ACERVO VIRTUAL HUBERTO ROHDEN E PIETRO UBALDI

Para os interessados em Filosofia, Ciência, Religião, Espiritismo e afins, o Acervo Virtual Huberto Rohden & Pietro Ubaldi é um blog sem fins lucrativos que disponibiliza uma excelente coletânea de livros, filmes, palestras em áudios e vídeos para o enriquecimento intelectual e moral dos aprendizes sinceros. Todos disponíveis para downloads gratuitos. Cursos, por exemplo, dos professores Huberto Rohden e Pietro Ubaldi estão transcritos para uma melhor absorção de suas exposições filosóficas pois, para todo estudante de boa vontade, são fontes vivas para o esclarecimento e aprofundamento integral. Oásis seguro para uma compreensão universal e imparcial! Não deixe de conhecer, ler, escutar, curtir, e compartilhar conosco suas observações. Bom Estudo!

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quinta-feira, 6 de abril de 2017

Verdadeira Religião

Comentário(s)


Por Huberto Rohden 

No catecismo tive de aprender que há uma só religião verdadeira, e que esta é, naturalmente, a do autor do catecismo, como não podia deixar de ser.                           

Se o meu catecismo de antanho tivesse sido escrito por um adepto de outra religião, é claro que esta seria a religião verdadeira e única, e Deus seria invocado como o chefe supremo desse partido religioso. 

Se percorrêssemos todos os credos do orbe terráqueo – centenas e milhares – descobriríamos que há tantas religiões verdadeiras e únicas quantas as igrejas, seitas ou grupos religiosos do mundo. Requer-se muita ingenuidade e miopia espiritual para admitir que o Deus do Universo tenha resolvido apor precisamente à minha religião o sinete da sua autenticidade e unicidade, excluindo desta aprovação as religiões de todos os outros homens do mundo que não afinarem pela minha teologia. As outras religiões são todas “falsas” – por quê? Ora, é evidente, por não serem minha religião.

De todos os tipos de egoísmo – individual, nacional, eclesiástico – este último é, sem dúvida, o mais funesto, porque é um “egoísmo sagrado”, mantido e praticado “por motivos de consciência”; e em nome desse egoísmo eclesiástico têm sido cometidos os mais pavorosos crimes, em todos os tempos e países do mundo.

Desde que uma idéia religiosa seja organizada, ela entra na zona do egocentrismo exclusivista, porque nenhuma organização pode subsistir sem determinados estatutos que definam quais os indivíduos que pertençam aos “de dentro” e quais aos “de fora”. Os “de dentro” são então considerados como ortodoxos, os “de fora” são heterodoxos; aqueles são proclamados amigos de Deus, estes são guerreados como inimigos de Deus – tamanha é a nossa cegueira e tão intolerante é o nosso egoísmo!

No Ocidente cristão, essa cegueira e esse egoísmo são atribuídos ao maior gênio espiritual que o mundo conhece àquele cuja espiritualidade não conhecia fronteiras nem barreiras de espécie alguma. E, para que os adeptos desta ou daquela religião organizada não percam a sua estreiteza e intolerância sectária, são eles rigorosamente proibidos de ler as palavras diretas do Cristo, como brilham nas páginas do Evangelho, ou, quando têm permissão de ler esse livro sacro, os chefes da respectiva seita não lhes permitem entenderem e interpretarem essas palavras segundo a sua consciência individual.

Em face desta triste situação, houve quem lançasse aos quatro ventos o slogan: “Religião é o ópio para o povo!”, entendendo por “religião” essas criações humanas e ignorando a realidade divina da Religião, que faz parte da própria natureza humana. Já no segundo século escrevia Tertuliano que a “alma humana é crística por sua própria natureza”.

Os agrupamentos organizados só podem existir e prosperar enquanto continuarem a professar esse espírito unilateral; se a ele renunciarem, deixarão de existir como igrejas ou seitas, como formas de religião A, B ou C, embora possam continuar a existir como Religião Universal, como Espiritualidade Cósmica, como Experiência Divina, sem nome nem forma, nem barreira nem bandeira. Essa existência universal, porém, não lisonjeia o egoísmo humano, que tem a necessidade instintiva de propriedade individual e pode dizer “isto aqui é meu”, “eu sou desta igreja”. O homem espiritualmente imaturo necessita de um “credo geométrico” cujos limites sejam nitidamente visíveis, como as linhas de um círculo, triângulo ou quadrado. O homem espiritualmente maduro também tem o seu credo, mas é uma entidade orgânica, com o princípio vital de uma planta, sempre idêntico, sempre fiel a si mesmo, mas não mecanicamente delineado. Para o sectário, o credo é letra morta e mortífera – para o homem espiritual, o credo é espírito vivo e vivificante.

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Qual é, pois, a verdadeira religião?

É aquela que ajuda o homem a encontrar a Deus, sobretudo o reino de Deus dentro de si mesmo. Possivelmente, a forma externa da religião passará por diversos estágios, como o próprio homem. Se me perguntassem qual a vida verdadeira, se foi a da minha infância, a da minha adolescência ou a da minha maturidade, eu não hesitaria em responder que todas essas formas de vida são igualmente verdadeiras para mim, porque por detrás de todas elas está a minha única vida verdadeira. Mas, do fato de eu, em criança, ter brincado com soldadinhos de chumbo ou figurinhas de cera ou de barro, não se segue que deva fazer o mesmo hoje em dia; e do fato de eu, como jovem, ter vivido num mundo de aventuras pitorescas e até perigosas, não se segue que deva continuar a fazer o mesmo durante o resto da minha vida. Considero verdadeiro e bom o que fiz na infância, na adolescência e o que estou fazendo hoje, no tempo da minha maturidade, porque, tratando-se de um ser em perene evolução, a vida verdadeira não é um determinado estado.

Nenhuma e todas as religiões são caminhos que procuram levar o homem à religiosidade.

A religiosidade é verdadeira, porque conduz o homem à verdade libertadora, que é felicidade.

A religiosidade é a experiência mística da paternidade única de Deus, que transborda na vivência da fraternidade universal do homem.

Esta experiência é possível em qualquer religião, mas transcende todas as religiões. Não basta ter religião, é necessário ser religioso.

E isto é possível em qualquer religião, e também sem religião alguma, porque, como disse o mestre: “O reino de Deus não vem com observações, nem se pode dizer: está aqui, ou está acolá! – Mas o reino de Deus está dentro de vós”.

Isto é religiosidade, que é a única religião verdadeira.

Einstein escreveu: “Eu não tenho religião alguma, mas sou um homem profundamente religioso, porque vejo um Poder Supremo em todas as coisas da Natureza.

Essa religiosidade é que é a verdadeira e maior religião.

É uma religião revelada?

Sim, uma religião revelada de dentro do homem, de dentro do reino de Deus, que está no homem, como tesouro oculto, como luz sob o velador, como pérola no fundo do mar.

(Huberto Rohden, no livro: Orientando para a autorealização. Cap.: Verdadeira Religião)


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