,
eu não vou fazer violência, não vou pedir majoração de pagamento”. Então
João diz: “Então entra na água e prova por um sinal externo que a sua
conversão interna é sincera”. Então João mergulhava o pecador já convertido
interiormente, mergulhava nas águas do Jordão, praticando uma cerimônia muito
simbólica, como São Paulo explica. Porque, isto de mergulhar quer dizer morrer,
isto de sair fora d’água quer dizer, nascer de novo. “Morre para tua vida pecaminosa, nasce para
uma vida virtuosa”, isto era um simbolismo que João praticava.
Ele era muito poeta. “Morre debaixo
d’água para tua vida pecaminosa, nasce para uma vida nova”. João sempre
praticava isto. Mas não era o mergulho, nem a imersão, nem a emersão (porque o
mergulho tem duas coisas, imersão para baixo e emersão para cima) – João nunca
acreditou que um mergulho da imersão e da emersão desse espiritualidade aos
pecadores. Isto ele nunca diz. Isto nós interpretamos errado. Ele sabia que
fulano se tinha convertido interiormente. Já não era o velho pecador. E para
confirmar exteriormente por uma cerimônia simbólica a conversão já ocorrida (o
mergulho não era a conversão, a conversão já estava pronta, ele já se tinha
convertido interiormente, ele só confirmava com uma cerimônia externa a
conversão).
Depois aparece Jesus e pede a
João que o mergulhe. João diz, “não, quem devia ser mergulhado sou eu e não
tu”. Ele conhece muito bem que ele não estava aqui. Mas Jesus estava aqui,
ele era o logos. Mas Jesus insiste: “Façamos por ora tudo que é justo”. Então
João atendeu porque ele compreendeu que Jesus não queria dizer: “Eu sou
pecador e eu tenho de ser mergulhado por ti na água para deixar de ser
pecador”. João compreendeu que isto não era verdade. “Eu devia ser
mergulhado por ti, e como é que tu vens ser mergulhado por mim”. Então
Jesus diz as palavras misteriosas: “façamos por ora tudo que é justo”. Então
João compreendeu o que Jesus quis dizer... O que é que ele quis dizer? Por que é que Jesus disse “façamos por ora
o que é justo?”
-Para as pessoas entenderem...
-Ninguém leu nada sobre os
Essênios, eu estou vendo. Os Essênios moravam no noroeste do mar Morto. Eu
estive lá. Era uma sociedade mística e ética muito rigorosa e evidentemente
Jesus e João foram membros dos Essênios. Não há dúvida nenhuma. A doutrina de
Jesus é a dos Essênios. Eles fizeram parte da comunidade dos Essênios. Depois
se separaram. João esteve toda a sua juventude no deserto, diz o texto. Mas,
aquilo é deserto. Vocês pensavam que ele andava lá fora? Não, ele estava na
comunidade dos Essênios. João Batista, e Jesus também tinham estado lá.
-É uma comunidade só
masculina...
-É, só masculina porque há
rigoroso celibato voluntário e não tinha mulheres entre eles. Então, eles eram
ascetas terríveis. Então, os Essênios praticavam constantemente o mergulho,
muitas vezes na vida e não uma vez. Todos os Essênios praticavam o mergulho.
Toda vez que o Essênio mudava de profissão ou de ocupação qualquer, ele fazia o
mergulho. Imersão e emersão. A imersão quer dizer, morte para uma atividade e a
emersão é nascimento para uma segunda atividade. Isto era o que Jesus pediu a
João. “Eu vou começar uma outra atividade agora”.
Porque ele tinha estado 30 anos em Nazaré,
numa solidão quase completa. Trabalhando na carpintaria e fazendo muita
meditação. É claro que ele vivia dias inteiros em meditação. Sem dúvida nenhuma.
Agora ele diz, eu terminei o meu período místico, meu período de eremita. Ele
era um eremita, é claro. 30 anos! Desde 12 até 30 - são dezoito anos completos,
ele não aparecia em público, ele não falou ao povo. Não curou ninguém, não
ensinou ninguém.
Quer dizer, ele levava uma vida
de místico solitário. Aos 30 anos ele apareceu e diz: “João terminei o 1o
período da minha vida mística. Eu vou começar agora uma vida social de curador,
de pregador, etc... no meio do povo”. Levou três anos de vida social no
meio do povo. “Portanto, mergulha-me, faça o que é justo”. Ele disse,
ele se refere aos Essênios. “Tu sabes que nós, os Essênios, sempre quando
terminávamos uma ocupação e começávamos outra, praticávamos o mergulho; então,
faça o que é justo, mergulha-me”.
Então João fez isto, o
mergulhou e o fez sair da água. Isso é que Jesus quer dizer. “Façamos o que
é justo conforme o nosso costume dos Essênios”. Isto é o que ele quis
dizer... Bem, mas estamos desviando do nosso tema. Passou a hora mesmo.
Bem, por enquanto saibam
disto... - a nossa viagem é do inconsciente do id para o semiconsciente do ego
e no semiconsciente do ego nós todos somos potencialmente pecadores. Aqui nós
tornamos pecadores e aqui não seremos. Aqui, no intermediário é que nós somos,
não necessariamente, atualmente. Mas, potencialmente, todos nós somos, porque
quem tem apenas metade da sua liberdade espiritual como nós não temos aqui...-
nós não somos plenamente livres aqui... - nós somos semilivres e semi-escravos.
Semilivres e semi-escravos. Tudo é possível aqui. Se cairmos na escravidão,
então somos pecadores. Se superamos a escravidão, estão estamos libertos por
algum tempo. Sempre oscilando de cima para baixo. É o estágio da nossa
evolução.
Vocês devem explicar a
teologia, não em forma de dogmas, não em forma de credos. Mas em forma de
realidade da vida humana. Porque a vida humana passou por esses estágios. Nós
estamos em plena evolução. Nós saímos de lá do Éden, nós nos expulsamos pela
nossa evolução. Cada um de nós se expulsou do id para entrar no ego. Estamos
atravessando a nossa passagem pelo ego. Isto é pecado. Aqui nós somos todos
pecadores, não atuais, mas potenciais. Todos somos. Porque não estamos garantidos, quanto a quedas e
recaídas. Enquanto estamos no ego vamos oscilando de cá para lá. Às vezes
ficamos muito tempo no positivo e depois caímos no negativo. Outros ficam
permanentemente no negativo. É culpa deles. Podiam estar no positivo também,
mas, não querem.
Então mais tarde, depois do
pecado vem a redenção. A redenção não vem de fora. A redenção é uma fase da
nossa evolução. Não existe alo-redenção. Existe só auto-redenção. Ninguém me
pode redimir exceto eu. E ninguém me pode fazer pecador, exceto eu. Pecado e
redenção vem de nós mesmos. Isto os teólogos não podem compreender. Pecado e
redenção vem de nós, da nossa natureza humana, imperfeita ou perfeita.
-Nós não somos culpados pelos
pecados dos nossos antepassados...
-Não, não, ninguém pode ser
culpado pelos pecados dos outros, acabou-se a história... Eu não posso ser culpado
pelo pecado de nenhum de vós e vós não podeis ser culpados pelo meu pecado.
Cada um de vós pode ser culpado pelo seu pecado pessoal. Ele tem o livre
arbítrio para si, mas não tem o livre arbítrio para os outros. É claro, vamos
retificar as nossas idéias. É necessário que tenhais clareza sobre isto, porque
há uma confusão imensa, há dois mil anos. Erros fossilizados nesse terreno.
Temos que retificar e elucidar para que vocês possam defender a idéia de pecado
e redenção.
Nós não podemos abolir as duas idéias.
Devemos elucidar. Nós não podemos dizer que não há pecado. Também não podemos
dizer que não há redenção. Há pecado e há redenção, mas não no sentido em que a
teologia quer, mas em outro sentido, muito melhor e muito mais profundo. São
estágios da nossa evolução humana muito imperfeita e precária por enquanto.
Porque o batismo vem com a evolução superior. Se nós chegarmos até aqui na
logosfera então não precisa nenhum copo d’água. Pela nossa própria evolução
mental e agora espiritual, porque o mental agora se converte em espiritual
aqui. Nós estamos completamente redimidos de qualquer pecado e suas
conseqüências. Vocês devem pensar em termos de filosofia correta.
-O Senhor disse que a
humanidade está atualmente no meio, no estágio ego. Do id para o ego em demanda
do Eu. Há um processo para acelerar a passagem.
-Bem sobre isso ainda vou falar
numa próxima hora. Agora vou só mencionar. Aqui, nós somos um composto de
positivo e negativo. O nosso ego por fora é muito negativo. Por dentro também é
positivo, porque o nosso Eu já está embrionariamente contido no nosso ego. Não
se esqueçam. Isto que nós vamos alcançar um dia já está embrionariamente
contido no ego, mas não se manifestou.
Quando nós descobrimos o nosso
Eu dentro do nosso ego, notem bem, quando nós descobrimos o nosso Eu, logos,
dentro do nosso ego, noos... - então nós estamos em caminho de evolução
superior. Isto se chama hoje em dia autoconhecimento. Quando eu entro no
autoconhecimento e me conheço não como um ego negativo, mas como um Eu positivo...
- eu sou negativo por fora, mas eu sou positivo por dentro. Se eu olho de fora
para dentro e digo: “eu não sou somente o meu ego negativo, que é uma
casquinha, eu sou também o meu Eu positivo, se eu conscientizar o Eu positivo
dentro do meu ego negativo, então eu faço autoconhecimento, é o único caminho
da evolução, se eu vivo de acordo com meu autoconhecimento eu vou fazer um
progresso rápido rumo a logosfera”.
Isso é unicamente uma questão
de evolução consciente. Nós devemos conscientizar aquilo que somos. Nós somos o
nosso ego por fora, mas somos o nosso Eu por dentro já agora. Nós já somos
isto. Vamos pintar assim. Isto é a nossa natureza humana por enquanto. Por
fora, tudo negativo. Mas por dentro nós já somos isto.
