Por Eronildo Aguiar
Deus é
amor. De Deus não poderia vir o desamor, o imperfeito, o mal. A teoria do desmoranamento, apresentada por Pietro Ubaldi, preludiada no Livro A Grande Síntese e
desenvolvida nos livros Deus e Universo, O Sistema, e Queda e Salvação, do
mesmo autor, responde satisfatoriamente a questões que nenhuma outra filosofia
conseguiu resolver até os nossos dias: O das origens primeiras dos Espíritos.
Esse tema
foi pincelado por Allan Kardec na Revista Espírita, de janeiro de 1862. Vejamos
o que disse a respeito ‘o bom senso encarnado’:
“Um ponto
que também é difícil de compreender é a formação dos primeiros seres vivos
sobre a Terra, cada um em sua espécie, desde a planta até o homem; a teoria
contida sobre este assunto, em O Livro dos Espíritos, nos parece a mais
racional, embora não resolva, senão incompletamente e de maneira hipotética, o
problema, que cremos insolúvel para nós quanto para a maioria dos Espíritos, a
quem não é dado penetrar o mistério das origens. Se interrogados sobre esse
ponto, os mais sábios dizem que não o sabem; mas outros, menos modestos, tomam
a iniciativa por si mesmos e se colocam como reveladores, ditando sistemas,
produtos de suas idéias pessoais, que dão como verdade absoluta. É contra a
mania dos sistemas de certos Espíritos, com respeito ao princípio das coisas,
que é preciso se pôr em guarda, e o que, aos nossos olhos, prova a sabedoria
daqueles que ditaram O Livro dos Espíritos, é a reserva que observaram sobre as
questões dessa natureza. Na nossa opinião, não é uma prova de sabedoria decidir
essas questões de maneira absoluta, assim como alguns o fazem, sem inquietar-se
com as impossibilidades materiais resultantes dos dados fornecidos pela ciência
e pela observação. O que dizemos do aparecimento dos primeiros homens sobre a
Terra se entende quanto à formação dos corpos; porque, uma vez formado o corpo,
é mais fácil conceber que o Espírito vem tomar-lhe posse. Estando dado o corpo,
o que nos propomos examinar aqui é o estado dos Espíritos que os animaram, a
fim de chegar, se possível, a definir, de maneira mais racional do que não se
fez até este dia, a doutrina da queda dos anjos e do paraíso perdido.”
(Allan Kardec - Ensaio sobre a interpretação
da doutrina dos Anjos decaídos - Revista Espírita, janeiro de 1862)
No Sistema
Orgânico e Perfeito criado por Deus as criaturas eram todas perfeitas (de
perfeição relativa, pois absoluta somente a de Deus) e ocupavam funções,
ao ponto de ser oferecido aos espíritos a liberdade de permanecer obedientes a
Lei de Amor ou recusar o convite e tentar expandir suas consciências por livre
vontade. No Sistema de espíritos perfeitos e livres não havia imposição de uma
obediência incondicional (de não poder errar por exemplo), pois isso faria
deles autômatos em vez de autônomos. Automatismo seria aprisionamento e não
liberdade num organismo de infinitas possibilidades — baseado na ordem e na
disciplina, inclusive a de dualidade: Queda e Salvação (- e +).
Os decaídos
[da primeira criação] que viviam no S (Sistema que é perfeito, uno, substância
de Deus, Espiritual) optaram por livre vontade a criar como Deus [expandir-se
mais]. Com isso veio a segunda criação, o AS (o Anti-Sistema) imperfeito, dual,
fragmentado, produto da criação por desobediência, a queda - a matéria).
Erraram por ignorância, não por maldade nem egoísmo.
120. Todos
os Espíritos passam pela fieira do mal para chegar ao bem?
“Pela
fieira do mal, não; pela fieira da ignorância.”
(Perg.
120. Livro dos Espíritos – Allan Kardec)
O Processo
evolutivo [de retorno dos desobedientes] era previsto no S (Sistema). Com a
desordem aparente, os elementos do AS (Anti-Sistema) são atraídos novamente
para o S. No S não há evolução, mas perfeição. Tudo é perfeito no Universo
Criado por Deus e apresentado por Pietro Ubaldi ao ponto de o Sistema ser
auto-corretivo, numa eventual queda que era prevista [de Deus não poderia sair
nada imperfeito]. A evolução [correção da criação dos decaídos] é da Lei. É a
salvação dos que se perderam. Em resumo seria assim: queda = involução [não
entender como retrogradação]. Salvação = evolução.
