ACERVO VIRTUAL HUBERTO ROHDEN E PIETRO UBALDI

Para os interessados em Filosofia, Ciência, Religião, Espiritismo e afins, o Acervo Virtual Huberto Rohden & Pietro Ubaldi é um blog sem fins lucrativos que disponibiliza uma excelente coletânea de livros, filmes, palestras em áudios e vídeos para o enriquecimento intelectual e moral dos aprendizes sinceros. Todos disponíveis para downloads gratuitos. Cursos, por exemplo, dos professores Huberto Rohden e Pietro Ubaldi estão transcritos para uma melhor absorção de suas exposições filosóficas pois, para todo estudante de boa vontade, são fontes vivas para o esclarecimento e aprofundamento integral. Oásis seguro para uma compreensão universal e imparcial! Não deixe de conhecer, ler, escutar, curtir, e compartilhar conosco suas observações. Bom Estudo!

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domingo, 28 de dezembro de 2014

QUEM CULTUA AUTORIDADE SE NEGA A COMPREENDER

Comentário(s)

(Trancrição da palestra de Jiddu Krishnamurti realizada em São Paulo,  no dia 24 de Abril de 1935)

Amigos, foram-me colocadas muitas questões em relação ao futuro pessoal de indivíduos e as suas esperanças, se seriam bem sucedidos em determinados negócios, se deveriam deixar este país e estabelecerem-se na América do Norte, quem é a pessoa certa para se casarem, etc. Não posso responder a tais perguntas já que não sou adivinho. Sei que estas são questões verdadeiras e perturbadoras, mas cada um tem que as resolver por si próprio.

Escolhi de entre as inúmeras questões que me foram colocadas, aquelas que são mais representativas; mas sinto que seria inútil e uma perda de tempo para vocês e para mim se o que vou dizer, e o que tenho dito, fosse aceite por vocês como uma qualquer teoria filosófica com a qual a mente se pode divertir. Tenho algo vital para dizer que é aplicável à vida, algo que, quando compreendido, os ajudará a resolver os muitos problemas da vossa vida quotidiana.

Não vou responder a estas perguntas a partir de um ponto de vista específico, porque sinto que todos os problemas devem ser tratados, não separadamente, mas como um todo. Se pudermos fazer isto, os nossos pensamentos e acções tornar-se-ão sãos e equilibrados.

Por favor não rejeitem algumas destas perguntas por serem burguesas ou feitas pela classe desocupada. São perguntas humanas e devem ser consideradas como tais, não como pertencendo a qualquer classe determinada.

Pergunta: Como considera a mediunidade e a comunicação com os espíritos dos mortos?

Krishnamurti: Podem rir-se disso ou levá-lo a sério. Em primeiro lugar, não vamos discutir se os espíritos existem ou não, mas vamos considerar o desejo que nos incita a comunicar com eles, porque essa é a parte mais importante da questão.

Com a maioria das pessoas que se dedicam a este género de coisas, na sua comunicação com os mortos há o desejo de serem guiados, de que se lhes diga o que fazer, uma vez que estão em constante incerteza relativamente às suas acções, e têm a esperança de que pela comunicação com aqueles que estão mortos, encontrarão orientação, poupando-se assim a si mesmos do trabalho de pensar. Portanto o desejo é de serem orientadas, dirigidas, para que possam não cometer erros e sofrer. É a mesma atitude que alguns têm relativamente aos mestres, aqueles seres que são considerados mais avançados, e portanto capazes de orientar o homem através dos seus mensageiros, etc.

O culto da autoridade é a negação da compreensão. O desejo de não sofrer gera exploração. Portanto esta busca de autoridade destrói a plenitude de acção, e a orientação origina irresponsabilidade, porque há um forte desejo de navegar através da vida sem conflito, sem sofrimento. É por esta razão se têm crenças, ideais, sistemas, na esperança de que a luta e o sofrimento possam ser evitados. Mas estas crenças, ideais, que se tornaram fugas, são a própria causa do conflito, gerando ilusões maiores, sofrimento maior. Enquanto a mente procurar conforto através da orientação, através da autoridade, a causa do sofrimento, da ignorância, não pode ser nunca dissolvida.

Pergunta: Para alcançar a verdade, devemos abster-nos do casamento e da procriação?

Krishnamurti: Ora bem, a verdade não é um fim, um objectivo que possa ser alcançado através de certas acções. É essa compreensão nascida do contínuo ajustamento à vida que exige grande inteligência; e porque a maior parte das pessoas não é capaz deste ajustamento sem auto-defesa ao movimento da vida, criam certas teorias e ideais que esperam possam guiá-los. O homem está assim preso na estrutura das tradições, dos preconceitos e das moralidades compulsivas, ditadas pelo medo e pelo desejo de auto-preservação. Isto aconteceu porque ele é incapaz de discernir continuamente o significado da vida em constante movimento, e portanto desenvolveu certos “ter de” e “não dever”. Uma vida completa e rica, com o que quero dizer uma vida extremamente inteligente, não uma existência auto-protectora, defensiva, exige que a mente esteja livre de tabus, de medos e superstições, sem os “dever” ou os “não dever”, e isto só pode existir quando a mente compreender integralmente o significado da causa do medo.

Para a maioria das pessoas há conflito, sofrimento e um ajustamento incessante no casamento; e para muitas o desejo de alcançar a verdade é apenas uma fuga a esta luta.

Pergunta: O senhor nega a religião, Deus e a imortalidade. Como é que a humanidade pode tornar-se mais perfeita, e portanto mais feliz, sem acreditar nestas coisas fundamentais?

Krishnamurti: Porque para vocês é apenas uma crença em Deus, na imortalidade, porque simplesmente acreditam nestas coisas, é que há tanta miséria, sofrimento e exploração. Só podem descobrir se existe a verdade, a imortalidade, na plenitude da própria acção, não através de uma qualquer crença, não através da asserção autoritária de outro. A realidade oculta-se na plenitude da própria acção.

Ora para a maioria das pessoas, a religião, Deus e a imortalidade são simples meios de fuga. A religião apenas ajudou o homem a fugir do conflito, do sofrimento da vida, e por isso da sua compreensão. Quando estão em conflito com a vida, com os seus problemas de sexo, exploração, ciúme, crueldade, etc., como fundamentalmente não desejam compreendê-los – porque compreender exige acção, acção inteligente – e como não estão dispostos a fazer um esforço, inconscientemente tentam fugir para aqueles ideais, valores, crenças que lhes foram passados. Assim a imortalidade, Deus e a religião tornaram-se simplesmente refúgios para uma mente que está em conflito.