Quando nós não temos conhecimento
exato de nós, nós dizemos que somos tudo isto negativo, ego, ego, ego...-
fazemos uma entrada para nosso interior. Isto se chama meditação para
autoconhecimento. Então descobrimos, “eu não sou somente o meu ego externo,
físico, mental, emocional, eu sou também o meu Eu interno, espiritual, eu já
sou potencialmente na logosfera, eu estou atualmente na noosfera, mas dentro de
mim já existe isto... já está aqui, eu ainda não conscientizei a realidade e
não vivi de acordo com a realidade”. Então o grande mestre diz: “Conhecereis
a verdade sobre vós mesmos e a verdade vos libertará”. Que grande palavra. “Conhecereis
a verdade sobre vós mesmos... (aqui) eu também já sou espírito por
dentro... e o conhecimento da verdade vos libertará de toda esta miséria
aqui”. Aqui nós estamos libertos, aqui é completamente libertação. Aqui
estamos semi-escravizados e semilibertos. Aqui estamos plenilibertos. Aqui
estamos semilibertos.
-A criança já tem a
potencialidade do logos?
-Tudo está lá. Tudo está em
qualquer ser humano. O homem não foi animal. O homem foi homem desde o
princípio. Mas, a sua potencialidade era tão fraca que não se manifestou. O
homem foi homem desde o princípio da creação. Agora ele se manifesta pouco a
pouco. Primeiro como mente, depois como espírito.
* * *
TRANSCRIÇÃO DA AULA 14 - O Homem Potencial
Curso Filosofia Univérsica
Huberto Rohden
Aula 14 - 29/08/78
O homem Potencial
As minhas
aulas não são para os veteranos. Nós temos aqui veteranos e veteranas, cinco
anos, dez anos, vinte e tantos anos, alguns estão aqui. Minhas aulas são
somente para os principiantes e para os novatos. Porque os veteranos já devem
estar supersaturados, enjoados e enfastiados das minhas repetições; porque
infelizmente na filosofia não se pode fazer nada sem repetir. Não basta
engolir, é preciso repetir. Não basta devorar, é preciso ruminar. E por isso,
eu digo que é, sobretudo para os novatos, para os principiantes, e não para os
veteranos que estão supersaturados dessas repetições. Nós temos que repetir
muitas vezes a mesma coisa para assimilar. Não basta engolir, é preciso
assimilar. Isso não se pode fazer muito depressa. Engolir é um instante, mas
assimilar leva tempo.
Então
vamos voltar ao nosso tema: o homem esse desconhecido. Porque todo mundo
escreve livros sobre o homem e todo mundo confessa que é um enigma, um paradoxo,
um X, um desconhecido, etc... Mas, por que isso é assim? Porque eles se baseiam
em duas hipóteses das quais nós não aceitamos nenhuma. Ao menos, eu não. Essas
duas hipóteses de fato fazem do homem, um desconhecido, um enigma, uma esfinge;
ou talvez o melhor de tudo, como disse Pascal, uma miscelânea de misérias e de
grandezas. Isso chega perto da solução, mas não é bem uma solução. Uma
miscelânea de grandeza e de miséria, disse Pascal.
Há
duas hipóteses correntes por aí. Uma de 2000 anos e outra de 100 anos apenas,
não são aceitáveis. Nós não podemos aceitar, nem a hipótese teológica que já
tem 2000 anos, nem sequer a hipótese assim chamada cientifica, que tem apenas
um século. Porque ambas são fora da lógica e fora da matemática. E nós temos
que argumentar dentro da lógica e dentro na matemática.
Todos
sabem e eu repito que a hipótese teológica é esta: que o homem foi colocado
aqui neste mundo diretamente por Deus, imagem e semelhança de Deus. Quer dizer,
uma perfeição absoluta. Se ele é a imagem e semelhança de Deus, é claro que era
100% perfeito, 100. Imagem e semelhança de Deus tem que ser 100. Então ele foi
colocado aqui nessas alturas. Isto era o homem primitivo, o Adão.
Adão não é o
nome dele, é um apelido, e Eva também não, como todo o mundo pensa. São
apelidos. Adão quer dizer, o primeiro ego. E Eva quer dizer: reflexo, imagem.
Então
Adão teria sido 100% de perfeição. Soa muito bem no princípio. Que coisa
maravilhosa Deus fez no fim do 6o dia da creação! Ele disse que era muito
bom. Quando Ele fez as creaturas, o
Gênesis diz que era bom. E quando creou o homem diz que era muito bom.
Isto era muito bom. Mas aconteceu segundo nós entendemos isto: caiu de
100 para 1 - a queda do homem. A queda desastrosa, catastrófica do homem.
Isto nos foi
ensinado, isto nos fomos aceitado e isto encontra até hoje em toda a teologia.
Por que é que não podemos aceitar isso: a queda de 100 de perfeição para 1? Não
para zero, porque ele continua a ser homem. Zero não seria mais homem. Ele
continua a ser homem, mas um homem imperfeitíssimo.
Isto é uma hipótese insustentada. Eu não falo contra
o Gênesis, eu falo das nossas interpretações do Gênesis. Eles não sabem
interpretar o Gênesis porque o Gênesis é uma intuição cósmica, mas as nossas
análises intelectuais erram em todos os sentidos. Porque a culpa não é do
Gênesis, nem de Moisés. A culpa é das nossas interpretações. Nós interpretamos
assim: caiu de 100 para 1. Aqui no abismo.
A queda do homem é uma queda catastrófica.
Bem, e depois
há uma tentativa de reerguê-lo, a ver se chega outra vez a 100. Isso chama
redenção. Então há duas coisas creação, queda e redenção. Isto é aceitável nas
explicações que nós tomamos, por duas razões. Primeiro um homem 100% perfeito
não podia cair. Cair pode um homem semiperfeito e muito imperfeito, mas, um
Cristo (isso seria um Cristo, é claro!) Como é que pode cair sem mais nem menos
de 100 para um 1. Não é possível, é contra toda a lógica! E quem foi esse
poderoso anti-Deus que o fez cair? O diabo. Esse diabo é mais poderoso que
Deus. Tudo isso é inaceitável perante o bom senso e a lógica.
Portanto temos
que abandonar - queiramos ou não queiramos - a hipótese teológica que é a mais
conhecida. Não é possível esse ilogismo, não é possível aceitar que um homem
perfeito, um Cristo, tenha caído de 100 para 1. Aquele outro Cristo que
conhecemos pelo Evangelho não caiu. Lá na tentação aquele anticristo fez todo o
possível para ele poder cair. Prometeu-lhe todos os reinos do mundo e sua
glória, se o Cristo se prostrasse em terra e o adorasse como Deus. Queda é
claro, catastrófica! Nada disso aconteceu. Cristo ficou em pé e não caiu. Como
um obelisco não caiu por terra. E disse ao anticristo: vai à minha
retaguarda, e vá de retro, (retro é retaguarda em latim) porque só a
Deus adorarás e só a ele servirás. Ficou em pé, firme.
E este que era
uma espécie de Cristo, como é que caiu? Desastradamente! É claro que não
podemos aceitar isto. É contra a lógica. E o diabo seria tão poderoso para
derrubar uma obra de Deus, perfeita. Vamos acabar com essa história que o homem
tivesse entrado no mundo perfeito. Não é possível! Essa é a teoria teológica.
Depois vem
aquela outra do século passado, a chamada darwinística ou científica. Bem, lá
se diz que o homem não era homem no princípio. Era zero, depois se tornou
homem, 1. Foi do animal, do não-homem que é o zero, o não-homem se tornou
homem. Eu não sei, sobretudo, de que lógica nós podemos fazer 1 de um zero. Não
dá. Se o homem no princípio não era homem, era animal puro aqui, um mamífero
qualquer, como é que agora se tornou pouco a pouco homem? Até hoje, nunca mais acontece
isto. Nenhum animal se torna homem. Em milhares de anos não se tornou. E
continuou a sua homificação.
De maneira que
essa estória do darwinismo, do zero para o 1 e depois do 1 para a evolução como
eles querem... A dificuldade não é a evolução, isso seria possível, mas a
dificuldade é a transição do zero homem para o 1. Não sei com que lógica se
pode justificar essas coisas.
De maneira que
vamos tentar uma terceira alternativa. Já que as alternativas: teológica e a
chamada cientifica, não satisfazem, temos que adotar logicamente o seguinte; o
homem entrou nesse mundo, homem grau 1. Não zero, mas 1. Já era verdadeiro
homem, mas um homem muito atrasado. Muito imperfeito, mas não era zero, porque
transição do zero para o 1 não há. Mas, podemos aceitar que ele entrasse 1.
E teve ordem
de chegar até 100. Esta história de
imagem e semelhança de Deus não é aqui. A imagem e semelhança de Deus - é
aqui. Ele não era atualmente uma imagem
e semelhança de Deus. Ele era potencialmente isto. Isto é razoável.
Potencialmente ele foi creado para o fim de se tornar algum dia imagem e
semelhança de Deus. Por isso ele recebeu como diz o Gênesis o sopro divino. O
sopro divino o tornou potencialmente isso. Mas não atualmente. Os teólogos
pensam que ele é atualmente, 100% perfeito. Mas, isto é insustentável. Ele era
apenas potencialmente 100%, mas não atualmente. Então ele começou realmente com
1. Ele não caiu, ele foi creado aqui mesmo, ninguém o derrubou. A creação
começa com 1. Os outros seres eram creados sem a potencialidade de se tornar
homens. Ficaram atualmente animais, como até hoje. O único ser que foi creado
com a potencialidade, com o poder, com a possibilidade de se tornar mais tarde
o que devia ser imagem e semelhança de Deus.
Agora começa
aqui a evolução. A evolução começa não com 100. Não com zero. Os teólogos
querem 100, eles não aceitam mesmo a teoria da evolução. Mas os cientistas
querem zero. Não podemos começar nem com 100, nem com zero. Então vamos começar
com 1. E a evolução não foi em linha reta. Se a evolução fosse em linha reta
não haveria dificuldade, mas isto não é possível. Porque a evolução foi em
ziguezagues de toda espécie e diminuindo cada vez mais. Vamos fazer uma linha
assim. Assim é explicável.
Com a evolução
em altos e baixos. Não a evolução rápida em linha reta. Milhares de anos que
estamos fazendo esse ziguezague aqui. Essa serpentina - vamos dizer melhor. E
nessa serpentina está o caminho da nossa evolução. Entre 1 e 100. Eu não
garanto que seja 100. Eu creio que pode ser além de 100. O Cristo disse que nós
podemos ir além dele. Vamos dizer que 100 é do Cristo. Mas, ele disse: vós
fareis obras maiores do que eu. Então podemos aceitar, podemos ir até além
de 100 – mas vamos por enquanto marcar a chegada 100 - para termos um ponto
fixo entre 1 e 100.
