Dentro da amplitude que o eu abrange, na luta entre planos evolutivos diferentes, o homem encontra-se em três posições: 1) nível inferior, 2) nível médio, 3) nível superior. O ponto de partida é a posição 1), isto é, a da animalidade; o ponto de chegada é a posição 3), ou seja, a da espiritualidade. O processo da evolução humana se realiza na amplitude representada por estes três níveis, e consiste nesse deslocamento de um nível para o outro. O homem do nível inferior é um primitivo sem conhecimento, sem saber o que faz, porque é dirigido por alguns elementares instintos animalescos, aos quais ele obedece cegamente. Fica satisfeito na terra, seu paraíso, no qual encontra egoísmo, ferocidade, guerras, roubos, crimes, tudo do que ele precisa para desabafar os seus instintos. A ética e as religiões se tornarão problema de atualidade, vital, biologicamente fundamental, porque terão de cumprir inteligentemente a tarefa de dirigir a evolução da humanidade.
Um trabalho superior, dirigido para a espiritualidade, inicia-se no nível médio, que é aquele onde está situada a nossa civilização. Aqui o homem começa a sair do pântano da animalidade, adquire e desenvolve a inteligência, funda religiões e filosofias, descobre a arte, a organização social, a ciência. Mas o nível precedente não está ainda esquecido e definitivamente superado. Ele sobrevive no subconsciente, dele volta para dominar, e a inteligência, que deveria ser usada para se libertar, é colocada a seu serviço. As religiões, em nome do ideal de espiritualidade do 3.º nível, pregam a libertação e a superação da animalidade do 1.º nível, mas para quem pertence a um plano biológico inferior é muito difícil entender a verdade de um plano superior. Então tal biótipo a aceita só na aparência, e na realidade a pratica como uma forma de hipocrisia. A verdade em que de fato o indivíduo acredita é a do seu nível de vida, aquela que ele traz impressa na sua personalidade e que representa a sua forma mental, com a qual ele tudo concebe, entende e julga.
A religião do biótipo do 3.º nível é imparcial e universal, não um partido de grupo. Pela sua forma mental completamente diferente, ele não se pode sujeitar à maneira de conceber e agir das massas. Expulso do terreno delas, ao qual ele não se pôde adaptar, porque a sua fase de trabalho evolutivo é diferente, o homem do 3.º nível permanece no mundo um isolado e condenado, envolvido num tremendo esforço ascensional, pelo qual este pioneiro do porvir está procurando sozinho aproximar-se sempre mais de Deus.
Um verdadeiro trabalho de superação por sublimação, que afasta o ser da animalidade, se faz no 3.º nível. O eu superior começa a afirmar-se com a sua luta contra os impulsos do subconsciente, para atingir a definitiva superação da animalidade. Neste plano o homem não coloca a sua inteligência à serviço da sua parte inferior, mas da superior. O eu não se alia à sua parte mais baixa, mas à mais alta. A balança, que no nível médio se inclinava incerta ora para um lado, ora para outro, em tentativas nem sempre bem sucedidas na luta contra o subconsciente, agora pende para o lado do superconsciente.
Chegado a este ponto da sua evolução, o ser não gasta mais o seu tempo e energias na luta contra o seu semelhante. A inteligência mostrou ao homem qual é o verdadeiro sentido da vida, o seu objetivo, o caminho a percorrer. Então, tempo e energia serão inteligentemente usados, não mais nas vãs tentativas de um cego, mas no trabalho que dá mais fruto como conquista de felicidade, o trabalho da superação da animalidade e do aperfeiçoamento moral.
Enquanto o mundo muito pouco entendeu de tudo isto, o biótipo do 3.º nível está todo
empenhado no esforço da superação. A sua personalidade contém e domina os três momentos ou posições evolutivas do eu: a inferior (instintos), a média (razão), a superior (conhecimento). Neste caso o que dirige a vida é o espírito, dominando os outros dois momentos do eu com um regime de disciplina estabelecida conforme os princípios superiores da Lei de Deus.
Pietro Ubaldi (Livro: Princípios de Uma Nova Ética)