ACERVO VIRTUAL HUBERTO ROHDEN E PIETRO UBALDI

Para os interessados em Filosofia, Ciência, Religião, Espiritismo e afins, o Acervo Virtual Huberto Rohden & Pietro Ubaldi é um blog sem fins lucrativos que disponibiliza uma excelente coletânea de livros, filmes, palestras em áudios e vídeos para o enriquecimento intelectual e moral dos aprendizes sinceros. Todos disponíveis para downloads gratuitos. Cursos, por exemplo, dos professores Huberto Rohden e Pietro Ubaldi estão transcritos para uma melhor absorção de suas exposições filosóficas pois, para todo estudante de boa vontade, são fontes vivas para o esclarecimento e aprofundamento integral. Oásis seguro para uma compreensão universal e imparcial! Não deixe de conhecer, ler, escutar, curtir, e compartilhar conosco suas observações. Bom Estudo!

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sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Quando a ética deixar de ser dolorosa...

Comentário(s)

Não minto...      

Não engano... 
       
Não mato...  

Não roubo...  
   
Não adultero...   
      
Não exploro...     
    
Não odeio... 

Não sou egoísta...

Toda pessoa aprova estas afirmações éticas em forma negativa, embora não as  pratique, talvez. E os que as praticam sabem quão  difícil é ser bom, moralmente honesto, eticamente correto.

A vida ética é, de fato, uma interminável série de sacrifícios, razão por que há tantas leis, promessa de prêmios, cominação de penalidades, sanções de todo o gênero, a fim de obrigar ou compelir os homens a evitar o mal e fazer o bem. O homem, no presente estágio  evolutivo, tem de ser compelido, física  ou moralmente, para ser “bom” – por quê? Porque ainda não é impelido a ser bom. Onde não há impulso deve haver compulsãoCompelir denota um agente externo, impelir revela um agente interno.  A ética  compulsória  é  imperfeita  e precária, embora necessária  em certo nível evolutivo da humanidade. Mas, quando a compulsão externa cede lugar ao impulso interno, quando a  lei é integrada no amor, deixa a ética de ser cruciante e sacrificial, para se tornar fácil, deleitosa, entusiástica.

O profano total não pratica a ética, nem por impulso interno nem por compulsão externa, porque é um analfabeto absoluto nos domínios do universo espiritual.

O homem semi-profano e semi-espiritual – quer dizer, o homem de boa vontade, mas ainda sem experiência pessoal de Deus – pratica ou procura praticar os preceitos éticos com o constante esforço de um herói que, dia a dia, hora por hora, vive a lutar contra a gravitação do seu Eu inferior; esse homem é moralmente bom, embora não seja espiritualmente perfeito. A imensa maioria dos homens bons do presente século pertence a  este  grupo.  São eles  os autores da filosofia popular de que “todo o mal é fácil e todo o bem é difícil”, filosofia, certamente exata, quando considerada à luz da nossa evolução atual.

Entretanto,  é  fora  de  dúvida  que  não  é  nem  pode  ser  este  o  estado  final  e definitivo da humanidade. O destino do homem não é ser sacrificialmente bom, mas sim jubilosamente bom, e, portanto, bom e feliz, como são todos os seres que já atingiram o “céu”, por terem feito o centro do seu pequeno Eu humano coincidir perfeitamente com o centro do grande Tu divino; todos eles sabem de ciência própria que essa concentricidade do querer da criatura e do querer do Creador não só  faz o homem absolutamente bom, senão  também integralmente feliz. De fato, o ser-bom em toda a sua plenitude e maturidade é idêntico ao ser-feliz em toda a sua extensão  e intensidade. Todo  ser integralmente bom é necessariamente um ser totalmente feliz, uma vez que a nossa felicidade não  é outra  coisa  senão  a  perfeita  harmonia,  com as leis eternas, do nosso ser humano, leis essas essencialmente idênticas às leis que regem o universo. Estar em harmonia com Deus é estar em harmonia com o Eu e com o Cosmos – e é precisamente nesta  perfeita sintonização ou harmonia que consiste a nossa felicidade. Sendo que Deus é a íntima essência do meu ser humano e do ser do cosmos, é evidente que a harmonia com Deus implica necessariamente a harmonia comigo mesmo e com o mundo de Deus. Se assim não fosse, o mundo de Deus não seria um cosmos de ordem e harmonia, mas sim um caos de desordem e desarmonia.

Nesse  plano final da evolução, o imperativo categórico do dever é absorvido pelo optativo volitivo do querer. A lei é integrada no amor. A ética é sublimada em mística. Esse homem ama a lei, gosta de fazer o que deve, saboreia como suprema liberdade aquilo que aos outros amarga como escravidão da lei. Esse homem cumpre a mesma lei que os outros cumprem (ou não cumprem), mas cumpre-a de outro modo, cumpre-a livre e espontaneamente, quando outros a cumprem por entre queixumes e gemidos.