Bem, o homem
começou a sua jornada aqui, há milhares e milhões de anos provavelmente. Eu
creio que nós estamos há milhões de anos aqui na terra. Não começou há milhares
de anos atrás, não – estamos há milhões de anos aqui. Mas, entre 1 e 100. Nós
estamos perto de 1, talvez aqui (2) ou em qualquer ponto. Essa viagem é enorme,
de milhões de anos. E dentro desta viagem em serpentina há dois fatores que nos
levam à evolução. Dois fatores necessários para nossa subida. Um positivo e um
negativo. Se não há dois fatores contrastantes não há evolução. Em todo
universo não existe evolução sem resistência – como diz o livro: A Gnose de
Princeton. Resistência é o conflito ente dois pólos aparentemente opostos,
realmente complementares. Mas, eles lutam entre si como se fossem contrários –
são complementares.
Então vamos
dizer – havia o positivo, vamos pôr no ponto mais alto o positivo, e o negativo
aqui no ponto mais baixo. Nós estamos acostumados usar positivo para Eu – e
negativo para ego – nos pólos – (psicologia).
Isto então seria o Logos na qualificação de Teilhard de Chardin. A
razão. E isto seria o noos, a inteligência. Podemos usar positivo e negativo.
Podemos usar Eu e ego. Podemos usar Logos em grego e noos em grego. É tudo a
mesma coisa. Apenas são outras palavras. Ou até em sânscrito: Atman e Aham.
Aham é o ego. Em qualquer língua vocês podem usar isto. Mas vamos ficar com o
nosso português, Eu e ego. Aliás, ego é latim. E positivo e negativo. Isto é
claro!
Então o homem
teve que traçar a sua viagem através da antítese entre positivo e negativo. Por
quê? Porque sem antíteses não há síntese. Ele devia fazer esta síntese aqui, é
claro. Mas, não fizemos ainda, vamos fazer algum dia talvez. A síntese é a
união de dois pólos antitéticos complementares. Se os pólos fossem contrários
não havia complementaridade. Mas como eles são realmente complementares pode-se
estabelecer uma síntese entre duas antíteses. Entre a antítese positiva e a
antítese negativa. É uma antítese – uma oposição. Entre esses dois pode haver
um consórcio. Eles brigam sempre entre si, mas o final é a síntese. A
finalidade das leis cósmicas não é uma eterna briga entre os dois. Não, é um
conflito temporário – talvez de milhões e milhões de anos para promover a
subida, a evolução. Porque todo o universo é feito assim. Contraste produz
evolução. Onde não há contraste não há evolução. Onde não há antíteses, não há
síntese. É preciso que haja antíteses complementares e não antíteses
contrárias. Senão não daria síntese. É
lógico! Então aqui há antíteses complementares. E o que é que se chama agora a
queda. É claro que isto aqui é uma queda. Este abismo aqui é uma queda. Isto
aqui é uma subida, mas a coisa já começou com queda, então vamos apagar isto
aqui. Pôr o outro aqui, melhor.

> + Sibilo da serpente
Se já desde o
princípio segundo o Gênesis houve este negativo, este ego que prevaleceu contra
o Eu então podemos dizer: isto é uma espécie de queda. Mas, não uma queda
desastrosa, calamitosa. Ela estava dentro das leis cósmicas. A evolução não era
possível sem altos e baixos. Isto é um baixo, isto é um alto. Depois vêm outros
baixos.
Quer dizer:
Primeiro prevaleceu o ego. Agora temos que pôr o Eu aqui porque ainda não
prevaleceu e o Logos que é a mesma coisa. Isto se pode chamar uma queda, mas
uma queda evolutiva, não uma queda calamitosa como pensam os teólogos. Era um
desastre que não devia ter acontecido, de forma alguma. Não, devia mesmo
acontecer. Estava previsto que acontecesse.
Isto aqui se chama o sopro de Deus, no Gênesis. Isso se chama o sibilo
da serpente. A serpente produz um som que chama silvo ou sibilo. Então isto é a
voz de Deus. Isto aqui é a voz da serpente. A serpente sempre foi o símbolo do
nosso ego. Em todas as literaturas do mundo a serpente é tomada como inteligência.
Inteligência é noos – é o ego. O ego é principalmente inteligência. O ego é,
sobretudo mental. Então aqui prevaleceu desde o princípio a serpente. Quer
dizer, o nosso pólo negativo.
O ego, a
serpente prevaleceu desde o princípio, mas depois há subida – depois há quedas.
E, se agora uma queda, nós podíamos figurar assim:
Negativo >
positivo
Ego> Eu
Noos> Logos
Serpente>
sopro de Deus
Vamos dizer, o
negativo maior que o positivo, isso é uma ótima configuração para queda. Se o
negativo prevalece sobre o positivo é uma queda. Aqui (>) quer dizer maior.
Aqui o ego prevaleceu sobre o Eu. Aqui o noos prevaleceu sobre o Logos. Aqui a
serpente prevaleceu sobre o sopro de Deus. Muito bem representado, graficamente
assim. Isto é uma queda. Mas, uma queda necessária para a evolução. Não tem
nada fora da evolução. A evolução exige altos e baixos. Exige descida e subida.
Exige positivos e negativos. Exige uma viagem através do ego e do Eu. Nós não
podemos traçar uma viagem só no Eu, nem só no ego. Nós somos um composto de
dois pólos.
O interessante
é que no hino da páscoa... (há um hino que se canta na véspera da páscoa nas
igrejas cristãs – não sei se ainda cantam, no meu tempo se cantava) – na
véspera da páscoa a gente canta aquele hino glorioso que começa: Exultet, em
latim. Exultem todas as turbas celestes, exultem os querubins, exultem os
cristãos - convidam todos os coros angélicos para exultar por causa da
ressurreição do Cristo no dia seguinte. Então, neste hino Exultet tem duas
palavras misteriosas. Lá tem uma glorificação dizendo: Ó culpa Felix, ó
culpa feliz de Adão – Felix culpa – uma culpa feliz. Ó pecado realmente
necessário de Adão para nos trazer tão grande redentor. Está lá, cantam nas
igrejas. Todos os anos. É uma terrível heresia teológica. Mas é uma afirmação
mística.
Quem fez este
hino ninguém sabe. Alguns atribuem a Santo Agostinho – no 5o século.
Eu acho mais parecido com Orígenes. Orígenes estava inteiramente nessa zona.
Orígenes de Alexandria é do 3o século – escreveu coisas grandiosas
que foram queimadas por ordem da hierarquia eclesiástica. Infelizmente os
maiores livros de Orígenes não existem mais. Apenas temos notas dos discípulos
dele. O maior livro de Orígenes foi Apokatástasis – em grego - quer
dizer síntese. Ele fala da síntese entre as duas antíteses. Orígenes, cristão
de Alexandria – dos neoplatônicos de Alexandria. No fim do 2o e
princípio do 3o século. Lá ele diz: graças a Deus que houve uma
culpa feliz! Graças a Deus que houve um pecado necessário! Pode-se falar
misticamente, mas teologicamente, não. Quando a gente fala teologicamente a
gente é herege. Mas, quando se fala misticamente, a gente é um grande vidente.
Então, aqui há
a culpa feliz e o pecado necessário para nos trazer isto, a nossa redenção.
Isto o hino chama a nossa redenção. O nosso negativo combinado com o nosso
positivo dá a nossa redenção. Isto está lá no hino desde o 3o
século. Quer dizer, alguém já teve a visão da evolução através da antítese para
nos levar à síntese. Isto é síntese e isto são antíteses. Mas, a evolução não
se dá senão através de opostos, de contrários, aparentemente contrários que são
realmente complementares.
Agora, eu fiz
a linha assim diminuindo cada vez mais as serpentinas, e finalmente ela acaba
em pouca serpentina. Não acaba nunca. Ela fica sempre uma linha ondulada.
Porque a antítese violenta entre positivo e negativo como é no princípio, pouco
a pouco se torna uma antítese mais suave. Pouco a pouco há um início de tratado
de paz entre os dois. Primeiro era conflito aberto. Ego e Eu - são
absolutamente incompatíveis um com o outro. Isto é no princípio. Um conflito
violento. E parece que não há possibilidade de reconciliação.
Pouco a pouco
através da evolução os dois diminuem. Diminuem cada vez menores. As antíteses não
são mais tão grandes, mais fica sempre o ego e o Eu, porque nenhum dos dois
pode ser apagado, extinto. Porque a natureza humana consiste nisto. Nós não
podemos abolir a natureza humana. Não podemos mandar embora o ego e dizer:
vai-te embora. Não, podemos dizer: vai à retaguarda, mas não podemos dizer,
vai-te embora. Porque ia adulterar a natureza humana. Nós não temos o direito
de adulterar a natureza humana. Podemos conciliar as antíteses aparentemente
opostas e realmente complementares. Isto sim, isto é evolução sensata.
Conciliar os dois, sempre mais e mais.
Mais nunca dá
uma linha reta. Porque a linha reta se abolisse é de um dos dois. Não existe
linha reta na natureza humana. Tem que fazer sempre a serpentina para conservar
a diferença entre o Eu central – o sopro de Deus e o ego periférico, o sibilo
da serpente. Porque esses dois fazem parte da nossa natureza. Nem o Cristo
aboliu. Não aboliu. Às vezes entra uma
luta no próprio Cristo, no Jesus, no Cristo que se fez carne através de Jesus.
Estou falando do Jesus humano agora, e não do Cristo cósmico. Através de Jesus
ainda vai uma ligeira luta entre o positivo e o negativo. Mas uma luta
pequenina assim a pouca distância. Por exemplo: quando ele no Getsêmani pede: Pai,
passa de mim este cálice do sofrimento e da morte, sem que eu beba. Isto é
um grito do ego contra o Eu, é claro! Pai é para ele o Eu. O Pai está em nós.
Então aquele
grito – passa de mim este cálice desse sofrimento sem que eu beba, diz –
o ego. O ego tem medo do sofrimento e da morte, é claro. Naturalmente. Depois
ele acrescenta: mas, não se faça a minha vontade, mas, sim a tua.
Primeiro é o grito do ego contra o Eu. Depois vem a vitória do Eu sobre o ego.
Não se faça a minha vontade do ego, mas faça-se a tua vontade do Eu, meu pai.
Ele chama - Eu – sempre o Pai.
