ACERVO VIRTUAL HUBERTO ROHDEN E PIETRO UBALDI

Para os interessados em Filosofia, Ciência, Religião, Espiritismo e afins, o Acervo Virtual Huberto Rohden & Pietro Ubaldi é um blog sem fins lucrativos que disponibiliza uma excelente coletânea de livros, filmes, palestras em áudios e vídeos para o enriquecimento intelectual e moral dos aprendizes sinceros. Todos disponíveis para downloads gratuitos. Cursos, por exemplo, dos professores Huberto Rohden e Pietro Ubaldi estão transcritos para uma melhor absorção de suas exposições filosóficas pois, para todo estudante de boa vontade, são fontes vivas para o esclarecimento e aprofundamento integral. Oásis seguro para uma compreensão universal e imparcial! Não deixe de conhecer, ler, escutar, curtir, e compartilhar conosco suas observações. Bom Estudo!

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quarta-feira, 5 de março de 2014

Cristo e Cristianismo

Comentário(s)

Por Huberto Rohden

O mundo de hoje nada tem que esperar do cristianismo, tudo tem que esperar do Cristo. O nosso cristianismo é ficção – o Cristo é fato. O nosso cristianismo é um fogo pintado – o Cristo é um fogo real.

Há uma grande afinidade entre os Maharishis da Índia e os Sufis da Arábia, por um lado, e os verdadeiros místicos cristãos, quer católico-romanos, quer evangélicos-protestantes. Todos pertencem à “comunhão dos santos”, à “irmandade branca dos irmãos anônimos”. São João da Cruz, por um triz foi condenado como herege, e o texto dos seus livros espirituais, por muito tempo, apareceu mutilado pela autoridade eclesiástica. Luiz de Granada esteve quatro anos nas cadeias da Inquisição por causa da sua explicação do “Cântico dos Cânticos”. Meister Eckart, o maior dos místicos medievais, sempre foi suspeito de heresia e seus livros foram proibidos após a morte dele.

Aceitar um santo ou místico deste ou daquele grupo espiritual não equivale a aceitar o grupo como tal, porque a santidade, sendo atributo do indivíduo, nada tem que ver com o grupo organizado. Todos os místicos do mundo, dentro e fora do Cristianismo organizado, formam uma espécie de “Super-ecclesia”, porque representam a legítima ekklesia, palavra grega composta de “ek” e “kaléo” (chamar para fora, selecionar) e cujo sentido exato é “elite” ou “seleção”. 

O sentido de “igreja” não é massa, mas elite; é aquele “pusillus grex” ou pequeno rebanho, de que fala Jesus. A igreja é universal, cósmica. Uma igreja sectária é uma pseudo-igreja. A verdadeira catolicidade cósmica abrange judeus, hindus, árabes, taoístas, budistas, cristãos, etc., suposto que eles tenham verdadeira experiência de Deus e manifestam essa sua mística divina na ética humana. O primeiro mandamento, que é a mística, e o segundo, que é a ética, sintetizam toda a religião, como diz o Nazareno.

“O argumento de que uma igreja que produz santos seja santa em si mesma, como igreja organizada, é insustentável à luz da lógica imparcial. Os verdadeiros santos pouco ou nada têm que ver com os arranjos artificiais duma organização, que, em qualquer hipótese, é uma criação da inteligência. Os dirigentes duma organização eclesiástica são, não raro extremamente maus. 

Francisco de Assis e Tomás de Aquino viveram, ambos, no século 13, ambos dentro do mesmo organismo eclesiástico – mas são gênios tão diversos como o dia e a noite, e os dirigentes da igreja desse tempo pertencem aos piores que a história conhece. O teólogo napolitano, de acordo com a mentalidade da época, aprova e defende, em sua “Suma Theologiae” e “Summa contra Gentiles”, a liceidade da pena de morte e do extermínio violento de hereges – ao passo que o “poverello” da Umbria, na sua vasta intuição mística, é amigo de todos os seres vivos do mundo.

Há santos em todas as religiões – o que não prova que essas religiões sejam boas como um todo. Santidade é atributo do indivíduo, e não duma coletividade. 

O que decide sobre o fato de eu ser crístico ou não-crístico é a minha vida, a profunda e permanente atitude do meu interno ser e do meu externo agir em perfeita sintonia com o espírito de Cristo. Esse espírito, porém, nada tem que ver com a forma deste ou daquele credo, mas resume-se nos dois grandes mandamentos do amor de Deus e do próximo, nos quais “consistem toda a lei e os profetas”. O “sim” ou “não”, verbal ou mental, em nada modifica a minha atitude de ser e de agir, e é profundamente deplorável que uma grande parte do cristianismo eclesiástico do Ocidente dê maior importância a essa profissão de fé teológica imposta por seu grupo do que à realidade da sua vida emanada do espírito de Cristo. 

E, para salvar esse credo eclesiástico, os seus adeptos, através dos séculos, têm cometido, e continuam a cometer os maiores atentados ao espírito de Cristo, matando infiéis e hereges, excomungando dissidentes, inculcando a seus filhos o desprezo para com os que não professam o mesmo credo teológico – matam o espírito para salvar uma teologia pseudo-cristã!...

Enquanto eu não puder dizer, com absoluta verdade “Já não sou eu que vivo – o Cristo é que vive em mim”, não aceitei o espírito do Cristo, embora professe a mais ortodoxa das fórmulas sobre a divindade de Cristo. Mahatma Gandhi nunca aceitou nenhum credo eclesiástico, que sempre respondia: “Aceito o Cristo e seu Evangelho, mas não aceito o vosso Cristianismo.” Albert Schweitzer é conhecido como herege pelas igrejas cristãs protocolares – mas dificilmente encontraremos dois homens que vivam com maior pureza e fidelidade o espírito de Cristo, em profundo amor de Deus e vasta caridade pelos homens.

É de urgente necessidade que o mundo cristão se torne crístico, vivendo realmente o espírito de Cristo, em vez de apenas professar teoricamente este ou aquele dogma sobre a divindade de Cristo.


(Huberto Rohden – Doutor em Filosofia e Teologia, poliglota, ex-professor catedrático da American University EUA e autor de 100 livros).


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