Meu amigo, deixa a
cada ave o seu vôo!
Deixa a cada planta a
sua forma!
Deixa a cada flor o
seu colorido!
Deixa a cada essência
o seus perfume!
Deixa a cada homem o
seu gênio!
Deixa a cada alma o
seu caminho às alturas!
Não pense que só o teu
brilho seja bom!
Muitos são os caminhos
que levam a Deus...
Onde quer que exista
uma reta vontade – existe uma ponte para o Infinito...
Procura preservar de
falsos caminhos os homens – mas não tenhas por falsos todos os caminhos fora o
teu!
Deus é o Deus da
plenitude – e não da vacuidade.
Deus é o Deus da
variedade – e não monotonia....
Deus é amigo da
evolução e não da estagnação...
Quão tedioso seria o
cenário da flora se todas as flores fossem rosas, lírios ou cravos!
Se todas as folhas das
plantas tivessem a mesma forma e cor!
Quão enfadonha seria a
fauna se só houvesse répteis, ou peixes, ou mamíferos!
Se houvesse, entre os
seres de cada família, apenas uma forma anatômica!
Se todas as aves
tivessem plumagem cinzenta, verde vermelha ou azul!
Se todos os insetos
fossem formigas besouros ou vespas!
Se todos os
quadrúpedes fossem cães ou cavalos!
Quão monótono seria o
mundo mineral se todas as pedras preciosas fossem safiras, rubis, esmeraldas,
diamantes ou topázios!
Se todos os metais
fossem ferro ou cobre, ouro ou prata!
Quão desgracioso seria
o firmamento noturno se todas as estrelas tivessem o mesmo tamanho e fossem
dispostas simetricamente como um tabuleiro de xadrez!
Não queira, ó homem,
corrigir as obras de Deus...
Sabes tu porque vivem
no mundo homens de todas as índoles, caracteres múltiplos, gênios
versicolores?
Se não existem duas
plantas iguais – por que haveria duas almas iguais?
Todo homem é um ser
original inédito – um mundo por si, um cosmo á parte.
Repleto de luz e de
trevas, de alturas e abismos, de enigmas e mistérios.
Não queiras pois
reduzir a fastidiosa monotonia o universo multiforme dos espíritos!
Não tentes substituir
por um deserto de cinza unicolor essa fulgurante epopeia multicor!...
Deixa a cada um o
caráter que Deus lhe deu – e o caminho que Deus lhe traçou!
Respeita nos outros a
liberdade que reclamas para ti mesmo!
Estima o que é teu –
tolera o que é dos outros!
Sê, no grande mosaico,
a pedrinha que és – e deixa que os outros sejam também as pedrinhas que
são!
Se todos fossem como
tu, se tu fosse como os outros – morreria toda a beleza.
Beleza só existe onde
reina harmonia na diversidade...
Beleza é o esplendor
da ordem...
Luz incolor – feita
prisma onicolor...
Huberto Rohden. Livro:
De Alma Para Alma