(Esclarecimentos)
Tenho diante de mim
vários jornais italianos, de 1950, abordando "Il Caso La Grande Síntese e la nuova teoria di Einstein". La Nazione, de Florença (26 e 31 de
janeiro); L'Umbria, de Perúgia (31 de
janeiro); La Setímana, de Piacenza
(13 de março); a revista Quaderni dei
2000, de Milão (mês de julho); na revista Estudos
Psíquicos, de Lisboa - Portugal (março/abril de 1950), apareceram "De
Ubaldi a Einstein" e "O Caso A
Grande Síntese e a nova teoria de Einstein"; o jornal Diário de São Paulo (2 de julho de 1950)
publicou: "Antecipação mediúnica da descoberta da chave do universo, por
Einstein"; a revista La Idea, de
Buenos Aires — Argentina (maio de 1950, apresentou: "El Caso Gran Síntesis";
a revista Constancia, também de
Buenos Aires, e outras dos Estados Unidos, deram amplo destaque ao fato. Este
caso foi intitulado "A Grande
Síntese e a Nova Teoria de Einstein". Vou resumi-lo, apoiado nas
revistas e jornais acima, além de A
Grande Síntese.
Uma notícia sensacional
percorreu os jornais nestas últimas semanas: o grande matemático Einstein
formulou uma teoria, pela qual se teria descoberto o elo que faltava para a
concepção unitária do universo. Com sua famosa teoria da relatividade, só mais
tarde experimentalmente confirmada, Einstein já demonstrara por meio da
matemática, a estreita relação quadridimensional entre as duas dimensões espaço
e tempo. Faltava ainda, entretanto, a demonstração matemática da relação entre
todas as forças cósmicas e portanto de sua unidade. Isto foi conseguido com a
nova teoria que Einstein definiu: "teoria generalizada da gravitação e
teoria do campo unificado", que conclui com quatro equações todas iguais a
zero. Com ela, quer explicar a origem de todo o movimento do universo.
Achou-se, dessa forma, uma relação íntima entre a eletricidade e a gravitação,
que assume então um conceito completamente novo, que não é mais o da física
mecanicista Newtoniana, admitida por todos até ontem. Essa afinidade faz da eletricidade
e da gravitação duas forças afins, irmãs, derivadas de um único princípio
unitário. Eis o elo que faltava, para poder demonstrar a concepção monística e
unitária do cosmos.
Em nosso caso, o fato é
simplesmente o seguinte: o que os jornais anunciam ter sido descoberto agora
pelos caminhos da matemática, já fora descoberto pelos caminhos da metapsíquica
há 18 anos, e publicado pela primeira vez na revista Ali del Pensiero, de Milão, em 1932, na obra que depois apareceu em
volume, A Grande Síntese, e que agora
está editado em Roma, em terceira edição, além de em Buenos Aires, no Rio de
Janeiro, e outros lugares.
Ora, qualquer pessoa pode
verificar que aí está desenvolvida não só a teoria da evolução das dimensões,
que filosoficamente completa e enquadra, em toda a escala das dimensões, a
concepção matemática de Einstein, do "contínuo" espaço-tempo, mas também
a própria afinidade entre eletricidade e gravitação; até a íntima natureza
desta última, já havia sido explicada. No capítulo XXXVIII de A Grande Síntese — "Gênese da
gravitação", vamos encontrar:
"Eis-nos às
primeiras afirmações, novas em vosso mundo científico. "A gravitação, e
mais exatamente a energia gravífica, é a protoforma do universo dinâmico. Sendo
energia, é radiante e se transmite por ondas. Tem "uma velocidade sua, de
propagação (....), máxima no sistema. Aqui são completados os conceitos da
teoria de Einstein. A gravitação é relativa à velocidade de translação dos
corpos. A massa varia com a velocidade, de que é função. O peso aumenta por
novas transmissões de energia e vice-versa. O conceito de transmissão
instantânea cai para todas as forças. A gravitação emprega tempo, ainda que
mínimo, para transmitir-se; ela tem, como todas as formas dinâmicas, um
comprimento típico de onda, que lhe é próprio".
A lei de Newton, da
gravitação universal, apenas indica o princípio que mede a difusão da energia
gravífica, o qual é apenas um aspecto do princípio que regula a difusão de
qualquer forma de energia a que demonstra sua origem comum, o princípio da
onda e de sua transmissão esférica. As radiações conservam todas as suas
características fundamentais de energia cinética, da qual nasceram e é essa
identidade de origem que estabelece entre elas essa afinidade de parentesco.
