Caros, um ótimo dia para todos .
Hoje é dia de lembranças e reflexão. Em 3 de Outubro de 1226 desencarnou "O poeta cristão de Assis".
No nosso
Con-Versando de logo mais (a partir das 16:00h - Horário de Brasília), refletiremos sobre a aula: A tentação no Deserto, em que Rohden expõe a importância do calar para que Deus fale em nós. Como prelúdio segue abaixo um texto do professor intitulado: Calar as Grandezas, do livro “De Alma para Alma”, para nossa reflexão.
CALAR AS GRANDEZAS
Por Huberto Rohden
Perguntaste-me, amigo, se eu ia escrever um livro sobre o poeta cristão de Assis…
Chaga dolente me reabriu no espírito essa pergunta…
Ante os meus olhos surgiu toda a potência do meu querer — e toda a insuficiência do meu poder…
Eu, é verdade, já cometi delitos dessa natureza — escrevendo sobre os heróis do espírito…
Mas à última página, foi sempre maior o remorso que a satisfação…
Espetada no museu a minha borboleta — via eu que perdera os mais belos encantos…
Grandezas da alma não se podem dizer — só se podem calar…
Livro sobre as maravilhas divinas no homem — só devem constar de reticências e páginas em branco…
Como se pode tocar em tão delicado cristal — sem o quebrar?…
Como se pode colher uma flor — sem a matar?…
Como se pode apanhar borboleta — sem lhe tirar das asas o finíssimo pó?…
Como se pode recolher das folhas, com grosseira colher de pau, as pérolas do orvalho noturno?…
Como poderia eu assoalhar em praça pública a vida íntima duma alma?…
Como apregoar nas ruas os segredos anônimos dum coração?…
Como escancarar à devassa de olhos impuros o sancta sanctorum do templo de Deus?…
Como poderia eu dizer a homens mortais o que o santo nem soube dizer ao Deus imortal?…
Não, meu amigo, não posso escrever sobre as grandezas do poeta cristão de Assis…
Prefiro admirar em plena liberdade esse sopro de Deus a analisá-lo no laboratório…
Em vez de falar — vou calar as grandezas do herói…
Assim, se não acerto em dizer o que ele é — não digo ao menos o que não é…
Sobre o papel do silêncio, com a tinta das reticências — escreverei a biografia do grande anônimo de Assis…
Ou, se quiseres, lançarei ao mundo uns fragmentos amorfos, com os quais poderás arquitetar o que entenderes…
Amor e alegria, entusiasmo e serenidade, sofrimento risonho e espontânea renúncia — e tudo isto aureolado de espiritual leveza e jubilosa felicidade — eis as pedras para o edifício!…
Não o levantarei, para que o possas construir — segundo o teu plano.
Não se prendem raios solares — em gaiolas de ferro…
Não sei vazar em períodos corretos — a poesia da Natureza…
Não sei definir com silogismos — uma alma ébria de Deus…
Nada disto sei — só sei calar grandezas humanas.
Porque toda grandeza é anônima.
Como anônimo é Deus.
O Inefável…