Para mim, tanto o crente como o descrente em Deus e na imortalidade estão errados, porque a mente não pode abranger a realidade até que esteja completamente livre de ilusões. Só então podem afirmar, não acreditar ou negar, a realidade de Deus e da imortalidade. Quando a mente está totalmente livre dos impedimentos e das limitações criadas através da auto-protecção, quando está aberta, integralmente nua, vulnerável na compreensão da causa da ilusão auto-gerada, só então todas as crenças desaparecem, cedendo espaço à realidade.

Pergunta: É contra a instituição da família?

Krishnamurti: Sou, se a família for o centro de exploração, se estiver baseada na exploração. (Aplauso) Por favor, o que adianta simplesmente concordarem comigo? Têm que agir para alterar isto. Este desejo de perpetuação cria a família que se torna o centro de exploração. Portanto a pergunta é na realidade, pode-se alguma vez viver sem explorar? Não se a vida familiar está certa ou errada, não se ter filhos está certo ou errado, mas se a família, as posses, o poder, não são o resultado do desejo de segurança, de auto-perpetuação. Enquanto existir este desejo, a família torna-se o centro de exploração. Podemos alguma vez viver sem exploração? Eu digo que podemos. Tem que existir exploração enquanto houver esta luta pela auto-protecção; enquanto a mente procurar segurança, conforto, através da família, da religião, da autoridade ou da tradição, tem que existir exploração. E a exploração só cessa quando a mente discernir a falsidade da segurança e já não estiver enredada pelo seu próprio poder de criar ilusões. Se experimentarem com o que digo, compreenderão então que não estou a destruir o desejo, mas que podem viver neste mundo de uma maneira rica e sensata, uma vida sem limitações, sem sofrimento. Só podem descobrir isto experimentando, não negando, não através da resignação nem simplesmente imitando. Onde funciona a inteligência – e a inteligência cessa de funcionar quando há medo e o desejo de segurança – não pode haver exploração.

A maior parte das pessoas está à espera que ocorra uma mudança que milagrosamente alterará este sistema de exploração. Estão à espera que as revoluções realizem as suas esperanças, as suas ânsias não satisfeitas; mas nessa espera estão a morrer lentamente. Porque eu penso que as meras revoluções não mudam os desejos fundamentais do homem. Mas se o indivíduo começar a agir com inteligência, sem compulsão, independentemente das condições presentes ou do que as revoluções prometem no futuro, então há uma riqueza, uma plenitude, cujo êxtase não pode ser destruído.


O que é a Acção Correcta?
São Paulo, 24 de Abril de 1935

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

MENSAGEM DE NATAL

Comentário(s)


No silêncio da Noite Santa, escuta-me. Põe de lado todo o saber e tuas recordações; põe-te de parte e esquece tudo. Abandona-te à minha voz; inerte, vazio, no nada; no mais completo silêncio do espaço e do tempo. Neste vazio, ouve minha voz que te diz - ergue-te e fala: Sou eu.

Exulta pela minha presença: grande bem ela é para ti; grande prêmio que duramente mereceste. É aquele sinal que tanto invocaste deste mundo maior em que vivo e em que tu creste. Não perguntes meu nome; não procures individuar-me. Não poderias; ninguém o poderia. Não tentes uma inútil hipótese. Sabes que sou sempre o mesmo.

Minha voz, que para teus ouvidos é terna, como é amiga para todos os pequeninos que sofrem na sombra, sabe também ser vibrante e tonante, como jamais a sentiste. Não te preocupes; escreve. Minha palavra dirige-se às profundezas da consciência e toca, no mais íntimo, a alma de quem a escuta. Será somente ouvida por quem se tornou capaz de ouvi-la. Para os outros, perder-se-á no vozear imenso da vida. Não importa, porém: ela deve ser dita.

Falo hoje a todos os justos da Terra e os chamo de todas as partes do mundo, a fim de unificarem suas aspirações e preces numa oblata que se eleve ao Céu. Que nenhuma barreira de religião, de nacionalidade ou de raça os divida, porque não está longe o dia em que somente uma será a divisão entre os homens: justos e injustos.

A divisão está no íntimo da consciência e não no vosso aspecto exterior, visível. Todos os que sinceramente querem compreender o compreendem. Cada um, intimamente, se conhece, sem que o próprio vizinho possa percebê-lo.

Minha palavra é universal, mas também é um apelo íntimo, pessoal, a cada um. Muitos a reconhecerão.

Uma grande transformação se aproxima para a vida do mundo. Minha voz é singular; porém, outras se elevarão, muito em breve, sempre mais fortes, fixando-se em todas as partes do mundo, para que o conselho a ninguém falte.

Não temas; escreve e olha. Contempla a trajetória dos acontecimentos humanos: ela se estende pelo futuro. Quem não está preso nas vossas férreas jaulas de espaço e tempo, vê, naturalmente, o futuro. Isso que te exponho à vista, é também coerente segundo vossa lógica humana e, portanto, vos é compreensível.

Os povos, tanto quanto os indivíduos, têm uma responsabilidade nas transformações históricas, que seguem um curso lógico; existe um encadeamento de causas históricas que, se são livres nas premissas, são necessárias nas conseqüências.

A lei da justiça, aspecto do equilíbrio universal, sob cujo governo tudo se realiza, inclusive em vosso mundo, quer que o equilíbrio seja restaurado e que as culpas e os erros sejam corrigidos pela dor. O que chamais de mal, de injustiça, é a natural e justa reação que neutraliza os efeitos de vossos atos. Tudo é desejado, tudo é merecido, embora não estejais preparados para recordar o "como" e o "quando". De dor está cheio o vosso mundo, porque é um mundo selvagem: lugar de sofrimento e de provas. Mas, não temais a dor, que é a única coisa verdadeiramente grande que possuís. É o instrumento que tendes para a conquista de vossa redenção e de vossa libertação. Bem-aventurados os que sofrem, Cristo vos disse.

O progresso científico, principal fruto de vossa época, ainda avançará no campo material. Está, entretanto, acumulando energias, riquezas, instrumentos para uma nova e grande explosão. Imaginai a que ponto chegará o progresso mecânico, ampliando-se ainda mais, se tanto já conseguiu em poucos anos! Não mais existirão, na verdade, distâncias: os diferentes povos de tal modo se comunicarão que haverá uma sociedade única.