Quer dizer,
havia uma ligeira discrepância ainda entre os dois pólos. No Getsêmani e na
cruz. Ele não bradou em altas vozes antes de expirar: meu Deus, meu Deus,
como me abandonaste! Quem é que grita isto? Não o Eu divino, é claro. Mas o
ego humano. O ego humano ainda está com o último resto de oposição contra o Eu
divino dele, é claro. Porque ele estava numa evolução. Ele estava no fim da
evolução. Nós estamos no princípio. Mas, ele estava lá em cima, quase no fim,
faltava pouquinho. A evolução dele não era ainda 100. Era 98 ou 99. Estava
pertinho da evolução máxima, mas ainda não – vamos dizer que estava no
Getsêmani 98 e na cruz 99 quando ele bradou: por que me abandonaste, meu
Deus! É o ego que grita. O seu ego negativo. Mas, logo depois ele
acrescenta: Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito. É sempre a mesma
coisa. Primeiro tem um grito de luta e depois uma aceitação. Às vezes nós não
chegamos até a aceitação, paramos na luta. Mas ele diz: o meu ego não quer
saber de sofrimento e de morte e do abandono que estava lá no Calvário, mas é
necessário que haja paz entre os dois. Então ele já faz um grande tratado de
paz entre o Eu e o ego.
Notem bem que
não é fácil fazer um tratado de paz entre o ego e o Eu, porque o ego é terrivelmente
inimigo do Eu, diz a Bhagavad Gita. A Bhagavad Gita sempre diz – não há
possibilidade de tratar de paz entre o ego negativo e o Eu positivo. Não há.
Mas a Bhagavad Gita na sua grande sabedoria acrescenta: embora o ego seja o
pior inimigo do Eu, contudo o Eu é o melhor amigo do ego. E por isso pode haver
um tratado de paz. Se o Eu não fosse o melhor amigo do ego não seria possível
um tratado de paz. Uma briga eterna, mas o Eu pode prevalecer sobre o ego.
Aqui
(ego>Eu) é o ego que está prevalecendo sobre o Eu. Mas também pode acontecer
o contrário. Também podemos fazer isto:
Eu > ego
Que aqui temos
a vitória do Eu sobre o ego. Aqui temos a vitória do ego sobre o Eu (ego>
Eu). E a derrota do Eu é claro. Aqui (Eu > ego) temos a vitória do Eu sobre
o ego. E incorporação do ego no Eu, Pois, (ego < Eu) - está incorporado.
Está integrado - o Eu conseguiu um domínio completo sobre o ego. O ego não
resiste mais. Ele entregou os pontos e se diz: eu sei que deve ser assim, então
vou entregar-me inteiramente à sua disposição. Isto é o Cristo. Este é o
momento crístico perfeito. Quando há perfeita paz entre os dois litigantes da
evolução. Porque o litígio é necessário, porque sem resistência não há
evolução. Isto é do livro A Gnose de Princeton – dos corifeus da era atômica,
que escrevem este livro.
Não há
evolução sem resistência. E a resistência pode acabar em tratado de paz. Quando
as antíteses acabam em síntese é o tratado de paz. E quem pode fazer o tratado
de paz não é o ego porque ele é sempre inimigo do Eu. Mas o Eu pode fazer o
tratado de paz. Embora o ego seja o pior inimigo do Eu, contudo o Eu é o maior
amigo do ego. Isto é a porta aberta para um tratado de paz entre os dois pólos
litigantes da nossa natureza humana.
De maneira que
só assim nós podemos compreender razoavelmente sem horríveis ilogismos e
contrastes inaceitáveis, a evolução do homem. O homem começou no ponto mais
baixo da sua natureza porque recebeu o sopro de Deus. O sopro de Deus para
evolução. Mas a evolução não se podia realizar só por um positivo, porque o
sopro de Deus é o positivo. Então logo aparece o negativo. Aquela história da
serpente no Gênesis. Nós sempre temos a impressão que isso foi um desastre. Que
não devia ter acontecido. Que Deus não tinha previsto isso, que estava fora dos
planos de Deus. Não é verdade. Estava dentro dos planos de Deus.
Quando
eu estava na escola primária nós tínhamos uma história bíblica ilustrada que
devíamos aprender. E uma vez, lá veio a figura do diabo. Eu não sei. Parece que
era na tentação lá do Evangelho. E a nossa professora muito religiosa disse:
este diabo aí que estragou toda a humanidade. Se ele não existisse seria muito
melhor. Nós seriamos todos santos e maravilhosos. Não haveria doenças, nem
morte, nem nada. Eu fiquei com tanta raiva daquele diabo que tirei a cabeça com
a unha. No papel. Ficou um diabo sem cabeça. Foi aos sete anos por aí. Porque
me disseram que o diabo era o maior inimigo da humanidade e que nós nunca
devíamos ter nada com o diabo porque ele tinha estragado tudo.
É
o negativo, o diabo. É o ego. Jesus também usa a palavra satanás para o ego.
Aquela historia de Pedro - quando Pedro disse uma vez: Mestre, tu não vais
morrer. Jesus tinha dito que ele ia se entregar à morte, voluntariamente.
Pedro disse: não, senhor, tu não vais morrer não. Ele andava todo armado
de espada. Naturalmente ele puxou a espada e disse: nós te vamos defender
contra a morte. Pedro disse isto – muito atrasado ainda. E Jesus disse: Vá
de retro, vai à minha retaguarda, Pedro, satanás. Chamou ele de satanás -
quer dizer ego. Estás falando em nome do ego. O teu modo de falar não é
segundo Deus, mas é segundo o Homem.
Está
muito claro lá no Evangelho. Jesus disse a Pedro: estás falando em nome do
ego – que ele chama satanás. O satanás pode muito bem tomar conta do nosso
ego porque o nosso ego é propriamente o pólo negativo – o diabo, satanás.
De
Judas diz coisa semelhante quando ele fala na sinagoga de Cafarnaum, diz o
texto. De repente ele parou o seu discurso. Jesus olhou para os seus apóstolos
e disse: não escolhi eu a vós 12, entretanto um de vós é diabo. Um de
vós 12 é diabo. Lá ele usa a palavra diabo, que é palavra grega –
satanás é hebraico, mas significa a mesma coisa. É o pólo negativo. Tudo que é
pólo negativo é satanás ou diabo.
Então
diz João que escreve o Evangelho: Jesus disse que um de nós era diabo referindo-se
a Judas Iscariotes. Aquele que o ia entregar mais tarde. Quer dizer, o pólo negativo da natureza
humana é chamado satanás no Evangelho e é chamado diabo, mas não é uma entidade
fora de nós. Os outros logo pensam que é uma entidade fora de nós, que tivesse
tomado posse de Judas e de Pedro. Não é verdade. É o nosso pólo negativo – isto
aqui é diabo (ego>Eu). Isto aqui é Deus (Eu > ego) – isto é espiritual. A
vitória do Eu sobre o ego é um tratado de paz entre positivo e o negativo; é
Cristo, isto é divino. Mas uma luta do ego contra o Eu, a derrota do Eu e a
vitória do ego, isto é chamado satanás.
De
maneira que, só deste modo nós podemos compreender o que está no Gênesis. Mas,
o que está lá nos livros está certo, mas deturparam completamente os livros
inspirados com a nossa análise teológica. Toda teologia é uma análise. A
teologia não é inspirada. Ela é toda analítica. É feita pela inteligência. Como
é que a inteligência podia descobrir uma intuição espiritual. A inspiração é
por intuição espiritual. Por intuição, ou inspiração, ou revelação, tudo isto é
a mesma coisa. Mas quando a inteligência se mete a interpretar uma intuição,
diz só bobagens.
São Paulo compreendeu isso muito bem. Então
ele escreveu na epístola aos Coríntios: o homem intelectual não compreende
as coisas do espírito. É muito claro, o homem intelectual (ego > Eu) não
compreende as coisas do espírito que é isto aqui: (Eu > ego) que lhe parece
estultícia. Pura estupidez! A inteligência pensa que as coisas espirituais são
pura estupidez. Até hoje todo mundo sabe disto. São Paulo diz: o homem
intelectual não compreende as coisas do espírito, até lhe parece estultícia.
Nem as pode compreender porque as coisas espirituais devem ser compreendidas
espiritualmente. Espiritualmente é por intuição. E intelectualmente é por
análise.
Quando nós nos
detemos a analisar coisas espirituais sai sempre bobagem. Nós podemos intuir as
coisas espirituais, mas a intuição não tem linguagem. A intuição é silenciosa.
A gente pode conscientizar a verdade, mas não pode pensar propriamente, porque
pensar é uma análise. Quando a gente pensa uma verdade espiritual já está
deturpada. O nosso pensamento deturpa tudo. Ele é bom para as coisas intelectuais.
Para a física, a química, a biologia nossa inteligência serve. Mas se ela se
mete no terreno espiritual, propriamente, que é intuição, então ele deturpa
tudo. Quando a gente pensa, analisa uma coisa espiritual já está deturpada. E
quando, depois de pensar ainda a gente tem que falar, está duas vezes
deturpada. Porque a fala ainda deturpa mais do que o próprio pensamento.
Nós temos que
verbalizar o pensamento, mas a verbalização é sempre uma deturpação. As coisas
muito elevadas não se podem nem pensar, nem falar, e ainda menos escrever. A
terceira deturpação é quando se escreve. Primeira deturpação é pensar, segunda
é falar e a terceira é escrever. E quando as coisas são três vezes deturpadas
então chega aos nossos olhos. E nós não podemos compreender estas três
deturpações. Pensar, falar e escrever são deturpações do mundo espiritual.
São males
necessários, infelizmente, essas três coisas, para a nossa vida. Mas, devemos
sempre lembrar. Isto não é a verdade. Isto é uma seta no caminho para indicar o
caminho à verdade, mas, não é a verdade. E por isso, tudo que analisamos
mentalmente está sempre deturpado. A teologia foi analisada e por isso chegou
aquela história que desenhei no princípio. A ciência é pura análise e por isso
está deturpada. Isto aqui não é ciência, nem é teologia. Isto é uma espécie de
filosofia intuitiva.
A filosofia
está eqüidistante da teologia e da ciência. Ciência não é filosofia. Teologia
não é filosofia. Mas no meio dos dois, entre a teologia intelectual e a ciência
intelectual está uma filosofia que pode ser intelectual, mas ela devia ser
intuitiva. A filosofia nas faculdades é geralmente puramente intelectual. Mas
há uma filosofia muito intuitiva. E Einstein insiste com a filosofia intuitiva
dele.
Quando ele era
perguntado como é que ele descobriu essas leis da natureza, ele sempre diz: não
descobri nada por análise. Sempre afirma que não descobriu nada por análise. Descobri
por intuição. Usa sempre a palavra intuição. Às vezes, revelação.
