Sensação é uma coisa, e felicidade é outra. A sensação está sempre indo atrás de mais sensação, em ciclos mais e mais amplos. Não há fim para os prazeres da sensação; eles se multiplicam, mas sempre há insatisfação na sua realização; há sempre o desejo por mais, e a demanda por mais não tem fim. Sensação e insatisfação são inseparáveis, pois o desejo de mais mantém os dois juntos. Sensação é o desejo de mais e também o desejo de menos. No próprio ato de realização ou sensação, nasce a demanda por mais. O mais está sempre no futuro; é a eterna insatisfação com o que houve. Há conflito entre o que houve e o que haverá. Sensação é sempre insatisfação. A pessoa pode vestir a sensação com trajes religiosos, mas ela é ainda o que é: uma coisa da mente e uma fonte de conflito e apreensão. As sensações físicas estão sempre pedindo mais; e quando são contrariadas, surge raiva, ciúme, ódio. Existe prazer no ódio, e a inveja é satisfatória; quando a sensação da pessoa é contrariada, encontra-se satisfação no próprio antagonismo que a frustração provocou.
(J. Krishnaurti - Commentaries on Living Series I Chapter 85, Sensation and Happiness.)