Que os homens falam de ti, ó Cristo!
E antes que no cenário histórico aparecesses,
Por dois milênios haviam os videntes
Vislumbrado o teu advento.
Todos falam de ti, ó Cristo
E ninguém te conhece, ó enigma dos enigmas!
Supremo Desconhecido do Universo!
Todos julgam conhecer-te
E todos ignoram a sua própria ignorância...
Muitos sabem o que disseste e fizeste
Ninguém sabe o que és...
Os eruditos analisam as tuas humanas horizontalidades
Mas não valem intuir a tua divina verticalidade.
De tanto falarem de ti,
Não têm tempo para calarem de ti...
O ruído estéril do intelecto
Asfixia o silêncio fecundo do espírito.
A prostituição mental e verbal
Profana a virgindade da alma espiritual,
Dessa alma que só pode conceber o Verbo
Na sacralidade de um vasto silêncio.
E por isto querem os homens substituir o teu Evangelho
Por numerosas legiões de “ismos”,
Eruditamente engendrados,
Deslumbrantemente elaborados,
Ruidosamente proclamados.
Eu, porém, meu eterno Cristo,
Anseio por descobrir a tua alma divina
Dentro do corpo humano do Evangelho.
Procuro romper esse invólucro verbal
E fundir-me em ti na experiência vital do que és.
Quero conhecer o que disseste e fizeste
Por aquilo que tu és...
Dentro do átomo do teu Evangelho
Dormita a energia nuclear do divino Logos,
Esse grande Desconhecido de que todos falam
E que todos ignoram...
Não! Não quero saber de ti
Novos “ismos” periféricos
Quero viver dinamicamente
A tua realidade central!...
E da imensa cadeia de elos
Das minhas personas,
Das minhas máscaras transitórias,
Se tece a epopéia eterna
Da minha existência humana,
Lançando uma ponte
Em demanda da essência divina.
Das pedrinhas brancas e pretas
Do meu sucessivo nascer e morrer se formara o mosaico
Do meu eterno VIVER
Do VIVER sem nascer nem morrer.
Realmente, há “muitas moradas em casa do Pai celeste”...
Muitos planos de vivência há
No Universo de Deus...
E eu me sinto feliz viajor
Nessa jornada cósmica,
Jubiloso peregrino do Infinito,
Através de muitos finitos,
Demandando a luz da vida eterna
Através de inúmeras mortes efêmeras...
(Escalando o Himalaia – Huberto Rohden)