Quer dizer, há uma filosofia intuitiva que é
racional. A filosofia analítica é puramente intelectual. Geralmente nas
faculdades a gente não vai até a filosofia intuitiva racional. Mas fica na
rotina horizontal da filosofia analítica intelectual. A verdadeira filosofia
vai até a racionalidade. Não só intelectualidade. Eu já disse, vocês não devem
confundir inteligência com razão. Porque inteligência é o noos e razão é o
Logos. Os gregos já distinguiam muito bem. Noos é inteligência e Logos é razão.
A razão é intuitiva. A inteligência é apenas analítica.
Por isso
quando uma verdade intuitiva é analisada intelectualmente, há sempre o perigo
de ser deturpada. Então vamos entrar nesta intuição, naturalmente uma intuição
não se pode desenhar.
Eu estou
desenhando isto, isto é apenas um símbolo da intuição. Não é uma intuição
verdadeira. Então podemos imaginar que o homem começou aqui no ponto mais baixo
1 e logo no princípio prevaleceu o pólo negativo. Mas, por sugestão da serpente
que é sugestão da inteligência, é sugestão do ego que é sempre inimigo do Eu,
logo veio a serpente e disse: aquilo que Deus vos disse não é verdade.
Podeis desobedecer a Deus, não faz mal. Então veio a inteligência e sugeriu
uma coisa contra o espírito. O sopro de Deus é este aqui. Este é o sibilo da
serpente. Porque o ego é o pior inimigo do Eu. Logo no princípio do Gênesis
está – o ego desmente o que Deus disse para o Eu. O sibilo da serpente é contrário
ao sopro de Deus.
Assim começou
a nossa história. Começou com um negativo, mas não prosseguiu eternamente com
negativo. Porque o livre arbítrio permite a mudança entre negativo e positivo.
Se nós não tivéssemos livre arbítrio, se fôssemos autômatos, então só podíamos
ficar ou no positivo ou no negativo. Mas, se há possibilidade de mudar de um
pólo para o outro, isso se chama livre arbítrio. Nós somos os únicos seres aqui
na terra que possuímos verdadeiramente este dom estranho que nós chamamos o livre
arbítrio. Pode ser imperfeito, mas ele existe.
É um poder
creativo. Nós podemos crear o bem e podemos crear o mal. Podemos passar do mal
para o bem e do bem para o mal. E esta viagem através dos dois pólos opostos e
complementares é a nossa evolução. Nós temos a possibilidade da evolução até o
máximo. Até a imagem e semelhança de Deus, que seria aqui. E quando chegamos
perto disto continuam o positivo e o negativo. Nunca vão ser abolidos porque a
nossa natureza humana é essencialmente imutável na sua constituição. Fica
sempre em homens normais o positivo e o negativo. Eu posso fazer o bem, eu
posso fazer o mal, mas pouco a pouco pode haver um tratado de paz entre os
dois. O tratado de paz não vai partir do ego, como dizem. Paulo de Tarso disse
e a Bhagavad Gita disse e muitos outros disseram. O tratado de paz entre o Eu e
o ego não vai partir do ego. Mas pode partir do Eu, não do ego, porque o ego é
o tolo e o Eu é o sábio. O tolo não compreende o sábio, mas o sábio compreende
muito bem o tolo.
Não é isso
mesmo? O Eu compreende o ego, mas o ego não compreende o Eu; não há compreensão
de baixo para cima. Só há compreensão de cima para baixo. Do Eu para o ego há
compreensão. Do ego para o Eu não há compreensão, sempre hostilidade. Mas como
nosso Eu pode reforçar-se até tal ponto que ele pode dar ordens ao ego e dizer:
vai à minha retaguarda. Não te ponhas na minha vanguarda. Eu vou à vanguarda,
diz o Eu. E tu tomas o teu lugar na
retaguarda. Tu és para servir, não para mandar.
A Bhagavad
Gita diz mais uma vez: o ego é um péssimo senhor da nossa vida, vejam
bem, mas é um ótimo servidor. Outra vez, a mesma coisa. O ego faz
péssima figura na vanguarda, como senhor da nossa vida, mas cumpre
perfeitamente a sua missão de servidor na retaguarda. Nós não podemos abolir o
ego e também não devemos. Nós devemos incorporar o ego no Eu. Devemos integrar
o menor no maior.
Quer dizer, a
fórmula errada é esta aqui. Aqui o Eu está derrotado pelo ego (ego> Eu).
Aqui o Eu está na retaguarda e o ego está na vanguarda. Isto é que se chama
pecado. Este estado de coisa. Aqui está redenção (Eu > ego). Aqui estão as
duas fórmulas de pecado e redenção. Toda teologia há 2000 anos não fala de
outras coisas senão de pecado e redenção. Podeis ver em qualquer teologia –
pecado e redenção. Queda e redenção. Mas, é claro que é. Mas nós provocamos a
queda e redenção. Não há nenhum fator fora de nós que faça a nossa queda. O
nosso pecado. Eu é que faço – sou o autor do meu pecado. E eu que sou autor do
meu pecado. Eu também posso ser isto, meu redentor. Isto é redenção. Quando o
Eu sujeita o ego à suas ordens. Isto é redenção perfeita. Isto é ordem
invertida. Isto é anticósmico. Isto é cósmico. Isto é a ordem verdadeira.
(mostrando Eu > ego e ego > Eu)
Nós temos que
começar a contemplar a iniciação da humanidade e sua evolução através desses
desenhos aí. A geometria é muito boa para explicar essas coisas. Então, repito
que isto aqui é queda e isto aqui é redenção. Aqui o ego derrotando o Eu – é o
pecado. E aqui o Eu sujeitando o ego a seu serviço é a nossa redenção. Eu não
vejo outra coisa senão outro modo de conceber a origem e a evolução da
humanidade senão só isto, através disto. Começou com 1, teve ordem de ir até
100 e talvez além, mas ele tem que fazer esta viagem. Outros não podem fazer por
mim. O Cristo não me pode redimir. Eu me posso redimir. O diabo não me pode
fazer pecador. Eu é que me faço pecador. Nós sempre atribuímos a fatores
externos o que está dentro de nós. Nós somos o Cristo e nós somos também o
anticristo. É claro.
Aqui nós somos
o Cristo. Aqui nós somos o anticristo, mas eles fazem parte da nossa natureza,
os dois. Então, nós somos os autores, responsáveis pela nossa queda e somos os
autores responsáveis pela nossa redenção.
* * *
TRANSCRIÇÃO DA AULA 15 - Realismo Puro
Curso Filosofia Univérsica
Huberto Rohden
Palestra
15
05/09/78
Realismo Puro
Um
curso sério de filosofia tem que estar imunizado contra qualquer ideologia
errada que apareça no mundo. Aparecem tantas ideologias ilusórias que muitos
não sabem distinguir. Vamos tratar de algumas dessas ideologias que têm que ver
com o nosso assunto.
No século
passado apareceu nos Estados Unidos - iniciado por uma senhora muito
inteligente, Mary Baker Eddy - um movimento que hoje é um movimento mundial: Christian
Science – Ciência Cristã – também existe no Brasil. A tese fundamental da
ciência cristã da senhora Baker que hoje existe em todos os paises do mundo – é
a seguinte: no mundo de Deus não existem males porque Deus fez o mundo
perfeito e não pode haver males no mundo de Deus. A senhora Baker da
Christian Science se refere aos males físicos, por enquanto. Doenças e morte.
Ela afirma que tais coisas não existem no mundo de Deus porque Deus não creou
coisas negativas. Deus só creou coisas positivas. Tudo é perfeito, é saúde e
vida e paz. Isso foi do século passado (séc. XIX) - e até hoje existe no mundo
inteiro.
Não há doenças. Doenças são ilusões. Não
existe nenhum câncer, câncer é ilusão. Não existe tuberculose - tuberculose é
ilusão. Não existem doenças cardíacas. São todas ilusões. Isso é da Christian
Science. Nós vivemos na ilusão como se existissem males físicos. Não pode
existir um mal físico neste mundo porque o mundo de Deus é perfeito.
Maravilhosa essa tese! Infelizmente não é verdade.
Neste
século apareceu outro grande pensador, Joel Goldsmith – trata do mesmo assunto
em todos os seus livros - se existe ou não existem males físicos no mundo de
Deus. E Joel Goldsmith contou no seu livro, A Arte de Curar pelo Espírito; e em
todos os livros dele, chega à conclusão: existem males físicos no mundo de
Deus. Quer dizer que é uma grande novidade. Ultrapassou a Christian Science
que afirma que não existem males, é pura ilusão. Nós cremos nos males e por
isso os males existem – diz a Christian Science. Mas, Goldsmith vai muito além
disso. Diz: não senhor, os males não são imaginários, os males não são
ilusórios, os males que existem nesse mundo são reais (Christian Science
diz que nada é real no mal, só o bem é real – doença não pode ser real, câncer
não é real, tuberculose não é real, a fratura numa perna não é real, um
desastre não é real).
Agora
Goldsmith vai além disto. Não senhor,
existe tuberculose, existe câncer, existem fraturas, existem doenças de toda
espécie. O mundo está completo de hospitais por causa de doenças físicas e
também de hospícios por causa de doenças mentais. São reais, não são
imaginárias. Goldsmith deu um grande passo para frente.
E agora,
perguntamos, como é que no mundo de Deus podem existir males físicos? Joel
Goldsmith compreende muito bem esta pergunta. Ele disse: no mundo de Deus
existem males físicos, não feitos por Deus, mas feitos por nós. Esta é a
grande diferença entre ele e a Christian Science. Os males físicos são
reais, são verdadeiramente, objetivamente reais, e não são imaginários, mas
Deus não os fez. Nós é que fizemos as doenças. O nosso ego mental é que faz as
doenças. Às vezes não é o ego individual, mas o ego coletivo. A mentalidade
coletiva da humanidade, diz Goldsmith, também é produtora de males.
É uma poluição
mental, vamos dizer. Se alguém entra na cidade de São Paulo, se alguém morre de
poluição - e muitos já morreram de poluição – a culpa não é do morto porque ele
não criou a poluição. Mas ele está vivendo da poluição. Outros criaram a
poluição. As fabricas, os automóveis criaram a poluição. Mas ele
individualmente não é culpado pela poluição de que ele morreu. A mesma coisa se
dá no mundo fora das cidades também. Se o mundo está mentalmente poluído, isto
produz males físicos e não somente males morais. Porque a poluição mental e
emocional também produz efeitos físicos.
