Olhemos em derredor de nós. No atual momento
histórico existem dois estados: um aparente, superficial, transitório, que
todos vêem e que constitui a base de julgamento da maioria; outro real,
profundo, dado pelo eterno desenvolvimento das coisas.
Hoje é exatamente a hora do mal, cuja
característica é a negação e a subversão. Assim os melhores se tornaram
perseguidos, quase que obrigados a esconder-se,
enquanto os piores conquistaram tudo. Mas é natural que os revolvimentos
necessários para passar de um estado de equilíbrio a outro, evolutivamente
superior, sejam também convulsivos.
Mas é uma posição falsa, porque não lhe corresponde
um valor intrínseco e, por conseguinte, ela não pode durar. Toda a verdade,
pela lei do dualismo universal, não está completa se não foi vista em seus dois
temas antitéticos e contraditórios, dos quais ela se compõe na totalidade. No
extremo do fenômeno histórico atual, como aparece na superfície, temos um
estado oposto, de preparação subterrânea, de espera e maturação. Assim como se
diz que sob a neve está o pão, também é sob a tempestade que estão amadurecendo
os germes de uma nova civilização. Para compreender isto, seria necessário
conhecer não só as leis históricas, mas também as leis biológicas, das quais a
história humana não é mais do que uma parte.
Eis que no fundo das coisas há algo de bem
diferente; estão aí o pensamento e a vontade diretora de Deus, que não são
apenas transcendentes nos céus, mas também imanentes em nós e em nossas coisas,
presentes com a sua incessante obra criadora. Na direção da história há,
portanto, uma obra outra do que a pobre e ignorante sapiência humana. Há a
sabedoria de Deus. Que isto seja de grande conforto aos melhores, mais
evoluídos, hoje expulsos e esmagados.
Quem está habituado a olhar com humildade e amor,
pedindo e entregando-se a esse pensamento divino que tudo rege, constata
experimentalmente a existência de uma lei de ordem e de amor que está no centro
das coisas, que as alimenta e as mantém em vida, ainda que deixando que na
periferia, na forma e na matéria, dominem a desordem e o mal. Assim como nas
grandes tempestades oceânicas, a poucos metros abaixo da superfície das águas
se observa a calma, assim também na história. Sob o grande rumor das revoluções,
a queda das classes sociais e dos tronos, o desmoronamento de enormes
construções políticas, se verifica a calma das grandes Leis da vida que, lentas
mas seguras, vão preparando o futuro. Futuro garantido, como garantida é a
primavera que deve trazer consigo a germinação das novas massas.
Não podemos, de fato, presumir que a continuação da
vida seja confiada aos homens e aos seus expedientes. E, se ela triunfa, e
sempre triunfou, como o demonstra o fato de que durou até aqui, isto é porque
ela é protegida justamente por essa sabedoria divina que a guia, a nutre e a
mantém.
(Pietro Ubaldi - Livro: Ascensões Humanas)