Que é evolução?
É ela possível?
É um fato?
É compatível com a Bíblia? com o Cristianismo?
E o homem? é ele o resultado de uma paulatina
evolução, através de séculos e milênios – ou é ele um ser à parte, direta
criação de Deus?
Um mundo de problemas de candente atualidade...
Problemas não haveria se houvesse plena clareza
daquilo que entendemos por “evolução”, e do modo como realmente decorreu.
O conceito popular
e tradicional da
evolução orgânica, desde
os tempos de Darwin,
é, mais ou menos, o seguinte:
no princípio existiam sobre
a face da terra apenas seres
unicelulares (vamos começar com o mundo dos chamados seres vivos).
Desses unicelulares provieram,
no decurso de
longuíssimos períodos, os pluricelulares, passando
depois pelos vertebrados
e vindo a culminar, por fim, nos animais mamíferos,
nos símios antropóides – e no homo sapiens.
Nesta concepção, como é intuitivo, os seres
inferiores teriam sido a causa dos seres superiores; o menos teria produzido o mais;
o pequeno teria causado o grande – ideologia essa
absolutamente insustentável à luz da
lógica e da matemática. Pois, como qualquer estudante
da “arte do reto pensar” sabe, em caso algum pode o efeito ser maior que sua
causa, uma vez que isto envolveria contradição. E neste ponto está a lógica de
perfeito acordo com a matemática (que não é senão outra palavra para lógica),
não admitindo que o mais possa provir
do menos, no sentido de que este seja
a resultante daquele.
Para concretizar, vamos dar aos seres primitivos,
unicelulares, a perfeição grau 1, aos organismos subsequentes a perfeição 5,
aos vertebrados o grau 10, aos macacos antropóides 50, e ao homem a perfeição
100. É evidente que 5 não podia vir de 1, nem 10 de 5, nem 50 de 10, nem 100 de
50, e isso pela simples razão que o maior não está contido no menor.
Objeta-se
que o maior
está potencialmente
contido no menor,
e dele saiu, através
de milhares e
milhões de anos, mediante
paulatina atualização das potencialidades latentes no ser inferior.
É o que se encontra, em letra de forma, em quase todos os compêndios e tratados
“científicos” que são de uso e abuso nas
instituições de ensino.
A palavrinha mágica
“potência”, “potencialidade”, tem
sido invocada como uma espécie de lâmpada de Aladim para iluminar as trevas da
nossa ignorância, ou como uma chave misteriosa para descerrar as portas de
palácios encantados e descobrir tesouros ocultos.
Na
realidade, porém, essa
tentativa de explicação
pelo recurso a “potencialidades
latentes” não passa dum jogo de palavras sem nenhuma base real. Ou
melhor, essa tentativa
de explicação é
positivamente ilógica e
antimatemática, devendo, por isto, ser abandonada quanto antes como
totalmente anti-científica e absurda.
Em caso algum,
enquanto estiverem em
vigor as leis
da lógica e da matemática,
está o maior contido no menor, nem atual nem potencialmente. A potencialidade significa
uma presença real, e
não meramente fictícia, daquilo que, mais
tarde, aparece como
atualizado. Quer dizer
que, na suposição acima, estava o maior ou superior
realmente contido no menor ou inferior; ou seja, o 5 estava realmente contido
no 1, e assim por diante, até chegarmos a esse absurdo clamoroso, que o 100
estava contido, não somente no 50, mas, indiretamente, também no 1 inicial da
ameba, ou outro ser unicelular.
É tempo para enterrarmos os nossos ídolos, mesmo os
mais “científicos”! Nada pode ser “cientifico”
que não é
objetivamente real, e
nada pode ser objetivamente real
que não é
intrinsecamente possível. É,
porém, intrinsecamente impossível, e flagrantemente contraditório, que o
maior esteja de qualquer forma contido no menor.
Adeus,
portanto, lindas hipóteses
de “potencialidade latente”!...
A lógica e a matemática,
inexoráveis no seus vereditos, te desmascararam como miragem falaz!...
Mas... não provou a ciência, com fatos inegáveis,
que ouve uma evolução de formas vivas inferiores para formas superiores?...
Não, a ciência
não provou isto,
nem jamais o
provará; porque não
pode ser provado o que é
intrinsecamente impossível e irreal. O que a ciência provou, e o que é real, é
que as formas superiores vieram através
de formas inferiores; mas não provou que
o superior veio do inferior.
Simples jogo de palavras?
Não. Vai entre o através e o do uma
diferença infinita, a mesma diferença que vai entre causa e condição, entre real e irreal, entre sim e não.
