Encontrei-te, criança, aturdindo as pessoas que não dispunham de tempo para
brindar-te consideração.
Os teus olhos, quais lanternas mágicas, brilhavam no rosto negro e sujo de pó.
Os teus cabelos empastados e o teu corpo abandonado não recebiam banho havia
muito tempo.
Parecias um diamante no lodo, que logo recupera o brilho, quando retirada a lama
que o macula por fora, sem lhe atingir a pureza interior.
Sorriste para mim e tocaste minha mão, como se desejasse proteção.
A tua ternura me comoveu.
Perguntei-te o nome, e me disseste:
— Tamil!
Indaguei-te onde moravas, e, sorrindo com dentes de pérola alva, respondeste:
— Em qualquer lugar, sob o olhar das estrelas e o amparo da noite.
Ficamos amigos. Desde aquele dia te amo.
Insisti para dar-te algo de mim e recusaste receber.
Então, interroguei-te outra vez:
- Que queres de mim? Posso oferecer-te qualquer coisa de que necessitas. Que
desejas que te dê?
A tua resposta, meu filho e minha luz, permanece gravada em meus ouvidos,
ressoando:
— Eu não quero nada de voce. Eu quero você.
A partir daquela hora aqui me tens. Ama-me, que necessito, e deixa que eu te ame,
qual a praia submetida à ininterrupta carícia das ondas do mar.
Rabindranath Tagore
Por Divaldo Franco, cap. XXXII, no Livro: Pássaros Livres