Havia largos anos que Thomas Edison trabalhava para
crear a lâmpada elétrica de filamentos, que hoje nos parece algo tão natural e
simples. Depois de haver realizado,
neste sentido, setecentos
experimentos diversos sem
nenhum resultado
satisfatório, disseram-lhe alguns
dos seus colaboradores profissionais: “E tempo
perdido, sr. Edison! Fizemos setecentos experimentos de todas as espécies, e
não adiantamos um passo – não sabemos nada!”...
– O quê? –
exclamou o grande
inventor – Não adiantamos um passo?
não sabemos nada? Conhecemos setecentas coisas
que não dão certo – e
isto vocês chamam “nada”? Estamos
mais próximos da
verdade por setecentos passos do
que dois anos atrás – e isto vocês consideram tempo perdido?
Edison
continuou a pesquisar
com imperturbável perseverança e
os fatos provam que o grande
gênio tinha razão.
O mesmo acontece
no terreno espiritual.
O homem profano está
sempre disposto a fixar os olhos nos seus fracassos, na falta de resultados imediatos;
impressiona-se sempre com
os negativos da vida,
esquecendo-se dos positivos. Os
seus pensamentos e
as suas conversas giram em
torno dos males que sofreu ou
receia sofrer, e fecha os olhos para os bens reais de que sua vida
está repleta. Ignora que o “mal” não consiste
em alguma realidade, mas que é simplesmente a ausência do real, que é o
“bem”.
Que é treva senão ausência de luz?
Que é moléstia senão ausência de saúde?
Que é morte senão ausência de vida?
Que é pecado senão ausência de santidade?
O profano, vítima de
ignorância, procura debelar os
negativos da vida,
os males, atacando-os diretamente, de frente – o que é tão absurdo como
querer afugentar as trevas de uma sala
espancando-as com paus ou ferros, tentando matá-Ias com espadas ou lanças. Sendo
que a treva não é senão a ausência da
luz, o único
meio de acabar com
a escuridão é substituí-Ia
pelo oposto, suplantar a ausência pela presença da luz – e lá se foram
as trevas! porquanto o negativo é incompatível com o positivo.
Da mesma forma, ninguém pode expulsar a moléstia de
outro modo que não seja pela substituição
da saúde, como ninguém
pode abolir o pecado
senão pela introdução da santidade.
Semelhante
atrai semelhante – é esta a
homeopatia do espírito,
é esta a lei eterna e universal que rege o macrocosmo lá
fora e o microcosmo cá dentro. Quem vive
habitualmente num clima
mórbido de negatividade –
temor, ódio, rancor, ressentimento, pessimismo, tristeza, desânimo,
espírito de crítica
e descaridade – prepara o terreno para novas negatividades e derrotas em
série. Toda atitude negativa é uma gestante que leva no seio um embrião feito à
sua imagem e semelhança, e, cedo ou tarde, dará à luz uma nova prole de caráter
negativo – perpetuando assim a interminável cadeia de males.
O único meio
de melhorar o mundo
e a vida
humana é assumir
e manter invariável atitude
positiva – altruísmo, amor, benevolência, alegria, confiança, espírito de
caridade e conciliação, atmosfera de harmonia e bem-querença – porque o positivo
atual cria os
positivos potenciais, e
estes, quando devidamente maturados, geram novas
positividades, criando epopéias de bemestar e felicidade.
O Sermão da Montanha é a Carta Magna da
positividade, ou seja, do realismo do mundo espiritual. É a mais gloriosa
proclamação da força do espírito sobre o espírito da força. O profano, devido a
sua atitude negativista, confia no espírito da força, da violência física – e
descrê da força do espírito; o iniciado, porém, sabe que toda violência é
atestado de fraqueza, e que a mansidão é força e poder. Os
filhos das trevas,
devido a seu
analfabetismo, esperam resultados positivos de meios
negativos – paus, pedras,
ferros, espadas, lanças, espingardas, canhões,
metralhadoras, navios de guerra,
torpedos, bombas atômicas, etc. – ao passo que os filhos da luz, graças à sua
excelsa sabedoria, abstêm-se de toda violência bruta, porque lhe conhecem a
fraqueza, e lançam mão da invencível potência dos fatores espirituais,
sintetizados no amor. Cristo, Francisco de Assis, Tolstói, Mahatma Gandhi, e
tantos outros iniciados, eram mestres
nessa Universidade Espiritual. Não resistir
ao maligno, pagar
o mal com o bem, estar disposto a
antes sofrer mil injúrias do que cometer uma só, preferir morrer
a matar – tudo isto,
que ao profano parece tão
ineficiente e imprático, embora
perdoável a um “idealista”, é
para o iniciado supremo realismo, filosofia
sumamente prática, o
caminho único para
a felicidade individual e a
harmonia social da humanidade.
