O fato de estardes ainda,
como vos disse, com os pés fincados nos reinos inferiores, vos fez desconfiar
uns dos outros e leva cada um de vós a considerar o próximo como o seu inimigo.
E quanto às vossas relações
com Deus? Que é feito delas? Na maioria dos casos as religiões, especialmente
as religiões ocidentais, vos ensinaram a portar-vos diante de Deus como quem
teme um juiz que deve ser aplacado, bajulado. É esse o vosso Deus? Ensinam-vos
também essas religiões que este juiz está num céu distante e isso crea dentro
de vós a ilusão de que vossas súplicas, vossas orações, lá não chegam porque
ainda estais muito presos às férreas gaiolas de espaço e de tempo. Resultado:
porque Deus é por demais transcendente para vós, não o adorais, nem sequer o
amais. Na maioria dos casos, apenas o temeis. Isso agrava sobremaneira a luta
de vós contra vós mesmos, porque vos sentis culpados diante de Deus e a culpa
faz com que a vossa alma se fragmente mais e mais. Compreendeis agora por que
tudo vos leva à guerra? Compreendeis agora por que tendes todos os motivos,
pelo menos na aparência, para estar constantemente em atrito, para vos
lançardes em conflitos intermináveis que, mais e mais, vos dividem e
infelicitam? Compreendeis agora que é necessário fazer uma verdadeira
reviravolta neste caos?
Que é a paz? Estais
contentes com este estado de coisas? Agrada-vos essa trepidação constante em
que vive a vossa alma? Será que vos satisfaz essa angústia que ninguém consola?
É preciso buscar a Paz. Mas, que é a Paz?
Paz é inteireza, e só Deus é
inteiro.
A Paz é o Absoluto e só Deus
é o Absoluto.
Que dizer então? Que jamais
obteremos a Paz? Claro que a obtereis. E a obtereis gradativa e infinita,
porque vós sois finitos e o finito há de sempre abrir-se para o Infinito. O
Infinito nunca cessa de derramar-se sobre o finito. Mas o finito só pode conter
o Infinito na medida em que se infinitiza. A Paz é, portanto, a reunião de
todos os fragmentos em que está dividido o vosso pobre ser. E essa reunião só
pode ser obtida mediante um mergulho no centro de vós mesmos. Buscai a Paz.
Mesmo que não acrediteis num Deus transcendente, despertai para a existência
dentro de vossa psique, de um centro de equilíbrio, de coordenação de tudo, um
centro em que tudo se unifica, se rearmoniza, se reconcilia.
Mas eu vos convidei a uma
luta pela Paz. Em que consiste essa luta? Apenas nisto? Em meditar? Em buscar a
presença de Deus ou de centros de equilíbrio dentro de nós? Isto? Só isto, e
nada mais que isto, seria rematada loucura.
É preciso abrir duas frente
de luta contra a guerra. Uma dentro, outra fora de vós. É preciso que de dentro
compreendais o que a guerra simboliza e provoca. Que fizeram as guerras até
hoje? É verdade, sim, que houve um progresso a partir delas, porque a harmonia
do Cosmos sabe aproveitar as desarmonias do caos e sabe fazê-las redundar em
benefício do conjunto. Em outras palavras, o Universo sabe aproveitar as
próprias desarmonias para rearmonizar-se consigo mesmo e para avançar, para
seguir adiante.
Isto não quer dizer que as
guerras sejam indispensáveis ou necessárias. É claro, tivesse, por exemplo,
Hitler dominado o mundo e seria bem outra, hoje, a sorte da Humanidade, mas,
por outro lado, perguntai a vós mesmos: Hitler foi vencido. Mas foi vencido o
totalitarismo?
Não, ele ainda ressurge,
aqui e ali, algumas vezes declarado brutal. De outras vezes cinicamente
disfarçado. Mas ei-lo de cabeça erguida após cada golpe.
É claro, pois se ainda não
foi banido de dentro de vós, como quereis vencê-lo fora?
Hitler foi vencido, mais foi
vencido o racismo? Atentai para o que se passa em várias partes do Globo e vós
mesmos respondereis silenciosamente a esta pergunta. É preciso que a guerra vos
canse e apavore. É preciso que tenhais uma indigestão de tudo aquilo que vos
separa dos outros. E é o que está acontecendo. Buscai a meditação e todas estas
coisas serão uma realidade dentro de vós. Eu vos falei da frente que deve
abrir-se em vossa alma. Agora vos falo, ainda que levemente, do que deve ser
feito fora de vós.
Delfos
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