Outra prova dessa afinidade entre as formas dinâmicas reside na qualidade da
luz, próxima derivação, por evolução, da energia gravífica. Nesta forma de
energia radiante luminosa, achais, em parte, as características da forma
originária da energia radiante gravífica (.....). Poder-se-á dizer que a luz
pesa; ou seja, a luz sofre o influxo dos impulsos atrativos e repulsivos de
ordem gravífica; e que existe uma pressão das radiações luminosas. Direi mais:
todas as radiações exercitam, ao propagar-se, uma pressão de natureza
gravífica, e apresentam fenômenos de atração e repulsão, em relação direta com
sua proximidade genética, na sucessão evolutiva, com sua protoforma dinâmica,
a gravitação.
Esse capítulo assim
concluía: "dirigi as pesquisas neste sentido, analisai com o cálculo estes
princípios" (. .. .), quase prevendo que, só com o cálculo, seria
possível iniciar a demonstração, como agora ocorreu.
Neste ponto, a imprensa
que com o caso se ocupou, perguntava-se como tinha sido possível uma tal
antecipação de conclusões, mas não pode dar uma resposta satisfatória.
Senti-me, por isso, no dever de expor diretamente meu ponto de vista. Disseram:
como é possível que um homem desprovido de cultura específica matemática e
científica, que não estava ao corrente dos processos einsteinianos, pôde
antecipar dessa forma suas conclusões? Falou-se de intuição filosófica. Que
podemos entender com isso?
Aqui há dois problemas a
esclarecer: o matemático e o psicológico. Quanto ao primeiro, para evitar
equívocos e exageros reclamísticos, digamos logo que ninguém pretende que A Grande Síntese tenha dado a fórmula
matemática expressa por Einstein, em sua "Teoria generalizada da
gravitação e teoria do campo unificado". Nossa atitude nada tem de
polêmica, nem pretende reivindicar prioridades neste campo. A Grande Síntese cabe, ao invés, a
formulação filosófica dos mesmos princípios, e é nesse sentido que deve
compreender-se sua prioridade. Trata-se da descoberta e exposição das mesmas
verdades, mas de forma diversa, o que pode ter alcance e conseqüências
diversas, até maiores, não, de certo, no campo físico-matemático, mas no
filosófico. Aqui não é possível aprofundar isto, mesmo porque a imprensa não
deu a conhecer as particularidades das novas teorias einsteinianas. No entanto,
é certo que a formulação que esta realizou é muito mais profunda nos
particulares e está demonstrada, ao menos como processo lógico-matemático. Em
compensação, só a formulação de A Grande
Síntese está enquadrada num sistema filosófico universal, que está preso
aos fenômenos e que justifica e prova aquela formulação filosófica, mesmo do
ponto de vista racional e científico e, assim, indiretamente, prova também a
formulação matemática de Einstein. Isto até ao ponto em que, enquanto esta
espera sua confirmação experimental para sentir provada, a nós ela já aparece
perfeitamente verdadeira, tanto que pode desde agora ter a segurança de que,
os fatos com que entrará em contato, só poderão demonstrá-la.
Esclareçamos agora o
outro problema, o psicológico, o que de mais perto diz respeito ao caso atual e
à gênese. O fato é que ambas as
formulações são devidas a um processo de intuição. Na profundidade das
operações da lógica matemática de Einstein, há um ato de intuição que sustentou
e guiou o raciocínio dele até o fim. O mesmo ato de intuição que, levado até o
método super-racional, foi usado regularmente ao ser concebido e exposto o
sistema filosófico-científico de A
Grande Síntese. Só com a lógica racional, demonstra-se; mas não se. cria.
