Por vezes, no inferno terrestre cai uma estrela do céu, só para chorar e amar; chora e ama durante uma vida inteira, cantando na dor própria e alheia, um canto divino inebriado de amor. A dor vergasta e a alma canta. Aquele canto tem estranha magia: amansa a fera humana, faz florescer as rosas entre os espinhos e os lírios na lama; a fera retrai suas garras; a dor, o seu assalto; o destino, seu aperto; o homem, sua ofensa. A magia da bondade e a harmonia do amor vencem a todos; dilata-se e com ele canta e ressoa toda a criação. Naquele canto amargurado há tanta fé, tanta esperança, que a dor transforma-se em paixão de bem e de ascensão. Aquele canto humilde e bom chega de muito longe, cheio das coisas de Deus; é novo perfume em que vibra o infinito; é secreto ciciar de paixão que fala à alma e revela, pelas vias do coração, mais que qualquer ciência, o mistério do ser; é uma carícia em que a dor repousa. Tudo se encarniça na Terra contra o mais simples e inerme que fala de Deus, para fazê-lo calar. Mas a palavra doce ressurge sempre, expande-se, triunfa. Porque é lei que a Boa Nova do Cristo se realize, o mal seja vencido e venha o Reino de Deus. A dor golpeará sem piedade, mas a alma humana emergirá de suas provas e a vida iniciará novo ciclo, pois, o momento está maduro e é lei que a besta transforme-se em anjo, da desordem surja nova harmonia e o hino da vida seja cantado mais alto.
"Sua Voz", por Pietro Ubaldi. Livro: A Grande Síntese. Texto do Cap. O Homem