A  verdadeira e  definitiva  redenção  do  homem  vem do  amor à  lei,  amor esse que supõe, naturalmente, a perfeita compreensão da alma da lei.

O corpo da lei é amargo – a alma da lei é suave.

O profano odeia a lei.

O homem meramente ético tolera a lei.

O homem espiritual ama a lei.

Para o primeiro, a lei é a grande inimiga.

Para o segundo, é uma soberana exigente. 

Para o terceiro, é amiga querida.

O que não se faz com espontâneo amor, prazer e entusiasmo, não tem sólida garantia de perfeição e perpetuidade. Se o homem comesse, bebesse e dormisse só por ser de sua estrita obrigação ética, já não existiria homem vivo sobre a face da terra; se o homem, e em geral os seres orgânicos, praticassem atos sexuais com fins de procriação apenas compelidos pelo inexorável imperativo do dever, já não haveria vestígio de vida orgânica no planeta Terra. Mas, como as necessidades básicas do indivíduo e da espécie estão invariavelmente ligadas ao prazer, ou seja, a uma espécie de “felicidade” ou experiência de “bem-estar”, existe sólida garantia de perpetuidade do indivíduo através da espécie, porquanto o fim último de todo o ser é a sua felicidade. A felicidade não é um meio para algum outro fim, mas é um fim em si mesma. Ninguém quer ser feliz para alguma coisa ulterior, como quer ganhar dinheiro ou procura trabalho ou empreende viagens; a felicidade tem a sua razão-de-ser dentro de si mesma, é auto-imanente, é o termo da jornada e de todas as jornadas do homem; ao passo que todas as outras coisas são apenas caminhos e meios que levam a esse termo feliz.

Por  isto,  quando  o  homem  descobre  a  dulcíssima  medula  do  amor  no duríssimo invólucro da lei, estão garantidas a sua bondade e a sua felicidade indefectíveis, porque a inefável delícia que ele descobre em ser bom é infalível garantia da sua persistência no bem.

A última razão de perpetuidade da religião sobre a face da terra está no fato de aparecerem, periodicamente, grandes gênios de espiritualidade que conhecem a Deus por experiência pessoal e encontram intensa delícia em o “amarem de todo o coração, de toda a alma, de toda a mente e com todas as suas forças” – homens cuja paixão metafísica e, se assim se pode dizer, cuja volúpia mística consiste nesse irresistível devotamento, nesse misterioso abismar-se na Divindade – são eles que garantem a perpetuidade da religião. Para eles, cumprir a vontade de Deus não é medicina amarga, mas sim um delicioso manjar, uma saborosa iguaria, um lauto banquete, uma festa nupcial, uma extasiante sinfonia musical, no dizer de Jesus, que, de vasta e profunda experiência pessoal, sabia dessa inefável beatitude de ser integralmente bom.

Se não houvesse esses excelsos ébrios da Divindade e iniciados no reino de Deus, a religião já estaria extinta, porque os cumpridores da ética cruciante e sacrificial não ofereceriam suficiente garantia para sua perpetuação; sucumbiriam, cedo ou tarde, ao peso da cruz da sua moralidade obrigatória. Felizmente, o vasto incêndio espiritual dos místicos irradia da sua inesgotável plenitude calor suficiente para manter o nível da temperatura religiosa nas zonas frígidas circunjacentes, e, não raro, lança do seu seio fagulhas ígneas que ateiam novos incêndios nas almas receptivas, que contenham em si o necessário combustível para receber e manter o fogo sagrado da humanidade espiritual. Há quase vinte séculos que o maior desses homens-incêndio preserva o gênero humano da morte de congelamento espiritual, graças à intensidade do fogo divino de que ele estava repleto.

O homem plenamente espiritual é o rei dos realistas. Ele não mente, não engana, não mata, não rouba, não adultera, não explora, não odeia, não é egoísta, simplesmente porque já não pode fazer estas coisas, que lhe são profundamente anti-naturais, anti-biológicas, anti-vitais, horríveis, feias, ingratas, positivamente impossíveis. Por outro lado, esse homem integralmente bom experimenta todas as coisas boas como gratas, deleitosas, belas, estéticas, queridas; ser-bom é para ele ser-belo, ser-feliz.

Esse homem transcendeu todos os problemas negativos...

Descobriu o elixir da felicidade...

Entrou no reino de Deus...

(Huberto Rohden - Livro : Profanos e Iniciados)


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