Pela estrada poeirenta ias cantando a música festiva da esperança e anunciavas que seguias ao Festival da Colheita.
Levavas alimentos e água para as horas cansativas do largo dia.
Todos sorriam, vendo o teu júbilo, e pressentiam que, ao retorno, estarias sobrecarregado de frutos e víveres para te abasteceres na quadra hibernai.
A tua emoção gerava expectativa e as pessoas indagavam-se como, tão jovem, tiveras tempo de ensementar a terra de tal forma que te candidatavas aos resultados de uma sega rica.
Também eu, que já conhecia o solo generoso, que sempre retribui multiplicado tudo aquilo que recebe, aguardei-te na volta.
Quando o céu se adornava de estrelas cravadas no veludo das sombras, ouvi tua voz. Corri à porta para ver-te coroado de riquezas.
Surpreso, constatei que trazias vazias as mãos, embora o rosto brilhasse com peregrina luz.
— Onde estão os frutos e as raízes, as dádivas com que a terra te respondeu à sementeira? — indaguei-te curioso.
— Todos estão no coração — respondeste, tranqüilo.— Durante o dia esparramei alegria e amor, bondade e fé nas criaturas de Deus. Agora retorno com a taça dos sentimentos repleta com a paz que decorre do dever cumprido.
— A tua, bem se vê, meu filho, é a colheita imperecível dos alimentos eternos da vida. — Não te canses, pois, de semear.
Rabindranath Tagore,
por Divaldo Franco. Livro: Pássaros Livres, Cap. XXXI