Por isso esta
pergunta: como é que uma criança pode nascer doente quando ela não é culpada de
nenhuma aberração física? Não, a criança pode não ser culpada e não é mesmo.
Outros dizem que ela herdou o karma de uma vida passada, mas, não vamos entrar
nesta hipótese. Vamos saber porque é que ela está doente quando ela não cometeu
nenhum mal mental. A humanidade coletiva está 90% poluída mentalmente. É claro
que está!
O mundo é um
mundo de pecadores hoje em dia. Um mundo de mentalmente errados. Pensamentos
errados, pensamentos negativos são realidades que produzem ondulações ou
vibrações físicas. Então Goldsmith diz: os males existem, nem sempre foram
criados pela pessoa que sofre o mal, mas foram criados pela humanidade coletiva
que jaz no maligno, como diz a Bíblia. Jaz no maligno, toda a humanidade. E o
Cristo diz: o príncipe deste mundo que é o poder das trevas (as
trevas são os males) tem poder sobre vós. Afirma que o dominador deste mundo
que é a mentalidade coletiva – nós chamamos isto o diabo – mas Jesus não refere
ao diabo físico, ele se refere à mentalidade coletiva que ele chama o dominador
deste mundo que é o poder das trevas. Tem poder sobre vós, ele diz aos
seus discípulos. Depois ele acrescenta: mas sobre mim ele não tem poder
porque eu já venci este mundo.
Naturalmente
que se alguém se imunizou contra a poluição mental do mundo, é claro que não
lhe pode atingir. O caso de Jesus. Nunca esteve doente, não morreu
compulsoriamente, morreu voluntariamente e depois reviveu. Quer dizer, o poder
deste mundo, o poder negativo, mental que ele chama o príncipe deste mundo que
é poder sobre as trevas, tem poder sobre vós todos – diz aos homens. Sobre mim,
ele diz – eles não têm nenhum poder, porque eu já venci este mundo. Se nós
pudéssemos dizer isto sem mentir, é claro que nós nunca estaríamos doentes.
Também não precisaríamos morrer fisicamente. Podíamos transformar nosso corpo
físico num corpo astral – como alguns fizeram. Como Moisés fez, como Elias fez,
como mesmo em nosso tempo, Babaji fez na Índia e outros – porque já tinham
vencido o mundo.
O mundo - são
as vibrações negativas que vêm sempre do nosso ego mental. E nós não vencemos
ainda. Nós somos ainda alérgicos a essas vibrações negativas da humanidade –
talvez não nossas. Pode ser que alguém não tenha produzido poluição mental. Mas
ele pode ser vítima, se ele não se imunizar. Ele pode imunizar por um poder
superior. Um poder superior ao mental é um poder espiritual. Mas, quem é que é
poderoso no mundo espiritual? Quem? Ás vezes nós tratamos de coisas
espirituais, assim de passagem. Como um divertimento domingueiro, como um “hobby”
qualquer, mas isto não é vencer o mundo das trevas... O mundo mental é sempre
chamado pelos iniciados, o mundo negativo, o mundo das trevas. Treva é um
conceito negativo. Luz é um conceito positivo. Treva é ausência e luz é
presença.
Logo, Joel
Goldsmith afirma que os males físicos existem neste mundo em grande quantidade
– não foram creados por Deus, porque Deus não creou câncer. Deus não creou
tuberculose. Deus não creou nenhum mal físico. Tanto assim que os grandes
iniciados não sofreram de males físicos. Moisés não consta nenhuma doença dele.
E também não morreu. Transformou seu corpo com 120 anos num corpo astral. Jesus
nunca esteve doente. Também não foi derrotado pela morte, mas ele se entregou
voluntariamente. Ele diz claramente: ninguém me pode tirar a vida.
Imagina! Quem é que pode dizer, ninguém me pode matar. Ninguém. Não existe nada
no mundo que me possa matar. Ele diz, ninguém me tira a vida, eu deponho a
minha vida quando eu quero e retomo a minha vida quando eu quero.
Bem, quem fala
assim sem mentira e o realizou, pode dizer: eu venci este mundo. Eu venci
este mundo negativo das doenças e da morte. São coisas negativas. Mas quem
não está na altura da espiritualidade não pode dizer isto. Nós somos todos
principiantes de ABC na espiritualidade. A alguns. Alguns sabem o B, alguns
sabem o C, mas ninguém chegou até o fim. Mas os grandes iniciados podiam dizer
isto, alguns deles, sobretudo o Cristo.
Então
Goldsmith aceita os males, as doenças são realidades e não são imaginação, não
são ilusão. Quem criou essas realidades não foi Deus. Foi o nosso ego. O nosso
ego também é uma espécie de Deus é o demiurgo como diziam os gregos. Os gregos
usavam a palavra demiurgo para o ego. Demi quer dizer semi, metade. Urgo é
obreiro. Semi-obreiro. Demiurgo – semicreador. O nosso ego mental é um demiurgo
– em língua grega. É um semicreador. Ele pode crear algumas coisas, sobretudo
coisas negativas. O nosso ego pode criar doenças, é claro que pode, mas não
pode abolir.
Isto Goldsmith
faz ver muito claramente no seu livro, que o nosso ego é um creador de doenças,
mas não é um abolidor de doenças. E agora estamos num impasse: se o nosso ego
criou doenças e não pode abolir as doenças, (como não pode mesmo) estamos
fritos. Então temos que ficar nas doenças. Pura verdade. É muita lógica. O ego
negativo, a nossa poluição mental, seja individual, ou seja, coletiva da humanidade
produz os males físicos. Aqui não se trata de males morais, por enquanto. Os
males físicos são produtos do nosso ego negativo - do poder das trevas. E não
pode abolir o que ele criou. O mental não pode abolir o mental. A criação
mental não pode ser abolida pelo criador mental. Não pode.
Segue-se
que se nós não invocarmos um poder acima do mental, nós não temos o poder de
criar os males que o ego produziu. É lógica absoluta. Devemos então descobrir
um poder superior ao poder mental porque o poder mental criou os males e nós
precisamos de alguém que possa abolir os males. Mas se nós não descobrirmos
este poder ultramental, supramental, transmental que nós geralmente chamamos
poder espiritual, que reside no nosso Eu central, (não no nosso ego periférico
onde residem as doenças, o poder negativo)... Se nós não descobrirmos o fator
positivo em nós, o poder central da cura, nós não nos podemos curar. Só nos podemos fazer doentes, mas não nos
podemos curar.
Então os
ingênuos pensam que há um Deus lá fora que tem que ser invocado para ele curar
a minha doença. Goldsmith dizia: não adianta invocar um Deus de fora. O que
é importante é evocar o Deus de dentro. Esta é uma das frases mais geniais
de Goldsmith, no seu livro A Arte de Curar pelo Espírito. Não adianta.
Alguém se escandalizou com isso, e disse: mas como é, parece ser ateu?
Diz que não adianta nada rezar, não adianta invocar um Deus se eu estou doente.
Rezo tanto a Deus diariamente e Deus não me cura.
Goldsmith
diz isto não adianta nada. Você não deve pensar num Deus que existe lá do
outro lado da via Láctea, das galáxias do universo. Muito longe e ausente de
você. Logo você não deve pensar nesse Deus... Rezar a esse Deus lá fora... Você
deve descobrir o seu Deus de dentro. Descubra o seu Deus interno, não o Deus
transcendental, mas o Deus imanente. E se você descobrir o Deus imanente que é
a sua própria alma, que é o seu Eu espiritual, então você tem nas mãos um poder
infalível.
Então
você deve evocar, não invocar. Nós sabemos muito bem invocar. Invocamos a Deus,
invocamos à Virgem Maria, invocamos a todos os nossos santos e padroeiros.
Invocamos e invocamos tudo. Nós esquecemos sempre de evocar. Porque todo o
poder está dentro de nós. Todo o poder está dentro de cada um de nós. Eu sou
onipotente no meu centro. Eu sou impotente nas minhas periferias. Nas minhas
periferias eu sou fraqueza. No meu centro eu sou força. E quem disse isso? Foi
o homem mais espiritual deste mundo. O Cristo. O Pai está em vós.
Ele chama o nosso Eu o Pai. O Pai está em mim, primeiro ele diz
de si. Mas o Pai também está em vós, e vós estais no Pai. Sempre
ele fala de um Deus imanente.
Quer
dizer, a cura pelo espírito de que fala Goldsmith sempre é uma coisa
rigorosamente lógica. Não tem nada de misticismo. É uma coisa lógica. Eu sou
fraqueza por fora. Na periferia do meu ego físico, o meu ego mental e do meu
ego emocional. Lá eu sou fraco. Lá eu posso ser vítima de doenças, lá na
periferia - mas se eu encontrar o centro do meu Eu, a minha realidade divina, o
meu Eu central, o meu Cristo interno, o pai em mim e se eu conscientizar: Eu
e o Pai somos um e as obras que eu faço é o Pai em mim que as faz. Isto é
importante acrescentar. São palavras do Cristo. As obras da cura que eu faço,
não é o meu ego que as faz, mas é o Pai em mim – isto é importante acrescentar,
são palavras do Cristo - o meu Eu que as faz. As obras que eu faço – as
obras da cura. As obras que eu faço não é o meu ego que faz, mas é o Pai em
mim, o meu Eu que as faz. Então estaria resolvido todo o nosso problema
físico desse mundo, mas não está resolvido. Por quê? Então Deus não está em
nós? Deus está em nós e em cada creatura. Deus está onipresente. Não está só em
nós. Também está nos animais, inconscientemente. Em nós ele pode estar
conscientemente.
No mundo
inferior, Deus está inconscientemente nos animais, inconscientemente nas
plantas, inconscientemente nas pedras. Não é Deus que é inconsciente. São estes
indivíduos que são inconscientes da presença de Deus. O animal não pode ter a
consciência da presença de Deus. O vegetal não pode ter esta consciência da
presença de Deus. O mineral não pode ter. Nós podemos.
- Professor, pode uma pessoa
encontrar o Deus interno e continuar a ter doenças?
- Não, se encontrou de fato
não vai ter doenças. Você chama encontrar, pensar. Pensar que Deus está em mim.
Não adianta nada pensar que Deus está em mim. Pensar não cura ninguém. E
Goldsmith insiste, você não deve pensar porque pensar é coisa do ego. É uma
função do ego. Você não sai da periferia. Pensando você faz num círculo vicioso
ao redor do seu ego. Isto é pensar. Querer também é um círculo vicioso ao redor
do seu ego. Isto é pensar. Querer também é um círculo vicioso. Dizer, pensar,
querer, tudo isto é periferia. Nada disto é centro.
