Por Pietro Ubaldi
Qual é a função histórica do Brasil no mundo, especialmente em relação à esperada nova civilização do Terceiro Milênio? Evidentemente, não é uma hipótese mas um fato positivo, que o Hemisfério Norte é um armazém de bombas atômicas, e é evidente que não são elas construídas por pura curiosidade científica. Os Estados Unidos e a Rússia estão armando-se cada vez mais, e naturalmente não é para abraçarem-se. O medo de uma luta perigosa e tremendamente destrutiva para todos os retém. Mas também os atrai a miragem do domínio do mundo, prêmio de sua vitória. A guerra fria já está em ação. Sem dúvida, os meandros da política são tão tenebrosos, a imprensa é tão obediente a quem manda e a quem paga, e no círculo vicioso dos interesses costuma dar-se ao público tanta propaganda e tão pouca verdade, que é possível que haja talvez outra realidade sob estas aparências, geralmente aceitas. Entretanto, estes são fatos. Mesmo se a Rússia, com seu sistema de expansão de ideologias, chegasse a realizar seu objetivo de submeter outros países, ao entrar nestes pela porta da representação parlamentar de partido, jamais seriam conseguidas por este meio a paz e a ordem.
Um fato, entretanto, parece certo: que a hora é apocalíptica e o hemisfério norte é terreno minado. Ora, a primeira grande riqueza e potência do Brasil é de estar em outro hemisfério, longe de tudo isso. Este fato o garante, ao menos, de não ser objeto de ataques e teatro de guerras, sorte que a Europa, os Estados Unidos e a Rússia estão bem longe de ter. Além disso, o Brasil não precisa de expansões nem imperialismo, porque seu território já é vasto como um império, e só espera ser povoado. Não tem, pois, razões de rivalidade com nenhum país. É, finalmente, o lugar em que há espaço para todos, e em que não há necessidade de guerras para conquistar um lugar ao sol, nem precisa garantir-se contra vizinhos perigosos, que andem atrás de espaço, dado que para todos há lugar de sobra. Acha-se, pois, o Brasil em condições pacíficas naturais, e é esta sua posição natural no mundo. Que os Estados Unidos e a Rússia preguem a paz, eles que se estão armando cada vez mais, é coisa que não tem sentido, senão o de querer desarmar o próprio antagonista e captar o favor das massas, esfaimadas de tranqüilidade. Um verdadeiro sentido de pacifismo não pode vir do Hemisfério Norte, mas apenas desta grande terra da América do Sul. A função histórica do Brasil no mundo só pode ser, portanto, neste nosso tempo, uma função de paz. Esta é sua posição atual no pensamento da História, esta é a missão que lhe foi confiada. As circunstâncias, com efeito, enquadram hoje o Brasil nesta posição, como num destino, expresso pelas condições de fato.
Compreendamos bem este conceito. De acordo com o que dissemos antes, no capítulo "O Pensamento e a Vontade da História", é esta que, com uma inteligência e sabedoria que o homem não tem, escolhe homens e povos para determinadas funções históricas e lhas confia, utilizando-se deles segundo sua natureza e capacidade. Num sentido mais vasto, é a vida que atribui aos indivíduos e povos mais aptos determinada função biológica. Se o fenômeno pode assim exprimir-se em termos científicos, também o pode em termos religiosos, dizendo que Deus confia uma missão. Dizer: executar uma função biológica, ou uma missão confiada por Deus, ou fazer Sua vontade, é tudo a mesma coisa. Ora, de tudo o que foi dito nos nossos volumes precedentes, resulta que, aquele que se acha nessas condições, virá a personificar uma força em ação no funcionamento orgânico do universo. Tornando-se, assim, um operário executor do plano divino que dirige o evolver das coisas, ele se acha, então, protegido pela vida, que lhe oferece os meios para que realmente se complete a realização da função ou missão. Por isso, pudemos dizer num dos capítulos precedentes, que a vida ajuda os homens e movimentos que têm uma função biológica, e deixa indefesos os que não a têm. Disto pode compreender-se de que poder disponha o homem ou o povo que tenha uma função biológica, ou seja, uma missão. É a própria vida que o investe de seus poderes, os quais, embora concedidos apenas onde Deus o queira e na medida em que o queira Deus, são meios ilimitados por sua própria natureza. E isto, praticamente, se chama sorte ou destino, pelo que são vistos homens comuns lançados subitamente aos primeiros planos da História. Diga-se o mesmo para os povos.