A mente humana, porém, troca de direção de quando em quando, vive ciclos, períodos, e, nessas várias fases, deve defrontar diferentes problemas. O futuro contém não só continuações, mas transformações: conseqüências de um processo natural de saturação. O vosso progresso científico tende a tornar-se e tornar-se-á tão hipertrófico — porque não contrabalançado por um paralelo progresso moral —, que o equilíbrio não poderá ser mantido nos acontecimentos históricos. Tem crescido e, sem precedentes na história, crescerá cada vez mais o domínio humano sobre as forças da natureza. Um imenso poder terá o homem, mas ele para isso não está preparado moralmente, porque a vossa psicologia infelizmente é, em substância, a mesma da tenebrosa Idade Média. É um poder demasiadamente grande e novo para vossas mãos inexperientes.

O homem será dominado por uma tão alargada sensação de orgulho e de força, que se trairá. A desproporção entre o vosso poder e a altura ética de vossa vida far-se-á cada dia mais acentuada, porque cada dia que passa é irresistivelmente para vós, que vos lançastes nessa direção, um dia de progresso material.

As idéias são lançadas no tempo com massa que lhes é própria, como os bólidos no espaço. Eu percebo um aumentar de tensão, lento porém constante, que preludia o inevitável explodir do raio. Essa explosão é a última conseqüência, mesmo de acordo com a vossa lógica, de todo o movimento. Desproporção e desequilíbrio não podem durar; a Lei quer que se resolvam num novo equilíbrio. Assim como a última molécula de gelo faz desmoronar o iceberg gigantesco, assim também de uma centelha qualquer surgirá o incêndio. Antigamente os cataclismos históricos, por viverem isolados os povos, podiam manter-se circunscritos; agora não. Muitos que estão nascendo, vê-lo-ão.

A destruição, porém, é necessária. Haverá destruição somente do que é forma, incrustação, cristalização de tudo o que deve desaparecer, para que permaneça apenas a idéia que sintetiza o valor das coisas. Um grande batismo de dor é necessário, a fim de que a humanidade recupere o equilíbrio livremente violado: grande mal, condição de um bem maior.

Depois disso a humanidade, purificada, mais leve, mais selecionada por haver perdido seus piores elementos, reunir-se-á em torno dos desconhecidos que hoje sofrem e semeiam em silêncio, retomando, renovada, o caminho da ascensão. Uma nova era começará; o espírito terá o domínio e não mais a matéria, que será reduzida ao cativeiro. Então, aprendereis a ver-nos e a escutar-nos; desceremos em multidão e conhecereis a Verdade.

Basta por agora; vai e repousa. Voltarei; porém recorda que minha palavra é feita de bondade e somente um objetivo de bondade pode atrair-me. Onde existir apenas a curiosidade, desejo de emoção, leviandade ou ainda céptica pesquisa científica, aí não estarei. Somente a bondade, o amor, a dor, me atraem.

Eu presido ao progresso espiritual do vosso planeta e para o progresso espiritual um ato de bondade tem mais valor que uma descoberta científica. Não invoqueis a prova do prodígio, quando podeis possuir a da razão e da fé. É vossa baixeza que vos leva a admirar como sinal de verdade e poder, a exceção que viola a ordem divina. Se isso pode assombrar-vos e convencer-vos, a vós, anarquistas e rebeldes, para nós, no Alto, ela constitui a mais estridente e ofensiva dissonância; é a mais repugnante violação da ordem suprema em que repousamos e em cuja harmonia vibramos, felizes. Não procureis semelhante prova; reconhecei- a, antes, na qualidade da minha palavra.

A todos digo: Paz! 

Por Pietro Ubaldi


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Natal de 1931 

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Divaldo Franco e A Grande Síntese

Comentário(s)

Por Eronildo



Em certa ocasião, por intermédio de uma amiga, perguntei a opinião de Divaldo Franco sobre a obra "A Grande Síntese".  A resposta obtida veio do seguinte diálogo: 

Daniela: Divaldo, tenho um amigo que gostaria de saber sua opinião sobre o Livro A Grande Síntese, de Pietro Ubaldi.

Divaldo Franco: No momento, aqui não dá... Você sabe me dizer se a obra que ele tem é prefaciada pelo Emmanuel? 

Daniela: Não, não sei...

Divaldo Franco: Peça para que ele leia o prefácio de Emmanuel sobre a obra". 

A mensagem de Emmanuel na íntegra, é esta: 

"Quando todos os valores da civilização do Ocidente desfalecem numa decadência dolorosa, é justo que saudemos uma luz como esta, que se desprende da grande voz silenciosa de A Grande Síntese. 

Na mesma Itália, que vulgarizou o sacerdócio romano, eliminando as mais belas florações do sentimento cristão no mundo, em virtude do mecanismo convencional da igreja católica, aparelhos existem da grande verdade, restaurando o messianismo, no caminho sublime das revelações grandiosas da fé. 

A palavra de Cristo projeta nesta hora as suas irradiações enérgicas e suaves, movimentando todo um exercito poderoso de mensageiros seus, dentro da oficina da evolução universal. O momento é psicológico. As nossas afirmativas abstraem do tempo e do espaço, em contraposição às vossas inquietudes; mas, o século que passa deve assinalar-se por maravilhosas renovações da vida terrestre. 

As contribuições exigidas serão bem pesadas. Todavia, uma alvorada radiosa sucederá às .angústias deste crepúsculo. 

Aqui fala a "Sua Voz" divina e doce, austera e compassiva. No aparelhamento destas teses, que, muitas vezes transcendem o idealismo contemporâneo, há o reflexo soberano da sua magnanimidade, da sua misericórdia e da sua sabedoria. Todos os departamentos da atividade humana são lembrados na sua exposição de inconcebível maravilha! 

É que, sendo de origem humana a razão, a intuição e de origem divina, preludiando todas as realizações da humanidade. A grande lição desta obra é que o Senhor não despreza o vosso racionalismo científico, não obstante a roupagem enganadora do seu negativismo Impenitente. 

Na sua misericordiosa sabedoria, Ele aproveita todos os vossos esforços, ainda os mais inferiores e misérrimos. Toma-vos de encontro ao seu coração augusto e compassivo, unge-vos com o Seu amor sem limites, renovando os Seus ensinamentos do Mar da Galiléia. 

Vede, pois, que todos os vossos progressos e todos os vossos surtos evolutivos estão previstos no Evangelho. Todas as vossas ciências e valores, no quadro das civilizações passadas e no mecanismo das que hão de vir, estão consubstanciados na sua palavra divina e redentora. 