124. Pois
que há Espíritos que desde o princípio seguem o caminho do bem absoluto e
outros o do mal absoluto, deve haver, sem dúvida, gradações entre esses dois
extremos. não?
“Sim,
certamente, e os que se acham nos graus intermediários constituem a maioria.”
(Perg.
124. Livro dos Espíritos – Allan Kardec)
“A Evolução
não retrograda” (AGS). A queda diz respeito a contração das consciências
sofrida pelos espíritos da primeira criação (perfeitos) que foi proporcional (e
é justo) a suas funções no Sistema [orgânico perfeito]. A Involução [queda]
ocorreu quando houve a desobediência em permanecer na Lei (eram autônomos e
livres para isso). A Evolução se dá somente no AS (na Segunda Criação). É a Lei
atraindo todos de volta no processo de redenção para o S. No S há perfeição.
125. Os
Espíritos que enveredaram pela senda do mal poderão chegar ao mesmo grau de
superioridade que os outros?
“Sim; mas
as eternidades lhes serão mais longas.”
126.
Chegados ao grau supremo da perfeição, os Espíritos que andaram pelo caminho do
mal têm, aos olhos de Deus, menos mérito do que os outros?
“Deus
olha de igual maneira para os que se transviaram e para os outros e a todos ama
com o mesmo coração. Aqueles são chamados maus, porque sucumbiram. Antes, não
eram mais que simples Espíritos.”
(Pergs.
125 e 126. Livro dos Espíritos – Allan Kardec)
Por fim, um
pouco da teoria, pela pena desse “aparelho da grande verdade”, como acentuou
Emmanuel:
"Uma
última observação para maior esclarecimento do fenômeno da Queda. O S é um
organismo baseado na ordem e na disciplina. O ser devia dar prova de
respeitá-lo e assim,conforme a justiça, tornar-se merecedor de permanecer feliz
na eternidade. Eis que já existia potencialmente no S uma prova de compreensão,
obediência e fidelidade, através da qual a criatura deveria demonstrar, como
era indispensável, que sabia viver como ser livre, mas responsável, na
disciplina em que se baseava a organicidade do S. Esta prova foi superada pelos
elementos obedientes, com a sua adesão à Lei, na qual permaneceram enquadrados,
e está sendo superada agora pelos elementos rebeldes, que deverão, para isso,
percorrer todo o ciclo involução-evolução. Deste modo, no final, os dois tipos serão
vitoriosos, merecendo e adquirindo com isso o direito de se tornarem cidadãos
do S."
(Livro: O
Cristo, pág. 7 - Pietro Ubaldi)
Me aterei brevemente em alguns pontos dessa teoria, mais para mergulhar no assunto do que propriamente tentar pontificar verdades, dessa tese que é tremendamente racional e assombrosamente movediça. Como diria o espírito de Gandhi: “Que possamos crescer nas discordâncias e nos enriquecer nas concordâncias”.
Um dos
pontos centrais do pensamento de Ubaldi, é o da necessidade de todos estarmos
em conformidade com A Lei De Deus. Os elementos do AS (Do Anti-Sistema) somos
todos nós. Do irmão átomo aos seres "humanos" encarnados no Universo,
do indivisível aos indivíduos pertencentes ao plano material (concreto). Um
plano equivocado, imperfeito (cosmo caótico), e que agora seus idealizadores
(todos nós) estamos numa “retomada” de consciência para a própria redenção no S
(No Sistema). Sistema Orgânico, Uno, harmônico, perfeito, ‘creação’ de Deus
(nas palavras do professor Rohden), dos cidadãos “eleitos” (como diria
Emmanuel), que deram mostras de superação da prova potencial, quando optaram
por obediência e fidelidade à Lei de Amor.
Outro ponto
que gostaria de tocar, é o da nossa dificuldade de encontrar elementos para
entender o que está acima de nossa compreensão. Nós estamos no físico tentando
entender o que é do metafísico! Como buscar elementos conhecidos para explicar
o desconhecido? Como diria um certo garotinho a Santo Agostinho: “É mais fácil
colocar toda água do oceano num pequeno buraco do que a inteligência humana
compreender os mistérios de Deus!”.
Sendo
assim, o recomendável mesmo, é nos colocarmos na condição de eternos aprendizes
para estes assuntos. Parafraseando outro espírito que admiro (Delfos) : “Hoje,
falo-te pouco e te convido a silenciarmos juntos para que Deus fale em nós.”
Por Eronildo