Um dia, esse católico integral encontrou-se com outro homem, que vinha do setor evangélico-protestante. Trocaram um aperto de mão, trocaram um sorriso de surpresa, trocaram umas idéias – e verificaram que eram da mesma religião, que eram ambos católico-evangélicos, que se haviam encontrado aos pés do Cristo, em perfeita harmonia e fraternidade. Os seus velhos rótulos romano e protestante tinham ficado para além duma fronteira longínqua, muito longínqua, porque pertenciam ao corpo humano dos seus sistemas doutrinários, mas não à alma divina do cristianismo.
De mãos dadas, foram esses dois felizardos seguindo viagem, falando das suas grandes experiências com Deus – quando chegaram a uma encruzilhada. Do lado direito associou-se a eles um jovem, que pertencia ao espiritismo, mas, através de muitas experiências e de não poucos sofrimentos, se havia libertado do corpo humano das doutrinas de seu grupo e encontrado a alma eterna e divina de todas as religiões. Acompanhou os dois, e, dentro em breve, verificaram que eram três discípulos do mesmo Cristo e adoradores do mesmo Deus, em espírito e em verdade. O que, outrora, lá nos planos inferiores, os separava, era apenas o corpo mental e verbal das suas doutrinas, definíveis e analisáveis, mas o que agora os unia e irmanava silenciosamente era a alma espiritual da sua vasta e profunda experiência de Deus.
E foram os três andando, andando, alheios a tempo e espaço e das ilusões do mundo externo das quantidades objetivas – quando, subitamente, viram no meio de seu grupo um vulto sereno e majestoso, e no meio dum grande silêncio ouviram estas palavras: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, estou no meio deles...”
A verdadeira religião ou filosofia cósmica não tem por fim defender ou atacar este ou aquele corpo de doutrinas teológicas, as quais, na melhor das hipóteses, são obra de arquitetura humana, ou antes, são os andaimes de um edifício inacabado.
Depois de completada a construção do edifício, ninguém deixa em pé os andaimes, porque o que ontem foi um auxílio hoje seria um empecilho. Nenhuma borboleta arrasta consigo o seu casulo, ainda que seja de seda pura; agradece os bons serviços que o casulo lhe prestou, no tempo da sua evolução, dando-lhe proteção e segurança; mas agora as asas da borboleta lhe são proteção e segurança muito mais eficientes do que, outrora, o estreito invólucro do casulo.
A humanidade-elite está na fronteira de um novo mundo. Ou melhor, está vendo o velho mundo das suas crenças teológicas através de novo mundo de experiências espirituais. O homem profano de ontem passa a ser o homem sacro de hoje. Adivinha, com maior ou menor nitidez, que, dentro da crisálida do seu “crer” cristão dormita a borboleta do seu “saber” crístico.
Vai anoitecendo o ocaso da crença e amanhecendo a alvorada da sapiência...
A verdadeira filosofia não toma atitude em face do corpo ruidoso das religiões – mas procura realizar no homem a alma silenciosa da Religião. Procura despertar o homem para agrande realidade que dormita nas profundezas dele, e que, uma vez acordada, pode transformar a vida e tornar o homem poderoso, bom e feliz.”
“Conhecereis a Verdade – e a Verdade vos libertará.”