A Grande Síntese é o Evangelho da Ciência, renovando todas as capacidades da religião e da filosofia, reunindo-as à revelação espiritual e restaurando o messianismo do Cristo, todos os institutos da evolução terrestre. 

Curvemo-nos diante da misericórdia do Mestre e agradeçamos de coração genuflexo a sua bondade. Acerquemo-nos deste altar da esperança e da sabedoria, onde a ciência e a fé se irmanam para Deus. 

E, enquanto o mundo velho se prepara para as grandes provações coletivas, meditemos no campo infinito das revelações da Providência Divina, colocando acima de todas as preocupações transitórias, as glórias sublimes e imperecíveis do Espírito Imortal. 

Emmanuel 


Para mim ficou claro o ponto de vista de Divaldo Franco. É o mesmo de Emmanuel.

Que cada um julgue por si mesmo o valor da obra e a "fonte inspiradora" de Pedro. 

sábado, 20 de dezembro de 2014

A NINFA OCULTA NO BLOCO DE MÁRMORE

Comentário(s)

Sócrates é, geralmente, conhecido como um grande filósofo, mestre do divo Platão- mas poucos sabem que ele era também um exímio escultor. 

Um dia recebeu Sócrates um pedido do prefeito de Atenas para esculpir a estátua de uma ninfa a ser colocada num bosque ao pé de uma fonte. 

O filósofo aceitou a encomenda. Sem tardança, mandou vir o bloco de mármore branco, de Paros, e pôs mãos à obra. 

Depois de mentalizar intensamente a efígie da ninfa, empunhou o martelo e foi desbastando o bloco de mármore. Grandes lascas voaram para direita e para a esquerda da oficina. 

Depois deste trabalho rústico, o escultor pôs de parte o martelo e outros instrumentos pesados, e começou a trabalhar com ferramentas mais delicadas , como o cinzel, e, por fim, serviu se dum finíssimo esmeril para dar acabamento à estátua. 

Finalmente, estava na oficina do escultor uma efígie de imaculada alvura, uma figura de jovem esbelta, como os antigos imaginavam as divindades dos bosques e das águas. Tão leve era o aspecto que parecia flutuar livremente no ar; parecia antes uma entidade astral do que uma estátua material. 

Por quê? 

Porque ele não aceitava ter esculpido a ninfa; ela já estava oculta naquele bloco de mármore, desde o início, e muito antes de ser visível. Eu, dizia Sócrates, já via a ninfa no dia em que fui buscar o bloco de mármore; apenas retirei dele o que a ocultava aos olhos dos que não a podiam ver antes disso; nada acrescentei, apenas retirei o que a encobria. 

Sócrates dizia uma grande verdade. Ele era um grande intuitivo. Viu o que os outros não viam. No ser humano via ele muito mais do que o corpo material- via a alma imaterial. Mas como nem todos podem ver o invisível, é necessário que alguém desbaste o bloco bruto e amorfo, para que apareça a ninfa que nele está oculta. 

Muitas vezes é a dor esse escultor carinhosamente cruel. Parece odiar o bloco bruto, de tanto amor que lhe tem. E, se o bloco humano não se defende contra as marteladas do sofrimento, a ninfa divina da sua alma pode manifestar se. 

Mas, se o homem passa a vida em brancas nuvens, como diz o poeta, nada acontecerá. 


"Quem pela vida passou em brancas nuvens. 
Em plácido dorcel adormeceu 
Quem pela vida passou e não sofreu. 
Não foi homem, foi projeto de homem. 
Que passou pela vida e não viveu!" 

Francisco Octaviano 


O mundo está repleto desses projetos de homens, assim como uma jazida de mármore está repleta de projetos de ninfa. 

O projeto de homem só conhece gozo- e nada sabe da felicidade. E passa a vida toda em brancas nuvens, trocando gozos por felicidade. E, quando alguém procura mostrar lhe o que é felicidade, o projeto de homem gozador diz que a felicidade é utopia e misticismo de sonhadores que não conhecem a vida. 

Para tirar de um bloco bruto uma efígie de beleza, deve o escultor acima de tudo, ter a intuição daquilo que ainda não existe materialmente; deve poder ver para além dos véus da matéria: deve poder conceber de dar luz à sua ninfa, mesmo por entre as dores de uma longa gestação. 

Toda felicidade passa pelo sofrimento prévio. Toda alvorada é a luz que segue às trevas da noite. 


Por Huberto Rohden

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

MANTÉM CONTATO COM A NATUREZA

Comentário(s)

É fato histórico que todos os homens realmente espiritualizados e profundamente felizes eram e são dedicados amigos da natureza... Refere o livro do Gênesis que Deus pôs o homem no meio de um jardim maravilhoso, uma espécie de pomar chamado Éden, para que cultivasse e se alimentasse de seus frutos. Só depois que o homem cometeu o primeiro homicídio é que ele abandonou a Natureza de Deus e preferiu a cidade dos homens. O homem espiritualizado, porém, continua amigo do Éden de Deus...

O homem primitivo, meramente sensorial, é escravo da Natureza.

O homem intelectualizado é escravocata e explorador da Natureza.

O homem espiritual é amigo e aliado da Natureza; compreende a Natureza, e a Natureza o compreende.

A nossa civilização moderna fez com que o homem se divorciasse, total ou parcialmente, da Natureza, fazendo o viver num ambiente artificial, desnatural, antinatural, não menos prejudicial ao corpo do que à alma...

O que leva muitos homens a abandonarem os campos e se aglomerarem nas cidades não é só a necessidade de cultura nem mesmo o desejo de lucros fáceis e rápidos,mas sim, e sobretudo, o horror à solidão. A solidão externa aterra o homem que não possui plenitude interna. Esse homem, interiormente vazio, tenta fugit de si mesmo e encher com barulhos externos a sua vacuidade interna...

...O homem moderno nunca voltará aos tempos do homem pré histórico, ou dos silvícolas de nossas florestas. A verdadeira natureza do homem é espiritual, divina. O verdadeiro regresso à Natureza é, pois, um "ingresso", uma entrada do homem para o seu próprio interior, espiritual, eterno, divino...

Só quando o homem atinge a sua verdadeira natureza espiritual é que ele se torna plenamente natural- e só então começa ele a compreender a alma da Natureza ao redor dele. Os nossos poetas e romancistas, não raro, celebram os encantos da natureza; mas a maior parte deles só conhece o corpo da Natureza, ignorando-lhe a alma.

Só o homem que encontrou dentro de si a natureza da alma é que pode compreender a alma da Natureza fora de si mesmo. Para, de fato, compreender a Natureza de Deus deve o homem compreender o Deus da Natureza.

