Muitos dos que falam e escrevem sobre Einstein e a sua Teoria da Relatividade pensam que o grande matemático tenha atingido esse resultado pensando intensamente, espremendo os miolos a tal ponto até que, finalmente, atingisse essa certeza.
E sobre essa falsa premissa tentam retraçar o caminho por onde Einstein teria andado.
Nada disto, porém, aconteceu. Inúmeras passagens da sua vida desmentem esse processo.
Há um processo que eu, na minha filosofia cósmica, denominei ego-pensante, e outro processo que designei pelo termo cosmo-pensado.
No primeiro caso, confia o homem exclusivamente no poder do seu próprio pensamento, da sua egoidade humana, da sua atividade cerebral. O resultado desse processo é diretamente proporcional ao esforço despendido. Mas, como o ego é uma "peça secundária do cosmos", como diz Arnold Toynbec, e representa uma parcela infinitesimal do imenso cosmos, é natural que este resultado da ego-pensação não possa ser grande, que deva ser como um átomo em comparação com o Universo.
Este processo ego-pensante é o único que o grosso da humanidade conhece. Há, certamente, variantes nesse processo; há homens dotados de um poder ego-pensante de 1%, de 10%, de 50% ou mais; mas, em qualquer hipótese, a proporção é infinitamente pequena em comparação com o imenso poder cósmico. Um pirilampo pode ter lanternas fosforescentes maiores ou menores - mas, que é isto em face da imensa claridade do sol em pleno meio-dia?
Há, todavia, uns pouquíssimos homens cosmo-pensados. Não são eles que com o poder do seu ego pessoal pensam, mas são pensados pelo poder do cosmos, pela alma do Universo, suposto que eles permitam essa cosmo-pensação.
Este processo consiste numa espécie de alargamento dos canais humanos para que as águas vivas da Fonte Cósmica possam fluir livremente por eles.
Neste caso é o Uno do Universo, a alma invisível do Todo, que entra em ação, ao passo que os canais do Verso funcionam apenas como simples recipientes, veículos e transmissores.
Quando o homem deixa de ser ego-pensante e passa a ser cosmo-pensado (também cosmo-vivido e cosmo-agido), sabe dos mistérios do cosmos mais do que através de 50 anos de ego-pensação.
E, quando depois os ego-pensantes tentam explicar como o cosmo pensado chegou a certos resultados, para eles incompreensíveis, perdem o seu tempo em hipóteses e conjecturas inúteis.
Entretanto, por via de regra, o próprio cosmo-pensado gastou longos anos e árduos esforços na penosa peregrinação da sua personalidade ego-pensante.
Einstei afirma de si mesmo: "EU PENSO 99 VEZES E NADA DESCUBRO; DEIXO DE PENSAR - E EIS QUE A VERDADE ME É REVELADA".
Esses esforços de ego-pensação foram necessários como subestrutura preliminar, mas não foram suficientes para lhe revelar a grande verdade.
Um engenheiro constrói uma vasta rede de encanamento para prover de água uma cidade; mas, se não tiver uma nascente de água permanente - que não faz parte do seu encanamento - nunca terá água na sua rede. A nascente é causa, os encanamentos são apenas condições.
Tudo prova que Einstein, cedo ou tarde, atingiu alto grau de cosmo-pensação. Em Princeton, onde convivi com ele, vivia ele em quase perpétuo silêncio. Na Politécnica de Zurique, poucos dias antes de lançar ao papel a fórmula da Relatividade E=m.c², desapareceu da Universidade e da família por diversos dias, sem revelar o seu paradeiro, porque tinha imperiosa necessidade de solidão e silêncio para dar à luz a sua prole mental.
Na Universidade de Berlim, como já dissemos, encarcerava-se não raro, por dias inteiros no seu quartinho paupérrimo nas águas-furtadas, trancava a porta, não aceitava visitas e dava ordem à esposa para lhe colocar uma bandeja com sanduíches e outros alimentos diante da porta do quarto. No seu quarto andava de pés descalços, em mangas de camisa, abismado horas e horas em total imobilidade, tal qual um yogui hindu em estado de samadhi. Nestas horas de intensa cosmo-pensação, ou cosmo-atuação, estava Einstein totalmente alheio a todo o mundo externo e intensamente identificado somente com o Uno interno.
Quando os seus colegas de estudo lhe perguntavam como iria provar a sua teoria, respondeu que a prova experimental dependia duma técnica muito aperfeiçoada, ainda não existente, mas que a certeza não dependia de provas, porque o Universo era um sistema lógico de absoluta precisão. Estas palavras indicavam que Einstein havia intuído o invisível do Uno do Universo, embora não pudesse descrever o Verso da técnica externa.
Uma comparação talvez possa esclarecer esse processo: suponhamos que um genial clarividente enxergue o interior de um coquinho vivo. Não vê raízes, tronco, folhas - nada, neste minúsculo germe branco. Mas suponhamos que esse vidente seja dotado de uma perfeita visão de todas as potencialidades do coquinho, que daí a anos, se manifestará num possante coqueiro com folhas, flores e frutos plenamente atualizados. Se esse vidente pudesse assim antecipar por 10 a 20 anos a sucessividade de tempo e espaço, na simultaneidade do eterno e do infinito - que fenômeno espantoso seria esse! Esse homem veria na ilusão da sucessividade a verdade da simultaneidade.
É mais ou menos assim que devemos considerar a vidência da unidade do Universo simultâneo que se manifesta sempre de novo em diversidade na sua sucessividade.
Sem admitirmos uma visão unitária do Cosmos é inútil querermos compreender a visão diversitária com que quase todos tentam explicar a Teoria da Relatividade.
Sem cosmo-vidência a ego-vidência é um eterno enigma.
Felizmente, essa cosmo-vidência, se está tornando cada vez menos misteriosa e cada vez mais manifesta. Nos últimos tempos a parapsicologia tentou reduzir a termos de ciência racional o que outrora era rejeitado como simples superstição ou crendice popular.
Na nossa filosifa cósmica ou univérsica, nascida no coração do Brasil, há diversos decênios, está consolidando as bases cosmo-racionais desta visão, partindo da unidade do centro, a fim de explicar as diversidades das periferias.
Huberto Rohden, do Livro: Einstein, o Enigma do Universo - Págs: 37 a 40