O que seria centro?
Conscientizar e vivenciar. E Goldsmith insiste nesses dois pontos. Eu devo
conscientizar a presença de Deus em mim. O meu centro é Deus. O meu centro é
saúde. O meu centro é vida. O meu centro é o Pai. O meu centro é o Cristo. Se
eu puder conscientizar... Goldsmith diz: eu levei 13 anos para conseguir uma
conscientização perfeita. Imagina ele - que era um verdadeiro iniciado. Ele
levou 13 anos fazendo exercícios diários de conscientização, e só depois de 13
longos anos de exercícios parcialmente fracassados, ele conseguiu uma
conscientização 100%.
Então ele
diz: se eu conseguir uma conscientização 100% da presença de Deus em mim eu
posso curar qualquer doença, não só minha, mas, também dos outros. Ele
fazia... A qualquer distância. Três vezes ele fez a viagem ao redor do globo
terrestre, a chamado de doentes. Trabalhava gratuitamente. E toda vez que ele
conseguia 100% de consciência da presença de Deus, a doença era infalivelmente
curada. A qualquer distância.
Quando os
doentes lhe telefonavam queriam sempre dar três coisas. Primeiro dizer qual é o
nome do doente. Ele dizia: não senhor, eu não quero saber o nome do doente.
Deus sabe e chega. 2o eles queriam dizer, qual era a doença de
que ele sofre. Ele não aceitava. Não, Deus sabe qual é a doença, não precisa
dizer. 3o – queriam dar o endereço. Não quero saber nome, nem
doença, nem endereço do doente. Deus sabe e chega. Eu só quero conscientizar a
presença de Deus até o máximo. Quem nunca fez não pode imaginar o que seja
conscientizar.
Goldsmith
disse que ele levou 13 anos para conseguir uma conscientização perfeita. Ele -
nós temos de levar um século para conseguir. Se não fizermos exercícios diários
muito intensos, nunca vamos conseguir, e não temos nas mãos nenhum meio para
nos curar. Cada um pode se curar a si mesmo e pode curar os doentes, mas,
somente por uma intensa conscientização da presença de Deus. Não é a presença
de Deus que cura. No doente Deus também está presente. Num tuberculoso, num
canceroso, Deus também está presente. Por que é que não cura? Não é a presença
de Deus que cura alguém. Nunca ninguém foi curado pela presença de Deus. O que
cura é unicamente a consciência da presença e não a presença.
É difícil este ponto.
Naturalmente essa conscientização é impossível sem a correspondente vivência.
Quem não vive por fora o que ele conscientiza por dentro não vai conseguir a
conscientização. E aí que está o erro de muitos. Nós por fora vemos
contrariamente a conscientização de Deus. Quem anda agarrado às coisas
externas, não somente quem usa (podemos usar, mas quem se deixa tiranizar pelas
coisas externas, pela propriedade, pela família, pela sociedade) não está em
condições de conscientizar. Porque isto é escravidão. Quem vive na escravidão
não pode conscientizar Deus, porque Deus é infinita liberdade.
Então, para
conseguir a conscientização nós devíamos em 1o lugar modificar
profundamente a nossa vida diária. Devíamos usufruir o necessário para uma vida
descentemente humana. Não é preciso jogar fora tudo. Não, não podemos viver se
não temos nada. Mas, se nós vivêssemos apenas do necessário e não do
supérfluo... (porque mais de 50% do que nós temos é supérfluo, é claro) nem 50%
são necessários para uma vida decentemente humana. Mas ninguém se convence
disso. Ele precisa que tenha cada vez mais e mais conforto. Apareceu uma coisa
nova é preciso comprar. É evidente que tenho que comprar. Não posso mais viver
sem isso. Quer dizer que nós vivemos numa permanente escravidão.
Quem vive
na escravidão das coisas exteriores, sobretudo família e sociedade não pode
conscientizar devidamente a presença de Deus. É o grande impedimento de quase
todos.
Bem,
isto, quanto aos males físicos de que fala a Christian Science negando os males
físicos e de que fala Goldsmith afirmando os males físicos, mas, não os atribui
a Deus. Esta é a grande diferença entre Goldsmith e a Christian Science. Ele
afirma que os males físicos são reais porque nós os criamos. Pelo nosso ego
mental nós somos responsáveis pelos males físicos. Nossos individualmente ou
nossos coletivamente. Nunca pensar que cada um seja responsável só pelos seus
erros individuais.
Pode ser que alguém não tenha
erros individuais, mas nós também somos vítimas dos erros coletivos da
humanidade. Nós, partes integrantes de um grande organismo humano e cada célula
que é cada indivíduo sofre os males do organismo. Se o organismo está doente é
claro que as células estão doentes. Nós não podemos ter o organismo humano
doentio, como temos - organismo coletivo da humanidade, bilhões de seres
humanos - e manter saúde na nossa célula individual. É muito difícil. De
maneira que enquanto a humanidade não tiver saúde é dificilmente o indivíduo
ter saúde.
Bem, mas
eu não ia falar sobre os males físicos. Eu ia falar hoje sobre os males morais.
Falei muito nos últimos dias sobre bens morais e bens físicos, e males morais e
males físicos. Não vamos dizer, falei muito sobre males morais e bens morais. O
mal moral nós chamamos pecado. O bem moral nós chamamos redenção. Tratamos
muito destes dois termos: pecado e redenção. Toda teologia cristã gira em torno
destas duas palavras. Em qualquer igreja vocês vão ouvir pecado e redenção.
Pecado é um mal moral negativo e redenção é um bem moral positivo.
Bem, nós
afirmamos que há males morais, que há pecados, que ninguém se pode convencer
que não haja pecados. A Bíblia está cheia disto. Do Gênesis até o Apocalipse
sempre se fala em pecado, pecado, pecado. O Evangelho está repleto destas
coisas. Vai-te em paz e não torne a pecar. Jesus supõe que ela pecou –
aquela mulher adúltera. Os seus muitos pecados lhe são perdoados porque
muito amou - da Madalena. É claro que Jesus supõe que há pecado. Portanto,
nós não podemos negar que o pecado seja de uma realidade, não feita por Deus,
mas feita por nós. Outra vez, os males físicos não são feitos por Deus e os males
morais que são os pecados também não são feitos por Deus.
Agora
estamos diante da alternativa - pecado e redenção. Pecado corresponde à doença
e redenção corresponde à saúde - num outro terreno. No mundo físico o negativo
é a doença e o positivo é a saúde. E no mundo moral o negativo é o pecado e o
positivo é o que a Bíblia chama a justiça. Quando a Bíblia fala justiça nós não
devemos pensar em justiça social. Nós falamos muito em justiça social. Não, a
Bíblia não entende por justiça, justiça social. Ela entende justiça o
verdadeiro e correto ajustamento entre nós e Deus. Isto é justiça na Bíblia. A
justeza - vamos dizer. O correto ajustamento entre o homem e Deus. Quando ele
está bem ajustado com Deus então ele é justo. Quando ele está mal ajustado então
ele é pecador. Pecador é o não ajustamento entre o homem e Deus, e justiça na
Bíblia é um correto ajustamento com Deus. Uma harmonia é um ajustamento. Uma desarmonia é um desajustamento.
Quando
estamos sintonizados com Deus, quando a nossa consciência está em sintonia com
a consciência divina, então nós somos justos. Somos ajustados corretamente e
então nós somos santos. Santidade, justiça e redenção, tudo isto é a mesma
coisa. Bem, de maneira que afirmamos que como há males físicos feitos por nós,
assim também há males morais feitos por nós, porque Deus não fez males físicos,
Deus também não fez males morais. Os males morais foram por nossa conta e os
males físicos são conseqüência dos nossos males morais. Há uma rigorosa
concatenação entre males morais e males físicos.
A humanidade toda está na
maldade moral. 99% pelo menos. Os crimes que acontecem - não aqueles que os
jornais trazem na 1a página, isto não é 1% dos crimes que acontecem
nas 24 horas, quando os jornais saem. Os jornais gostam de contar os crimes
tais e tais, fulano matou sicrano, roubou isto – bem isto não representa 1% da
maldade humana. A maior parte não é conhecida dos jornais.
Quer dizer, a humanidade jaz no
maligno, diz a Bíblia e o príncipe deste mundo que é o poder das trevas tem
poder sobre a humanidade, porque nós lhe entregamos o poder. Nós lhe entregamos
o poder e por isso a maldade tem poder sobre nós. E daí depois vêm os males
físicos. Os males físicos são conseqüências dos males morais.
Bem, aparece, porém, alguém e
diz, não existe nenhum pecado. Não existe nenhum mal moral. Eu tenho meia dúzia
de livros lá em casa que afirma isto. Todos do mesmo autor. O último é esse
aqui: Masaharu Taniguchi – fundador da Seicho-no-ie – que tem milhares de
adeptos no Brasil e fora do Brasil. Chegando a tratar do pecado ele diz: Pura
invenção, não existe nenhum pecado. Nunca existiu pecado e não existe nenhum
pecado. É muito bonito. Otimismo formidável. Infelizmente não é verdade.
Como é que não existe nenhum pecado e nunca existiu? Do princípio até o fim ele
afirma isso. Ele é um ótimo psicólogo. Um péssimo filósofo. Na psicologia ele é
muito forte. Muito bem! Na filosofia é zero virgula zero. Como é que diz que
não existe nenhum mal moral no mundo?
Então aqueles crimes
ultimamente cometidos na Itália com o presidente Aldo Moro, torturando o homem
barbaramente, e depois matando, não era mal moral? Não era pecado? O que fez a
última guerra matando 100 milhões de inocentes, não era crime, não era pecado?
E o que acontece aqui entre nós a cada momento. De 30 em 30 minutos - diz a
estatística de São Paulo – acontece um crime em São Paulo. E nos Estados Unidos
é de 10 em 10 minutos. E dizer que não existe pecado, que não existe mal. É uma
leviandade tão grande que a gente não sabe como um homem sério como Taniguchi
pode afirmar coisas tão absurdas. E milhares de pessoas acreditam.
Ah! Que grande profeta este lá
do Japão. Descobriu que pecado é pura ilusão, é pura imaginação que eu tenho
pecado. Eu não tenho nenhum pecado, meu amigo não tem nenhum pecado, nunca
ninguém teve nenhum pecado. Somos
todos santos. Canonização universal. E qual é a prova que Taniguchi traz
que não há pecado no mundo? A prova é a seguinte, escutem bem o fracasso da
filosofia dele: Deus fez o mundo perfeito e o pecado seria uma coisa
imperfeita, logo não existe pecado. Pronto.