Hoje em dia, milhares de pessoas das grandes cidades passam os domingos e feriados em seus sítios. Infelizmente, muitos desses "sitiantes" são verdadeiros "sitiados", porque vivem em voluntário "estado de sítio". O fato de não terem encontrado a sua natureza interior não os deixa viver na simbiose com a alma da natureza exterior.

Fugiram da poluição material da cidade, mas carregam consigo e transferem para o campo e para o mato a sua poluição mental e espiritual... O verdadeiro sitiante vai dormir cedo e acorda cedo, com o sol ou antes dele. Planta árvores frutíferas para si e sua família e para os passarinhos.

Não mata passarinhos nem os aprisiona em gaiolas. Convive com a alma de todos os seres vivos.

Huberto Rohden
O caminho da felicidade, páginas 99 a 101 - Segunda Edição-2005, Editora Martin Claret

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

FERNÃO CAPELO GAIVOTA - O FILME

Comentário(s)

Por Eronildo


Um filme simplesmente fantástico. Aprendizagem, superação e liberdade, é a temática do enredo.

O filme conta a história de Fernão Capelo , uma gaivota fora de série que ama voar, e que não aceita sua condição de mero espectador da vida. Sua luta vai do degredo imposto pelo grupo até a sublimação no amor pelo voo. Vale muito a pena conferir. 

O mais legal de ter encontrado esta relíquia, é que nessa versão, disponibilizada há a legenda na hora da Música "Be" 
00:7:15 e que não tem nessa versão nova do filme (na versão antiga de 1973 tem).

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

SOFREDORES PROFANOS E INICIADOS

Comentário(s)


O problema não é sofrer ou não sofrer- o problema está em saber sofrer ou não saber sofrer.

Nenhum homem profano sabe sofrer decentemente- mas todo o iniciado pode sofrer serenamente, e até jubilosamente.

Que se entende por profano e iniciado?

Profano é todo aquele que está pró(diante) do fanum(santuário); é todo o exotérico que contempla o santuário do homem pelo lado de fora, e nunca entrou no seu interior... Iniciado é aquele que realizou o seu inire, o seu ir para dentro, a sua entrada no santuário de si mesmo; esse é um esotérico, um iniciado.

O profano é ignorante- o iniciado um sapiente de sua realidade...

Dificilmente, poderá o sofredor modificar as circunstâncias externas de sua vida que estão além do seu alcance, e por isto não pode abolir ou suavizar a sua dor.

O que o sofredor pode modificar é somente a substância interna de si mesmo, a atitude do seu Eu central, a sua consciência- e com esta nova perspectiva de dentro, o fenômeno externo do sofrimento adquire um aspecto totalmente diferente. Se o sofrimento não pode ser amável, pode ser pelo menos tolerável.

Todo o sofrimento, repetimos, é tolerável, quando o homem pode tolerar a si mesmo.

A amargura máxima do sofrimento não está no fenômeno externo dele, mas na atitude interna do sofredor. E essa correta atitude interna supõe autoconhecimento. Quando o sofredor sabe que não é o seu Eu divino,mas apenas o seu ego humano que sofre, então pode ele sofrer serenamente, e mesmo sabiamente-talvez até jubilosamente, por saber que ele está construindo a "única coisa necessária que nunca lhe será tirada."

A maior acerbidade do sofrimento ,como dizíamos, está na sua absurdidade, no seu aspecto paradoxal, no seu caráter antivital e antiexistencial-mas esse aspecto não vem do sofrimento em si, mas unicamente  da falsa perspectiva do sofredor. O sofrimento do sofredor profano é necessariamente absurdo, paradoxal, antivital, antiexistencial, e é capaz  de levar o sofredor à revolta, à frustração, ao suicídio, ou ao inferno em plena vida.

É pois de suprema  sabedoria que o homem mude de perspectiva e atitude- e isto, não quando vítima de uma tragédia, mas em tempos de paz e bonança. Dificilmente, o sofredor alcançará  essa serenidade durante o sofrimento, se antes dele, não a tiver alcançado... O homem deve vacinar, imunizar todo o seu ser com o soro da verdade sobre si mesmo, para que, na hora da tragédia, não sucumba ao impacto das bactérias mortíferas da revolta e do desespero.

... Quem enxerga o porquê da sua existência terrestre apenas nos gozos, já está  em vésperas de frustração. Quem confunde os objetivos da vida- fortuna, prazeres, divertimentos- com a razão-de-ser da sua existência- autoconhecimento e autorealização- é um profano, um exotérico, e não pode encontrar conforto na hora do sofrimento.

É suprema sabedoria iniciar-se na verdade do ser humano desde o princípio. Todos os objetivos da vida têm de ser integrados totalmente na razão-de-ser da existência.

 Huberto Rohden

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Do Livro: Porque sofremos, páginas 32 a 34, Editora Martin Claret, 2006

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

AUTOCONHECIMENTO. FORMAR-SE, REFORMAR-SE E TRANSFORMAR-SE

Comentário(s)

Por Eronildo

As verdades universais não vêm para
 formar o homem nem para reformá-lo, mas para transformá-lo. Não vem para moldá-lo, mas para transmutá-lo.

Formar-se é adquirir conhecimentos. É ter informações de ordem quantitativa. Reformar-se é mudança de comportamento. É mudar um comportamento vicioso por um outro  virtuoso de verniz social, ambos ainda no campo  do ter, das aparências. Ter informações, vícios ou virtudes. Os ensinos universais vêm para transformar o ser humano.

Transformar-se é modificar-se de um estado de espírito para outro. É mudar de estado enganoso das aparências para estado verdadeiro na essência. É mudar dos atos cerimoniosos para uma firme atitude espiritual interna. Para isso é preciso dar o salto qualitativo da virtude teatral,  sacrificiosa e estética para uma conduta natural,  jubilosa e ética.

E isso é possível, dizem os mestres, com o autoconhecimento. Estou na busca. Como Paulo de Tarso, "não tenho a pretensão de ter atingido o alvo, mas vou à conquista pra ver se o atinjo".

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

MEDITAÇÃO. MORRER PARA VIVER

Comentário(s)

Por Aloísio Wagner

O homem é um ser que perdeu a consciência de si, de sua verdadeira natureza. Esse estado o colocou na ignorância e o conduziu a erros, e estes, conseqüentemente, ao sofrimento. Os que se libertaram do estado de ignorância sempre surgiram na história humana para nos oferecer recursos, ensinamentos e técnicas de desenvolvimento espiritual. Verdadeiras ferramentas despertativas da essência divina dentro do homem.

