Artigo de Divaldo Franco publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, em 24-09-2015.
Nada obstante o aluvião de fatos agressivos e perversos, quase nos acostumando com a violência que domina a Terra, há pouco mais de duas semanas fomos surpreendidos com mais uma página de dor que comoveu o mundo e tornou-se um símbolo da imensa tragédia dos refugiados da Líbia e de outros países, buscando amparo na Europa. Foi o encontro do cadáver do pequenino Aylan Kundi, de apenas 3 anos, numa praia da cidade de Bodrum, na Turquia. A postura em que se encontrava, dava a impressão de estar levemente adormecido com parte do rosto semienterrada na areia. Havia sido vítima de um naufrágio no qual, além dele, desencarnaram um irmãozinho e a genitora. A fotografia do militar carregando-o após o encontro é significativa e atesta que, no coração do ser humano, apesar de todas as aflições desta hora difícil, permanece viva a chama do amor.
Aquele pequeno e frágil ser, cuja existência foi arrebatada pela loucura que tomou conta da Terra, na forma de uma guerra vergonhosa, como se todas não o fossem, em que os interesses de algumas nações poderosas do Ocidente estão em jogo, comoveu o mundo, e demo-nos conta que somente com o retorno à solidariedade e ao respeito aos direitos alheios lograremos viver em paz. Diversos países europeus que enriqueceram com a escravidão negra, com os tesouros da África sofrida e das Cruzadas vergonhosas contra o Oriente, estão sendo convidados a devolver o furto e o roubo, a resgatar atitudes impiedosas e os crimes desalmados dos colonizadores que destruíram vidas, comunidades e impuseram os seus costumes e crenças, recebem agora as vítimas do seu cruel domínio no passado. São centenas de milhares e talvez milhões, que ora se voltam para as terras da esperança, conduzindo os males e horrores que os assinalam e irão gerar problemas imprevisíveis no porvir. No entanto, enquanto houver crianças, como assinala o poeta indiano Rabindranath Tagore, temos a certeza de que Deus ainda está de bem com a humanidade.
Divaldo Franco escreve quinta-feira, quinzenalmente.