Hoje, comemora-se 160 anos da primeira publicação de O Livro dos Espíritos. Numa singela homenagem desse site apresentamos aqui uma entrevista com Pietro Ubaldi ao Jornal Pernambuco Espírita dada em Outubro de 1955. A abordagem de Ubaldi é de muito valor. Por isso mesmo, com muita satisfação transcrevemos aqui parte da entrevista que segue:
Fizemos ao prof. Pietro Ubaldi, as seguintes perguntas, que sem nenhuma afetação e dentro da maior calma, ele respondeu a todas com absoluta segurança e sem rodeios. Ei-las:
1- Como interpreta as doutrinas contidas no Livro dos Espíritos?
R. Aceito espírito e matéria. Admito a existência do perispírito, contudo ainda não cheguei à conclusão científica positiva da sua existência, como um dos elementos formadores da personalidade humana.
5- O Sr. aceita a pluralidade dos mundos habitados?
R. Aceito a pluralidade dos mundos habitados, sem nenhuma sombra de dúvida. Cada mundo tem a sua forma particular. Todos obedecendo aos ditames divinos de aperfeiçoamento das suas humanidades. É interessante frisar que em todos eles a reencarnação é a condição de evolução, de reforma. É meio primordial das criaturas chegarem à perfeição.
6- O Sr. aceita o Espiritismo no seu tríplice aspecto: ciência, religião e filosofia?
R. O Espiritismo no Brasil assume um aspecto todo especial, em relação aos demais países do mundo. O Espiritismo no Brasil é religião, enquanto nos outros países é estudado como ciência e como filosofia.
7- O Sr. aceita o Espiritismo como doutrina cristã?
R. Aceito o Espiritismo como doutrina eminentemente cristã e como tal, será aceito por todos, logo que se espalhe pelo mundo. Será a religião de terceiro milênio. O mundo tem apenas 45 anos para completar a sua reforma.
8- Como concebe Deus?
R. Deus é a inteligência suprema do universo. É o ponto de convergência de todas as criaturas. A ciência oficial não pode compreender Deus. Não pode chegar até Deus, porque não tem conhecimento bastante. Há outro caminho para se chegar até Deus. É o caminho do coração. Quando não de chega até Deus pelo raciocínio, se chega pelo sentimento. A intuição que temos da existência de Deus, não podemos demonstra-la, porque não conhecemos Deus em sua essência. somente a intuição no-Lo revela e para os conhecimentos atuais da humanidade, isto é o bastante.
9- Como encara a Codificação Kardequiana?
R. É um trabalho que veio revolucionar o pensamento humano. Ela deu um sentimento completamente novo ao estudo da metafísica. Imprimiu um novo sentido no campo da bondade, da paciência e da caridade. Estabeleceu para o mundo um conteúdo moral muito elevado da justiça de Deus e seus atributos. Como sistema filosófico espiritualista, tem os principais elementos para constituir uma verdadeira filosofia. Há necessidade de um gênio, alguém para desenvolver estes princípios contidos nos livros básicos do Espiritismo. É necessário um estudo mais desenvolvido.
A codificação kardequiana tem todos os princípios científicos em estado de embrião. A ciência oficial de hoje não os encara como coisa séria. É preciso, pois, alguém de responsabilidade, apareça para incentivar o estudo das doutrinas dos espíritos nos meios científicos, norteando-lhes o verdadeiro estudo, fazendo com que a ciência oficial, siga-lhes as pegadas. E no campo experimental, dentro das instituições espíritas, dar uma nova feição ao estudo da mediunidade hoje tão malbaratada nesses centros de estudos.
As impressões do Prof. Pietro Ubaldi sobre as Comemorações do 1o. Centenário do Espiritismo
Perguntaram-me o que eu penso a respeito do primeiro Centenário do Espiritismo. Antes de tudo quero declarar que me considero espírita. Todas as vezes que no ambiente espírita acho pessoas boas e honestas, como quase sempre achei, mas, que não me posso considerar espírita quando me devo concordar com espíritas que exploram a verdade e não acreditam em Deus e que quereriam para eu ser espírita, que eu condenasse e agredisse os outros grupos de religião. Isto eu não posso fazer, porque quero abraçar a todos. Explico tudo isto para esclarecer vários mal-entendidos que nasceram a este respeito. A minha é a religião da bondade e fico unido a todos os que a praticam em qualquer religião que estejam; no entanto afasto-me de todos que não a praticam, em qualquer religião que estejam. Para mim interessa a substância e não a forma.
Por isso, se a celebração deste primeiro Centenário do Espiritismo for útil para despertar nas almas esta substância de amor recíproco e bondade, dar-lhe-ei a minha adesão completa. Mas, se pelo contrário, forma somente ruidosa manifestação exterior onde prevaleçam interesses humanos, como infelizmente em geral acontece nas manifestações religiosas de nosso tempo, aí eu não saberia que fazer e vim dizer, embora ficando sempre com o maior respeito para tudo o que for o meu próximo, do que eu devo amar como a mim mesmo.