Cerrar os olhos por alguns minutos ou horas (dependendo do indivíduo), é perscrutar e conhecer seu mundo interior. É observar o fluxo dos pensamentos e conhecer seus conteúdos, tornando-o consciente do que se passa dentro de si. E só quando vemos mais claramente o que se passa dentro de nós, é que podemos fazer algum movimento em sentido corretivo. Só quando percebemos as nossas falhas morais é que podemos dar o primeiro passo para a superação e a transcendência desta falha.

Cerrar os olhos é “fechar-se” por tempo indeterminado aos chamados do mundo, com suas idéias, seus gostos, seus desejos, sua moral, seus julgamentos, seus valores... É desejar entender e compreender a mente, os sentimentos, a alma, a vida! É questionar internamente o sentido das coisas, e não só seguir os passos mecânicos de uma humanidade inconsciente e sofredora. É se perguntar internamente: “Quem sou eu?” “O que estou fazendo aqui?” “De onde vim e para onde vou?” “O que devo fazer?” 

Cerrar os olhos é saber silenciar também nossos desejos, medos, anseios, ambições, carências... É serenar nossos pensamentos e objetivos pessoais e materiais. É apaziguar nossas paixões pelo mundo e projetar nossas atenções para o reino do espírito, que vibra dentro de nós oferecendo sua luz, sua força, sua sabedoria, seu amor! Esta luz é a própria presença do Absoluto, do Supremo, do Infinito, que aguarda nossa iniciativa e nosso esforço de encontrá-Lo. Abramo-nos, concentremo-nos e aspiremos perseverantemente esta Fonte Divina, que é o Pai, afirmando mentalmente e com o coração ardente:

“Senhor, que eu O conheça, que eu O sinta, e que eu o viva conforme Tuas leis e Tua vontade!” 

“Pai, eu te amo!”

Se a busca da Verdade exige-nos uma vontade determinante e um esforço disciplinado mental, também esta busca tem sua outra face,em que  o coração se abre numa atitude de receptividade e entrega infinita ao Alto, ao Centro Dinâmico-Doador, que é Deus! Mas a recepção de Tua Verdade e de Tua Graça, em níveis mais elevados, exige que tenhamos um coração puro, vazio de nós, de nossos interesses próprios, e uma entrega por completo a Ele! E esta entrega é uma morte, morte do ego, morte de uma percepção limitada, para nascer em outras esferas, onde nela permeia e prevalece o princípio da unidade e do amor! 

Meditemos!

domingo, 30 de novembro de 2014

NUMA CASINHA HUMILDE À BEIRA DO MAR

Comentário(s)

Encontro-me em plena solidão, numa praia deserta. O mundo, as suas imagens e as suas coisas, tudo está longínquo. Nem o eco dos seus rumores, problemas e paixões atinge este imenso silêncio. Como o céu, a planície e o mar são infinitos, também aqui os pensamentos se tornam sem limites. Neste lugar tudo é tão simples e grandioso que parece ter acabado de sair das mãos de Deus. A laboriosa cisão do dualismo, a luta entre contrários, de que é feita a vida, procuram aqui pacificar-se para se desvanecerem na unificação suprema de todas as coisas em Deus. 

Aqui existo fora dos confins do espaço e do tempo, porque, no céu, na planície, no mar, não há pontos de referência, e os dias correm iguais, sem medida. Sinto-me fora das dimensões terrestres. Não adianta caminhar, porque o deserto é sempre igual, sob o mesmo céu, em frente do mesmo mar. O movimento tem relação com o limite. No espaço e tempo infinitos, a velocidade nada modifica, anulando-se no vazio. Por falta de um ponto de referência, não havendo ponto de partida ou de chegada, toda velocidade é inútil. Mesmo o correr do tempo nada muda, porque espaço e tempo não faltam. Acima de todos esses infinitos — do céu, do deserto, do mar, do tempo — o de Deus o contempla, imóvel, ao se fundirem Nele. 

Esta é uma atmosfera diferente que respiro, outro ambiente em que penetro, outra dimensão em que existo. Superei os limites do plano físico, a barreira da forma, das ilusões, das aparências. Sou apenas um pensamento que observa aquele que se encontra em tudo o que existe. Uma força me arrastou para fora das dimensões terrestres, na vibrante imutabilidade do absoluto. 

Vivo em uma casinha humilde onde a vida, tormentosamente complicada pela civilização das metrópoles, se tornou simples e calma. Assim, o espírito se liberta de tantas necessidades materiais artificiosas e pode viver a sua vida maior em contato com as coisas eternas. Surpreende sentir o pouco de que necessitamos. E que particular sabor tudo adquire quando representa o produto da bondade, da sinceridade e do amor! Então, a pobreza se torna riqueza, enquanto a avareza e o egoísmo transformam a riqueza em pobreza. No meio da pobreza dessa riqueza o espírito se atrofia, se envenena e morre. É no meio da riqueza daquela pobreza que o espírito se expande, vive e triunfa. Pela lei da compensação, para alcançar e possuir o que se encontra mais no alto, é necessário libertar-se do que está em baixo. É no meio da riqueza espiritual dessa pobreza material que agora vivo como um grande senhor. 

É neste vazio das coisas terrenas que atinjo a plenitude das coisas do céu.

Quanto mais me afasto do que é humano, tanto mais me avizinho das coisas divinas. Delas se enche esta imensidade deserta, para que se abram as portas do céu e apareçam as grandes visões. Elas constituem já uma aproximação, um antecipar-se da libertação, tentativa e ensaio de uma vida maior que me espera. Nesta paz infinita se vai formando pouco a pouco a grande corrente que se agiganta e se torna poderosa; toma-me, absorve-me em seu seio, depois me envolve como num turbilhão e me arrasta consigo para longe. Para onde? Não sei. Leva-me para outro plano de existência, onde já não sou eu que penso, mas o universo. E a sua vida que pensa dentro de mim, porque não existo mais como eu separado, que vive e pensa isoladamente, mas sou um eu unido ao todo, um elemento que vive e pensa como um momento da vida e do pensamento do existir universal. Encontramo-nos, então, verdadeiramente fora do mundo, para além dos seus limites e das suas dimensões. 

É uma imersão, fora do espaço e do tempo, no infinito. Não tenho mais consciência do que deixei para trás. Sinto apenas o que me espera na frente, uma vertigem de vida nova e imensa para a qual me precipito. Eis-me ressuscitado mais no alto, transformado em outro ser, perdido numa dilatação sem limites, na vibrante imobilidade do absoluto.

