(Onde e quando começam as guerras)
Um
dia fostes expulsos do paraíso de vossa ignorância. Foi a hora em que raiou em
vós o intelecto. Vossa consciência, então, se fragmentou. Vosso Eu, até ali
quase indiferenciado, se transformou em vários “eus”; cada um de vós é uma
cidade povoada de muita gente heterogênea. Vosso ser se transformou, então, no
campo de batalha a que se refere o Bhagavad Gita, “A Canção do Senhor”. Arjuna
teve que lutar contra o usurpador e essa luta continua até hoje. Inúmeras
potências se digladiam dentro de vós, buscando apoderar-se de vosso ser. É aí,
e não em outra parte, que começam as guerras. Qual é a conseqüência dessa
conflagração interior? Qual é a conseqüência desse esfacelamento em que vos
encontrais? Se não estais bem convosco, não estareis bem com o mundo. Ainda
sois o animal de ontem que disputa a caça ou o sexo oposto. Ainda estais com o
pé fincado no reino do bruto, que busca sobreviver a qualquer preço, que ataca
e se defende para auto afirmar-se.
Hoje
essa luta de todos contra todos dá-se em várias frentes; dá-se através da luta
armada, dá-se através da competição econômica e dá-se através das disputas
religiosas. Tudo é motivo para que vos atireis uns contra os outros. Até o
esporte, que devia unir-vos, separa-vos, às vezes de maneira irreversível.
Compreendeis,
agora, por que só viveis em guerra?
E
mais: vossa obstinação em permanecer no reino animal obriga-vos a usardes o
corpo de vossos irmãos menores para vossa alimentação. Não podeis compreender
ainda o que isto significa em termos de sofrimento e desespero para as vossa
vítimas. Não podeis compreender ainda o quanto a matança a um só ser inocente
agrava os vossos débitos perante a Lei Universal. Não vos quero conclamar a um
vegetarianismo forçado, com estas palavras. Aprendi que todas as grandes
realizações se dão espontaneamente, de dentro para fora, não falo apenas a
orientais, mas a ocidentais milenarmente acostumados a esse tipo de
alimentação, do qual não poderão libertar-se de um momento para outro. Voltarei
a este assunto mais adiante.
Delfos (Livro: Reflexões no Meu Além de
Fora - Págs.
93 a 95)