Por Huberto Rohden
Era uma vez um prisma. Um lindo prisma triangular de vidro cristalino.
Um raio de luz incolor atravessou esse prisma. E do outro lado apareceram sete cores, as sete cores do arco-íris, desde o vermelho até ao violeta e todas as cores intermediárias, sem falar do infravermelho e do ultravioleta.
De repente, as cores começaram a brigar entre si.
Viva eu! - exclamou o vermelho. - Eu sou feito de ondas longas! Vocês são todas de ondas curtas.
Que pretensão! - replicou o verde. - Você é da cor da bandeira comunista. Eu sou verde como a esperança, como a vida da natureza.
Cala a boca! - bradou o azul. - Você é um integralista verde; eu sou azul como o céu; vocês são da terra.
Ai, ai – gemia o anil, dando um empurrão na cor de abóbora. - Você pisa nos meus calos; sai daqui, abóbora pesadona.
Assim brigavam entre si as sete cores do prisma.
Silêncio!
De quem era essa voz trovejante? Era da luz branca, incolor, do outro lado do prisma.
Todas as cores fizeram silêncio profundo. E, no meio desse profundo silêncio, assim falou a Luz Incolor:
Que estais aí a brigar uns com os outros? Não sabeis que todos vós nascestes de mim? Que eu, a Luz Incolor, sou a origem de todas as cores? Se tivésseis uma visão da Realidade Total, não brigaríeis por causa das vossas facticidades parciais. Devido à vossa insipiência e miopia é que não enxergais que a sapiência vê a síntese de todas as aparentes antíteses; que não há antagonismo entre vermelho, verde, azul, etc., mas que todas as diversidades são filhas da unidade e podem amar-se umas às outras. Acabai com essa confusão da ignorância e abri os olhos para a unidade em todas as diversidades!
Por momentos, as sete cores fizeram silêncio de profunda auscultação.
Finalmente, a faixa azul-celeste assim falou, calma e sensatamente:
Estou começando a compreender que a luz Incolor tem razão. A nossa aparente variedade é apenas um reflexo da unidade real. A nossa visão unilateral nos faz inimigos uns dos outros; se tivéssemos uma visão onilateral, seríamos todos amigos.
É verdade – acrescentou a luz verde -, nós somos o Universo, o Uno da Realidade manifestado no Verso das Facticidades.
É isso mesmo – bradaram todas as cores -, nós somos o Universo, a Realidade Univérsica. Quem é sapiente nos compreende, quem é insipiente nos critica.
Muito bem! - exclamou a luz infravermelha. - Nada é contrário, tudo é complementar; é essa a maravilhosa harmonia da natureza.
Mas...- murmurou uma voz cavernosa, que vinha da escuridão do ultravioleta. - Mas...quem não superou a velha jumentude não compreende a sabedoria da juventude... Contra a estupidez os próprios deuses lutam em vão.
(Huberto Rohden – Livro: Experiência Cósmica)