Por Huberto Rohden
De algum desses eremitas da Tebaida se contam coisas estranhas, se não historicamente verdadeiras, certamente verdadeiras como característica espiritual deles.
De algum desses eremitas da Tebaida se contam coisas estranhas, se não historicamente verdadeiras, certamente verdadeiras como característica espiritual deles.
Um dia, o eremita A. disse ao eremita B., seu vizinho:
— Sabes, irmão, que lá fora há guerra?
— Guerra? – replicou o outro. – Que é isto?
— Bem... – retrucou o primeiro – guerra... guerra... é uma coisa muita feia, que não se deve fazer.
— Mas, afinal de contas, que é guerra?
— Não sei explicar... Mas vamos brincar de guerra, para compreenderes o que é. Olha aqui, eu tenho um livro; tu não tens livro algum. Eu digo: Este livro é meu! Tu respondes: Não! Este livro é meu! Eu grito: Este livro é meu! Assim começa a guerra. Vamos brincar de guerra: Este livro é meu!...
— ?
— Responde!
— Responder, o quê?...
— Grita: Este livro é meu!
— Como? Se este livro é teu, então não é meu...
— Ora, ora... Tu não tens vocação para guerra... Já acabaste com a guerra antes de começar... Os homens lá fora não fazem assim. Brigam sem fim, por causa de coisas que não são nem de um nem de outro.
— É verdade, nós não temos jeito para guerra...
— Também não temos nada por que brigar...
— Paciência... Não podemos sequer brincar de guerra...¹
_____________
¹Do livro: Minhas vivências na Palestina, no Egito, e na Índia