Com efeito, não existe na literatura mundial documento
de maior realismo do que o Sermão da Montanha. O gênio que tais palavras
proferiu, como ecos da sua própria
experiência, é comparável
a um médico insigne que
não se contenta com a supressão dos sintomas externos
duma moléstia, como fazem os charlatães, mas vai
diretamente à raiz do
mal, diagnosticando-o com infalível certeza e aplicando-lhe remédio
radical.
O homem profano, porém, vítima do seu irrealismo
crônico, chama “idealismo” (com o que ele entende um irrealismo utópico) aquilo
que é infinitamente mais realista e real
que todos os seus pretensos “realismos”.
Existe
um só processo
infalível para acabar
de vez com todos
os nossos inimigos – é amá-los como amigos. Adicionar um
negativo a outro negativo não é aboli-lo, mas duplicá-lo: ou, em termos comuns,
fazer mal a quem me fez mal é criar dois
males em vez de um e aumentar a soma dos males existentes no mundo; é fazer o
mundo de hoje pior do que era o mundo de ontem. Deixar de pagar mal
por mal, não
aumenta os males existentes,
mas também não os
diminui, porque continua a existir o mal do meu malfeitor. Mas, pagar bem por mal
é cancelar com um positivo um negativo; quem assim procede faz o mundo
de hoje consideravelmente melhor do que o mundo de ontem.
Reduzida
a termos mais
simples, poderíamos representar
a matemática do Sermão da Montanha do seguinte modo:
a) (-1) + (-1) = - 2 (pagar mal por mal, equivale a dois males)
b) (-1) + (0) = -1 (deixar de pagar mal por mal, equivale a um mal)
c) (-1) + (+ 1) = 0 (pagar bem por mal, equivale a zero mal)
No item “c” está a quintessência do cristianismo e a salvação da
humanidade.
O homem profano procura dar cabo de seus inimigos
matando-os, porque, lá no seu primitivo analfabetismo, ignora por completo a
grande lei cósmica que ódio gera ódio, violência produz violência, negativo
cria negativo, perpetuando e
aumentando assim a
interminável cadeia dos males,
algemando cada vez mais o malfeitor que procura libertar-se
do mal multiplicando os males. É como a monstruosa hidra da antiga mitologia:
toda vez que Hércules lhe decepava uma
das numerosas cabeças,
nasciam duas novas
em lugar da antiga.
O malfeitor, na sua deplorável cegueira,
não compreende que o mal que
ele inflige aos outros é um mal muito maior para ele mesmo, porquanto,
para os que sofrem, o mal é apenas um
mal externo, mas para quem produz, o
mal é um mal interno. O objeto do
malefício é atingido apenas extrinsecamente, ao passo que o sujeito do mal, o malfeitor, é ferido
intrinsecamente. Sofrer uma injúria
não me faz
pior, mas fazer
injúria me faz pior,
diminui o meu valor interno, degrada a íntima essência da
minha personalidade humana.
Se os homens compreendessem esta simples verdade e
vivessem de acordo com essa compreensão, seria mudada a face da terra.
O melhor meio para perpetuar indefinidamente os
nossos inimigos é sermoslhes inimigos – o meio mais seguro e único de acabar
com eles é sermos-lhes amigos.
Quem deita óleo no fogo para o apagar aumenta-lhe a
força; quem se abstém de lhe deitar óleo não o apaga, mas permite que continue;
mas quem lhe deita água extingue-o instantaneamente.
De uma só coisa necessita a humanidade: de homens
perfeitamente realistas, tão realistas como o autor do Sermão da Montanha.
(Huberto Rohden - Livro : Profanos e Iniciados - Trecho do Cap. Profano, Ético e Espiritual)