Tu abriste a porta da tua choupana, sem perguntar-me nada, e me deste abrigo durante a noite de frio.
As tuas mãos gentis me ofereceram nam(*) e me nutriste.
Havia paz no teu lar, e a laranjeira do lado de fora derramava a taça de perfume no ar, que inebriava o ambiente com aroma doce.
O teu silêncio respirava ternura e veneração pelo anônimo que te pedia abrigo.
Quando o dia surgiu risonho, devendo prosseguir a jornada, apontei-te uma pedra e tornei-a diamante, ofertando-a para agradecer-te a hospedagem.
Porque permanecesses triste, indaguei-te o que querias de mim.
Agigantando-te como uma aurora que vence as sombras teimosas, demonstraste a grandeza da tua ambição, e pediste:
— Dá-me a sabedoria que despreza todas as coisas transitórias, ensinando-me a ter alegria na pequenez e na adversidade, e humildade quando adornado de poder ou cercado de bajulação.
Naquele momento, vi que não podia ir além, pois em ti encontrara o discípulo que buscava. Por essa razão, fiquei contigo, ensinando-te a técnica da iluminação.
Rabindranath Tagore
Por Divaldo Franco, cap. XXXIII, no Livro: Pássaros Livres
______________
(*) Nam - Pão especial, semelhante a pastel, porém sem recheio.