Eis que a solidão deste deserto, do céu e do mar se enchem de vida. Na noite profunda vejo uma luz imensa e a ela me entrego. Leva-me para fora do mundo, onde a visão se torna real, clara, perceptível com novos sentidos. Contemplo-a extasiado. Observo-me para controlar tudo com a razão. Olho e registro em pensamento, transporto tudo o que vejo para o meu cérebro, para as dimensões terrestres, traduzo-o na linguagem humana e por fim o fixo com palavras nos escritos. 

Assim vivo nesta casinha humilde à beira do mar, num deserto povoado de pensamentos, no meio do vento e das ondas, hospedado graças à bondade e amor de um amigo sincero. Assim vivo aqui, livre e despreocupado, longe do inferno humano. Passo as noites escrevendo, ocupando-me de Cristo, como O sinto a meu lado. Ele me está olhando, e eu leio nos Seus olhos o pensamento de Deus. 

Quando não me é mais possível encontrar palavras para dizer o que sinto, dominado pela emoção e pela alegria, deixo cair a pena e choro. Para o meu trabalho, e, sob o olhar de Cristo, o livro continua a escrever-se, sem palavras, na minha alma e no meu destino.

(Capítulo do livro “Um Destino Seguindo a Cristo”)

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

JESUS E VIDA. O SERMÃO DA MONTANHA

Comentário(s)

Por Eronildo

Uma das melhores palestras de Divaldo  que já vi. Está em duas partes (mais de uma hora cada); o tema é: JESUS E VIDA. ESTUDO DO SERMÃO DA MONTANHA.

Nos primeiros minutos da segunda parte me emocionei quando o vi  falando (01:11:29H) do 'admirável professor Huberto Rohden, o grande místico brasileiro'! (sic). Penso que nesta, o Divaldo estava com o livro O Sermão da Montanha, de Rohden, e toda a palestra foi pautada a partir dele, com toda a gama de conhecimentos do Divaldo, evidentemente. Logo na primeira parte, Divaldo Franco fala da  "situação conflitiva de Ter e Ser". Na medica que transcorria
 a explanação pensava, antes de ouvir toda a palestra : O Divaldo está com o livro do Rohden nas mãos, não é possível! E realmente indica que estava, a palestra segue a sequência do índice do livro do professor Rohden. Vale muito a pena conferir!!!

"O Ser e o Ter continuam em situações conflitivas. É mais importante Ser que Ter. Ser bom. Ser nobre. Do que Ter coisas. Ser paz, não apenas Ter, Ser! Porque quando se É, nada modifica.  E quando se tem normalmente se perde, já que no mundo físico tudo é transitório, inclusive o mundo físico." (Divaldo Franco - 00:7:14H )

sábado, 15 de novembro de 2014

A CARIDADE DA PUREZA

Comentário(s)

Locução: Eronildo Aguiar
Livro: De Alma Para Alma


sexta-feira, 14 de novembro de 2014

ROHDEN, OS TEÓLOGOS E O ESPIRITISMO

Comentário(s)

(O fenômeno humano e a educação, principais focos das reflexões de Huberto Rohden)

Por Dalmo Duque dos Santos 


O professor Huberto Rohden é conhecido de longa data dos espíritas e espiritualistas por seus textos lúcidos e admiráveis sobre a filosofia cristã. Reflexo das suas experiências no clero – Rohden era padre jesuíta – e também das inúmeras incursões nas escolas iniciáticas orientais, seu pensamento naturalmente se desdobra para a educação, campo que foi para ele o mais significativo, já que seu objetivo maior era a transposição dessas idéias para a práxis. “Ninguém educa ninguém, pois a educação é intransitiva e o ser humano é imprevisível”, repete Rohden em diversos ensaios.

Comentando a Parábola do Semeador - espelho espiritual dos educadores e pedra angular do Livre Arbítrio - Rohden diz que Jesus conseguiu educar todos os seguidores que se abriram para as novas experiências, transformando discípulos em apóstolos. Sobre essse fenômeno pedagógico, ou melhor, andragógico, ele explica que Judas, o mais intelectual dos discípulos mais próximos, foi o único que não conseguiu ser educado. Mais interessado na política judaica nacionalista, não permitiu que isso ocorresse. Jesus logo percebeu essa sua “esterilidade espiritual” ou egocêntrica, deixando que o tempo mudasse sua natureza. Paulo de Tarso teve o mesmo problema. Ambos seriam "salvos" por suas mediunidades. Cada um no seu ritmo, cada um no seu tempo.

Numa determinada época da sua militância, Rohden teve que desligar-se da Igreja e, ainda sob a proteção de amigos jesuitas, estudou em diversos países europeus e ensinou em universidades americanas. Também viajou muito pelos cenários místicos da Ásia, que sabia ser a principal raíz histórica das concepções religiosas que hoje predominam no Ocidente. Se orgulhava muito de ter convivido com Albert Einstein durante sua estadia na Universidade de Princenton, não como motivo de vaidade, mas de espanto ao constatar no dia-a-dia a genialidade e o modo de vida simples e tranquilo do grande revolucionário da Física. Todas essas experiências seriam registradas em ensaios publicados inicialmente pela Editora Vozes, de orientação católica, e depois pela sua própria organização educacional, fundada em São Paulo na década de 1950. Além dessas publicações, a Fundação Alvorada oferecia regularmente cursos aos leitores interessados no aprofundamento das idéias e práticas “univérsicas”, um interessante conjunto de conhecimentos unindo a tradição espiritual e a modernidade científica contemporânea.

Sabe-se que o célebre filósofo catarinense teve grande influência do também padre jesuíta Pierre Teilhard Chardin que – como ele – extrapolou os limites da clericalidade conservadora para mergulhar nas novidades antropológicas da paleontologia. Chardin buscava Adão e Eva fora da teoria mitológica da Bíblia e também da simplificação zoológica evolucionista. Ambos naturalmente caíram na heresia e isso de certa forma os assemelhou aos pensadores espíritas. O mesmo ocorreu com Pietro Ubaldi, médium de sintonia fina raríssima e crítico da teologia das igrejas cristãs . Como todo bom jesuíta, Rohden queria entender o fenômeno humano e compreender, ou pelo menos se aproximar, da natureza que ele denominou “misteriosa”, tal qual a natureza do Criador. “O mistério, do grego mystés, é tudo que transcende a zona empírica dos sentidos e o mundo do intelecto”, afirma ele, ao comentar um dos versículo do apócrifo “Evangelho de Tomé”, encontrado no Egito em 1941.