Se há alguma diferença entre os dois casos, é que, nos processos einsteinianos
aparece a lógica matemática, mais do que a intuição; ao passo que, em A Grande Síntese, dominam os processos
intuitivos, usando-se a demonstração racional como uma descida necessária para
fazer-se compreender, numa dimensão conceptual inferior, que é a do homem
atual. É por isso que se explica porque A Grande Síntese pôde atingir as mesmas
conclusões 18 anos antes, pois, pela rapidez, a intuição está para o
raciocínio, como a luz está para o som. Mas é inegável que as teorias de A Grande Síntese tiveram uma confirmação
poderosa com o raciocínio einsteniano, ainda que esse raciocínio espere,
agora, a confirmação experimental, que, para ambas as formulações, que agora
estão emparelhadas, será decisiva. Isto poder forçar a reflexão de quem, a
princípio, julgou A Grande Síntese cheia
de erros. Enquanto isso, a formulação filosófica prova a formulação
matemática, porque a enquadra num sistema universal, em que achamos posta,
orgânica e logicamente, a explicação de todos os fenômenos conhecidos; em
contrapartida, a formulação matemática, rigidamente conduzida pela lógica do
grande cientista, prova a formulação filosófica. Ambas parecem completar-se e
complementar-se.
Devo agora focalizar
outro ponto, o mais complexo. Como cheguei a esta formulação filosófica, sem
possuir os meios culturais de Einstein? Que se entende por método de intuição?
A Grande Síntese apareceu, em seu
tempo, como devida a um fenômeno inspirativo, super-racional. Apareceu como um
produto de estados de consciência super-normais, enquanto, por minha conta, eu
continuava indagando e controlando, com a crítica mais severa, psicológica e
científica, a ver se explicava o fenômeno. Percebi de imediato que este
fenômeno era mais complexo do que parecia, e que a concepção espírita de uma
entidade que transmitia e de um indivíduo que recebia, mais ou menos em
transe, era por demais elementar para poder explicá-la. Eu mesmo iniciei o
estudo deste meu caso no volume As
Noúres, e desde então muito tenho progredido, seja pela evolução do próprio
fenômeno inspirativo, que no seu caso está em contínua ascensão, seja por meios
cada vez mais completos de pesquisa que esse fato me dava. Hoje, a solução
corrente de mediunidade não mais se adapta. nem é suficiente. Precisamos aqui,
não da solução do problema isolado, mas em função da solução do problema
cósmico, em que todos os outros se equacionam e se resolvem. E isto, muito mais
para o problema do espírito, que resume em si tantos outros, como numa síntese.
Nenhum problema se resolve isoladamente, e, para compreender este, tive antes,
em sete volumes até hoje, que resolver muitos outros. Procuremos pois, hoje,
superado o simplicismo do conceito mediúnico, resumir em poucas palavras a
complexidade do fenômeno.
A mais avançada ciência
moderna leva-me, de todos os lados, à mesma conclusão (veja-se Problemas do
Futuro: "a última substância do universo é de natureza abstrata, é um
pensamento, aquilo que as religiões chamam Deus"). Este pensamento, que
agora a ciência, pesquisando cada vez mais no fundo, foi obrigada a encontrar,
está escrito em todos os fenômenos, está no âmago das coisas, é o princípio
vital que tudo anima, é a consciência do universo, é o Deus transcendente que,
no ato em que Ele tudo rege e guia, assume o aspecto de imanente. Ora, a
pequena consciência individual é um pequeno círculo que, como "eu",
evolui, e se distingue de todos os "eus" dos outros seres, neste
"todo" pensante. Por isso ele se dilata e extravasa cada vez mais na
consciência universal que, normalmente, para ele, está fora de seu consciente,
ou seja, para ele é uma zona de inconsciente, embora manifestando-se através
dele por sínteses e comandos, como os instintos, as intuições etc.
Que é então a inspiração?
É um extravasamento, por evolução, de consciências
individuais em expansão, nos campos do consciente universal, Deus. Evolução
implica sensibilização, que são novos olhos que se abrem para ver mais longo. E
olhamos, não em transe, mas altamente consciente e duplamente atentos. O pensamento
desta consciência universal já está escrito em todos os fenômenos que, com seu
funcionamento, o mostram a quem saiba abrir esses novos olhos do espírito. As
descobertas já estão todas feitas, e já estão todas em ato no universo, os
problemas estão todos resolvidos, porque tudo está funcionando
consequentemente. As descobertas aparecem concomitantemente nos pontos mais
diferentes do globo, porque são o resultado de intuições dadas pela maturação
biológica. O mistério existe apenas em nossos olhos míopes. Às vezes não é
raciocinando nem estudando nos livros, mas abrindo esses novos olhos, por
evolução, — muitas vezes feita apenas de dor e maceração — que se pode chegar a
ver. Então, é por catarse do "eu" que se fazem descobertas. Eis a
intuição.
