ACERVO VIRTUAL HUBERTO ROHDEN E PIETRO UBALDI

Para os interessados em Filosofia, Ciência, Religião, Espiritismo e afins, o Acervo Virtual Huberto Rohden & Pietro Ubaldi é um blog sem fins lucrativos que disponibiliza uma excelente coletânea de livros, filmes, palestras em áudios e vídeos para o enriquecimento intelectual e moral dos aprendizes sinceros. Todos disponíveis para downloads gratuitos. Cursos, por exemplo, dos professores Huberto Rohden e Pietro Ubaldi estão transcritos para uma melhor absorção de suas exposições filosóficas pois, para todo estudante de boa vontade, são fontes vivas para o esclarecimento e aprofundamento integral. Oásis seguro para uma compreensão universal e imparcial! Não deixe de conhecer, ler, escutar, curtir, e compartilhar conosco suas observações. Bom Estudo!

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terça-feira, 27 de dezembro de 2016

No princípio era o nada — ou o Tudo?

Comentário(s)

Que é evolução?

É ela possível?

É um fato?

É compatível com a Bíblia? com o Cristianismo?

E o homem? é ele o resultado de uma paulatina evolução, através de séculos e milênios – ou é ele um ser à parte, direta criação de Deus?

Um mundo de problemas de candente atualidade...

Problemas não haveria se houvesse plena clareza daquilo que entendemos por “evolução”, e do modo como realmente decorreu.

O  conceito  popular  e  tradicional  da  evolução  orgânica,  desde  os  tempos  de Darwin,  é,  mais ou menos, o  seguinte:  no princípio  existiam  sobre  a  face da terra apenas seres unicelulares (vamos começar com o mundo dos chamados seres  vivos).  Desses  unicelulares  provieram,  no  decurso  de  longuíssimos períodos,  os  pluricelulares,  passando  depois  pelos  vertebrados  e  vindo  a culminar, por fim, nos animais mamíferos, nos símios antropóides – e no homo sapiens.

Nesta concepção, como é intuitivo, os seres inferiores teriam sido a causa dos seres superiores; o menos teria produzido o mais; o pequeno teria causado o grande – ideologia  essa  absolutamente  insustentável  à  luz  da  lógica  e  da matemática. Pois, como qualquer estudante da “arte do reto pensar” sabe, em caso algum pode o efeito ser maior que sua causa, uma vez que isto envolveria contradição. E neste ponto está a lógica de perfeito acordo com a matemática (que não é senão outra palavra para lógica), não admitindo que o mais possa provir do menos, no sentido de que este seja a resultante daquele.

Para concretizar, vamos dar aos seres primitivos, unicelulares, a perfeição grau 1, aos organismos subsequentes a perfeição 5, aos vertebrados o grau 10, aos macacos antropóides 50, e ao homem a perfeição 100. É evidente que 5 não podia vir de 1, nem 10 de 5, nem 50 de 10, nem 100 de 50, e isso pela simples razão que o maior não está contido no menor.

Objeta-se  que  o  maior  está potencialmente contido  no  menor,  e  dele  saiu, através  de  milhares  e  milhões  de anos,  mediante  paulatina  atualização  das potencialidades latentes no ser inferior. É o que se encontra, em letra de forma, em quase todos os compêndios e tratados “científicos” que são de uso e abuso nas  instituições  de  ensino.  A  palavrinha  mágica  “potência”,  “potencialidade”, tem sido invocada como uma espécie de lâmpada de Aladim para iluminar as trevas da nossa ignorância, ou como uma chave misteriosa para descerrar as portas de palácios encantados e descobrir tesouros ocultos.

Na  realidade,  porém,  essa  tentativa  de  explicação  pelo  recurso  a  “potencialidades latentes” não passa dum jogo de palavras sem nenhuma base real.  Ou  melhor,  essa  tentativa  de  explicação  é  positivamente  ilógica  e  antimatemática, devendo, por isto, ser abandonada quanto antes como totalmente anti-científica e absurda.

Em  caso  algum,  enquanto  estiverem  em  vigor  as  leis  da  lógica  e  da matemática, está o maior contido no menor, nem atual nem potencialmente. A potencialidade  significa  uma  presença  real, e  não meramente fictícia,  daquilo que,  mais  tarde,  aparece  como  atualizado.  Quer  dizer  que,  na  suposição acima, estava o maior ou superior realmente contido no menor ou inferior; ou seja, o 5 estava realmente contido no 1, e assim por diante, até chegarmos a esse absurdo clamoroso, que o 100 estava contido, não somente no 50, mas, indiretamente, também no 1 inicial da ameba, ou outro ser unicelular.

É tempo para enterrarmos os nossos ídolos, mesmo os mais “científicos”! Nada pode  ser  “cientifico”  que  não  é  objetivamente  real,  e  nada  pode  ser objetivamente  real  que  não  é  intrinsecamente  possível.  É,  porém, intrinsecamente impossível, e flagrantemente contraditório, que o maior esteja de qualquer forma contido no menor.

Adeus,  portanto,  lindas  hipóteses  de  “potencialidade  latente”!...  A  lógica  e  a matemática, inexoráveis no seus vereditos, te desmascararam como miragem falaz!...

Mas... não provou a ciência, com fatos inegáveis, que ouve uma evolução de formas vivas inferiores para formas superiores?...