Nos textos de Rohden não encontramos nada que se refere aberta e objetivamente à existência do espírito, como fenômeno científico observável, ser individual pensante e sobrevivente da morte, com propôs Kardec. Rohden também não fala em reencarnação, assunto que ele admitia não aceitar, por limitação ideológica. Sobre a pluralidade de mundos, afirmava que este era um assunto óbvio, pela própria natureza do universo. No entanto, quando discorre sobre os temas clássicos da mística filosófica judaico-cristã (que ele distingue do misticismo pagão) explica com habilidade impressionante os fenômenos psicológicos resultantes da revolução existencial humana durante as peripécias do Espírito na carne. 

Ná década de 1950, o professor foi um dos convidados históricos de Edgard Armond como conferencista de outras agremiações religiosas e filosóficas que se apresentaram na FEESP. Não via o Espiritismo como escola filosófica bem delineada e por isso não vislumbrava sua expressão como práxis social. Quando refletiu sobre isso, demonstrou uma grave preocupação com o futuro da doutrina, se referindo ao risco de sectarismo que já contaminava a juventude do nosso movimento. Para ele o Espiritismo cairia num gravíssimo erro se fosse transformado numa teologia, pois iria certamente se distanciar da verdadeira mensagem do Cristo. Seria o mesmo erro histórico dos católicos e protestantes ao elegerem a crença nos dogmas como ponto máximo da realização espiritual, abandonando o esforço individual. Trocaram os fins pelos meios. Numa conferência gravada em 1978, Rodhen diz em tom irônico: "Crer na caridade e na reencarnação não é condição essencial ou finalidade da nossa existência. Crer nos Santos , na Missa e no poder do Sangue de Jesus também não são finalidades e sim meios de realização espiritual".

Em “Novos Rumos para a Educação”, ele aponta o trabalho de Kardec como o mais aceitável elo histórico entre a modernidade e a antiguidade cristã, desde que não se enveredasse pelo fanatismo teológico-religioso e também pelo sectarismo partidário filosófico. Certa vez citamos uma interpretação sua de algumas parábolas de Jesus durante uma palestra num centro espírita. Alguém da platéia (e também do stablishment ) se sentiu ofendido e nos “lembrou” que as interpretações “espíritas” de Cairbar Schutel eram “muito melhores”, pois ele era um “verdadeiro espírita”. Naquela momento ficamos divididos entre a decepção e a tristeza e pudemos compreender exatamente o que Rohden quis dizer sobre os perigos do sectarismo. Sentimos vergonha do rótulo “espírita”. Se tivéssemos falado de Spinoza, Hegel, Heideger ou Kant, provavelmente ninguém teria coragem de reagir. Mas como falamos de algo simples e que repercutiu imediatamente na ferida emocional da platéia, logo veio o troco.

Aliás, é incrível como fazemos um tremendo esforço para inserir filósofos e educadores clássicos no universo espírita, como se isso fosse melhorar a aceitação do Espiritismo entre os intelectuais e principalmente entre os orgulhosos. Perda de tempo. O Espiritismo veio para confundir esse tipo de gente, segundo o Espírito Verdade. As religiões e partidos dogmáticos são fundados e perpetuados dessa forma. Seria mais útil se mostrássemos como essas filosofias são limitadas e pobres, pois não conseguem ultrapassar as barreiras enganosas do pensamento e da vaidade. É por isso que os teimosos nunca mudam de opinião. Somos escravos do pensamento e nos apegamos demasiadamente às idéias, bloqueando as possibilidades ilimitadas das emoções e dos sentimentos. Nessa questão os adultos deveriam agir como crianças e os homens se comportarem como as mulheres. É por isso também que parecemos tolos diante dos verdadeiros sábios, que olham para nós penalizados com tanta ingenuidade. Essa é a sensação que sempre temos ao ler os textos de Huberto Rohden.


Ps. Ainda hoje nos perguntamos: será que Rohden, após sua desencarnação, mudou de ponto de vista sobre a pluralidade das existências?

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

ANSEIO DO SILÊNCIO

Comentário(s)

Estou cansado de falar,
De falar com os homens,
De falar comigo mesmo
Estou cansado até de falar com Deus...
Todas as minhas perguntas,
Ruidosas,
Insistentes,
Sangrentas,
Esbarram sempre com muralhas de granito,
Resvalam sempre de paredes marmóreas,
Agonizam sempre, exaustas, sem resposta...
Por que todo esse falar?
Esse intérmino interrogar?
Esse estéril pesquisar?
Resolvi substituir o ruidoso falar
Pelo silencioso calar.
O ruído é dos homens,
O silêncio é de Deus.
Voltei as costas aos dias ensolarados
Da minha inteligência consciente,
E abismei-me na noite estrelada
De minha alma intuitiva,
Essa alma que não é minha,
Mas do universo de Deus.
E pus-me a escutar a melodia
Do magno silêncio
Que envolve a luminosa escuridão
Do grande Anônimo de mil nomes.
E, quando desci ao ínfimo nadir
Do meu silente Nirvana,
Atingi o supremo zênite
Do teu solene Himalaia,
Ó taciturna Divindade...

Fundiram-se então, em místico amplexo,
O meu silêncio do Aquém
E o teu silêncio do Além...
E eu compreendi o Incompreensível...
Conheci o Incognoscível...
Dei nome ao Inominável...
Disse o Indizível...
E do fundo dessa vacuidade do silêncio
Brotou a plenitude da sapiência...
Que me veio das grandes profundidades
E das excelsas altitudes...

Ai! como o velho ruído me falsificou!
Como me roubou a felicidade
Que devo a mim mesmo!...
Ah! como esse novo silêncio me purifica!
Como me restitui a fidelidade
A mim mesmo!...
Como me re-virgina
De todas as minhas prostituições!
Como me restitui a castidade
Do meu divino Eu!
Como me envolve e penetra
Com a sacralidade das fontes eternas!

Refugiei-me, dentro de mim mesmo,
À solene solidão das matas,
À vastidão dos desertos,
À pureza das montanhas
E cessou a tormentosa tensão dos nervos,
Adormeceu a insensatez da vida profana
E sinto sossego de mim mesmo...
Convalesci da enfermidade dos ruídos
Para a grande sanidade do silêncio...
Calei-me
E Deus me fala...

(Escalando o Himalaia - Huberto Rohden)


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