Pode, certamente, o maior vir através do menor, o superior através
do inferior, mas não podem vir do
menor ou do inferior.
Do
indica a
causa, ao passo
que através diz a condição,
o veículo, o canal, através do
qual fluiu o
efeito, mas do
qual não nasceu.
A água que sai da
torneira não veio do encanamento,
mas, sim, da nascente, fluindo através
do encanamento para chegar à torneira. Não sairia, certamente, da torneira se
não houvesse encanamento, mas
existiria na nascente
mesmo sem torneira
nem encanamento. Pode-se considerar
a condição como
um fator externo
que canaliza em certa direção a atividade interna da causa; mas em caso
algum o efeito é filho da condição, é filho da causa somente. A condição é
estéril, não produz, apenas dirige, canaliza, veicula o efeito em certa direção.
A luz solar no interior de uma sala não vem da
janela aberta, mas vem do sol, sua causa
produtora; vem através
da janela, como
sua condição veiculante. Também haveria sol de janelas fechadas, embora
não fosse canalizado para o interior da sala.
Semelhantemente, os seres superiores da cadeia
evolutiva não nasceram dos inferiores,
como efeitos produzidos
por sua causa;
fluíram apenas através desses seres inferiores, como por
outros tantos canais adutores e dirigentes.
Donde vieram esses seres superiores, já que não
vieram dos inferiores?
Vieram do Ser
Supremo. Vieram de uma causa cuja perfeição é ao menos igual à desses
superiores. E, como esses seres evolvem de perfeição em perfeição, temos de
admitir logicamente que
aquilo que lhes
serve de causa
produtora seja pelo menos
da mesma perfeição
que o mais
perfeito dos seres
em evolução. Para simplificar, vamos chamar essa causa geral a Causa Suprema, ou a Causa
Máxima. Não há
ilogismo ou contradição
em admitir que o Supremo
produza o superior e o inferior, ou que o Máximo seja causa do maior
e do menor. Derivar os inferiores e os superiores
do Supremo, ou os menores e os
maiores do Máximo,
não é anti-científico; é,
pelo contrário, genuinamente científico –
porque não há
ciência contra a
lógica e a
matemática. Anticientífico, porém, seria querer derivar os superiores
dos inferiores, os maiores dos menores, os seres mais perfeitos dos menos
perfeitos. Querer derivar 100 de 50, 50 de 10, 10 de 5, 5 de 1, e assim por
diante, isto, sim, é flagrantemente anti-científico, porque intrinsecamente
contraditório.
No princípio de toda essa longa cadeia evolutiva
não está, pois, o 1, ou até o 0 (zero) – mas está o, quer dizer, o Infinito, o
Absoluto, o Supremo, o Máximo. No início da evolução não está o pouco, de que teria vindo o muito – mas está o TUDO. Do algo menor não podiam vir os algos maiores – mas todos os algos, menores e maiores, podiam vir do Algo Máximo, isto é, do Tudo, da
ilimitada plenitude do Algo.
A
infinita Energia do
Universo, o oceano
imenso da Vida
Cósmica, a Consciência Universal – aquilo que
as religiões chamam
Deus – é que é a Causa
Suprema e Única de todos os efeitos, menores e maiores, ao passo que as chamadas
causas individuais da
natureza não são
verdadeiras causas, senão
apenas condições, canais,
veículos, de que
se serve a
Causa Única para realizar os seus
efeitos.
A semente não é a causa da planta.
O ovo não é a causa da ave.
O infinito oceano de Energia Cósmica, de Vida, de
Inteligência, de Consciência, de Espírito –
ou que outro
nome queiramos dar
à eterna Realidade, essencialmente
anônima – é esta
a Causa única
de todos os efeitos
individuais. O Noúmeno é a causa única
dos fenômenos.
Unicelulares, pluricelulares, organismos,
vertebrados, mamíferos, antropóides, o
homem – tudo isto proveio da Causa Suprema e Única.
Se alguém me pergunta se admito que o homem veio do
macaco, não tenho de responder a essa
pergunta; tenho de fazer ao meu interlocutor outra pergunta, a saber: se ele admite as leis da lógica e da
matemática. Se não as admite, é inútil entrar em discussão com ele, por razões
muito óbvias. Se as admite – ele mesmo já deu resposta implícita à sua
pergunta, negando que o homem tenha provindo do símio – a não ser que recuse
admitir a superioridade do homem ao
macaco – e,
neste caso, é
inútil discutir com
ele, como não
discutirei com o peludo inquilino
de certa jaula do Jardim Zoológico...
(Huberto Rohden - Livro: Profanos e Iniciados)