“Cada religião, cada partido político, cada período histórico, tem seus eleitos, porque o instinto de deificação é fenômeno biológico desde as fases primitivas da evolução humana. Ele se inclui no instinto de progredir, pelo qual se procura criar, entre os homens de exceção, modelos para imitar, evoluindo com eles. Seja Lenine, para os comunistas, como o chefe de uma ordem religiosa para esta, seja um general para o exército, seja um mártir para uma ideia, o princípio utilitário para a vida é sempre o mesmo: o grupo escolhe um chefe ideal para sua glória, mas sobretudo para seu poder e defesa. O grupo gosta de criar para si um modelo, mormente para mostrar o que os seguidores pretendem parecer. Que de fato o sejam, isto é outra questão. (...)
Os homens da terra, pelo instinto de progredir, têm mais ou menos a intuição de que, nesses casos, existe um ser superior. Mas eles continuam a ser práticos, no terreno positivo: limitam-se a usá-lo. Imitá-lo é muito difícil. Bem sabem eles que assim é, e pouco pensam nisso. A santidade não é comida para todos os dentes. Mas alardeá-la é vantajoso. O homem prega e faz muitas coisas bonitas, mas se quisermos compreender por que as diz e as faz, acharemos que a verdadeira e última razão quase sempre é apenas uma utilidade sua. Só os ingênuos podem acreditar no que dizem os astutos: isto é, que se possa fazer algo sem tirar vantagem. Todos têm um alvo “útil”. E isto não constitui culpa: é a lei da vida. É erro pensar que isto, como princípio, seja uma culpa. O defeito reside na baixeza da utilidade que queremos alcançar, e por isso desaparece no ser superior, que põe a sua utilidade no amor ao próximo.”
(Do livro PROBLEMAS ATUAIS, de Pietro Ubaldi)