Não,  a  ciência  não  provou  isto,  nem  jamais  o  provará;  porque  não  pode  ser provado o que é intrinsecamente impossível e irreal. O que a ciência provou, e o que é real, é que as formas superiores vieram através de formas inferiores;  mas não provou que o superior veio do inferior.

Simples jogo de palavras?

Não. Vai entre o através e o do uma diferença infinita, a mesma diferença que vai entre causa e condição, entre real e irreal, entre sim e não.  

Pode, certamente, o maior vir através do menor, o superior através do inferior, mas não podem vir do menor ou do inferior.

Do indica  a  causa,  ao  passo  que através diz  a condição, o veículo,  o  canal, através  do  qual  fluiu  o  efeito,  mas  do  qual  não  nasceu.  A água  que  sai  da torneira não veio do encanamento, mas, sim, da nascente, fluindo através do encanamento para chegar à torneira. Não sairia, certamente, da torneira se não houvesse  encanamento,  mas  existiria  na  nascente  mesmo  sem  torneira  nem encanamento.  Pode-se  considerar  a  condição  como  um  fator  externo  que canaliza em certa direção a atividade interna da causa; mas em caso algum o efeito é filho da condição, é filho da causa somente. A condição é estéril, não produz, apenas dirige, canaliza, veicula o efeito em certa direção.

A luz solar no interior de uma sala não vem da janela aberta, mas vem do sol,  sua  causa  produtora;  vem  através  da  janela,  como  sua  condição  veiculante.  Também haveria sol de janelas fechadas, embora não fosse canalizado para o interior da sala.

Semelhantemente, os seres superiores da cadeia evolutiva não nasceram dos inferiores,  como  efeitos  produzidos  por  sua  causa;  fluíram  apenas  através desses seres inferiores, como por outros tantos canais adutores e dirigentes.

Donde vieram esses seres superiores, já que não vieram dos inferiores?

Vieram do Ser Supremo. Vieram de uma causa cuja perfeição é ao menos igual à desses superiores. E, como esses seres evolvem de perfeição em perfeição, temos  de  admitir  logicamente  que  aquilo  que  lhes  serve  de  causa  produtora seja  pelo  menos  da  mesma  perfeição  que  o  mais  perfeito  dos  seres  em evolução. Para simplificar, vamos chamar essa causa geral a Causa Suprema, ou  a Causa Máxima.  Não  há  ilogismo  ou  contradição  em  admitir  que  o Supremo produza o superior e o inferior, ou que o Máximo seja causa do maior
e do menor. Derivar os inferiores e os superiores do Supremo, ou os menores e os  maiores  do  Máximo,  não  é anti-científico;  é,  pelo  contrário,  genuinamente científico  –  porque  não  há  ciência  contra  a  lógica  e  a  matemática. Anticientífico, porém, seria querer derivar os superiores dos inferiores, os maiores dos menores, os seres mais perfeitos dos menos perfeitos. Querer derivar 100 de 50, 50 de 10, 10 de 5, 5 de 1, e assim por diante, isto, sim, é flagrantemente anti-científico, porque intrinsecamente contraditório.

No princípio de toda essa longa cadeia evolutiva não está, pois, o 1, ou até o 0 (zero) – mas está o, quer dizer, o Infinito, o Absoluto, o Supremo, o Máximo. No início da evolução não está o pouco, de que teria vindo o muito – mas está o TUDO. Do algo menor não podiam vir os algos maiores – mas todos os algos, menores e maiores, podiam vir do Algo Máximo, isto é, do Tudo, da ilimitada plenitude do Algo.  

A  infinita  Energia  do  Universo,  o  oceano  imenso  da  Vida  Cósmica,  a Consciência  Universal – aquilo  que  as  religiões  chamam  Deus – é  que  é  a Causa Suprema e Única de todos os efeitos, menores e maiores, ao passo que as  chamadas  causas  individuais  da  natureza  não  são  verdadeiras  causas,  senão  apenas  condições,  canais,  veículos,  de  que  se  serve  a  Causa  Única para realizar os seus efeitos.

A semente não é a causa da planta.

O ovo não é a causa da ave.

O infinito oceano de Energia Cósmica, de Vida, de Inteligência, de Consciência,  de  Espírito –  ou  que  outro  nome  queiramos  dar  à  eterna  Realidade,  essencialmente  anônima –  é  esta  a  Causa  única  de  todos  os  efeitos  individuais. O Noúmeno é a causa única dos fenômenos.

Unicelulares, pluricelulares, organismos, vertebrados, mamíferos, antropóides,  o homem – tudo isto proveio da Causa Suprema e Única.

Se alguém me pergunta se admito que o homem veio do macaco, não tenho de  responder a essa pergunta; tenho de fazer ao meu interlocutor outra pergunta,  a saber: se ele admite as leis da lógica e da matemática. Se não as admite, é inútil entrar em discussão com ele, por razões muito óbvias. Se as admite – ele mesmo já deu resposta implícita à sua pergunta, negando que o homem tenha provindo do símio – a não ser que recuse admitir a superioridade do homem ao
macaco – e,  neste  caso,  é  inútil  discutir  com  ele,  como  não  discutirei  com o peludo inquilino de certa jaula do Jardim Zoológico...

(Huberto Rohden - Livro: Profanos e Iniciados)


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