O que é que vocês me respondem
a isto? Este silogismo está certo ou não? Este silogismo de Taniguchi... Ele
diz Deus fez o mundo perfeito. Não fez uma mistura de perfeição e imperfeição,
isto Deus não fez. Deus é o sumo bem e Deus fez somente o bem e não fez o mal,
mas o pecado é um mal, logo não existe pecado. É o argumento dele. E muitos que
não têm critérios suficientes, embora tenham boa vontade, dizem: mas, ele tem
razão. Onde é que nós inventamos esta bobagem de pecado. Não seria melhor
acabar com isto de uma vez? Pura ilusão dos teólogos que inventaram que há tal
coisa como pecado. Não existe pecado. Vão viver em paz e felicidade e dizer:
não há pecado, não há pecado e pronto.
Isto é política de avestruz.
Vocês sabem que dizem que a avestruz no deserto lá na África, aquela ave grande
que não voa, mas corre muito; quando ela é perseguida (dizem, não sei se é
verdade, mas todo o mundo chama isto política de avestruz) dizem que a avestruz
quando é perseguida pelo caçador, ela corre como um cavalo. Então ela não pode
fugir mais no fim, pára e esconde a cabeça debaixo da areia. E porque ela não
enxerga mais o caçador, ela pensa que o caçador não existe mais. Dizem que a
avestruz tem essa filosofia: Eu não vejo o caçador, porque está com a cabeça
debaixo da areia, então o caçador não existe mais. Depois o caçador mata.
Isto que o Taniguchi está
fazendo é política de avestruz. Eu não quero ver que haja pecado no mundo,
então não há mesmo. Pronto. Política de avestruz. Então eu digo
simplesmente, não existe. Veja uma coisa parecida com aquilo da Christian
Science quanto às doenças. A Christian Science diz, não há doença, então não há
– mas, contudo há. E Taniguchi diz: não há pecado – então não há, mas, contudo
há. O mundo está cheio e a Bíblia está repleta de menções de pecados.
Então vamos ver o argumento.
Ele diz que Deus fez o mundo 100% bom. E não pode haver pecado num mundo 100%
bom. É um silogismo 100% errado. Deus nada tem que ver com o pecado. Que Deus
creou creaturas dotadas de livre arbítrio. E onde há livre arbítrio há duas
possibilidades. Há a possibilidade para o bem e há a possibilidade para o mal.
O bem é o positivo. No mundo físico o bem é a saúde. E no mundo moral o bem é a
santidade ou a justiça. Mas, Deus não creou o uso do livre arbítrio. O uso e o
abuso do livre arbítrio não correm por conta de Deus. Isso corre por nossa
conta exclusiva. Deus creou a faculdade dentro de cada um de nós. A faculdade
do livre arbítrio. Eu te ponho aqui na terra. Tu podes fazer o bem e podes
fazer o mal – diz Deus, mas eu não sou responsável pelo bem que tu fizeres,
também não sou responsável pelo mal que tu fizeres. Isto está certo.

Mas, Taniguchi acha, se Deus creou o
homem então o homem só pode fazer o bem, mas não pode fazer o mal. Onde está o
livro arbítrio? Então não existiria uma pessoa humana no mundo. Se existe um
homem que necessariamente tem que fazer o bem e não pode fazer o mal, ele não
tem liberdade. O bem que ele faz não corre por conta dele. Corre por conta de
Deus. Mas se ele pode fazer o bem e o mal por conta própria então é claro, se
existe o bem necessariamente deve poder existir o mal. Não pode haver uma
creatura dotada de livre arbítrio que tenha só uma possibilidade diante de si –
uma linha reta, assim._____________ O animal só tem uma linha reta. Assim seria uma creatura não humana. Uma
única possibilidade. Não pode fazer o bem nem o mal. O animal é neutro. Não é
moralmente bom e não é moralmente mau. O animal é simplesmente neutro. O neutro
é representado por esse sinal aqui. ── Agora começa o homem aqui. Começa a
linha bifurcada. ─┴─
Uma linha positiva ( ) e uma linha
negativa (-). Aqui começa o livre arbítrio.
Deus não é responsável por esse positivo e não é responsável por esse
negativo (±). Deus é responsável por essa faculdade, essa bipolaridade, essa
possibilidade do livre arbítrio; a faculdade do livre arbítrio sim é obra de
Deus, mas o modo como o homem emprega essa faculdade do livre arbítrio nada tem
que ver com Deus.
Deus não fez isto que o homem
faz, a justiça. E Deus não fez isto que o homem faz, o pecado. Isto vem por
conta exclusiva do homem. Portanto, esse argumento de Taniguchi, se Deus fez o
mundo perfeito então não pode haver pecado, isto é radicalmente errado. Fora de
toda a lógica, porque perfeito não quer dizer que todo ser deva necessariamente
fazer o bem. O animal aqui não pode fazer o bem nem o mal, mas é perfeito, a
seu modo - porque é neutro. Aqui há neutralidade. Ele não pode ser moralmente
mal, o animal. E também não pode ser
moralmente bom. Ele é bom como diz o texto do Gênesis, mas quando Deus creou o
homem ele é muito bom. Deus fez o homem que era uma obra muito boa. Quer dizer,
começa o livre arbítrio e começa a humanidade. O dom do livre arbítrio é uma
coisa muito boa. Aqui começa uma coisa muito melhor do que aqui. O animal não
tem livre arbítrio. O animal é um autômato vivo. Nós não somos autômatos. Nós
podemos tomar nas mãos o nosso destino e dizer: eu tenho a possibilidade de
fazer o bem, eu tenho a possibilidade de fazer o mal. Isto é uma grande
vantagem sobre o animal. O animal é neutro. É uma máquina.
Então aqui começa uma creatura
muito superior ao animal. Porque é uma creatura creadora e o animal é apenas
uma creatura creada. No animal não há nenhuma creatividade. No homem há creatividade.
O animal está na creaturidade e o homem está na creatividade. Se usarmos esses
termos que inventei. A creaturidade é do animal e das plantas e dos minerais.
Tudo neutro. Mas a creatividade seja positiva seja negativa é do homem. É uma
grande perfeição poder ser creativo e não apenas creado. O animal é creado, mas
não é creador. Ele não se pode fazer melhor e pior do que é. Geralmente, não.
Deus creou o homem o menos
possível para que o homem se possa crear o mais possível. É uma grande
perfeição. Mas dizer que porque Deus fez uma obra perfeita - que é o livre
arbítrio - nós podemos aperfeiçoar cada vez mais o nosso livre arbítrio, mas a
raiz já vem desde o nascimento. Desde o nascimento já está em nós a raiz do
livre arbítrio que depois podemos aperfeiçoar. Mas, dizer, não pode haver o
negativo, o pecado... - porque o negativo não é perfeito - também devemos dizer
que não há também positivo. O positivo não depende de Deus. Nenhum dos dois
depende de Deus. O positivo da justiça não depende de Deus. É da minha boa
vontade. E o negativo do pecado também não depende de Deus. É completamente
independente. Deus não tem jurisdição
aqui. Deus tem plena jurisdição aqui. O animal faz exatamente aquilo que a
inteligência cósmica manda fazer. Mas a partir daqui acaba a jurisdição de
Deus. Onde começa a minha consciência do livre arbítrio eu sou o único
responsável pelo bem que eu faço. Deus não é responsável pelo bem que eu faço.
Mas eu também sou o único responsável pelo mal que eu faço.
Por isso esse argumento que se
o mundo é perfeito não pode haver pecado é completamente fora de qualquer
lógica. E por isso nenhum dos livros sacros, nem o judaísmo, nem do
cristianismo, nem do paganismo aceita isso. Vocês não encontram isto nem na
Bhagavad Gita, nem no Tao Te King que são livros do paganismo. Não encontram no
judaísmo que é o Antigo Testamento na Bíblia. Não encontram no cristianismo que
é o Novo Testamento da Bíblia. Não encontram em toda parte: no judaísmo, no
cristianismo, no paganismo se afirma que há uma diferença essencial entre o bem
e o mal. Existe no mundo tanto o bem como o mal, e ambos são atribuídos ao
homem.
O dom de poder fazer poder
fazer o bem e o mal, a faculdade do livre arbítrio é um dom de Deus. Mas o uso
ou o abuso desta faculdade nada tem que ver com Deus. Deus é inocente pelo mal
que eu faço e também pelo bem que eu faço. Deus não faz o bem em mim, eu é que
faço pelo meu livre arbítrio. Deus também não faz o mal em mim. Eu o faço pelo
meu livre arbítrio. De maneira que segundo a convicção universal e segundo a
própria lógica o mal existe, tanto o mal físico como também o mal moral. E o
mal moral é da humanidade porque – o mal físico também podia existir fora do
mal moral - mas o mal moral só é creação da humanidade. Deus nada tem que ver
com a minha criação positiva ou a minha criação negativa.
Por isso num curso de filosofia
nós temos que criar um critério seguro para saber o que é que podemos aceitar
quando aparecem estas ideologias espalham por todo o mundo e todo mundo diz:
Ah! Descobri uma grande coisa. Não há pecado. Aleluia! Hosana Aleluia! Bonito se fosse assim. Seria um otimismo
muito barato. Mas não é realismo. Eu não quero ser otimista nem pessimista. Eu
quero ser realista. Eu quero estar de acordo com a realidade. Realismo puro. Não
otimismo exagerado por um lado, nem pessimismo por outro lado. São dois
extremos: otimismo – é otimista o Taniguchi. E diz: eu vou absolvê-los de todos
os pecados. Daqui por diante não tem mais pode pecar. Ninguém mais pode pecar,
é proibido.
Mas nós devemos ter a certeza
de que tudo é possível. Onde existe o livre arbítrio as duas coisas são
possíveis e Deus quis que fossem possíveis. Deus quis que as duas coisas fossem
possíveis. Porque uma creatura com livre arbítrio é infinitamente mais perfeita
do que uma creatura que não tem livre arbítrio. Nós somos uma nova fase da
creação porque temos nas mãos o nosso destino. Como nós vamos usar o destino,
isto nada tem que ver com Deus. Nós temos que nos decidir se vamos usar o nosso
livre arbítrio para o bem ou para o mal, a faculdade dada por Deus. O uso dessa
faculdade depende de cada um.
* * *