É
este o meu caso. Estudando-o, vi como funciona a evolução e os processos
intuitivos que com ela estão conexos. A princípio utilizei-os instintivamente,
ou seja, sendo eu manobrado como instrumento do consciente universal, sem que
eu soubesse exatamente como. Mas,
observando e examinando cuidadosamente, consegui perceber a técnica do
fenômeno. Tendo-a assim analisado, formulei o que hoje chamo o "método da
intuição", que, ao menos para mim, constitui hoje um instrumento regular de
pesquisa, e que produziu um original sistema orgânico que já está em seu nono
volume. Achei com isto a chave de todos os problemas do universo.
Só assim posso
explicar-me como minha pesquisa científica caminha ao lado da espiritual e
como os problemas einsteinianos estejam, para mim, conexos e coordenados com os
do misticismo. Goste-se ou não da palavra "monismo", o fato é que o
pensamento de Deus é uno. Goste-se ou não das palavras
"mediunidade", "ultrafania", "inspiração" etc.
(as palavras são palavras), o fato é que a maceração evolutiva está operando
neste caso a catarse biológica que leva minha consciência individual a
realizar um ainda que mínimo extravasamento além da média normal, na
consciência universal. Assim, sem estudo específico nem processos racionais,
nasce no indivíduo um relance de visões que
ele, simplesmente olhando com esses novos olhos espirituais de
sensibilizado, registra com rapidez. Nascem assim os meus volumes em
continuação, um depois do outro, sem preparação e sem pausas. Nesses, não sou
eu que falo, mas é a vida, é essa consciência universal, como acontece todas as
vezes em que o homem cria, na Terra, coisas novas, porque elas só podem provir
daquela fonte. É natural, então que a ciência que
daí nasce esteja saturada de sentido religioso e místico e dos estados de
consciência a ele inerentes, e que a exposição possa chegar a todos os campos,
e resolver todos os problemas sempre orientada dentro do todo. Eis a síntese,
porque o pensamento parte do Uno. Trata-se de um pensamento que está nos
antípodas da ciência atual, e que poderá ajudá-la a salvar-se da especialização
que tende a dispersá-la nos particulares e nos múltiplos, que é o reino
satânico da pulverização do Uno, e está em seu antípoda.
Concluo. Eu tinha o dever
de dizer isso, já que na imprensa e numa multidão de cartas, muitos vão
admirando em mim — quem sabe — algum engenho. Nada de engenho. A única coisa
que faço é ler no livro da vida e sou apenas um pobre amanuense que procura
transcrevê-lo e fielmente. Isto será super-normal. Mas apenas em relação ao
normal humano. Diante, porém do consciente universal, do infinito pensamento
de Deus, o que é um infinitésimo a mais?
Estas minhas conclusões,
provenientes da infinita miséria que, naturalmente, todo ser deve sentir de si
mesmo quando se avizinha ao pensamento diretivo do universo, podem ser uma
prova da genuína realidade do fenômeno. Mas não sei se assim possa chamar-se um
caso natural de evolução que, como é lógico, é lei igual para todos, que os
espera amanhã, pois a evolução significa justamente expansão da consciência
individual na universal, ou seja, ascese da alma para Deus.
Quem quiser sorrir ceticamente destas coisas que lhe poderão parecer loucuras, segundo a psicologia materialista hoje em voga, experimente, antes, ler as 3.000 páginas dos nove volumes já publicados, compreendendo-as. Depois experimente escrever outros nove volumes; o décimo está em preparação e outros a eles se seguirão. Experimente lançá-los em 18 anos, por entre uma guerra como a última, nos dois hemisférios, em várias línguas e edições, que, para alguns escritos, atingiram meio milhão de cópias. Faça isso sozinho, sem preparação e sem meios, desconhecido e estorvado, sem representar nenhum interesse nem grupo humano que o lance e sustente como seu expoente. Experimente conceber um plano do universo, em que os problemas do espírito estejam resolvidos, ao lado das últimas teorias físico-matemáticas, que mais tarde se enquadrarão de per si, também, nas de Einstein. Experimente fazer tudo isso e somente se tiver êxito, poderá então rir destas coisas. Porque os fatos são fatos e não se destroem pela psicologia materialista, com um sorriso cético. E, excluindo a intervenção de forças super-humanas, como explica isso a psicologia materialista?
Gúbio, março de 1950
PIETRO UBALDI