Qual é a verdadeira causa de toda a minha
infelicidade?
Alguma das coisas que me cercam?
Algum dos acontecimentos que me couberam?
Alguma das pessoas com que tenho de tratar?
É o que eu pensava, quando ainda profano, cego e
insincero comigo mesmo. Hoje sei que tudo isto não passa de evasivas e
camuflagem, mais ou menos inconscientes. Se não fosse isto ou aquilo, se fulano
ou sicrana não tivessem dito ou feito tal ou tal coisa — seria eu mais feliz?
ou menos infeliz? É o que eu pensava na minha ignorância, ou na minha
insinceridade...
Nunca
existiu um só homem,
desde o início
do mundo, cuja felicidade
ou infelicidade dependesse realmente desta ou daquela circunstância,
embora não queiramos negar que certos fatos externos possam influir, como
condições, em nosso estado interior; mas nunca nenhum deles pode ser a causa
primária da nossa felicidade, ou do contrário. Se assim fosse — ai de mim!
estaria o meu céu ou meu inferno à mercê das boas ou más vontades de terceiros,
e toda a divina ordem do cosmos acabaria na diabólica
desordem do caos...
Qual é,
então, a
verdadeira causa e
razão decisiva da minha
infelicidade (limitemo-nos a este ponto)?
Sou eu mesmo.
É a minha
falsa atitude, assumida em
face da eterna Realidade, chamada Deus.
E em que consiste essa falsa atitude?
Numa atitude subjetiva, que não corresponde à
realidade objetiva.
A saber?
Consiste única e exclusivamente no meu egocentrismo.
Faço do meu querido Eu o centro da minha vida, e, possivelmente, do universo;
espero, implícita ou explicitamente, que todo o mundo gire e gravite em torno
de mim; e, se assim não acontece, ou não acontece na medida que eu esperava e a
que julgava ter direito, queixo-me, falo em ingratidão, menosprezo, pouco caso,
e ando com a alma em chaga viva.
E por que tudo isto?
Porque estabeleci, de início, a falsa premissa de
ser eu o grande centro — as conclusões que deste erro básico decorrem não podem
deixar de ser errôneas. E assim é que fabrico a minha “infelicidade”. Toda
infelicidade nasce dum erro, como
toda felicidade é
filha da verdade.
Ou, no dizer
do grande Mestre: “Conhecereis a
verdade, e a
verdade vos libertará”.
Onde há verdade
há liberdade, e onde há liberdade há felicidade.
(Huberto
Rohden - Livro : Profanos e Iniciados)