Ora, o Brasil, como nô-lo indicam as condições de fato, personifica essa função biológica ou missão de pacifismo no mundo. Quem é verdadeiramente honesto, não vai a cada passo apregoando que é honesto. Os não-honestos é que procuram esconder seu rosto verdadeiro e defender-se. Assim, o povo verdadeiramente pacífico e pacifista é o que menos se faz paladino oficial de pacifismo, o que faz menos campanhas publicitárias com esse escopo. E o Brasil é assim. Pacifista até o âmago, naturalmente, e não precisa dizer muito por que o é. Ora, se aplicarmos a esta nação os conceitos acima expostos, poderemos dizer que, nesta direção do pacifismo, o Brasil personifica uma força em ação, segundo a vontade de Deus e da História. A conseqüência disto, é que ele é protegido pela vida, que lhe oferecerá os meios, para que a realização desta função ou missão de pacifismo realmente se complete. Dissemos acima, de que poder dispõe quem tenha uma função biológica, porque a vida mesma é que dele faz o instrumento das próprias realizações. É ela própria que age nele, naquele sentido e momento determinado, cedendo-lhe seus poderes dentro desses limites. O fato é que, quando a vida oferece uma função biológica, depois lhe dá os meios e prepara os acontecimentos para que ela a execute, dado que as palavras da linguagem da vida são os fatos. E fácil deduzir as conseqüências de tudo isso. As previsões dos cálculos e astúcias políticas não trabalham neste terreno, ignoram essas forças que, para elas, são contidas no desconhecido imponderável. Mas, nós falamos aqui em termos e raciocínio, fazendo apelo à lógica das coisas, para que ficasse compreensível e manifestasse suas notas características, a presença desse imponderável que aqui aparece.
O Brasil acha-se, portanto, numa posição particular de privilégio, embora ainda em forma não manifesta, porque é uma realização de amanhã, ou seja, acha-se com uma grande riqueza em estado latente. E esta espera ser explorada e utilizada em benefício de todos; uma mina de caráter espiritual, que espera o trabalho dos homens, os quais, com sua boa vontade, poderão tirar proveito, para a expansão da vida, da mesma forma que as tirarão de tantas outras riquezas ainda inexploradas no Brasil. Esta é a Lei. A vida quer expandir-se. Esta é sua vontade irrefreável. Por isso concede missões, funções, meios e circunstâncias adequadas, para que se realize esta sua vontade.
Eis a atual posição do Brasil na História. A vida lhe oferece uma função a executar, a qual faz parte de seu plano de expansão e de evolução do planeta. É um oferecimento, é a investidura de uma grande missão. Cabe agora ao povo brasileiro corresponder ao oferecimento, compreendendo-o e aceitando-o. Os momentos históricos jamais se repetem idênticos e esses oferecimentos não são feitos duas vezes. Perdida uma oportunidade, ela não volta mais. Cabe, além disso, ao povo brasileiro compreender que a natureza desta missão é manter-se na linha do pacifismo, isto é, que a função biológica que a vida confia ao Brasil, é função de paz e amor. Segue-se daí que, se esta é a vontade da História, e se o Brasil quiser caminhar nessa direção, aceitando a missão, ser-lhe-ão concedidos todos os auxílios; mas, se ao contrário, o Brasil se colocar, como primordial posição, no terreno da força bélica ou como potência ávida de supremacia, então a vida lhe retirará todos os auxílios e assim tudo será perdido, no sentido de que a função e a missão lhe são tiradas, e a oportunidade de exercer um papel mundial se esfumará. Quem vai de encontro à vontade da História, é cortado de suas fontes vitais, e não recebe mais ajuda.
Ora, tudo isso corresponde perfeitamente as condições atuais do Brasil; é um estado de fato já existente e nada é preciso fazer para prepará-lo. Esta concordância automática entre o que é a realidade atual e a natureza da missão oferecida, confirma a verdade de nosso raciocínio. Assumir hoje o Brasil, no mundo, uma função diferente, seria coisa de difícil realização. Seria bem estranho um Brasil imperialista e expansionista, se já de per si é maior que um império e não chega a povoar sua própria terra ilimitada. Seria bem estranho um Brasil que quisesse levantar-se como grande potência militar, quando não tem inimigos próximos para combater. Seria bem estranho que um país, definido como coração do mundo e pátria do Evangelho, se pusesse a fazer guerras de conquista ou de defesa, de que absolutamente não necessita. É claro, pois, que a função histórica do Brasil no mundo só pode ser a de abraçar a humanidade com o seu amor, em seu imenso território, à espera de ser povoado. Deixemos aos povos do Hemisfério Norte outras funções a executar no organismo social do mundo. Deixemos à Ásia a função metafísica, à Europa as funções cerebrais do mundo, à Rússia a função revolucionária e destruidora, à América do Norte a função econômica da riqueza, e assim por diante, e reconheçamos que a função histórica do Brasil é bondade, tolerância, amor.
Pietro Ubaldi
Do Livro: Profecias. Cap. A função histórica do Brasil no mundo, págs 135 a 139.