Era uma vez um grande coqueiro de 10 metros de altura. E ao pé dele um coquinho de um ou 2 cm de diâmetro.
E o coqueiro disse ao coquinho: tu és o que eu sou.
E o coquinho respondeu: eu não sou o que tu és. Tu és uma árvore de 10 m de altura e eu sou uma sementinha de 1 a 2 cm.
— Não, disse o coqueiro, eu não estou referindo à tua casca. Estou me referindo a teu germe vivo, a tua casca não é viva. Tu és no teu germe o que eu sou na minha vida. Porque a vida do teu germe é a mesma vida que está em mim.
— Como, disse o coquinho. Eu serei algum dia como tu és agora?
— Tu serás também externamente o que já és internamente o que eu sou. Porque a nossa essência é a mesma, a nossa existência é diferente. A qualidade é a mesma, apenas a quantidade é diferente.
— E o que tenho que fazer, perguntou o coquinho, para ser o que tu és?
— Bem, disse o coqueiro, o teu invólucro tem que se desintegrar. Então tu serás também o que eu sou.
— O que é isso, desintegrar? Quer dizer que eu vou morrer?
– Não, tu não vais morrer, porque se morresse nunca te tornarias coqueiro. Tu não vais morrer. O teu invólucro, algo ao redor de ti que agora te está protegendo, isto tem que desintegrar-se. Isto agora é um auxílio para ti. A casca. Mas daqui a pouco será um empecilho e este empecilho tem que ser destruído para que o teu conteúdo possa expandir-se.
E o coquinho a princípio não quis crer que ele fosse morrer; porque ele estava olhando sempre para a sua casquinha morta, que não era viva…, a casca dura. Mas ele nunca tinha pregado os olhos no seu germe vivo porque a vida não é coisa visível, só a casca é visível. Estava limitada em sua casca e tinha pavor de sua chamada desintegração. Pensava que ele ia morrer e não alguma coisa que ele tinha ao redor de si. Não tinha autoconhecimento como nós diríamos em linguagem popular. Ele se confundia com o que ele tinha e não se identificava com o que ele era de fato. Esse é o mal de todos nós. Não sabemos o que somos…
(Trecho de uma palestra de Huberto Rohden)