ACERVO VIRTUAL HUBERTO ROHDEN E PIETRO UBALDI

Para os interessados em Filosofia, Ciência, Religião, Espiritismo e afins, o Acervo Virtual Huberto Rohden & Pietro Ubaldi é um blog sem fins lucrativos que disponibiliza uma excelente coletânea de livros, filmes, palestras em áudios e vídeos para o enriquecimento intelectual e moral dos aprendizes sinceros. Todos disponíveis para downloads gratuitos. Cursos, por exemplo, dos professores Huberto Rohden e Pietro Ubaldi estão transcritos para uma melhor absorção de suas exposições filosóficas pois, para todo estudante de boa vontade, são fontes vivas para o esclarecimento e aprofundamento integral. Oásis seguro para uma compreensão universal e imparcial! Não deixe de conhecer, ler, escutar, curtir, e compartilhar conosco suas observações. Bom Estudo!

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terça-feira, 6 de junho de 2017

Contempla o teu ego como ato no palco

Comentário(s)


Por Huberto Rohden 

É de grande vantagem, meu ignoto leitor, que te habitues a dissociar-te, periódica e assiduamente, do teu pequeno Ego, que é a tua persona ou personalidade, essa máscara do teu genuíno Eu. 

Senta-te na plateia e contempla, calma e imparcialmente, o que o teu Ego faz, lá no palco da vida. Assiste ao drama, à comédia, à tragédia dele - mas não te identifiques com ele, porque isto seria uma ilusão. 

Hoje, por exemplo, acontece ao teu Ego uma censura, amanhã um elogio. Em face da censura, ele se irrita e logo procura argumentos para provar que o vitupério não tem fundamento, que é apenas má vontade, mentira e inveja de outros; mas em face dos louvores o teu Ego fica todo inchado, convencido de que cada palavra de elogio representa puríssima verdade. 

Isso pensa o teu pequeno Ego - mas o teu grande Eu, lá na plateia de expectador, nada tem que ver com isto; está acima dos partidos. O Ego é um grande comediante, político, diplomata. 

Francisco de Assis chamava o Ego “frater ásino” (irmão burro) e conversava com ele sobre as alegrias e mágoas dele. 

Hoje te criticaram, frater ásino, e ficaste todo triste e nervoso... 
Hoje te elogiaram, frater ásino, e ficaste todo inchado de vaidade... 
Como estás cansado, meu burrinho! Repousa um pouco!... 

Assim conversava o sorridente poeta místico, certo de que o Eu Divino nada tinha ver com os gozos e sofrimentos do Ego humano. 

Quando o homem se convence definitivamente de que tudo que lhe acontece, da parte das adversidades da natureza ou da perversidade, não tem importância decisiva, porque para na periferia da sua máscara personal, então entra ele na zona da grande Paz. 

Importante não é o que acontece, por obra e mercê de terceiros - importante é somente aquilo que eu mesmo faço, o que produzo dentro de mim. “O que de fora entra no homem não torna o homem impuro, mas só o que sai de dentro dele” “Não sou melhor porque me louvam, nem sou pior porque me censuram” “O mal que os outros me fazem não me faz mal, porque não me faz mau - somente o mal que eu faço aos outros me faz mal, porque me faz mau”. 

Esse exercício de dissociação é de suprema importância. Ninguém é dono das circunstâncias externas; ninguém pode impor sua vontade ao ambiente; ninguém é atingido na sua íntima realidade pelo que os outros dizem ou pensam dele. 

Os estoicos da antiguidade já praticavam essa serena ataraxia (imperturbabilidade), e os ioguis do Oriente sabem, há milênios, que podemos ultrapassar todos os sansaras (agitação) e entrar no grandioso nirvana (quietude) do nosso eterno Eu.

Essa transformação da inquietação em quietação, depende de dois fatores: 1) da firme convicção de que não somos o Ego, e sim o Eu; 2) de um exercício sistemático dessa dissociação. Esse exercício, naturalmente, tem que ser praticado no momento oportuno. É fácil manter a calma em dias de bonança. 

Mas, quando alguém nos ofende e nosso velho Ego se revolta e forja planos de vingança - então é chegado o momento para apelarmos para ataraxia (imperturbabilidade) e o nirvana (quietude) e impormos quietação a todo sansara (agitação) que procura encrespar a superfície do lago.

“Amigo, a que vieste?” - quem pode falar assim a um traidor, no momento em que ele entrega seu mestre e benfeitor às mãos dos inimigos mortais, esse é dono do seu destino e plenamente liberto. O homem profano chama ‘covardia' essa atitude de não violência e de benevolência em face de uma injustiça e acha que é sinal de “coragem e de brio” revidar injúria com injúria, ofensa com ofensa. 

Quem ainda é joguete passivo dos padrões da nossa corrupta civilização, esse não pode pensar e agir de outro modo. Mas quem conseguiu libertar-se dessa escravidão, sabe que 1% de benevolência exige maior cabedal de coragem e bravura do que 100% de violência. 

Opor violência à violência é, simplesmente, obedecer à lei mecânica de causa e feito, como qualquer autômato passivo e inerte - mas opor benevolência à violência é superar essa lei, romper essa cadeia férrea de ação e reação material e proclamar a Nova Constituição Cósmica do espírito sobre as ruínas da matéria. 

No princípio, esse exercício de libertação sistemática produz um ambiente de dolorosidade e humilhação, sobretudo quando nossos melhores amigos nos consideram covardes e homens sem brio; mais tarde, porém, surge a consciência duma força, numa vida nova, que acabará por estabelecer na alma um clima de segurança, serenidade e inefável beatitude. 

Se a libertação fosse fácil, seria praticada pelos fracos e covardes, que são legião; mas, como é difícil, dificílima, só a conseguem realizar os fortes e os corajosos, que são relativamente poucos, no meio de uma humanidade de moluscos e invertebrados... É indispensável que “transvalorizemos todos os valores”, como diria Nietzsche, que criemos um novo padrão de valores no seio da humanidade. 

Sem essa nova consciência dos valores, não conseguiremos sair da nossa prisão tradicional, embora lhe douremos jeitosamente as grades e cantemos hinos à liberdade - à sombra do nosso cárcere. Quem não quiser pagar o preço da sua libertação não será livre. Esse preço é elevado, porque é um doloroso Egocídio, embora pareça morte real, é, de fato, uma ressurreição, o início de uma vida maior. 

O difícil está em crermos nessa vida maior antes de a termos experimentado em nós. Aqui entra em cena o fator misterioso e imponderável da "fé" que não é senão a estranha intuição da nossa natureza divina, a reminiscência da nossa origem divina e o anseio do regresso à mesma. Fides (fé) é fidelidade a seu verdadeiro Eu. 

Se a lagarta não tivesse “fé” na borboleta, será que aceitaria a morte da crisálida? Mas a lagarta aceita tranquilamente essa morte aparente, porque a sua “fé biológica” lhe diz que essa metamorfose não significa perda, mas lucro, e ela aceita o lucro real por uma perda aparente, morrendo na crisálida a fim de ressuscitar na borboleta. 

Sem essa fé ninguém consegue ultrapassar a misteriosa barreira do pequenino Ego e entrar na gloriosa liberdade dos filhos de Deus. 

“Tudo é possível àquele que tem fé...” 

Livro: A Grande libertação.


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